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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 O CONTEXTO DE REALIZAÇÃO DA PESQUISA

O objetivo central de nosso trabalho é empreender uma análise das unidades fraseológicas presentes na mídia impressa popular, a partir de uma perspectiva pedagógica. Para isso, escolhemos, como corpus de análise, textos do gênero notícia, veiculados no jornal Super Notícia, contendo unidades fraseológicas já consagradas pelo uso da língua, como as expressões idiomáticas e os provérbios.

A escolha do jornal Super está relacionada à alta tiragem do jornal Super nos últimos anos, o que tem provocado o interesse de levar o aluno a um nível de leitura que lhe proporcione ler o que não está dito explicitamente, mas que ele seja capaz de inferir, a partir do contexto dado pelo texto, seja semântica e/ou pragmaticamente, aliado a uma análise textual que permite ir além da superfície do texto.

De acordo com Amaral (2006), os jornais de referência 8 são considerados os grandes jornaisconsagrados nas matérias de economia e política, destinados às classes A e B, enquanto os jornais populares, atendem às classes C e D, contribuindo para a identificação simbólica de um público, que consome informação pelo baixo preço de capa, variando de vinte e cinco centavos a um real. O termo “popular” identificaria apenas um tipo de imprensa que se define por proximidade e empatia com o público-alvo, por intermédio de algumas mudanças de pontos de vista, pelo tipo de serviço que presta e por sua conexão com o local e o imediato, embora sejam esses elementos insuficientes para distinguir os gêneros jornalísticos.

Do ponto de vista da relevância social, a circulação do jornal Super Notíciacresce junto à faixa popular, conquistando um público que, por não ter hábito de leitura e por encontrar dificuldade na compreensão de textos mais complexos e aprofundados, encontra em textos mais curtos e superficiais do jornal popular-massivo, uma forma de inclusão. Para Amaral (2004), compreender como a imprensa se faz popular é uma experiência 8 Considero jornais de referência os grandes jornais consagrados econômica e politicamente ao longo da história, que dispõem de prestígio no país e são dirigidos às classes A e B. Os jornais de referência são também conhecidos como quality papers e considerados veículos de credibilidade entre os formadores de opinião.

tomada por questionamentos e críticas, já que, na maioria das vezes, as relações entre o jornalismo impresso e o público leitor popular são tratados com desdém.Entretanto, se é evidente que o jornalismo não pode se submeter à lógica externa, também é crucial que ele se torne mais didático, interessante e vinculado ao universo popular.

Enquanto modelo de jornal popular-massivo9 no Brasil, desde março de 2007, a tiragem do jornal Super Notícia tem superado a Folha de São Paulo e foi considerado em 2013, no início da nossa pesquisa, o maior representante da mídia impressa popular no Brasil, de acordo com os índices do IVC.10 O ranking dos jornais nas cinco primeiras posições permanece o mesmo do ano retrasado: o mineiro Super Notícia na primeira posição, com média de 302.472 exemplares diários em 2013; seguido por Folha de S.Paulo (294.811); O Globo (RJ, 267.541); O Estado de S. Paulo (232.385); e Extra (RJ, 228.099). A tabela abaixo representa o ranking de maior circulação dos jornais no Brasil.

TABELA 01

Tiragem dos principais jornais do país em 2013

Rank Título UF Tiragem Variação %

1 Super Notícia MG 302.472 1,91 2 Folha de São Paulo SP 294.811 -0.95

3 O Globo RJ 267.541 -3,71

4 O Estado de São Paulo SP 232.385 -1,2

5 Extra RJ 228.099 8,84 6 Zero Hora RS 182.277 -3,05 7 Diário Gaúcho RS 151.543 -8,83 8 Daqui GO 159.022 0 9 Correio do Povo RS 135.327 -8,9 10 Meia Hora RJ 118.257 0

Fonte: Site Comunicação e crise

Nesse mesmo período, os chamados jornais de referência, como O Globo (RJ), Estado de São Paulo (SP), dentre outros, apresentaram queda na circulação média, enquanto o jornal Super apresentou crescimento, conforme dados do IVC: com uma variação de 1,91% em 2013, superando os outros jornais. O maior número de tiragem tem sido na capital mineira, embora o Super tenha chegado a outras capitais como Porto 9 As informações completas sobre o jornal popular-massivo e suas relações com o cidadão comum, bem como aquelas a respeito das discussões sobre as diversas formas de redação da imprensa popular, encontram-se em Amaral (2004).

10 O Instituto Verificador de Circulação (IVC) aponta o jornal Super como o mais vendido em 2013 de acordo com o site comunicação e Crise. Disponível em <http://www.comunicacaoecrise.com> Acesso em 03/01/2015.

Alegre, Vitória, São Paulo e Rio de Janeiro.11

No formato tabloide, ele privilegia as notícias que relacionam política, esportes e o mundo das celebridades, aliadas a um projeto gráfico que lhe confere um forte poder de atração sobre seus leitores. O volume de cores e de fotografias mantém um padrão visual agradável, além de um layout de qualidade que, associado à exibição de uma mulher seminua na capa, aos brindes e sorteios para os leitores e à preferência por manchetes impactantes e objetivas, revelam um tipo de jornalismo que se consolidou em uma sociedade imediatista, influenciado pelas novas tecnologias de comunicação.

O jornal Super Notícia tem o mesmo manual de redação do jornal O tempo, por pertencer à mesma editora, a Sempre Editora Ltda, que tem como base o Manual da Folha de São Paulo, o que justifica a padronização dos textos que são publicados, embora existam aspectos no jornal popular que apontam para um tipo de mercadoria-notícia que, segundo Marcondes Filhos (1989), “é um meio de manipulação ideológica de grupos de poder social e uma forma de poder político.” Nos jornais populares-massivos, esse efeito de mercadoria sobre a notícia, segundo Amaral (2006), determina o tipo de leitor que deve saber do que se noticia diariamente. Assim, para ela, “a segmentação do mercado explica a variação das pautas, dos enfoques e da linguagem” (AMARAL, 2006, p.30).

Ao identificarmos nos textos jornalísticos informação e entretenimento, também identificamos um tipo de notícia que se constrói a partir de narrativas marcadas pela cultura da sociedade em que estão inseridas, sendo necessário mobilizar um saber de narração e dominar um inventário de discurso. Para Hall et alii (1993, p.232), a linguagem de cada jornal é uma versão da linguagem do público, que incorpora imagens e um estoque comum de conhecimento subjacente e constitui a base de reciprocidade produtor- leitor.

Hall mostrou como os produtos do jornalismo devem também se tornar significativos por intermédio de sua identificação e contextualização social e cultural. Os modos de endereçamento da notícia estão, portanto, intimamente ligados com o perfil do leitor e de seu universo sociocultural. Para que uma informação faça sentido, é necessária a ocorrência anterior de outros sentidos, já fixados na memória discursiva, que possam ser filiados ao acontecimento presente (HALL et alii 1993, p. 226).

Assim, as reflexões sobre os recursos linguísticos que compõem os discursos do 11 As informações sobre a história do jornal Super como um estudo de caso podem ser encontradas integralmente em Guedes, Maria da Consolação Resende Jornal popular-massivo: as estratégias utilizadas pelo Super Notícia para conquistar seu leitor/ Maria da Consolação Resende Guedes. Belo Horizonte, 2010.

jornal popular Super interessam a esse estudo e serviram para subsidiar a seleção de categorias de análise do corpus desta pesquisa. Tomando por base a maneira como se encontram distribuídas as UFs, faremos, a seguir, uma breve análise sobre as seções escolhidas para este estudo.

3.1.1 AS SEÇÕES DO JORNAL SUPER

Na escolha das seções para a pesquisa, optamos por estabelecer como pré-requisito o emprego das UFs; já o material coletado ocorreu a partir da extração de texto pertencente ao gênero notícia.

Considerando as reflexões acerca das três seções elencadas neste trabalho, podemos sintetizar as principais características das seções em que ocorrem as unidades fraseológicas, bem como em que tipo de matérias elas foram inseridas, conforme mostra o Quadro 02:

QUADRO 02