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Neste capítulo, apresentamos a MQ da conformação das Dissertações e Tese selecionadas para análise, que versam sobre Educação das Relações Étnico-Raciais e/ou Decolonialidade na Formação de Professoras (es) de Ciências Naturais. Tal empreendimento, partiu do princípio de que:

Ainda que as avaliações que geralmente acompanharam os relatos dessas experiências registrem, por vezes, ausência de regularidade nos processos relativos às aquisições dos equipamentos didáticos, aliados a entraves de toda a natureza nas formações oferecidas. Tais ações traduzem os estudos da academia, internalizados no espaço final, para o qual se voltam as atenções de expressivo quantitativo das pesquisas sobre formação de professores e relações étnico-raciais, concretizando os modos de percepção encetados pela produção científica (BRITO, 2018, p.130).

Nesse sentido, incitados pela necessidade de ampliação de “investimentos e intercâmbios de ideias e expertises, de campos e conhecimentos, na intenção de superação dos saberes fragmentados (...) e do isolamento na produção intelectual” (COELHO & SILVA, 2016, p. 398). Buscamos responder, nos parágrafos que se seguem, à questão desencadeadora da presente pesquisa, a qual tem como verso: que feições são conferidas as produções acadêmicas, na forma de dissertações e teses, das (os) professoras (es) – formadora (or) e em formação continuada – do campo de conhecimento das Ciências Naturais, que têm como seu objeto de pesquisa a associação temática – Formação de Professores de Ciências, Ensino de Ciências, Educação das Relações Étnico-Raciais e Pensamento Decolonial – publicizadas nos últimos dezesseis anos de vigência da lei N.º 10.639/2003?

No que tange, as percepções que os estudos encaminham, estas incidem com maior expressividade sobre as categorias 3 (três) e 5 (cinco) que remete as influências: da identidade, pertencimento étnico-racial e cultural, e do caráter político-ideológico – da (o) profissional e da profissão docente – sobre as relações sociais estabelecidas dentro e fora do contexto escolar. Constatação que reflete, como, por distintas dimensões, as (os) pesquisadoras (es) atribuem sentido ao debate, sobre Formação de Professores de Ciências para Educação das Relações Étnico-Raciais. Contudo, não denota a compreensão ampla dos aspectos da formação, que

constituem o sujeito dessa ação, o (a) professor (a), como agente histórico e político- pedagógico, portador da capacidade crítica, de identificar e entender, as potencialidades e limitações da sua prática incidir sobre as relações sociais. Ao passo que, 50% (cinquenta por cento) abordam as unidades de significado que compõem as referidas categorias em uma dimensão geral, em especial identidade, para problematizar a necessidade de reconstrução da identidade nacional, e não numa dimensão local, se assim pudemos chamar, para refletir sobre esse aspecto especificamente a partir da Formação do (a) Professor (a), enquanto protagonistas no cenário de análise.

Constatação já feita por Gomes e Silva (2002, p. 17), e que dado o correr dos anos não avançou. Quando elas assinalaram que:

Inserir essa complexa problemática na produção teórico-metodológica educacional pressupõe uma nova concepção de educação e de formação. Uma concepção que entenda o profissional da educação enquanto sujeito sociocultural, ou seja, aquele que atribui sentido e significado à sua existência, a partir de referências pessoais e coletivas, simbólicas e materiais e que se encontra inserido em vários processos socializadores e formadores que extrapolam a instituição escolar. Muitas vezes, esses processos apresentam- se como referência e orientação para a prática docente mais do que aqueles que acontecem pela via institucional. Essa afirmação não significa um menosprezo aos processos institucionais de formação. Representa um alerta para que não reduzamos as nossas análises educacionais somente à educação escolar, desconsiderando os processos culturais, sociais e políticos mais amplos, constituintes de toda experiência humana.

Interpretando as referidas percepções, depreendemos desse cenário que o campo de pesquisa da Formação de Professoras (es) de Ciências em seu contexto geral, e em particular na articulação com as temáticas referentes as relações sociais, caminha a passos curtos, pelo menos no que diz respeito a produção acadêmica aqui inspecionada. E, quando pormenorizada a temática, para o trato com as relações étnico-raciais, ratificamos a existência de uma lacuna nesse campo de conhecimento, que se refere ao necessário reconhecimento do papel da Educação em Ciências na (re) produção e no combate, do racismo e de injustiças sociais.

As categorias atravessam enfoques, que apesar das diferentes dimensões em que estão situados, ratificam a complexidade que, circunscreve e permeia, os processos de Formação de Professores. Na medida em que, esta se constitui no ponto de intersecção entre, academia, escola e sociedade, sendo que, desta última emergem demandas constantes que

requerem tratamento e retorno, numa velocidade que não é acompanhada pelos avanços desse campo de pesquisa.

Outra feição que podemos conferir a conformação dessas produções diz respeito a baixa aderência ao uso de teóricos negros como aportes teórico-metodológicos. Da qual podemos inferir que, ainda que no arrazoado bibliográfico alguns nomes tenham ganhado notoriedade, não se pode deixar passar desapercebido que, em estudos que se propõem a falar de políticas de Estado e Ações Afirmativas voltadas para população negra e para sua desestigmatização e valorização, se privilegia o uso das lentes daqueles que não calçam nossos sapatos. O que nos interpela a voltarmos olhares atentos para ausência, quase que total, de pensadores (des) decolonial sustentando argumentos e proposições no corpo do estudo. O que, destacamos e enfatizamos, não invalida e/ou deprecia tais estudos.

Outra feição que podemos conferir a conformação dessas pesquisas, é o caráter generalista que 50% (cinquenta por cento) destas, apresentam. Ao consideramos que, no intento de investigar a ERER na Formação de Professoras (es) de Ciências, tenha se privilegiado, reflexões acerca dos impactos, limites e dificuldades de implementação da lei, em detrimento de investir esforços na investigação de como viabilizar sua operacionalização e/ou de iniciativas de sucesso que já circulam nos bastidores de programas de pós-graduação e há muito vem sendo desenvolvido e praticado pelos Movimentos Negro, enquanto instituição educadora.

Apercebemos também, que em sua conformação geral, as pesquisas reforçam a necessidade de compreensão da Formação de Professores como um continuum, que não supervaloriza nenhum estágio de formação. Ao passo que, na operacionalização de todas as investigações a interlocução entre professoras (es) (formadoras (es) e em formação inicial e continuada) foi de sua importância para desvelar alguns aspectos do objeto que se encontrava na intersubjetividade menosprezada, como, por exemplo, o indicativo da necessidade de pesquisas interseccionais que tratem de gênero e raça, que emergiu dos diferentes, tempos, espaços e estágios.

A conformação das pesquisas, também se constitui em prova cabal da importância de construção, desenvolvimento e solidificação de grupos de pesquisas e Neabis, fortes. Na medida em que estes, se revelaram verdadeiros divisores de água e pontos-chave para

viabilidade de 50% (cinquenta por cento) das pesquisas, as quais: Verrangia (2009) e Brito (2017).

Por último, mas não menos importante, a conformação das pesquisas reflete a ausência de pesquisadores negros no campo. Se constituindo em indicativo da necessidade de construção de uma elite de pesquisadoras (es) pretas (os), que impulsionem a consolidação do campo de pesquisa ‘Diversidade Étnico-Racial e Cultural na Formação de Professoras (es) de Ciências Naturais’. Realidade desvelada, ao empreendermos esforços para identificar quem são as vozes que ‘bradam’ por trás dessas pesquisas, e nos depararmos com a realidade “insatisfatória” de que 50% (cinquenta por cento) das investigações foram conduzidas por pesquisadoras que se autodeclaram brancas e/ou amarelas.

Podemos acrescentar ainda que, a pouca aproximação entre o Pensamento Decolonial e Formação de Professoras (es) de Ciências, e ainda a necessidade de (des) decolonizar a Educação em Ciências, como um todo, e seus campos de pesquisa, ficam evidenciadas através da MQ das Dissertações e Teses selecionadas.

Aqui abrimos parêntese para registrar nossa ciência de que muito ainda há para ser explorado desses dados, bem como, do cenário de pesquisas geral do campo de Educação em Ciências. Contudo, ratificamos nosso compromisso com a consolidação do campo de pesquisa: ‘Diversidade Étnico-Racial e Cultural na Formação de Professoras (es) de Ciências Naturais’, apresentando na próxima seção, alguns referenciais e práticas pedagógicas que têm como foco a descolonização do Ensino de Ciências e a desconstrução da imagem depreciativa da população preta; e nos comprometendo em seguir com as análises e produção de dados (publicação de artigos), com fins de contribuir para superação dos limitadores: ‘desconhecimento’, ‘falta de instrumento e material de apoio’, ‘dificuldade de acesso à informação’, etc.