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AS EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS DURANTE AS OFICINAS

3.3 As fases de Motivação e de Introdução nas oficinas literárias

Conforme exposto no item 2.6 do capítulo anterior, a Motivação é a primeira fase da sequência básica pensada por Cosson (2006) e tem o propósito de preparar os alunos para receberem a obra literária. Quando realizada de modo adequado, a Motivação favorece a imersão do aluno-leitor na leitura de forma mais entusiasta, suscitando uma melhor interação entre o leitor e o texto. Por essa razão, deve ser desenvolvida de maneira criativa, podendo enfocar as características estéticas do texto e/ou enfatizar uma temática.

A sala de aula é um espaço oportuno às práticas de leitura literária e é propício para o professor que deseja promover o letramento literário de seus alunos aplicar a Motivação no

processo de leitura. Entretanto, devemos ser cautelosos para não formularmos para o aluno a interpretação do texto, pois cabe ao aluno fazer esse percurso interpretativo embasado em sua identidade e em suas experiências.

A partir dessa perspectiva, realizamos uma etapa de Motivação para cada oficina de literatura, dado que foram trabalhados nove contos literários distintos ao longo das oficinas. Ressaltamos que o efetivo contato e as vivências com o texto literário ocorreram da terceira oficina até a décima segunda. As demais oficinas constituíram: momentos de sondagem e apresentação da proposta (primeira e segunda oficina); análise das leituras, debate sobre a importância da leitura e da literatura, realização do evento literário (décima segunda à décima quarta oficina); e, por último, o encerramento (ver Quadro 01, no final do capítulo 2). Todas as oficinas são igualmente descritas, neste capítulo 3, para mostrar o percurso desta pesquisa como um todo, em prol da efetivação do letramento literário em nossa prática docente.

A Introdução é a segunda fase da sequência básica idealizada por Cosson (2006). Essa etapa consiste em apresentar a obra, o autor e os aspectos relevantes que contribuirão para a preparação do momento de leitura e interpretação do texto literário. Realizamos essa estratégia em todas as oficinas de leitura; inclusive, a segunda oficina foi elaborada especificamente para apresentar os textos literários e seus respectivos autores (ver Apêndice 03 – II Momento e Apêndice 04 – I Momento).

Para cumprirmos pontualmente as etapas da proposta didática, embasada na sequência básica de letramento, procedemos com a fase de Introdução em todas as oficinas de leitura. Utilizamos esse momento para analisar previamente os elementos paratextuais das obras, a fim de despertar um olhar de curiosidade e criticidade em nossos alunos. Na sequência, desejosos que os alunos já tivessem realizado uma primeira leitura do conto, como fora orientado10, abrimos um espaço para eles mencionarem opiniões sobre as características

físicas do livro, os autores e/ou outros aspectos que surgissem.

Posteriormente, apresentamos a capa do livro no retroprojetor e o aluno, em posse de seu exemplar, realizava a exploração da obra. Ressaltamos que alguns exemplares de mesmo título possuíam a capa diferente e explicamos aos alunos os motivos desta distinção, dentre eles a variedade de edições. De modo geral, isso não traz prejuízo para a análise das características físicas dos livros, nem para a efetivação da leitura; se bem entendido, pode levar os alunos a perceberem como varia a diagramação das edições, quantas publicações as obras já têm, a recepção delas pelo público leitor etc.

10 O livro era entregue ao aluno com uma semana de antecedência, para a realização de uma leitura inicial, antes da concretização da oficina literária.

A fase de Introdução da leitura, realizada nas oficinas em que trabalhamos os contos “Felicidade Clandestina” (Clarice Lispector), “A moça tecelã” (Marina Colasanti) e “A pequena vendedora de fósforos” (Hans Christian Andersen),foi mais rápida. Acreditamos que seja pelo fato de o livro e o conto escolhido possuírem o mesmo título e imagens na capa relacionadas aos dois, ainda que o livro tenha outros contos. A seguir, respectivamente, as capas dos três livros homônimos aos contos analisados:

Figura 02 - Apresentação das obras literárias

Nas oficinas destinadas à leitura dos contos “A festa” (Wander Pirolli), presente no livro De conto em conto, e a “A casa de bonecas” (Katherine Mansfield), apresentado no livro

Histórias sobre ética, percebemos que essas obras literárias já eram conhecidas pelos alunos.

Isso se dá pelo motivo de esses exemplares fazerem parte do acervo da instituição e de os alunos terem lido outros contos destas coletâneas em séries anteriores. A seguir, a capa das coletâneas que contêm os contos selecionados para a sequência básica:

Figura 03 - Apresentação das obras literárias

Nas oficinas em que foram lidos os contos “Selvagem é o vento” e “Um instante de inocência”, ambos do mesmo livro (Cenas urbanas) e autor (Júlio Emilio Braz), os alunos mencionaram comentários sobre as imagens presentes no livro. Acreditamos que o caráter

imagético presente na obra tenha agradado aos alunos: as imagens lhes pareceram um aspecto positivo para complementar a prática de leitura, pelo fato de enriquecer o processo interpretativo do texto. A seguir, a capa do livro:

Figura 04 - Apresentação da obra literária

Nas oficinas em que lemos os contos “Uma vela para Dario” (Dalton Trevisan)e “O bife e a pipoca” (Lygia Bojunga), a etapa de Introdução precisou de um tempo mais estendido. Isso ocorreu em virtude de as indagações dos alunos sobre as imagens das capas dos livros, respectivamente Cemitério de elefantes e Tchau, não serem diretamente associadas à temática dos contos lidos. A seguir, as capas de ambos os livros:

Figura 05 - Apresentação das obras literárias

Explicamos, então, que a eleição dos contos se deu pela (s) temática(s) que retratavam e que a coletânea também trazia os contos com o mesmo título do livro. Aproveitamos o ensejo para, novamente, instigar os alunos a lerem todos os textos presentes nos livros, pois supomos que a curiosidade em relação às imagens das capas é um elemento instigador para que o aluno busque realizar a leitura total da obra.

Acreditamos que a realização da etapa de Introdução, antes de inciarmos as leituras dos textos em si, contribuiu para que nossos alunos elaborassem hipóteses diante da leitura a ser realizada, utilizando seus conhecimentos e suas experiêncidas sociais. Segundo Ângela Kleiman (2013), a formulação de hipóteses é uma estratégia cognitiva que deve ser explorada previamente à leitura. Desse modo, ao concluir a leitura, o aluno confirmará ou contestará suas hipóteses formuladas na fase da Introdução.