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1.1 5 A VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGUÍSTICA NO LÉXICO

2.3 CLASSIFICAÇÃO DAS UNIDADES FRASEOLÓGICAS

2.3.1 AS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS

Nesta seção faremos algumas considerações acerca do conceito das EIs, a partir de alguns pesquisadores em geral e, em seguida, apontamos as principais características que foram atribuídas a essas expressões na visão de Xatara (1998), cujo aporte teórico norteou nosso estudo.

Para muitos estudiosos (cf. TAGNIN, 1989; XATARA, 1998; FERRAZ, 2004), as EIs consistem em unidades complexas, de caráter conotativo, cujo significado foi convencionalizado pela comunidade linguística em razão de sua frequência. Corpas Pastor (1996, p. 88) nos ensina que as locuções são unidades fraseológicas do sistema de linguagem com as seguintes características distintivas: unidade de fixação interna de significado e fixação externa pasemática. A autora nos mostra as três características que são essenciais para identificar uma locução: fixação interna (pouca possibilidade de variação); unidade de significado (composta por mais de um elemento, mas tem significado único) e fixação externa pasemática (algumas expressões são usadas de acordo com o papel dos falantes no ato comunicativo).

Nogueira (2008) postula que as EIs são unidades complexas, ou seja, construções formadas por mais de um elemento e, também, possuem alto grau de fixidez, o que torna sua decomposição mais difícil. Nesse sentido, observamos que os conceitos apresentados, até agora, mantêm uma certa proximidade, cujas considerações serviram como parâmetro para a análise do corpus e as características utilizadas; como critérios de identificação dessas unidades. Consideramos essas propriedades essenciais para a análise do corpus da pesquisa que se desenvolverá no Capítulo 4.

Em geral, as EIs são consideradas pluriverbais, já que apresentam o formato multinuclear e são compostas por mais de uma palavra plena. O grau de fixidez está relacionado à forma sintática desses elementos. Quanto à conotatividade, as EIs são essencialmente motivadas pela metáfora. Sabemos, contudo, que algumas expressões variam de tal forma que permitem algumas trocas em suas estrutura (permuta verbal), admitem a forma de negação. Em outros casos, podem ser inseridos novos itens lexicais em sua composição. Nos capítulo 3, intitulado “ procedimentos metodológicos”, faremos uma explicação detalhada de cada critério.

Levando em consideração a contribuição de Xatara (1998), identificamos que a expressão idiomática é uma lexia complexa porque tem o formato de uma unidade locucional ou frasal; indecomponível porque constitui uma combinatória fechada, de distribuição única ou distribuição bastante restrita; conotativa porque sua interpretação semântica corresponde a, pelo menos, um primeiro nível de abstração calculada, a partir

da soma de seus elementos, sem considerar os significados individuais destes; cristalizada porque sua significação é estável, em razão da frequência de emprego, o que a consagra.

Essas características6 excluem, portanto, as locuções (ao lado, desde que etc), as combinatórias usuais (apoio incondicional, diametralmente oposto etc.) e as perífrases verbais (correr o risco, dar um passeio etc.) de sentido denotativo; os ditados (Quanto mais se tem, mais se quer) e provérbios (Em terra de cegos, quem tem um olho é rei), que serão discutidos na próxima seção.

Segundo Xatara e Oliveira¹ (2002):

Definimos idiomatismo ou expressão idiomática (EI) como “toda lexia complexa indecomponível, conotativa e cristalizada em um idioma pela tradução cultural”, baseando-nos, entre tantas outras teorias lexicais, nas de Biderman (1978), Chafe (1979), Danlos (1981), Gross (1982), Carneado Moré, Corbin (1983), Rwet (1983), Tagnin (1988) e Lodovici (1989), bem como nas considerações levantadas por Xatara em pesquisas anteriores (1994 e 1998). (XATARA; OLIVEIRA, 2002, p.57)

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A partir dessa definição, entende-se que uma expressão idiomática “é uma unidade locucional ou frasal que constitui uma combinatória fechada, de distribuição única ou distribuição bastante restrita” (XATARA; OLIVEIRA, 2002, p.57). São apresentadas como sintagmas complexos, não possuem paradigmas, isto é, são caracterizadas pelo fator de inalterabilidade e de fixidez de seus elementos.

Considerando a expressão idiomática como uma unidade fraseológica, o significado deve ser depreendido na totalidade da UF que se tornará una, com significado próprio e peculiar. Usando diferentes estratégias linguísticas, podemos reconhecer na criação expressiva do texto do jornal Super Notícia, fraseologismos idiomáticos como componentes específicos que interessam a esse estudo.

Com uma teoria de referência baseada no modelo de Xatara (1998), nosso estudo foi guiado por questões sobre a importância de se trabalhar com as expressões idiomáticas dentro de sala de aula, ao destacar dois pontos a se considerar, ao questionar a validade da necessidade de inclusão das expressões idiomáticas no ensino do léxico. Primeiro, é necessário lembrar que essas unidades são estruturas que fazem parte da comunidade linguística, e, o segundo ponto está relacionado ao uso dessas estruturas (coloquial / oral) 6

Outras características das expressões idiomáticas que não foram adotadas no nosso estudo por não terem sido consistentes na linguagem jornalística do Super, estão em CUNHA, Aline Luiza da. Expressyes idiomáticas: da linguagem publicitária para a sala de aula.2012.115f.

7 XATARA, C. M.; OLIVEIRA, W. A. L. Dicionário de provérbios, idiomatismos e palavrões francês- português/português-francês. São Paulo: Cultura, 2002.

que migra, cada vez mais, para textos escolares escritos.

2.3.2 OS PROVÉRBIOS

Sabemos que o espaço do provérbio é um campo privilegiado de manifestação da polifonia enunciativa, de distanciação e de uma metalinguagem. Ao que parece, essa polifonia dos provérbios, o dizer e o não dizer de quem menciona e usa enunciativamente um provérbio, a argumentatividade dos provérbios, a expressividade, a intertextualidade e a característica de veicular sentidos que são verdades é o que faz com que os provérbios sejam expressões cristalizadas e permaneçam até hoje nas sociedades.

Dada a dificuldade de estabelecer um conceito para o provérbio, muitos estudiosos como Xatara (2008) preferem diferenciá-lo de outros fraseologismos, valendo-se do critério semântico que define o provérbio como uma unidade mínima de significação, ou seja, uma unidade lexical que, embora seja constituída por mais de um elemento, possui apenas um significado a ser transmitido. Entretanto, essa característica explicitada pela autora, por si só, não é suficiente para caracterizar o provérbio, uma vez que poderíamos associar outros tipos de unidades fraseológicas a essa particularidade.

Desse modo, para tentar diminuir a imprecisão do conceito entre os fraseologismos, Xatara e Succi (2008, p. 35) propõem que o provérbio seja uma unidade consagrada por determinada comunidade linguística, a qual reúne experiências vivenciadas em comum e trazem um enunciado conotativo e completo em sua forma, além de possuir a função de ensinar, aconselhar, advertir, repreender e persuadir o leitor. Por apresentar uma grande rigidez, esse tipo de expressão não é entendido como uma sequência discursiva, mas, sim, como um fruto da cultura, herdada junto com o léxico. Consideramos que essas estruturas representam combinações de morfemas, sem que eles, por si sós, constituam unidades semânticas, embora pelo conjunto, seja possível reconhecer uma nova unidade semântica. Tais unidades são consideradas expressões cristalizadas, a partir de combinações metafóricas que, pelo uso frequente em um determinado contexto social, foram cristalizadas na língua portuguesa.