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Capítulo II – A Intervenção Pedagógica em Contexto de 1.º CEB

2.3. A Intervenção Pedagógica no 1.º CEB

2.4.4. As expressões enquanto promotoras da aprendizagem

As Expressões desempenham um papel importante no desenvolvimento de competências nos alunos, nomeadamente no desenvolvimento da criatividade, no sentido estético, nas habilidades psico-motoras, entre outras. Além disto, são transversais às outras áreas curriculares. Neste sentido, estas podem ser concebidas como estratégias privilegiadas para promoverem a motivação e a implicação dos alunos, uma vez que os conteúdos tornam-se mais apelativos e interessantes. Atendendo a este último facto, recorreu-se às Expressões Artísticas para abordar conteúdos de Português, de Matemática e de Estudo do Meio, tal como já foi referido ao longo do presente capítulo.

Antes de mais, acho imprescindível definir o que é a Expressão e de acordo com Aguilar (2001), a “expressão é a manifestação da existência, traduzida na vontade de afirmação e de exteriorização do Eu, em relação a si próprio, aos outros e ao mundo, com ou sem a mediação de um produto a criar” (p. 29). Ou seja, é através da expressão que a criança comunica com o outro e com o mundo, vivência distintos papéis, se reconhece, cria a sua identidade e promove laços afetivos com o outro.

Note-se que o ME (2004) afirma que o professor deve englobar na sua ação pedagógica as diferentes formas de Expressão, pois estas estimulam competências essenciais que são indispensáveis ao progresso do ser humano, não tendo como finalidade o êxito artístico, mas sim o desenvolvimento integral do aluno. Assim, as atividades expressivas desempenham um papel primordial no desenvolvimento da criança e até mesmo do adulto. Desta forma, a escola tem um papel fundamental em

criar diversas situações/atividades que permitam o desenvolvimento destas competências, visto que atualmente as crianças passam mais tempo na escola do que com os pais. Assim sendo, considero que tanto nas instituições de educação, como nas próprias casas, as crianças têm que ter tempo e espaço para brincarem, explorarem o seu corpo e o do outro, a sua voz, os objetos que as rodeiam, experimentarem diversas formas de comunicação, realizarem jogos dramáticos e explorarem várias técnicas plástico-expressivas que lhes permitam um desenvolvimento gradual e consolidado (ME, 2004).

Nesta secção vou descrever, de forma sucinta, como a área de Expressão Dramática serviu para trabalhar o conteúdo dos primeiros socorros da área de Estudo do Meio. Tenha-se em atenção que apesar de ter mencionado apenas uma atividade que contou com a Expressão Dramática, saliento que as Expressões não podem ser abordadas de modo segmentado, pois tal como refere Reis (2003) “as expressões não podem ser vistas de forma totalmente independentes, por se complementarem mutuamente” (p. 180).

Sousa (2003) assegura que todas as crianças, nas suas fases adequadas, têm um particular interesse pela Expressão Dramática, desempenhando esta, um papel primordial no crescimento e na maturação dos indivíduos. Nesta mesma linha, Sousa (s/d) declara que “a expressão dramática é fundamental em todos os estádios da educação [e é considerada] como uma das melhores actividades, pois […] consegue compreender e coordenar todas as outras formas de educação pela arte” (Sousa, s/d, p. 20).

A Expressão Dramática, é uma forma de expressão e de comunicação em que o ser humano age em vez de dizer o que pensa, o que não gosta, o que o magoa, etc. Desde que a criança nasce já utiliza a Expressão Dramática para comunicar, ou então apenas pelo prazer de imitar situações do quotidiano, imaginando e recriando outras situações que lhe permitam estimular a criatividade, a observação e até a capacidade de exprimir as suas emoções. Neste sentido, tal como refere Gloton e Clero (1978):

a expressão das emoções põe em comunicação dois mundos, um exterior ao individuo, e outro que lhe é interior, e a expressão é o fenómeno que projeta no exterior e torna presente aos outros […] aquilo que existe no mais intimo de cada um (p. 78).

As atividades de Expressão Artísticas realizadas ao longo da intervenção pedagógica levaram-me a refletir sobre a incorporação das Expressões no 1.º CEB, tendo em conta que o professor tem um papel ativo na planificação das atividades a desenvolver. Assim, é de reforçar que as Expressões devem estar integradas na ação pedagógica do mesmo, pois são uma importante fonte que permite os alunos aceder às atitudes e aos mecanismos que permitem desenvolver a espontaneidade e a improvisação, da mesma forma que possibilita criar laços entre os alunos.

No entanto, ao longo dos tempos temos vindo a assistir a uma evidente tendência de os professores valorizarem as componentes curriculares de Português e de Matemática, em detrimento da área das Expressões. Seguindo esta ordem de ideias, as Expressões têm sido desvalorizadas pelo professor titular, e este remete-as para outros docentes destas áreas, designadamente os professores que desenvolvem as atividades extracurriculares. Este aspeto acentuou-se após a implementação da ETI, relegando as expressões que outrora fariam mais parte da sua ação.

O facto de os professores valorizarem de forma mais acentuada o Português e a Matemática espelha as intencionalidades patentes no currículo nacional, sendo que o próprio sistema educativo estabelece, de forma evidente, para o Português e para a Matemática uma maior carga horária. Além disso, está patente uma pressão exercida aos professores em torno dos resultados dos alunos nas duas disciplinas referenciadas, sendo que a avaliação, a que os professores estão sujeitos, pode influenciar a sua ação, na medida em que os resultados dos alunos são considerados indicadores na avaliação dos professores, isto é os docentes e os alunos são avaliados pelo produto e não pelo processo. Em suma, estes fatores contribuem para que as Expressões sejam passadas para segundo plano.

A atividade que vou descrever está inserida no tema “A segurança do meu corpo”, trabalhada em Estudo do Meio, e teve como principal intencionalidade pedagógica o conhecimento de regras de primeiros socorros, desenvolvendo-se ao mesmo tempo múltiplas competências pessoais, sociais e cognitivas.

A atividade iniciou-se com base na atitude de São Martinho em ceder a sua capa ao mendigo, em virtude de este se encontrar com frio, prestando-lhe assim, um primeiro socorro. Este facto foi constatado anteriormente durante a leitura realizada em Português sobre a lenda de São Martinho, encaminhando deste modo os alunos a adivinharem o que se encontrava dentro de um embrulho que estava em cima da mesa. Os alunos discutiram propostas e possibilidades, tentando descobrir o que continha o

embrulho, o que permitiu o desenvolvimento da criatividade e da imaginação. Os alunos proferiram imensas mensagens, como por exemplo, “o que está dentro da caixa é uma capa igual à que o São Martinho usou para proteger o mendigo”.

Considero que esta atividade foi muito rica, uma vez que os alunos se encontravam motivados ao partilharem sugestões durante todo o processo de descoberta. Penso também que é de realçar que o professor, com vista a proporcionar uma aprendizagem mais significativa às crianças e uma maior solidificação dos conteúdos, necessita de fazer uma boa gestão do tempo, trabalhando em simultâneo várias áreas.

Quando os alunos descobriram o que se encontrava no interior da caixa, este momento revelou-se de grande euforia por parte dos mesmos. Neste sentido, o professor deve auxiliar os alunos nas suas descobertas, fornecendo pistas e escutando a voz de cada um para que se sintam valorizados, ampliando assim a sua autoconfiança. Saliento que durante este percurso de descoberta foi notório a partilha de sugestões, sendo que uma criança que raramente contribuía espontaneamente com sugestões, neste momento partilhou muitas possibilidades, desvendando o que se encontrava no interior da caixa, exteriorizando deste modo as suas emoções no momento de descoberta. Atendendo a esta observação, acredito que o envolvimento das crianças nas suas descobertas possibilita um desenvolvimento mais integral das mesmas.

Após a descoberta da caixa dos primeiros socorros, os alunos elaboraram diversos cartazes (ver Figura 58) que contavam com situações problemáticas, dividindo- os em duas partes. Numa parte escreviam os conhecimentos prévios acerca de como iriam proceder nessa situação problemática e na outra secção, após pesquisarem informações sobre os procedimentos corretos perante as situações acima referidas, escreviam o procedimento a adotar perante essa situação, partilhando de seguida esses trabalhos com os colegas.

De seguida, realizou-se um jogo em pequenos grupos, no qual um dos alunos dramatizava a situação problemática (simulava o ferimento), enquanto os restantes colegas do grupo prestavam os primeiros socorros, seguindo os passos corretos a adotar (ver Figura 59).

Saliento que o jogo é uma estratégia contempladora das Expressões, pois partilho da ideia de Reis (2003), quando afirma que:

o jogo é a mais elevada expressão do desenvolvimento humano na criança, porque só por si é a livre expressão daquilo que está na alma da criança. É o produto mais puro espiritual da criança e ao mesmo tempo é um tipo e uma cópia da vida humana em todas as fases e em todas as relações (p. 115).

Neste momento observei uma evolução no trabalho em equipa, no que concerne às relações entre os alunos, tendo estes demonstrado cooperação e compreensão na escolha de quem iria desenvolver cada papel.

Os alunos, ao estarem a representar estas situações e a forma como tinham de proceder, estavam a trabalhar e a consolidar os conteúdos abordados de uma forma lúdica e dinâmica. Reis (2003) diz-nos que nas “actividades de jogo simbólico, os diferentes parceiros tomam consciência das suas reacções, do seu poder sobre a realidade, criando situações de comunicação verbal e não-verbal” (p. 182). Estas representações permitem ainda à criança desenvolver a autoconfiança e a autonomia naquilo que estão a desempenhar.

Ressalve-se que após as dramatizações, os colegas avaliaram-nas, sendo notório que estes justificaram a sua classificação, sendo que esta observação permitiu-me constatar uma evolução, por parte dos alunos, no seu sentido crítico, pois inicialmente quando avaliavam limitavam-se a enunciar “Eu gostei mais do primeiro grupo”,

verificando-se assim uma avaliação feita de acordo com as suas amizades. Todavia, aquando da dramatização dos primeiros socorros, os alunos avaliaram e justificaram a mesma com sentido de justiça, proferindo expressões criticas e construtivas como “O grupo que melhor representou foi o terceiro porque seguiu todos os passos necessários e representou melhor o ferimento” e “O grupo número dois seguiu os passos, mas o elemento número 7 do grupo não representou bem o ferimento porque se estava a rir e quando se tem dor, nós não rimos, choramos”.

Tendo em conta a atividade realizada, considero, uma vez mais, que a contemplação das Expressões no 1.º CEB é imprescindível visto que estas desempenham um papel importante no desenvolvimento dos alunos, quer a nível académico, quer a nível social e afetivo. Deste modo, o professor deve trabalhar para a confluência entre as áreas de Expressão as competências pessoais, sociais e de comunicação, bem como os conteúdos escolares.

Acrescento ainda que a Expressão Plástica esteve patente durante a intervenção pedagógica, nomeadamente na abordagem do texto instrucional, na elaboração dos convites para os pais estarem presentes na apresentação dos projetos, na elaboração do calendário da turma, na atividade prática (contacto com o coração do porco), na atividade experimental (germinação das sementes) e no conto A Arca do Tesouro.

A Expressão Musical estive presente na abordagem do conto musical A Arca do Tesouro e na atividade de representação do relógio, aquando da abordagem das horas. A Expressão Físico-Motora esteve contemplada em todas as atividades suprarreferidas, estando presente com mais intensidade na atividade de representação do relógio e na realização das gincanas.

Assim sendo, posso garantir que tive sempre em conta as Expressões aquando da planificação das aulas, pois acredito que estas permitem diversificar os contextos de ensino-aprendizagem, tornando-os mais estimulantes para os alunos.

Em suma, as diferentes formas de Expressão são sem dúvida uma parte de nós que é muito importante, pois é através delas que comunicamos, que inferimos o que o outro pensa e deseja, que nos compreendemos, que descobrimos as nossas potencialidades e que se privilegia.

Deste modo, é da responsabilidade das instituições de educação proporcionar diversas atividades que permitam os alunos desenvolverem-se ao nível de todas as Expressões, com vista a prepará-los para interagirem e comunicarem com a sociedade.