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4.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO

4.1.1 As ILPIs no Brasil

O número de Instituições de Longa Permanência para Idosos no Brasil

cresce de maneira expressiva e seu surgimento não é recente, constituindo a

modalidade mais antiga de institucionalização do idoso, sendo, portanto muito

importante conhecer essa modalidade de serviço (ARAÚJO, SOUZA, FARO, 2010).

Segundo estes autores em 2008 havia 249 ILPIs no Centro-Oeste, 49 no Norte e

693 no Sul.

Segundo Costa e Mercadante (2013), a primeira ILPI de que se tem registro

no Brasil foi criada em uma chácara em 1790 para abrigar soldados portugueses

que estavam idosos na época. Essa Instituição era destinada a militares e não ao

público idoso em geral. Após 47 anos foi criado o decreto para fundação do “Asilo

dos Inválidos da Pátria”, que após três décadas foi inaugurado em 1868 no Rio de

Janeiro.

Em 1854 foi criado o “Asilo de Mendicidade” que além de mendigos abrigava

também idosos. Nessa época os idosos habitavam as ruas da cidade sendo sua

maior parte composta por idosos ex-escravos, situação que culminou na criação de

instituições asilares (COSTA, MERCADANTE, 2013). Passou a existir nessa época o

conceito de “velhice desamparada” para a qual foi criada no Rio de Janeiro, em

1890, a primeira Instituição (ARAÚJO, SOUZA, FARO, 2010; COSTA,

MERCADANTE, 2013). Na época essas Instituições eram um mundo à parte e ser

morador da mesma era romper laços com a sociedade e com a família (ARAÚJO,

SOUZA, FARO, 2010).

O Decreto nº 1948, de 3 de julho de 1996, do Governo Federal, em seu

artigo 3º, definiu a modalidade asilar de atendimento aos idosos como o

“atendimento, em regime de internato, ao idoso sem vínculo familiar ou sem

condições de prover a própria subsistência, de modo a satisfazer as suas

necessidades de moradia, alimentação, saúde e convivência social” e o ampara civil

e socialmente (BRASIL, 1996). No Brasil existem também outras modalidades de

atendimento ao idoso que atendem apenas em um período do dia, sendo elas:

Centro de Convivência, Centro de Cuidados Diurno, Hospital-Dia, Casa-Lar e Oficina

Abrigada de Trabalho (BRASIL, 1996; YAMAMOTO, DIOGO, 2002).

Existem várias denominações de Instituições de Longa Permanência para

Idosos como casa de repouso, abrigo, lares, pensionato, sociedade, ancionato, asilo

e clínica geriátrica (YAMAMOTO, DIOGO, 2002; GORZONI, PIRES, 2006; ARAÚJO,

SOUZA, FARO, 2010; MORAIS et al., 2012; COSTA, MERCADANTE, 2013). O uso

do termo asilo é atualmente desaconselhado pois, segundo Costa e Mercadante

(2013), esse termo tornou-se sinônimo de “abandono, pobreza e rejeição” e,

segundo Camarano e Kanso (2010) o termo asilo é fortemente marcado por

preconceitos historicamente constituídos. A palavra asilo é carregada de imagem

negativa e era empregada quando se referia à institucionalização de idosos carentes

(COSTA, MERCADANTE, 2013).

Atualmente o termo Instituição de Longa Permanência para Idosos não é

usado como simples sinônimos de asilo, mas sim representando uma nova

organização e gestão de moradia para idosos (COSTA, MERCADANTE, 2013). A

Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia adota a denominação Instituição de

Longa Permanência para Idosos (ILPI) como oficial para o que era anteriormente

chamado de asilo e a define como um estabelecimento para atendimento integral

institucional, tem como público alvo pessoas com 60 anos ou mais, sendo

dependentes ou independentes, não dispondo de condições para permanecer com a

família ou em seu domicílio (ARAÚJO, SOUZA, FARO, 2010; CAMARANO, KANSO,

2010; MORAIS et al., 2012; COSTA, MERCADANTE, 2013).

Santiago e Mattos (2014) caracterizaram as ILPIs no Brasil como sendo

instalações públicas ou privadas que prestam atendimento institucional abrangente

para indivíduos com 60 anos ou mais velhos, que são funcionalmente dependentes

ou independentes e que não podem permanecer com suas famílias ou em suas

próprias casas. Para outros as ILPIs são Instituições mantidas por órgãos

governamentais e não governamentais, de caráter residencial, destinadas a propiciar

atenção integral com condições de liberdade e dignidade, cujo público alvo são as

pessoas acima de 60 anos, dependentes ou independentes, com ou sem suporte

familiar, de forma gratuita ou mediante remuneração (BRASIL, 2004; PARANÁ,

2008; SILVA, 2010; MORAIS et al., 2012).

Para Camargos (2013) as pessoas têm uma imagem negativa das

Instituições de Longa Permanência para Idosos. Parte dessa imagem pode ter sido

formada pela maneira como as ILPIs surgiram, para abrigar pessoas na pobreza,

sem suporte familiar e com problemas de saúde pretendendo suprir as demandas

sociais (CAMARGOS, 2013). Antes essas Instituições eram asilos de mendicidade

que abrigavam idosos, pobres, pessoas com demência, crianças abandonadas e

pessoas desempregadas (PARANÁ, 2008; ARAÚJO, SOUZA, FARO, 2010;

CAMARGOS, 2013). Atualmente isso mudou, mas a qualidade dos serviços nessas

Instituições deixa a desejar (CAMARGOS, 2013). Para o mesmo autor a

Constituição Federal de 1988 quando determina que o cuidado do idoso é um dever

da família reforça o preconceito com a institucionalização.

Yamamoto e Diogo (2002) discutem que as ILPIs no Brasil não têm o perfil

de estabelecimentos de saúde, mas são praticadas nelas ações de promoção,

proteção e reabilitação de saúde. Por outro lado a infraestrutura dessas Instituições

tem sido apontada como impróprias à saúde dos institucionalizados, sendo os

espaços pequenos, inseguros e limitando uma vida que deveria ser ativa (DEL

DUCA et al., 2012). Ainda, Araújo, Souza e Faro (2010) denunciam que, apesar de

existirem ILPIs no Brasil com atendimento de qualidade, ainda é significativo o

número de Instituições que não respeitam parâmetros básicos de funcionamento.

No Paraná foi elaborado documento intitulado “Instituições de Longa

Permanência para Idosos - Caracterização e Condições de Atendimento”, com

dados de 2008, obtidos a partir da Secretaria de Estado do Trabalho e Promoção

Social e do Departamento de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde

de 2002 (PARANÁ, 2008). O objetivo foi caracterizar as ILPIs do Estado

evidenciando suas condições de funcionamento, físicas e financeiras; as

dificuldades que enfrentavam; a integração existente com a comunidade e serviços;

atividades que proporcionavam aos idosos e um perfil dos idosos e dos profissionais

que trabalhavam em ILPIs. Foi revelado que a população idosa já representava 10%

da população total do Estado e apontada a existência de 277 ILPIs distribuídas em

159 municípios. Destas, 229 ILPIs foram pesquisadas e 77 possuíam uma

mantenedora (instituição que provê recursos financeiros e operacionais) e apenas

26 disseram receber recursos financeiros. Do total de ILPIs 8,22% têm como

mantenedora uma entidade religiosa, 6% organizações não-governamentais e 4%

prefeituras (PARANÁ, 2008).

O IPEA e o Conselho Nacional do Idoso revelaram que os idosos acolhidos

em ILPIs representam 0,8% (aproximadamente 17 milhões de pessoas) da

população total com mais de 60 anos (ROCHA et al., 2008; ARAÚJO, SOUZA,

FARO, 2010). É previsto que no ano de 2030 esse número chegue a 35 milhões,

sendo essa a faixa etária que mais cresce no país (ROCHA et al., 2008).

O Estatuto do Idoso estabelece que na administração de uma ILPI o

administrador deve ser capaz de manter o padrão mínimo de estrutura física e de

pessoal exigidos pela ANVISA e qualidade de vida aos seus idosos. Como serviços

de saúde as ILPIs recorrem à rede pública de saúde (unidades de saúde e SAMU)

ou serviços da Instituição. Mesmo as ILPIs que contam com planos de saúde e

serviços particulares usam o SUS para obter vacinas ou medicamentos. Dentre os

serviços da rede pública mais utilizados pelas ILPIs encontram-se os medicamentos

seguidos pelo atendimento médico, vacinas, curativos e exames (PARANÁ, 2008).