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Apreciação dos contos literários

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossa pesquisa surgiu em decorrência da escassez de práticas educacionais voltadas à formação de leitores literários, no contexto educacional em que atuamos. Evidenciamos que são raros os momentos destinados ao contato e às vivências dos alunos com a leitura literária e isso, de modo (in)direto, os priva de experimentar a literatura, os sentimentos, as sensações, os novos mundos expressos por ela. Como alude Candido (1995b), a literatura é um direito de todo cidadão, porque ela humaniza e propicia viver através da fabulação.

Percebemos, por meio das experiências vivenciadas na realização das oficinas literárias, que é possível transformar as aulas de leitura em um espaço de/para formação de leitores literários autônomos e críticos. Igualmente, conscientizar nossos alunos de que a leitura, especificamente a de textos literários, colabora não somente com a construção de um leitor proficiente, mas de modo incontestável para a compreensão de dramas humanos que nos envolvem nas diversas esferas sociais.

Iser (1996) postula que a ficção nos proporciona experiências que nos impedem de separarmo-nos dela, ademais a literatura pode mobilizar a atenção do leitor para um momento de reflexão. Portanto, se a experiência com o texto literário desloca o leitor do seu lugar habitual, (re)produzindo efeitos e sentidos aos que o lê, cremos que o desenvolvimento desta pesquisa cooperou para que ocorresse a percepção crítico-reflexiva dos dramas humanos dentro do espaço escolar investigado.

As oficinas facultaram que nossos alunos, enquanto leitores, vivenciassem um movimento de interação e explorassem a polissemia presente nos contos literários durante o diálogo com os textos. Por intermédio dessa ação interventiva, possibilitamos que o contato e as vivências de nossos alunos com o texto literário viabilizassem uma prática continuada de leitura literária. Lutamos para que as aulas de leitura pudessem ser tidas como um espaço de convívio e diálogo entre o leitor e o texto, afastando esse momento da concepção equivocada de que a literatura é meramente mais uma disciplina no currículo escolar.

Constatamos, pela análise dos gráficos e quadros, a contribuição que nossa pesquisa teve com o alargamento da reflexão crítica de nossos alunos, mediante a gama de interpretações que as leituras suscitaram e, igualmente, com o estímulo a um olhar humanizado frente a esse processo interpretativo. Diante disso, compreendemos que o professor deve traçar estratégias que aproximam o aluno do universo literário, propiciando aulas em que os alunos se apoderem de perspectivas do texto literário, construam suas hipóteses de leitura e, em seguida, as confirmem ou não pela efetivação da leitura.

Sabemos que as pesquisas de cunho investigativo identificam, em geral, pontos assertivos e pontos desfavoráveis em sua realização. No campo da educação, não poderia ser diferente, pois avaliar esses aspectos enriquece nossa pesquisa e coopera para o aprimoramento de nossa prática docente. Observamos como pontos desfavoráveis para a execução de nossa pesquisa a ausência do laboratório de informática e a carência de um espaço físico que fosse destinado aos momentos de leituras.

Para minimizar o primeiro aspecto desfavorável, levamos para a escola o modem wifi de uso pessoal; porém, entendemos que outros colegas docentes talvez não tivessem essa possibilidade, o que acaba por restringir aulas de leitura literária que utilizam a internet e suas ferramentas. Em relação à carência do espaço, segundo aspecto desfavorável, tentamos tornar a sala de aula um local mais agradável, servindo-nos de diversas estratégias para beneficiar os momentos de leituras: rodas, dinâmicas, competições coletivas, dentre outras atividades que contribuíssem positivamente a fim de modificar o ambiente físico da sala de aula.

Desse modo, inferimos que o professor que deseja trabalhar com a leitura literária, em sua prática docente, necessita se preparar para os desafios presentes no cenário educacional atual; bem como que a ausência de políticas públicas voltadas à leitura, a carência de exemplos leitores no núcleo familiar, o uso descomedido de tecnologias por parte dos alunos e os fatores socioculturais interferem (in)diretamente na formação leitora dos alunos. Logo, é fundamental o professor traçar estratégias e soluções que possam transformar suas aulas em um espaço de mediação entre o texto literário e o aluno-leitor, pelo qual os alunos (re) construam sua relação/interação com o ato de ler, apoderem-se de elementos da linguagem literária e do universo da literatura.

Esta pesquisa nos mostrou que é possível modificarmos as aulas de leitura, tornando- as um elemento motivador para que os alunos se transformem em leitores ativos. O professor pode favorecer esses momentos, ao adotar uma perspectiva menos avaliativa e mais colaborativa. A pesquisa alcançou resultado exitoso e percebemos que o trabalho realizado com os contos, selecionados junto como os alunos, contribuiu para a promoção do letramento literário, nosso objetivo geral desde o início da proposta interventiva; permitiu, ainda, uma gama de leituras crítico-reflexivas e a elaboração de sentidos que encaminham os alunos doravante à humanização.

Então, caminhamos para o final das considerações de nossa pesquisa, em consonância com as palavras de Andruetto (2012, p. 24):

Para que escrever, para que ler, para que contar, para que escolher um bom livro em meio à fome e às calamidades? Escrever para que o escrito seja abrigo, espera, escuta do outro. Porque a literatura, mesmo assim, é essa metáfora da vida que continua reunindo quem fala e quem escuta num espaço comum, para participar de um mistério, para fazer que nasça uma história que pelo menos por um momento nos cure da palavra, recolha nossos pedaços, junte nossas zonas mais inóspitas, para nos dizer que no escuro também está a luz, para mostrarmos que tudo no mundo, até o mais miserável, tem seu brilho.

Nesse sentido, percebemos que a escola é um dos caminhos de acesso à literatura. Assim, precisamos buscar continuamente oportunidades para efetivar o encontro do aluno com o texto literário, em nossas práticas docentes, consolidando a implementação do letramento literário e compreendendo-o como um processo contínuo e eficiente.

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APÊNDICE 01

Data: Horário: Local:

Participantes envolvidos:

Não nomear, a fim de se garantir a preservação da identidade dos participantes. 1. Planejamento:

Como foi planejado o contato com o texto literário e o momento de leitura em sala. 2. Ação:

Metodologia utilizada pela pesquisadora para promoção do letramento literário. 3. Objetivos das ações:

O que se pretende com a ação.

4. Desenvolvimento das atividades propostas:

Como foram desenvolvidas pelos alunos a leitura, as oficinas, as produções orais e escritas, etc.

5. Reflexões:

Relações entre a realidade vivenciada e a base teórica que fundamentou as atividades. 6. Avaliação:

Objetivos, resultados esperados e alcançados. 7. Bibliografia:

Bibliografia utilizada para o desenvolvimento das atividades. Fonte: Elaborado pela autora.

APÊNDICE 02