• Nenhum resultado encontrado

As gerações do ciberjornalismo como narrativas jornalísticas no ciberespaço

Da produção à circulação da notícia, a primeira geração do ciberjornalismo é caracterizada pelas técnicas dos conteúdos dos jornais impressos serem transpostos para o novo suporte, praticamente, do mesmo jeito da edição em papel. As páginas em PDF eram colocadas na internet da mesma forma como apareciam na versão impressa, procedimento marcado notadamente pela forma “dura” com que o conteúdo era inserido na internet. Trata-se do mesmo conteúdo nas duas versões, ou seja, o material disponibilizado na internet era o mesmo da versão impressa, por isso, ficou conhecida como “fase de transposição”. Como era disponibilizado no modelo PDF, não havia uma adaptação do conteúdo ao novo suporte. De acordo com Mielniczuk (2003), os conteúdos destes primeiros modelos de sites jornalísticos tinham atualização periódica a cada 24 horas, ou seja, quando era rodada nova edição impressa. Em Dourados, os jornais impressos O Progresso e Diário MS passaram por essa fase, ao migrarem para a internet, postando seus conteúdos no ciberespaço em PDF. O Progresso entrou na internet em 1997, enquanto o Diário MS só mais tarde, na década de 2000.

A segunda geração do ciberjornalismo foi mais percebida no final de 1990, cinco anos após a implantação da nova prática jornalística nas redações do país. Com a melhoria da internet, a fase ainda muito associada ao jornal impresso, apresenta as primeiras tentativas de alteração de conteúdo com o começo da exploração das características tecnológicas como a hipertextualidade. Nesse contexto, surgiu a seção últimas, possibilitando a instalação de links tanto para matérias já publicadas, quanto para outras, associadas ao mesmo assunto. Depois, os jornais passaram a explorar a seção mais lidas, seguindo a mesma lógica. A estrutura de texto usada nas matérias produzidas para a internet seguiu a mesma dinâmica do jornalismo impresso, com alterações de pequena monta, compreendida por Mielniczuk (2003) como “fase da metáfora”.

Alguns jornais como O Povo de Fortaleza e o JB do Rio de Janeiro, produziam um barulhinho quando era dado o clique para a mudança de página, parecido com o som de quando se manuseia uma página de papel, como se a tecnologia apresentasse ao leitor uma nova metodologia do processo jornalístico, sem mudanças drásticas. Palacios (2003) explica que as ideias de continuidades e rupturas, tão caras à história, estão bem presentes no ciberjornalismo, ao argumentar que nem todas as características do ciberjornalismo representam aspectos tão novos como se pensa. Segundo o autor, muitas dessas características tecnológicas oferecidas pela internet já eram utilizadas em outras mídias, não passando, portanto, de continuidade no novo suporte.

A Multimidialidade do Jornalismo na Web é certamente uma Continuidade, se considerarmos que na TV já ocorre uma conjugação de formatos mediáticos (imagem, som e texto). No entanto, é igualmente evidente que a Web, pela facilidade de conjugação dos diferentes formatos, potencializa essa característica. O mesmo pode ser dito da Hipertextualidade, que pode ser encontrada não apenas em suportes digitais anteriores, como o CD-ROM, mas igualmente, e avant-la-léttre, num artefato comunicacional de tipo impresso tão antigo quanto uma enciclopédia. A personalização é altamente potencializada na Web, mas já está presente em suportes anteriores, através da segmentação de audiência (públicos-alvos). No jornalismo impresso isso ocorre, por exemplo, através da produção de cadernos e suplementos especiais (cultural, infantil, feminino, rural, automobilístico, turístico, etc); no rádio e na TV a personalização tem lugar através da diversificação e especialização das grades de programação e até mesmo das emissoras especializadas [...]. Ora, em sendo assim, onde estariam as Rupturas no jornalismo praticado nos suportes telemáticos e em especial na Web? Sugerimos que, para além das Continuidades e Potencializações, algumas Rupturas efectivamente ocorrem. Em primeiro lugar, e como facto mediático mais importante, na Web, dissolvem-se (pelo menos para efeitos práticos) os limites de espaço e/ou tempo que o jornalista tem a seu dispor para a disponibilização do material noticioso (PALACIOS, 2003, p. 23).

O panorama da segunda geração do ciberjornalismo só vai aparecer de forma mais definida nos jornais impressos de Dourados, na transição das décadas 2000 e 2010, ou seja, quase 20 anos após a entrada da maioria dos jornais brasileiros na internet, inclusive os impressos da cidade. Isso se deveu ao fato de os jornais O Progresso e Diário MS não terem privilegiado as suas versões na internet. Embora já tivessem as versões online, os conteúdos publicados eram praticamente os mesmos das versões impressas, inseridas no suporte web, sem utilizar as potencialidades oferecidas pela internet que tornam as matérias dos cibermeios mais atrativas pela atualização contínua, a hipertextualidade e outros serviços oferecidos pelos portais de notícias.

A Folha de Dourados, por exemplo, só começou a priorizar o novo suporte em meados de 2013, quando fez sua opção pela web, depois de abandonar o impresso no final de 2012. Lembrando que estamos tratando dos impressos que migraram para o ciberespaço, jornais cujas duas primeiras gerações do ciberjornalismo estão associadas. Nesse panorama, não se insere o

Dourados News, por já ser fruto da internet, integra a terceira geração, cuja maneira de tratar a

notícia está relacionada às potencialidades do suporte web.

Na terceira geração do ciberjornalismo foi detectada uma tentativa mais forte de produção de um conteúdo original. De acordo com Mielniczuk (2003), nessa fase a exploração das seis características do ciberjornalismo tornou-se mais presente em função da utilização de potencialidades de recursos como multimídia, ferramentas de interatividades, os fóruns e chats, “constituindo sistemas descentralizados próprios, capazes de incorporar as contribuições de usuários, para a apuração, produção e circulação” (MACHADO, 2003, p. 131).

jornal impresso previamente existente, que chegava à web. É notória uma dinâmica capaz de explorar as potencialidades da internet na concepção da narrativa informativa, o que fica evidente em sites de notícias que passaram a incorporar “o uso de blogs em seus produtos; apresentam recursos multimídia, como sons, animações, infográficos interativos, entre outros, para a construção das peças informativas e para o enriquecimento da narrativa jornalística (BARBOSA, 2007, p. 2).

Dessa maneira, um maior dinamismo e mais informações possibilitaram contextualizações mais abrangentes, além de aprofundar a notícia pelo uso de base de dados (informações de banco de dados dos cibermeios), outro elemento incorporado que oportunizou a função de estruturar e organizar melhor as informações de natureza jornalística.

Barbosa (2007) vislumbra uma fase intermediária entre a terceira e a quarta geração em função do envolvimento da tecnologia da base de dados, com capacidade de armazenar maior volume de informações disponíveis aos internautas usuários dos cibermeios. A pesquisadora compreende essa fase intermediária como um paradigma por abranger uma série de avanços tecnológicos, tais como a ampliação da base tecnológica, o acesso à internet expandido por meio de conexões de banda larga, a proliferação de plataformas móveis, algoritmos, linguagens de programação, desenvolvimento de sistemas de gestão de conteúdos mais complexos, maior incorporação de blogs e adoção de sistemas que permitem a participação mais efetiva do usuário na produção de informação. Ainda, segundo a autora, “a proposição de tal modelo como marco entre a terceira e uma quarta geração do jornalismo digital é justificada, sobretudo, em função da complexificação dos processos para a implantação de produtos jornalísticos no ciberespaço”, uma vez que “com a evolução dos recursos, das técnicas e do próprio nível de exigência dos usuários, os produtos necessitaram (e necessitam) adequar melhor seus formatos e a oferta informativa”. (BARBOSA, 2007, p. 150). Para ela, a tecnologia de base de dados criou soluções para trabalhar de forma satisfatória os novos recursos de linguagens de programação incorporados para dar forma a produtos dinâmicos, melhor elaborados, possibilitados pelos sistemas de gestão de conteúdos implantados que permitem o uso das potencialidades oferecidas pela internet.

Dissemos que a mídia online de Dourados nasceu com O Progresso na segunda metade da década de 1990, se somando a vários outros jornais brasileiros país afora. Na sequência, viriam outros como o Dourados Agora, que embora não pertença ao grupo empresarial O

Progresso, tem ligações e implicações profissionais, pois é de propriedade de Blanche Torres

e, por alguns anos, teve o mesmo desenvolvedor de site de O Progresso, a empresa de Paulo Lobo, a Bimboo. Depois da adesão dos impressos ao suporte web, passado pelas duas primeiras

gerações e a consequente adesão às novas tecnologias, podemos dizer que os cibermeios de Dourados se enquadram na terceira geração do ciberjornalismo pelas ferramentas utilizadas em suas plataformas de produção e circulação de notícias, ainda que não utilizem de forma otimizada todas as possibilidades oferecidas pelo ciberespaço.

A produção histórica sobre mídia eletrônica se ressente da escassez de arquivos digitais, principalmente, das experiências iniciais do jornalismo online. É preciso entender, todavia, que a internet configura uma nova categoria de fontes documentais para pesquisas históricas. Nesse sentido é possível acessar páginas impressas de notícias publicadas por cibermeios de Dourados no acervo do Centro de Documentação Regional da UFGD, que certamente não constam mais em nos bancos de dados de suas homepages.

Em Dourados, os desenvolvedores de softwares de webnotícias, as empresas proprietárias dos sites, os jornalistas e editores dos primeiros modelos digitais não guardaram qualquer arquivo desse período, seja de notícias ou layouts dos sites. Lobo ressaltou que “ não havia uma preocupação com isso na época, com as telas”, porque tudo era feito em código, “ninguém desenhava nada, era tudo direto no código, ninguém se preocupava com isso, então, [...] não tinha croquis, pré-layout, nada”. O código a que se refere o desenvolvedor de software se trata da linguagem digital, da linguagem usada para a montagem de um site, a tecnologia HTML63.

Embora ocorra uma mescla com outras linguagens, atualmente prevalece a do HTML, com versões atualizadas, de acordo com a tecnologia utilizada. As constantes atualizações permitiram chegar na versão 5 do HTML, que possibilita a publicação de vídeos nas plataformas de smartphones e de dispositivos similares, como explica Lobo:

Você acessa a internet hoje no celular por causa da linguagem HTML 5.0. Ela que permitiu esse acesso pelo celular. As versões 1.0, 2.0, 3.0 e 4.0 trabalhavam apenas no desktop. Tem muita gente que ainda usa o site antigo. Hoje, 60% dos sites precisam ser refeitos para atender a essa demanda. O software de publicação de notícia é contratado no formato de locação, não compensa você comprar, porque o código

63 O HTML foi criado em 1991, por Tim Berners-Lee e tinha como objetivo, inicialmente, interligar instituições

de pesquisa próximas, e compartilhar documentos com facilidade. Em 1992, foi liberada a biblioteca de desenvolvimento WWW (World Wide Web), uma rede de alcance mundial, que junto com o HTML proporcionou o uso em escala mundial da web. O HTML é uma linguagem de marcação. Estas linguagens são constituídas de códigos que delimitam os conteúdos específicos, segundo uma sintaxe própria. Estes códigos definem, por exemplo, o tipo de letra, o tamanho, a cor, o espaçamento, e vários outros aspectos do site. No início era muito complicado aprender HTML, pois dependia de muitos comandos para fazer algo simples. A cada nova versão, o HTML fica mais fácil de ser utilizado, adquirindo, inclusive, mais funções. Atualmente qualquer pessoa pode acessar a internet a aprender a construir um site básico em questão de horas, seguindo os passos de tutoriais e aprendendo as funções de cada código. O HTML foi a primeira linguagem de nível mundial, mas não é a única. Existem outras linguagens destinadas a criação de páginas da web, porém o HTML ainda prevalece. Atualmente é possível integrar várias linguagens na mesma página, sendo possível usar duas ou mais linguagens no mesmo site. (PASCOAL, 2008; www.olhardigital.com.br). Acesso em: 10.02.2019.

evolui muito rápido, nós estamos conversando aqui, quando for no final da tarde, o pessoal está me passando alguma coisa nova. Então, isso não para. É a busca da transformação para 3G, nós construíamos sites para navegar no computador, agora, nós estamos passando pelo amadurecimento do celular. Hoje, 70% dos acessos de notícias são feitos via celular, nos países onde a tecnologia 3G está crescendo. Você pega aí, o Analytics do Campo Grande News, do Dourados Agora, do Dourados

News, você vai ver que 70% dos acessos deles vem via celular (LOBO, 2017)64.

A tecnologia, ou seja, a linguagem HTML a que se refere Paulo Lobo, está relacionada diretamente à pontuação utilizada pela web que, no caso do ciberjornalismo, se estendeu às gerações anteriormente tratadas, decorrentes de atualizações tecnológicas para o melhoramento dos cibermeios e portais de notícias em geral.

Especialista em linguagem de computador, o russo Lev Manovich (2005, p. 28) afirmou que na história das mídias por computador os avanços tecnológicos apresentam oportunidades estéticas. Para facilitar a compreensão da lógica que rege essas mídias, o autor enumerou alguns princípios não definitivos da sua linguagem: “a representação digital, a modularidade, a automação, a variabilidade e a transcodificação”. Ele acredita que esses princípios, também denominados de tendências, por não serem definitivos, podem se manifestar em situações pontuais e diferentes na representação das mídias digitais por que:

As novas mídias reduzem-se a dados digitais que podem ser manipulados por software como quaisquer outros dados. Isso permite automatizar muitas das operações das mídias, gerar múltiplas versões do mesmo objeto, etc., por exemplo, assim que uma imagem representada como uma matriz de números, ela pode ser manipulada ou mesmo gerada automaticamente por algoritmos, como aumentar a definição, azular, colorir, mudar contraste, etc. de modo mais geral, expandindo o que propus em meu livro, poderia dizer que as duas maneiras básicas pelas quais os computadores modelam a realidade – por meio de estruturas de dados e algoritmos – também podem ser aplicadas nas mídias assim representadas digitalmente. Em outras palavras, uma vez que as novas mídias são dados digitais controlados pelo software “cultural” especifico”, faz sentido pensar em qualquer objeto de nova mídia em função de estruturas de dados específicas e/ou algoritmos específicos que ele incorpora (MANOVICH, 2005, p. 29).

Ainda de acordo com o teórico russo, o computador modela o mundo e possibilita ao indivíduo interferir nele com base nas operações afeitas aos seus programas. Manovich, ao basear seus estudos no tripé tecnológico “arte, engenharia e computação”, defende que as novas mídias podem ser entendidas como uma mistura de antigas convenções culturais de representações, onde o acesso e a manipulação de dados permitem imiscuir velhos dados, entendidos como representações da realidade visual e da experiência humana e os novos dados que compreendem as informações digitais, virtuais.