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As mudancas nos paineis azulejares

influencias mnemonicas

1.2.1. As mudancas nos paineis azulejares

Fig. 08 Wasth Rodrigues, Largo da Memória, 1920, São Paulo, SP Projeto ambiental de Victor Dubugras

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Além desse painel, Rodrigues é responsável por alguns monumentos que margeiam o Caminho do Mar na rota para a cidade de Santos, como o Rancho da Maioridade visto no detalhe da (fig. 04), também realizado na década de 1920. (MORAIS, 1988, p. 16-22)

Em 1936, o MEC (Ministério da Educação e Cultura) encomendou ao pintor Paulo C. Rossi Osir um grande painel de azulejos para revestir a fachada do prédio da instituição. Esse evento ocasionou o surgimento da Osirarte, fundada em São Paulo, em 1940, representando outro momento importante na produção azulejar.

Junto com Paulo Rossi, outros artistas conhecidos como Mário Zanini, Alfredo Volpi, Hilde Weber, Giuliana Giorgi, Gerda Bretani e Maria Wrochnik, entre outros se juntaram a Osirarte, que funcionou até o final dos anos 1950. Depois do pedido do MEC, a empresa-oficina conseguiu

manter-se por intermédio de outros trabalhos decorativos como a pintura de azulejos avulsos ou pequenos conjuntos para revestimentos diversos. (MORAIS, 1988, p. 30-51)

Nas figuras 10 e 11, podemos observar parte dos azulejos executados pelo próprio Rossi, que estão localizados no bloco lateral do edifício da figura 09.

Os temas mais abordados pela Osirarte foram os temas nacionalista-popular, com o gosto pelo primitivo e cenas típicas do povo brasileiro em suas manifestações. Entre os exemplos, temos a festa do divino, as quermesses, congadas e rodas de viola, típicas das cidades do interior, as quais Alfredo Volpi representava muito bem. Fig. 09 Portinari Ministério da Educação e Cultura, 1941/45, Rio de Janeiro, RJ. Arquitetura: risco original de Le Corbousier Fig. 10 e 11 Rossi Osir Azulejos avulsos: estrela-do-mar e hipocampo Ministério da Educação e Cultura, 1941/45, Rio de Janeiro, RJ

Paralelamente ao trabalho com os azulejos, alguns desses a r t i s t a s p i n t a v a m t e l a s e desenvolviam suas poéticas ao longo dos anos em que trabalharam com a cerâmica. Portinari, Volpi, Djanira e Athos Bulcão, em determinados momentos de suas carreiras, criaram grandes painéis azulejares, deixando um rico acervo de cerâmica mural, singular, que até hoje se renova no trabalho de outros artistas contemporâneos.

Além de importante pintor brasileiro, Cândido Portinari também ficou conhecido por seus painéis cerâmicos. Seguindo sua trilha dos painéis azuis e brancos, podemos verificar a multiplicidade das obras realizadas a partir da década de 1940 até os anos 1980. Alguns nomes que enriqueceram este acervo de painéis azulejares são: Roberto Burle Marx, Anísio Medeiros, Djanira, Poty Lazarotto, Athos Bulcão, Vieira da Silva, Julio Pomar, entre outros. Muitos artistas estrangeiros chegaram ao Brasil nos anos 1940, por ocasião da Segunda Guerra, dentre eles, Vieira da Silva e Julio Pomar, ambos de Portugal.

Como podemos observar nas imagens, os painéis cerâmicos foram evoluindo esteticamente, ganhando novas cores, novos elementos gráficos, configurando toda Fig. 12 Ernesto de Fiori Azulejo avulso Década de 1940 Osirarte, São Paulo, SP Fig. 13 Zanini e Volpi, Composição com 4 azulejos Década de 1940, Osirarte, São Paulo, SP Fig. 14 Portinari Painel azulejar da Igreja de São Francisco de Assis, 1944, Pampulha, Belo Horizonte, MG Fotografia: Daniela Bueno

ordem de estabelecimentos, como casas, edifícios, instituições públicas, aeroportos, escolas, shoppings, estações de metrô, praças, etc., enriquecendo os espaços urbanos. Um artista que merece destaque é Athos Bulcão. Em suas obras, podemos notar a inserção de elementos não figurativos bem diferentes dos demais artistas que vimos até agora. O artista fez parte da geração marcada pelo ideário modernista da década de 1940, herdando a abstração geométrica e a informal, que foram introduzidas na arquitetura. Essa familiaridade com a arquitetura é nítida em suas composições

Fig. 15 Roberto Burle Marx Clube de Regatas Vasco da Gama, 1950, Rio de Janeiro, RJ. Arquitetura de Jorge Ferreira Fig.16 Poty Lazarotto Aeroporto Afonos Pena, 1982, Curitiba, PR Fig. 17 Julio Pomar Gran Circo-lar, 1986. Brasília, DF. Arquitetura de Fernando J.F. Andrade Fig. 18 Athos Bulcão Palácio do Itamarati,1982, Brasília, DF Arquitetura de Oscar Niemeyer Fig.19 Athos Bulcão Igreja de Nossa Senhora de Fátima, 1957, Brasília, DF Arquitetura de Oscar Niemeyer

azulejares, em como essas combinações se integram com vitalidade ao conjunto total de sua obra, valorizando os espaços com ricas soluções visuais. Sua experiência em diversas linguagens artísticas e seu convívio com arquitetos como Burle Marx, Oscar Niemeyer entre outros contribuiu para a construção de um novo olhar sobre o espaço urbano unindo as artes plásticas e a arquitetura de um modo muito singular. (COCCHIARALE, 1998, p. 5-10).

Utilizar o espaço público para levar a arte à população é uma das características da Arte Pública, que pode ser considerada como um mediador entre desejos:

O do artista, que de um lado, deflagra a constituição formal da obra, e o do público receptor, que anseia pelas formas artísticas para realizar uma espécie de manobra visual da sua vida simbólica, vestígio de um desejo, também criador. Em sua permanência, a obra de arte tem como atributo ser um veículo de mediação, de aspiração e desejo, prestando- se, assim, como anteparo para mais de um sujeito: os sucessivos observadores, que poderão, a partir de sua materialidade, reencontrar estados de enlevos que fazem acordar, num diapasão de emoções, lembranças e sentimentos. (SPINELLI, 1998-99, p. 11)

As obras de arte instaladas dentro ou ao entorno das estações de metrô de São Paulo, administradas pela Companhia do Metropolitano de São Paulo, são um exemplo de Arte Pública. Por meio do projeto Arte no Metrô, formalizado em 1988, a companhia investiu nessas novas formas de relação entre o espaço urbano e o seu público passante. Esse mesmo movimento entre a arte, o artista e o espaço público incluiu outros lugares como praças, ruas, entre outros estabelecimentos, como os Fig. 20 Francisco Brennand Painel de azulejos instalado no Shopping Center Recife, 1980 Fig. 21 Urbano Alves Painel de azulejos instalado na Estação do Metrô Cantagalo, Rio de Janeiro, 2006

mencionados há pouco, que saem da rota das galerias e museus. Segundo Aluísio Gibson, chefe do Departamento de Marketing Corporativo: “O objetivo é suavizar a rotina do paulistano. Uma, cor, uma forma, um desenho, podem impactar o dia daquela pessoa

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[...] Levar obras para o metrô é uma forma de democratizar a arte” (informação verbal). Diariamente, milhões de pessoas, circulam pelas plataformas que integram o metrô paulistano, e majoritariamente, seguem rumo ao trabalho sem se ater aos detalhes empregados nessas obras, mas, sem dúvida, percebem que elas estão ali.

Todas essas considerações dizem respeito a um dos aspectos da arte cerâmica: o azulejo. Porém, esse elemento possibilitou outras composições, como a cobertura de casas, muros e outros objetos por intermédio de elementos que se originaram dele, como pastilhas cerâmicas ou pequenos “cacos” cerâmicos recortados que compõem os mosaicos.

Um exemplo que foge à regra dos painéis e murais é a Casa da Flor, em São

Fig. 22 Aldemir Martins Painel de pastilhas Centro Cultural Dragão do Mar Fortaleza, 1998

3 Entrevista cedida a Isabelle Claudel, em 09/05/2010, retirada do site cultural:

Pedro da Aldeia, Rio de Janeiro, construída por Gabriel Joaquim dos Santos , um homem negro, simples e sem recursos, que durante mais de 60 anos, recolheu cacos de cerâmica, louças, ladrilhos, vidros, além de outros materiais considerados sem serventia, agregando-os a sua casa, constituindo-a em singular arquitetura.

A arte cerâmica não se resume aos artefatos primitivos de antigas civilizações ou aos painéis azulejares. Sua trajetória está relacionada ao período histórico e cultural, no qual cada uma dessas manifestações se deu. Seja um objeto cerâmico, um utensílio ou imagem ritualística de povos primitivos, artefatos indígenas, oratórios, santos ou painéis de azulejos, são todos eles, resultados da evolução da cerâmica.

Até o início da Revolução Industrial, a evolução da cerâmica fez-se a um ritmo extremamente lento. A partir de então, com o aparecimento das máquinas e o recurso a critérios mais científicos, assistiu-se a uma considerável aceleração do ritmo de desenvolvimento a que não são alheios o aparecimento das primeiras publicações científicas dedicadas a cerâmica [...] Estes eram sinais evidentes de que alguma coisa estava a mudar no domínio da cerâmica e que, após milênios de lenta evolução, se entrava numa etapa histórica com a passagem da cerâmica artesanal para a cerâmica industrial. (FRASCO, 2000, p. 9-10)

Segundo Penido e Costa (1999, p. 19), a indústria de cerâmica é considerada, hoje em dia, “uma das mais avançadas do ponto de vista tecnológico, e sua produção tem volume respeitável, em termos de mercado internacional”. A indústria cerâmica Fig. 23 Gabriel Joaquim dos Santos Casa da Flor Vista lateral externa da casa São Pedro da Aldeia, Rio de Janeiro

fabrica louças sanitárias, louças de mesa, materiais de construção, isoladores elétricos, entre outros segmentos, como a biocerâmica, que tem representado um enorme crescimento no mercado econômico. Esse crescimento abre espaço para um novo pensamento, a cerâmica vista como uma matéria-prima do futuro, renovável, não- poluente e que pode inspirar as sociedades a enxergar o mundo de outra maneira, mais preocupados com o desenvolvimento sustentável.

A cerâmica no Brasil tem tradição, história e frentes de trabalho desde o artesanato ligado à cultura popular até a cerâmica produzida em ateliês. Esta segunda frente se divide entre a produção de utilitários e a criação voltada às artes plásticas. Alguns ceramistas, bem como outros artistas que utilizam a terra como elemento para as suas criações, integram uma vertente de referências importantes para esse trabalho, como podemos observar a seguir em algumas produções que atendem as questões da contemporaneidade.

Artistas contemporâneos buscam sentido. Um sentido que pode estar alicerçado em preocupações formais - intrínsecas à arte e que se sofisticaram com o desenvolvimento dos projetos modernistas do século XX -, mas que finca seus valores na compreensão (e na apreensão) da realidade, infiltrada dos meandros da política, da economia, da ecologia, da educação, da cultura, da fantasia, da afetividade. Em vez de uma arte per se, potente em si mesma, capaz de transcender os limites da realidade, a arte contemporânea penetra as questões cotidianas, espelhando e refletindo exatamente aquilo que diz respeito à vida. (CANTON, 2009, p. 35)