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6. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS E RESULTADOS

6.4. O professor da sala

6.4.4. As percepções sobre a pesquisa

Nas entrevistas, o professor também apresentou suas percepções concernentes à pesquisa realizada na sala de aula em que leciona, destacando as contribuições bem como as limitações da investigação, trazendo perspectivas de aprimoramento e de novas pesquisas a partir da que fora realizada.

Na concepção do docente, o tempo da coleta de dados poderia ter sido expandido, iniciando-se no primeiro semestre de 2018, com o acompanhamento da turma durante o curso do oitavo e nono anos, já que um grupo de alunos se manteve de um semestre para o outro:

Professor: Sobre a pesquisa, eu, sinceramente, sinto você não ter vindo em fevereiro, quando as aulas começaram, nesta turma, que eles estavam no oitavo ano. Penso que os seus resultados, acredito, seriam diferentes, teria mais tempo. Eu sei que muda, como eu disse, por isso eu não quis continuar [fazendo as tertúlias] com [o livro] Dom Casmurro, porque eu sabia que na virada de julho para agosto, muitos alunos novos entram, principalmente no nono ano. Mas você tem um grupo que permanece, eu tenho um grupo ali que permanece desde o sexto ano, sétimo, com [o livro] Romeu e Julieta. Então tem um grupo, a Carla, a Maria, o Vinícius, o João. Você tem um grupo. Então seria interessante que você… Seria importante que você… A Talita, ela fez o ano todo, o oitavo e o nono. O Pedro, a Poliana. Não são todos novos no grupo, metade ali, talvez pouquinho menos. O Joaquim também. São vários...E aí eu acho que seria interessante se você tivesse vindo logo em fevereiro ou março, até para aplicar aquela mesma prova. (Segunda entrevista)

Não sendo possível realizar isso que o professor comentou, sobretudo por conta da espera da autorização do comitê de ética em pesquisa, emitida apenas em meados de maio de 2018, a pesquisa, sendo realizada apenas em um semestre, apresenta limitações quanto ao tempo, que impossibilitou a aplicação de mais avaliações aos estudantes, em consonância com o que o docente traz:

Professor: Nós também tivemos aquele recesso49, que confesso que

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No período de 14 a 24 de novembro de 2018, houve, na cidade em que a escola se localiza, um evento esportivo em que os atletas ficaram alojados nas escolas, não havendo aula, portanto, durante duas semanas.

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atrapalhou também, acho que atrapalhou porque depois nós

voltamos, aí nós voltamos uma semana praticamente... era para ter três semanas, mas foi uma semana depois...e o clima já foi outro, no nono ano principalmente...formatura...atrapalhou geral, todas as escolas, municipais, estaduais...[...] mas não dá para falar que não atrapalhou. Então você teve esse problema aí, mas então penso que seria interessante se fosse lá para fevereiro ou março ter aplicado mais uma [avaliação] intermediária e depois do final.... [...] eu acho que talvez você vai ter um problema por esse tempo, que você sabe, né, é o limite da pesquisa, o mestrado é muito rápido e de agosto a dezembro nós tivermos aí muitos feriados....essa parada de duas semanas... [...] (Segunda entrevista)

Outro aspecto limitante da pesquisa que o professor apontou foi o fato de ter sido acompanhada apenas uma turma da EJA. Porém, ao mesmo tempo em que indicou isso, reconheceu que não houve realização de AEE em outras turmas com a mesma frequência e intensidade como ocorreu com o nono ano:

Professor: E também não sei o seu tempo, a sua disponibilidade... de acompanhar os outros grupos interativos, eu não sei quem mais trabalhou, eu sei que eles [estudantes] tiveram outros grupos interativos, mas que também, poucos... e aí tem um fator excludente das outras disciplinas...[...] Também faltaram outras tertúlias, outros momentos de leitura dialógica...[...] isso é um problema que eu vejo, mas você teria também um não dado, porque quem então além de mim fez tertúlia? Não houve....outras tertúlias...quem fez os grupos interativos? Só a professora de história e acho que um ou dois...então também é um problema você não ter conseguido vir, mas também você não teria...porque não houve, não ocorreu...(Segunda entrevista)

Em relação às avaliações aplicadas aos estudantes, o docente demonstrou sua preocupação com a análise dos dados obtidos a partir delas, tendo em vista a obtenção de dados empíricos relativos à aprendizagem instrumental:

Professor: Eu não analisei as questões que você aplicou em agosto [...] e aquilo que eu penso: ter uma avaliação com as mesmas habilidades; então você aplicou lá em fevereiro, março 20, 24 questões com várias habilidades, ou menos, sei lá... depois ter a mesma estrutura de prova com outros textos, obviamente, né, não igual, mas também pensando nessa regularidade das habilidades, das capacidades e tabular tudo isso.... agora não sei... isso é o que eu vejo da sua pesquisa... Porque eu não sei se aquilo que a gente tanto quer, se num mestrado você vai conseguir, que é justamente ver isso: até que ponto a tertúlia e os grupos interativos ajudam e como que a gente visualiza isso... como nós não temos uma avaliação externa, sempre foi uma demanda, né, uma reivindicação nossa...nós temos as nossas avaliações e percepções de que melhora...o aspecto qualitativo, sem dúvida, até quando você pergunta para eles [estudantes], eles falam, eles gostam, gostariam de

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continuar...sempre, sempre...e agora esse aspecto quantitativo e...

pensando na máxima qualidade de tudo e todas também, né, [...] (Segunda entrevista)

Assinalando as restrições que um mestrado impõe, sobretudo em relação a tempo e extensão da pesquisa, o docente aponta perspectivas de outras investigações para aprofundamento da relação das AEE e aprendizagem instrumental:

Professor: Acho que no doutorado, você até poderia, porque são quatro anos, poderia até se aprofundar, continuar vendo mesmo o que a gente precisa ter...ver esse retorno, porque, mais uma vez, fica meio repetitivo, mas é isso; eu avalio, claro que eu avalio, eu tenho as minhas avaliações, eu tenho as minhas percepções, eu acompanho essa turma, muitos desde o sexto, sétimo ano, mas falta essa forma mais sistemática...pode ser uma falha minhas, mas faz falta de você ter esses resultados mais consistentes...melhora sim, olha aqui, está aqui e não ficar só nesse aspecto qualitativo de que é muito bom, bacana, o clima é bom...[...] então, sem dúvida, a pesquisa é fundamental ....(Segunda entrevista)

Por fim, o docente relata as contribuições que a pesquisa poderá trazer a outros profissionais da educação, aos que trabalham com CdA e AEE, além de ressaltar que a parceria estabelecida a academia e a escola é benéfica na consolidação das AEE e na realização destas de acordo com os princípios da aprendizagem dialógica que as embasam:

Professor: [...] E a presença de vocês, pesquisadores, também...acho que a gente não pode perder isso...Porque eu sei que você vai agora defender, que vai ser muito importante para o grupo, pro NIASE e para quem trabalha com comunidade de aprendizagem e vocês vão estar sempre aqui com a gente para a gente aprimorar...você vê,...às vezes... eu me lembro muito disso; eu fazendo tertúlia há anos e na primeira que você participou coletando, você me deu um toque: ―estou sentindo muito protagonismo‖... são coisas importantes... é claro que não precisaria de uma pesquisa para.... mas foi a sua vinda para cá ...de estar junto e como que é importante a gente estar nessa parceria também. (Segunda entrevista)

A sistematização dos elementos transformadores e dos excludentes em relação à pesquisa realizada, na concepção do professor, segue conforme o quadro (Quadro 17):

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Quadro 17: As percepções sobre a pesquisa, de acordo com o professor da sala A s p er ce p çõe s s ob re a p es q u is a

Dimensão transformadora Dimensão excludente

 Fornecimento de dados mais consistentes sobre a

aprendizagem instrumental;

 Contribuição da investigação para o grupo de pesquisa e para profissionais da educação que trabalham com CdA;

 Perspectivas de novas pesquisas de maior

profundidade e extensão a partir da realizada;

 Presença da pesquisadora durante a realização das AEE;

 Parceria da escola com o meio acadêmico.

 Acompanhamento de um semestre apenas; não visualização do desenvolvimento dos estudantes por um período maior;

 Poucas aplicações de avaliações aos estudantes;

 Acompanhamento apenas de uma turma da EJA;

 Tempo reduzido para a coleta de dados por conta de recesso escolar e de

feriados;

 Não aplicação de avaliações totalmente coincidentes em relação às habilidades de leitura cobradas na resolução das questões.

5 elementos, 5 menções 4 elementos, 6 menções

Na busca de compreender como se dá a aprendizagem instrumental da leitura, com base na matriz de referência do PISA, de uma turma de estudantes do segundo segmento, além das percepções dos próprios sujeitos participantes da pesquisa, houve a aplicação de avaliações com o propósito de mensuração dos processos cognitivos de leitura. Os dados obtidos por meio desse instrumento são explanados na sequência.