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CLASSIFICAÇÃO DAS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS NO DISCURSO JORNALÍSTICO POPULAR

OBTENÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 CLASSIFICAÇÃO DAS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS NO DISCURSO JORNALÍSTICO POPULAR

No âmbito da fraseologia, é muito comum encontrarmos relacionadas diversas estruturas como as EIs, as colocações e os provérbios, conforme já exposto na seção 2.1 do capítulo 2. Por conseguinte, dada as controvérsias apresentadas no tocante à classificação das unidades fraseológicas e suas implicações sintático-semânticas, esta pesquisa deveria abranger um estudo de todas as unidades fraseológicas, tarefa que excede, naturalmente, os limites do nosso trabalho, motivo pelo qual nos detivemos em unidades que se comportam enquanto EIs, em virtude da frequência com que ocorrem no jornal Super; e os provérbios, enquanto unidades léxicas fixas, consagradas pelo uso em uma comunidade linguística e empregados com a função de ensinar, repreender ou persuadir o leitor.

Nas seções seguintes, analisamos as estruturas lexicais das expressões idiomáticas, considerando as variações previstas pela norma da língua, isto é, as modificações parciais observadas na estruturação desses constituintes lexicais, em função de uma melhor adequação ao discurso jornalístico popular. Assim, optamos por analisar essas estruturas, mostrando as variações no nível da forma e, em seguida, no nível do significado. No nível da forma, foram analisados os locais de ocorrência das UFs, seguido dos parâmetros de pluriverbalidade, estabilidade sintático-semântica, permuta verbal, formas de negação e de inserção de um novo item lexical, além das restrições sintáticas. No nível do significado,

foram feitas considerações com respeito ao grau de conotação, formalidade, desautomatização fraseológica, influência da linguagem sobre o pensamento e casos especiais das EIs.

4.1.1 VARIAÇÃO DAS EIs QUANTO AO LOCAL DE OCORRÊNCIA NO SUPER

O lugar que as EIs ocupam na notícia pode ser relacionado às leis de proximidade17, que são tratadas aqui como os princípios de base que orientam a atividade jornalística, cuja função é produzir efeitos de credibilidade no leitor. Embora não tenhamos ambições quantitativas, é pertinente dizer que os textos jornalísticos do jornal popular-massivo como o Super são marcados pela grande utilização de EIs. Considerando o lugar em que elas normalmente são empregadas nas notícias, ilustramos os resultados na TABELA 04:

TABELA 04

Frequência de local de ocorrências das EIs no Super

Local de ocorrência das EIs %

Na manchete 104 55,61

No corpo do texto 59 31,55

Na manchete e no corpo do texto 24 12,83

Total 187 100

Esses percentuais atestam a preferência pelo emprego das expressões idiomáticas nas matérias do jornal Super, o que parece não confirmar uma das hipóteses assumidas na pesquisa da qual resultou o estudo aqui apresentado. Das 186 expressões idiomáticas coletadas, 55,61% (104) aparecem nas manchetes das notícias; 31,55% (59) no corpo do texto e apenas 12,83% (24) aparecem na manchete e no corpo do texto. A diferença entre 17 As leis de proximidades orientam as manchetes, seja por relevância geográfica, cronológica ou psico-

os percentuais de UF entre os dois grupos (EI que aparecem na manchete e EI que aparecem na manchete e no corpo do texto) é de 32,78%, ou seja, um percentual significativo, que indica que as unidades estão concentradas, em grande parte, nas manchetes e ocorrem com menor frequência no corpo do texto da notícia.

Observamos que esse resultado está relacionado à característica polifônica das manchetes, incluindo as que se encontram na capa do jornal. Partimos do pressuposto de que emergem das manchetes de jornal vozes que, necessariamente, não estão ditas na superfície linguística. A sua existência e evidência acontecem de forma subjacente ao enunciado.

Para tal, tomamos como base a teoria polifônica da enunciação18, quando o enunciado passa a ser o acontecimento da frase, uma marca de um discurso ou de um fragmento de discurso. O emprego das EIs nas manchetes do jornal caracteriza esse discurso preenchido de inúmeras vozes que dialogam com nossos conhecimentos de mundo, nossos valores internalizados pelas regras sociais, por valores ideológicos e morais. O Super parece desenvolver uma imagem de leitor que pode ser mobilizado pela afetividade que a manchete transmite, o que desencadearia o interesse e a paixão pela informação que lhe é transmitida.

No entanto, cabe destacar, ainda, que a ocorrência das expressões idiomáticas é mais frequente nas manchetes das notícias (55,61%), pelo fato de as expressões idiomáticas, enquanto estruturas da linguagem popular, serem responsáveis pela ênfase que se dá ao fato noticiado. Por intermédio das manchetes, é possível perceber a que fatos e aspectos o jornal dá importância, de acordo com o perfil e a realidade do seu público- alvo. É característica do jornal Super dar um caráter pessoal à reportagem. Através da personalização, é possível contar a vida de alguém ou do povo, tornando a notícia próxima ao leitor. O título já aponta para a singularização, considerando que os jornalistas precisam garantir nas redações que a imprensa popular faça jornalismo e se democratize.

Um fato será notícia na imprensa popular, se puder ser narrado de maneira a ficar próximo ao leitor. É a retórica da autenticidade, muito própria dos produtos populares. Essa proximidade pode se dar pelo conteúdo do fato, pelas personagens que envolve e pela linguagem utilizada. A linguagem, então, passa a ser um instrumento de democratização. Em outras palavras, o jornal popular fala o que o povo fala.

A seguir, essas unidades distribuídas na manchete do jornal SUPER serão interpretadas sob a perspectiva da pluriverbalidade.

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4.1.2 VARIAÇÃO QUANTO Á PLURIVERBALIDADE

Para este trabalho, consideramos UFs todas aquelas construções caracterizadas pela pluriverbalidade, ou seja, que compartilham, pelo menos, duas unidades lexicais na estrutura. Consideramos, no nosso corpus, que as expressões lexicalizadas consistem em um conjunto de palavras e que a junção desses elementos é que denotam certa ideia. Dessa forma, expressões lexicalizadas, de uma forma ou outra, estão gravadas no acervo lexical do falante e podem ser acessadas a qualquer momento, desde que como uma única entrada. O resultado da classificação das EIs em relação ao critério de pluriverbalidade estão na TABELA 05:

TABELA 05

Classificação das EIs quanto ao critério da pluriverbalidade

Classificação das EIs %

Unidades fixas 32 17,11%

Unidades semi-fixas 142 75,93%

Unidades variáveis 3 6,96%

Total 187 100%

Para a classificação das expressões idiomáticas, adotamos as características citadas na seção 2.3.1, do capítulo 2, que considera a tipologia dessas unidades, a partir do critério da pluriverbalidade. Dependendo do tipo de modificações morfossintáticas que as EIs admitem, elas podem ser classificadas como fixas. São denominadas fixas as unidades que, conforme já exposto no capítulo 2, atingiram um grau de aderência tão forte entre os termos e, por isso, tornaram-se estáveis. Trata-se das lexias que já estão articuladas e já possuem uma combinação frequente no discurso. As semi-fixas aceitam variações lexicais e flexões de alguns de seus componentes, até um determinado ponto, enquanto as variáveis admitem a inserção de modificadores como os adjetivos e os advérbios.

Os dados contidos na tabela acima mostram que a maior parte das EIs apresentadas no nosso corpus podem ser consideradas unidades semi-fixas, ou seja, das 187 expressões analisadas, 75,93% (142) dessas EIs sofreram algum tipo de variação lexical ou de flexão verbal em sua estrutura. A seguir, esses resultados serão interpretados sob a perspectiva da estabilidade sintático-semântica.

4.1.3. VARIAÇÃO QUANTO AO GRAU DE FIXIDEZ

Conforme se viu na seção 3.3, do capítulo 3, existem restrições quanto à variação das EIs no que diz respeito ao nível sintático, já que consideramos que os objetos diretos não podem variar igual ao de uma combinação livre, nem, tampouco, pode ocorrer a variação do verbo da expressão. Nesta seção, analisamos a ocorrência dessas expressões em relação à estrutura sintática com que elas se apresentaram no Super. Os dados correspondentes à variação pelo grau de fixidez estão distribuídos na TABELA 06:

TABELA 06

Distribuição das EIs por grau de fixidez

Expressões idiomáticas %

Maior grau de fixidez 67 35,83

Menor grau de fixidez 120 64,17

Total 187 100

Ora, se o maior número das EIs encontradas no corpus são consideradas semi- fixas, como visto na TABELA 05, da seção anterior, o grau de fixidez dessas unidades tende a ser menor. Pelo fato de as expressões idiomáticas serem constituídas por vários elementos lexicais, elas ensejam grandes possibilidades de variação, o que relativiza a sua invariabilidade. Porém, há que se considerar que alguns casos permitem adaptações sintáticas, embora sejam variações bastante limitadas, conforme já exposto na seção 3.3, no capítulo 3.

O que se observa pelos resultados apontados na TABELA 06 é que, as EIs apresentadas no nosso corpus sofreram variação em relação à estrutura sintática e que a ocorrência de unidades com menor grau de fixidez, 64,17% (120) dos 187 itens analisados, foi maior do que as unidades consideradas mais fixas, ou seja, 35,83% (67). No quadro 03, temos um exemplo desse tipo de variação:

QUADRO 03

Variação das EIs quanto ao grau de fixidez (estabilidade sintático-semântica)