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Do impresso ao online: a produção da notícia e as temporalidades do jornalismo

O avanço das NTICs, assim como da internet têm provocado uma revolução no comportamento das sociedades contemporâneas. Para o bem ou para o mal, a internet é um processo sem volta que vem proporcionando profundas e diversificadas transformações nas sociedades a partir do final do século XX. Um dos setores mais afetados pelas mudanças, sem dúvida, é a comunicação. Aqui nos referimos às práticas jornalísticas que, para Alsina (2009), resulta na construção do discurso jornalístico: produção, circulação e consumo ou reconhecimento.

Nesse sentido, a internet tem papel de destaque, a exemplo da informática. A partir dos anos de 1990 esses fatores têm promovido vendavais na forma de fazer jornalismo. As redações dos veículos de comunicação do Brasil e do mundo migraram para o ciberespaço, alterando a produção de notícias.

Embora os estudiosos da mídia e do comportamento humano ainda não saibam precisar a consequência dos impactos que esse processo pode causar às sociedades, alguns já sinalizam sua preocupação. Para John B. Thompson (2004), os impactos promovidos pela internet deixam o mundo mais vulnerável às interferências do homem, enquanto Martín-Barbero (2012) ressalta que as transformações alteram o sentido de lugar no mundo, em função da percepção da relação tempo-lugar-espaço. A rapidez com que ocorre o processo de comunicação atualmente está ligada diretamente à ação da internet, que para Castells (2012) se encontra no centro do processo pelo seu protagonismo, se transforma no coração do novo paradigma sócio tecnológico.

Para o sociólogo espanhol, a internet como tecnologia dinâmica e rápida tem caraterísticas que permitem adequação às diversidades do complexo universo da comunicação no terceiro milênio. É a partir dela que surgem conceitos e ambientes por onde vão fluir as redes comunicacionais que desaguam no ciberespaço, resultante da convergência tecnológica, midiática e de culturas (JENKINS, 2013).

Ressalta-se, todavia, que veículos de comunicação ao longo de suas trajetórias sofreram modificações promovidas por transformações tecnológicas advindas das mudanças sofridas pela própria sociedade, principalmente, para atender as demandas do capitalismo, como observa

Sodré (1977), que associa a imprensa diretamente ao capitalismo. Habermas (1980) via motivações mercantilistas na informação, desde seu início, estágio inicial dos periódicos, época em que jornais impressos eram empresas domésticas e artesanais e o lucro dava apenas para a subsistência. As notícias se relacionavam à economia, agricultura, vida social e assuntos internacionais, primeiras atividades capitalistas. Historicamente, o desenvolvimento da imprensa esteve relacionado à industrialização da sociedade e a forma do seu financiamento, a publicidade.

O jornalismo transformou-se num negócio com um número crescente de proprietários que começaram a publicar jornais com o intuito de ter lucros e o objetivo central seria a expansão da circulação. A emergência do jornalismo com os seus próprios “padrões de performance e inteligência moral” tornou-se possível com a crescente independência econômica dos jornais em relação aos subsídios políticos, método dominante de financiamento da imprensa no início do século XIX. As novas formas de financiamento da imprensa, as receitas de publicidade e dos crescentes rendimentos das vendas dos jornais, permitiram a despolitização da imprensa, passo fundamental na instalação do paradigma do jornalismo: o jornalismo como informação e não propaganda, isto é, um jornalismo que privilegia os fatos e não a opinião. Com as novas formas de financiamento, a imprensa conquista uma maior independência em relação aos partidos políticos, principal fonte de receita dos jornais ainda no século XIX (TRAQUINA, 2005, p. 36).

Esse movimento descrito por Traquina (2005, p. 34) o faz afirmar que o jornalismo que se conhece hoje nas sociedades democráticas tem sua origem no século XIX, quando foi registrado o desenvolvimento do primeiro mass media, a imprensa. A expansão dos jornais proporcionou a abertura de novos empregos, fazendo com que um número crescente de pessoas se dedicasse, de maneira integral, a esta “nova” atividade. A partir daí, nasceram valores e conceitos até hoje identificados com o jornalismo: “a notícia, a procura da verdade, a independência, a objetividade, e uma noção de serviço ao público – uma constelação de ideias que dá forma a uma nova visão do ‘polo intelectual’ do campo jornalístico”. Traquina lembra ainda que, durante a Revolução Francesa no final do século XVIII, embora houvesse negócio com a venda de jornais, naquela época, os periódicos eram usados como armas políticas, pois eram identificados com partidos ou correntes políticas e, por isso, restritos a um determinado público.

Essa situação começou a mudar a partir do século XIX, com a criação da penny press, a popular imprensa americana cujo exemplar de jornal custava um centavo. Essa vertente priorizava a informação factual e se contrapunha à propaganda política. Nesse período ocorreram outros fenômenos que marcaram o processo de modernização do jornalismo. O

primeiro, o surgimento da linotipo16, que impacta diretamente a produção gráfica industrial e, embora, inicialmente a composição fosse manual, fez aumentar a tiragem dos jornais. A seguir viria a composição mecânica ainda em linotipo mas que daria mais dinamismo à questão gráfica, passando de 6 mil para 9 mil caracteres por hora (AZEVEDO, 2009). Outro ponto que merece destaque nesse período é a implantação da fotografia. A técnica de produção da notícia também ganha um aliado, o lead, cuja construção social explicitará um padrão narrativo da informação até então ausente nos jornais. Nos deteremos mais sobre esse conceito, no próximo capítulo.

A nova forma de fazer jornal, de acordo com Traquina (2005), além de ter feito aumentar sua tiragem de 3 mil para 100 mil exemplares, naquele momento, promoveu mudanças significativas no padrão gráfico, ou seja, na diagramação com a implantação de novos recursos como os títulos e chamadas das matérias, com letras maiores, além do tamanho do jornal. Werneck Sodré destacou que essas mudanças se relacionam com o modo capitalista de vender a notícia.

A corrida para a revolução nas técnicas de imprensa [...] era o ponto de partida para a produção em massa que permitia reduzir o custo e acelerava extraordinariamente a circulação. Era outra prova da interligação entre o desenvolvimento da imprensa e o desenvolvimento capitalista. O desenvolvimento das bases da produção em massa, de que a imprensa participou amplamente, acompanhou o surto demográfico da população ocidental e sua concentração urbana; paralelamente, a produção ascensional provocou a abertura de novos mercados (SODRÉ, 1977, p.3).

Traquina (2005) ressalta ainda dois aspectos que merecem destaque nesse processo. O primeiro foi o surgimento da figura do repórter, a partir da necessidade de encher as páginas do jornal de assuntos que interessassem ao leitor. O segundo aspecto que, de certa forma, beneficiou a expansão dos jornais no século XIX, foi a escolarização de massas, por ocasião da criação de escolas públicas, que permitiu o aumento de leitores, bem como o processo de urbanização e criação das cidades.

Mas nada teria mais importância nessas primeiras intervenções na forma de

16 Linotipo é uma máquina inventada pelo relojoeiro alemão Ottmar Mergenthaler em 1886, que funde em bloco

cada linha de caracteres tipográficos, composta de um teclado, como o da máquina de escrever. As matrizes que compõem a linha-bloco descem do magazine onde ficam armazenadas e, por ação do distribuidor, a ele voltam, depois de usadas, para aguardar nova utilização. As três partes distintas – composição, fundição e teclado – ficam unidas em uma mesma máquina. A capacidade de produção é de seis mil a oito mil toques por hora. Suas matrizes (superfícies impressoras) são em baixo relevo, justapostas em um componedor (utensílio no qual o tipógrafo vai juntando a mão, um a um, os caracteres que irão formar as linhas de composição). O próprio operador despacha para a fundição, a 270 graus Celsius. Foi considerada por Thomas Edson como a oitava maravilha do mundo. (www.medium.com). Disponível em: https://medium.com/deadlines/uma-breve-introducao-a-linotipia- a06bdffdc215. Acesso em:10.01.2019.

comunicação do que o telégrafo, conforme relato de Traquina (2005).

Os avanços na rapidez de transmissão da informação, em particular o telégrafo em 1844 e o telégrafo por cabo em 1866, iriam ser o sinal de uma nova era do jornalismo, cada vez mais global, e cada vez mais ligado à atualidade, que continua cada vez mais viva hoje, em que o tempo exerce um controle tirânico, embora a obsessão com a rapidez já fosse bem visível nas anedotas dos jornalistas do início do século na Inglaterra. A identificação do jornalismo com a atualidade seria irrepreensivelmente atingida e a obsessão dos jornalistas com a obrigação de fornecer as últimas notícias, de preferência em primeira mão e com exclusividade, tornar-se-á um marco fundamental da identidade jornalística (TRAQUINA, 2005, p. 38).

A novidade da linotipo no Brasil se estenderia até 1922, quando chega ao Rio de Janeiro a primeira máquina offset comprada pela Companhia Lithographica Ferreira Pinto. A impressão em offset significa mais celeridade e qualidade aos impressos, sejam eles jornais ou outros tipos de produtos gráficos. A impressão por esse sistema é feita de forma indireta, pois a figura não é impressa diretamente no papel. O que ocorre é uma interação entre a água e a gordura da tinta, possibilitando que a imagem seja transferida da chapa offset para um rolo de impressão e, posteriormente, transferida para o papel. Existem dois tipos de impressoras offset: a rotativa e a plana. Cada uma delas possui uma forma específica de trabalhar. As rotativas utilizam bobinas de papel, enquanto as planas lançam mão de folhas de papel soltas. Mas esses avanços tecnológicos não se comparam com a revolução promovida pelo surgimento da internet - assunto que nos deteremos mais adiante, bem como as NTICs. Castells (2011) define esse novo processo de mudança não apenas na mídia, mas em todas as suas esferas de atuação.

Os processos de transformação social sintetizando tipo ideal de sociedade em rede ultrapassam a esfera das relações sociais e técnicas de produção: afetam a cultura e o poder de forma profunda. As expressões culturais são retiradas da história e da geografia e tornam-se predominante mediadas pelas redes de comunicação eletrônica que interagem com o público e por meio dele em uma diversidade de códigos e valores, por fim incluídos em um hipertexto audiovisual digitalizado. Como a informação e a comunicação circulam basicamente pelo sistema de mídia diversificado, porém abrangente, a prática da política é crescente no espaço da mídia. A liderança é personalizada, e a formação de imagens é geração de poder. Não que toda política possa ser reduzida a efeitos de mídia ou que valores e interesses sejam indiferentes para resultados políticos. Mas sejam quais forem os atores políticos e suas preferências, eles existem no jogo do poder praticado através da mídia e por ela, nos vários e cada vez mais diversos sistemas de mídia que incluem as redes de computadores mediadas por computadores. O fato de a política precisar ser modelada na linguagem da mídia eletrônica tem consequências profundas sobre características, organização e objetivos dos processos, atores e instituições políticas. Em última análise, os poderes contidos nas redes de mídia ficam em segundo lugar em relação ao poder dos fluxos incorporados na estrutura e na linguagem dessas redes (CASTELLS, 2011, p. 572).

tecnologia potencializa as mudanças nas sociedades tornando o homem condicionado aos seus avanços técnicos, embora não determinado por ela, porque segundo ele, a presença e usos da tecnologia provocam impactos diferentes nos seres humanos. Pesquisadores do jornalismo como Michael Kunczik (2001), Bill Kovack e Tom Rosentiel (2003), Ignácio Ramonet (1999) e Dominique Wolton (1999, 2007) tem pensamento parecido em relação à influência das tecnologias da informação na reestruturação da organização jornalística e de suas rotinas de trabalho de acordo com Bianco (2004). Sintetizando o pensamento desses autores, Bianco (2004, p. 2) afirma que “a informática, especialmente, trouxe agilidade e qualidade no processamento da informação, ao facilitar o trabalho de rever, corrigir, alterar e atualizar textos”, mas que essas mudanças não foram suficientes para alterar valores do jornalismo.

Para os jornalistas que usam a Internet na produção de notícias, a realidade virtual estaria se convertendo em um novo modo de conhecimento do mundo exterior e das pessoas. Essa realidade é produto de virtualizações e atualizações sucessivas que pode ser percebida num tempo, espaço e condições históricas específicas e de modo diferente em relação a ambientes tecnológicos anteriores. Isso não implica em dizer que essa realidade, pelo seu enorme caudal informativo, acabaria por substituir a necessidade de conhecimento de uma realidade material e objetiva. A questão é outra. A realidade virtual acrescenta uma perspectiva nova na percepção do jornalista no seu trabalho de conhecimento do real que é de outra natureza. Contém a realidade em si, mas disposta de modo a ser percebida em tempo e espaços diferentes (DEL BIANCO, 2004, p. 5).

Nesse processo, a escrita da história preconizada por Certeau (2015) tem a preocupação de situar o lugar social de onde fala ou está situado o historiador, no desenvolvimento da operação historiográfica.

Toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar comum de produção socioeconômico, político e cultural. Implica um meio de elaboração circunscrito por determinações próprias: uma profissão liberal, um posto de observação ou de ensino, uma categoria de letrados etc. ela está, pois, submetida a imposições, ligada a privilégios, enraizada em uma particularidade. É em função desse lugar que se instauram os métodos, que se delineia uma topografia de interesses, que os documentos e as questões, que lhes serão propostas, se organizam (CERTEAU, 2015, p.47).

Para construir o discurso histórico utilizamos as ferramentas do historiador: os arquivos e as fontes que podemos recorrer aos documentos ou arquivos digitais, graças às NTICs. É nesse ambiente virtual que parte desta tese se concentrou; a outra parte ficou por conta dos impressos. Mas não é só isso, falamos do momento em que ocorre a mudança da notícia, a transformação dela ao migrar do impresso para o ciberespaço.

forma muito rudimentar. Era a época dos arquivos em PDF17, a página do jornal impresso era transportada para a internet de forma rígida, dura, sem qualquer tratamento digital. Alguns veículos produziam até um barulhinho, no manuseio do leitor ao trocar de página, que lembrava o folhear do jornal. Podemos registrar, a partir do exposto, algumas rupturas e permanências por que passou a notícia quando a informação mergulhou no ciberespaço.

Uma das mudanças mais significativas observadas nesse contexto foi o tipo de suporte ou plataforma em que a notícia se apresenta para o leitor. Em vez de no papel, o internauta passou a acessar a notícia nos mais variados dispositivos eletrônicos, mas principalmente, no computador, tablet ou smartphone. Suportes técnicos diferentes do papel, onde o arquivo estava ao alcance da vista, mas não das mãos, pelo contato físico, com a tinta sujando as mãos na hora de manusear as folhas do jornal. Nesse primeiro momento, o que se percebe é a manutenção do conteúdo, ou seja, a tipologia, a arquitetura da informação, os textos, o design, as notícias no arquivo virtual, assim como no impresso.

Mielniczuk (2003), a partir de estudos realizados por Pavlik (2001) e Silva Jr. (2002), identifica três gerações da produção de conteúdo noticioso dos sites. A primeira é marcada pelo modelo transpositivo, que se refere ao início das postagens dos jornais impressos em versão online, em que se utilizavam a versão impressa, normalmente em formato PDF. A segunda, o perceptivo, situa-se quando começa a ser usado algum recurso tecnológico, possibilitado pelo meio internet, permanecendo o caráter transpositivo, mas, com insights tecnológicos na produção das notícias. A terceira, caracterizada pelo modelo hipermidiático, percebe-se a utilização de recursos mais abrangentes do ciberjornalismo, como hipertextualidade, multimidialidade, interatividade, personalização, instantaneidade e memória (BARDOEL & DEUZE, 2001; PALACIOS, 2003).

Barbosa (2007) trata de uma quarta geração, consequente do uso de base de dados na produção jornalística para a web, amplificando não só conceitos, mas, principalmente, a abrangência e as possibilidades tecnológicas do jornalismo online. Os avanços da tecnologia de base de dados oferecem dispositivos cada vez mais atualizados para solucionar e compatibilizar as linguagens de programação e a gestão de conteúdos com as características do jornalismo no suporte digital. A pesquisadora acrescenta que, no intervalo entre a terceira e a quarta geração,

17 PDF é a sigla de Portable Document Format (Formato portátil de documento), um formato de arquivo usado

para exibir e compartilhar documentos de maneira compatível, independentemente de software, hardware ou sistema operacional. Criado pela Adobe, em 1992, o PDF agora é um padrão aberto mantido pela International Organization for Standardization (ISO). Os PDFs podem conter links e botões, campos de formulário, áudio, vídeo e lógica de negócios. Eles também podem ser assinados eletronicamente e são facilmente exibidos com o software gratuito Acrobat Reader DC. www.queconceito.com.br (https://queconceito.com.br/pdf). Acesso em: 10.01.2019.

ocorre uma série de avanços tecnológicos, tais como, o acesso expandido por meio de banda larga, o aumento do número de plataformas móveis, o uso expandido de algoritmos, o desenvolvimento de sistemas de gestão de conteúdos mais complexos, a maior incorporação dos blogs, a adoção de sistemas que habilitem a participação efetiva do usuário na produção de informação, para citar apenas estes, que vão compor um paradigma, o jornalismo em base de dados.

A hipertextualidade pode ser considerada a maior ruptura que configurou esse novo fazer jornalístico, pois além de ter criado uma nova linguagem, onde a notícia aparece em áudio, texto e vídeo, permitiu a abertura de links que propiciaram ao leitor/internauta a navegação por outros links do mesmo assunto. E o que seria a nova forma de noticiar, a partir do uso da internet, quando a pirâmide invertida (GENRO FILHO, 1987), uma técnica de construção da notícia com mais de um século, pode aparecer deitada na web (CANAVILHAS, 2001), quando o texto passa à hipertextualidade, pela possibilidade oferecida de abertura de novos links sobre o mesmo assunto? Uma navegação proporcionada por essa tecnologia que torna a comunicação ubíqua (SANTAELLA, 2013).

Para Chartier (2002), a revolução da escrita na internet resulta em três rupturas em relação à escrita no impresso. Estariam relacionadas à ordem do discurso, à ordem das razões e à ordem das propriedades. Ao abordar a escrita na internet, Bresciano (2010) enumera alguns aspectos que ela acrescenta à prática historiográfica: novas perspectivas, novas fontes e novos olhares sobre o passado, ao mesmo tempo, além da forma massiva e difusa dos arquivos. Mas alerta para a possibilidade do desaparecimento dos arquivos rapidamente, o que não deixa de ser uma ruptura até maior, na forma de escrever a história. O que não podemos ignorar é que a história da internet se apresenta como um campo vasto e complexo para o historiador, possibilitando acesso a recortes temporais, temáticos e metodológicos que obrigam o historiador a usar recursos tecnológicos na construção da narrativa.

Na História do Tempo Presente, a internet pode ser trabalhada não só como fonte ou objeto, mas sob outras perspectivas metodológicas. Para Jean-Pierre Rioux (1999), munido de sua caixa de instrumentos, o historiador cria um passado a partir das tecnologias e teorias que lhe asseguram no presente, além do “famoso recuo no tempo”. O que parece inquietar os não historiadores é o suporte no qual são guardadas as fontes, uma vez que arquivos, acervos pessoais e bibliotecas em locais físicos ao serem transpostos para a internet, ocupando o espaço virtual, correm o risco de perda pela volatilidade da própria web, além de repositórios como CDs, disquetes e antigos programas, softwares não terem mais uso corrente.

ajustados às suas preocupações, parece estar em condições de superar os entraves que classicamente limitam a investigação histórica (CHARTIER, 2006). Portanto, aquele que se lança nas pesquisas que envolvem a internet, e que se propõe trabalhá-la como fonte, deve comprometer-se com as especificidades que a web carrega. Não se pode simplesmente transpor metodologias, pois a forma de se trabalhar com a fonte virtual ainda está por se fazer. Tais fontes trazem à cena uma infinidade de abordagens possíveis de como entender a internet como campo da cultura escrita.

Marcos Palacios (2003, p. 16) oferece interessante e importante contribuição para reflexão sobre os estados de rupturas e permanências observadas no jornalismo online. O autor alerta para o “perigo de instauração de um pensamento simplista” com relação às alterações provocadas pelas NTICs no jornalismo, pois “a ideia de superação sucessiva dos suportes midiáticos pouco contribui para o avanço do conhecimento e, portanto, para a maximização dos potenciais das Novas Tecnologias aplicadas ao campo da Comunicação e do Jornalismo em