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CAPÍTULO III CAMINHOS METODOLÓGICOS

3.5. As mulheres pesquisadas

Gostaria de apresentar brevemente alguns aspectos da história de vida das mulheres. Minha proposta não se prende a pontuar os fatores que influenciaram para a assunção da prática, através de uma lógica de causa e efeito. Procuro, no entanto, trazer dados que impulsionaram essa prática no momento da pesquisa e acredito que esses elementos serviram de base para o assumir-se ou não ser prostituta.

De maneira geral, são mulheres prostitutas que participam ativamente da Associação Pernambucana de Profissionais do Sexo. São pessoas oriundas de família de baixa renda, com idade entre 27 e 53 anos. Duas entre as pesquisadas mantêm relacionamento estável: uma vive em união estável com um companheiro e a outra vive com outra mulher. As demais são todas solteiras. Entre as entrevistadas, cinco identificaram-se como negras, três definiram sua cor como parda e três como morena-clara. Mas é bastante visível a predominância de mulheres negras na Associação de Prostitutas de Pernambuco.

Quadro I – Ocupação, Idade, Estado Civil e Cor das Mulheres

Nome Ocupação Idade Estado Civil Cor

1

Georgette Prostituta

Do lar 42 Solteira Parda

2 Leonora Prostituta 48 Casada Morena-clara

3 Elisa Prostituta 47 Solteira Negra

4 Tieta Prostituta 36 Solteira Negra

5 Flor Prostituta 55 Solteira Negra

6 Flávia Prostituta 35 Solteira Negra

7 Tereza Prostituta 53 Solteira Negra

8 Laura Prostituta 27 Solteira Morena-clara

9 Adriana Prostituta 35 Solteira Morena-clara

10 Veneranda Prostituta 29 Casada Parda

Fonte: Entrevista com as mulheres prostitutas realizada em 2005.

Do total de entrevistadas, em número de 10, apenas uma mulher atingiu ao Ensino Médio ou 2º grau e, assim mesmo, não o concluiu. As outras pararam de estudar antes de terminar o Ensino Fundamental ou 1º grau. Quanto à origem urbana ou rural, a maioria são oriundas da área urbana aqui em Recife, sendo que duas mulheres nasceram no interior do Estado e uma, em São Paulo.

A composição familiar varia bastante. Encontrei três mulheres que moram sozinhas e uma que mora com a sua companheira. E entre as outras seis mulheres, a composição varia entre sete e duas pessoas residindo com elas. Oito dessas mulheres afirmaram ser solteiras e ser a principal responsável pelos rendimentos da casa.

A principal profissão dessas mulheres é ser prostituta. Como é apresentado, o nível de escolaridade vem a contribuir para uma inserção precária no trabalho formal, em atividades que não requisitam um grau de escolaridade elevado. É importante notar que a maioria das mulheres entrevistadas, antes de serem

prostitutas, trabalharam em outras atividades como: camareira de hotel, garçonete de bar, empregada doméstica, vendedora no comércio. Apenas uma disse nunca ter trabalhado e começou a ganhar dinheiro pela primeira vez inserindo-se na prostituição.

Quadro II – Escolaridade, Atividades Anteriores, Atividades Paralelas e com quem as mulheres moram.

Nome Escolaridade Atividades

Anteriores

Atividades Paralelas

Com quem mora

Georgette Até a 8ª série do Ensino Fundamental - - Filhos, mãe e irmã Leonora Ensino Fundamental Incompleto Camareira de Hotel Confecção de bijuteria Companheiro e Filhos

Elisa Até a 7ª série do Ensino Fundamental Vendedora no comércio de persianas e programa em boate - Companheiro e neto

Tieta Até a 4ª série do Ensino Fundamental Garçonete de bar, doméstica, auxiliar de escritório - Filhos Flor Ensino Fundamental Incompleto Empregada doméstica - Sozinha

Flávia Até a 8ª série do Ensino Fundamental

- - Sozinha

Tereza Até o 2º ano do Ensino Médio - - Sozinha Laura Até a 5ª do Ensino Fundamental Garçonete de bar Vende produtos naturais Irmãos e Filhos

Adriana Até a 4ª série do Ensino Fundamental

Empregada Doméstica

- Filho

Veneranda Até a 5ª série do Ensino Fundamental

Empregada Doméstica

- Companheira

Fonte: Entrevista com as mulheres prostitutas realizada em 2005.

Com relação às atividades paralelas, como mostrado no quadro acima, apenas duas realizam atividades para complementar o rendimento mensal. Isso deve- se ao fato de que as mulheres envolvidas na APPS não costumam dispor de

tempo para executar outras atividades para ganhar dinheiro, principalmente aquelas que estão na liderança. Estas recebem uma bolsa, uma ajuda de custo, financiada pelo Ministério da Saúde, para participarem das atividades do projeto, ligadas à prevenção de DST’s e AIDS. Entre as atividades, estão: as oficinas de sexo seguro, busca ativa pelas ruas que são as visitas feitas por elas a outras prostitutas, com o objetivo de divulgar tanto o trabalho da associação quanto a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

Algumas mulheres expressam que estão sentindo dificuldade de realizar a sua atividade, a prostituição, em razão dos eventos e cursos de aperfeiçoamento a que precisam estar presentes representando a APPS, como destaca Flávia em seu depoimento:

“Eu batalhava sempre na parte da manhã. Isso é, quando não tem os cursos da APPS. ´Quando é tempo dos cursos, eu vou para Joaquim Nabuco à noite às vezes” (Flávia, prostituta, 2005)

Um outro depoimento com informação semelhante ao de Flávia é o de Tereza. A diferença é que Flávia não é liderança, não ocupa cargo de coordenação na APPS, sendo apenas uma sócia, mas que, mesmo assim, tem muitas responsabilidades, pois coordena a Associação do Cabo de Santo Agostinho. Já Tereza tem encargos maiores por ser coordenadora de administração da APPS:

“Desde que comecei a participar da APPS, diminui o ritmo da zona. Se eu continuar na coordenação na próxima eleição, vou continuar a trabalhar na zona.” (Tereza, prostituta, 2005).

Esse relato informa que realmente o ritmo da batalha 21 diminui quando se está nas coordenações da APPS. Não significa que elas não saiam com clientes, mas apenas com antigos que estão disponíveis para negociar tempo e horário da batalha de acordo com a disponibilidade delas.

21

Batalha é o termo que as prostitutas utilizam para designar a ida ao local que se prostitui e a espera dos clientes.

Essa diminuição de tempo para batalha para algumas significa menos dinheiro. Mas, ao mesmo tempo, elas entendem que,em razão disso, são beneficiárias de uma bolsa financiada pelo projeto do Ministério da Saúde. Então as mulheres que fazem parte da coordenação priorizam o trabalho externo, como explica Tieta:

“Eu participo do Fórum de Mulheres de Pernambuco e das intervenções de rua em Camela, Jaboatão e Ibura. Qualquer uma das profissionais do sexo podem representar. Mas quem recebe bolsa para participar das atividades são as coordenadoras. Então não é justo que saia uma profissional do sexo, deixe de batalhar, que ela vai estar ganhando o dinheiro dela, para participar de atividade fora. Como as coordenadoras recebem essa bolsa- auxílio, pra que essa bolsa? Pra que ela esteja na atividade naquele momento que está precisando dela representando a APPS.” (Tieta, prostituta, coordenadora de finanças da APPS – 2005)

Esse relato deixa claro que as atividades externas são predominantemente freqüentadas por aquelas que estão na coordenação. Dito isso, indaguei também se isso não prejudicaria as mulheres sócias de base que freqüentemente não iam às atividades. E elas disseram que não porque, na reunião da segunda-feira, repassam tudo para o grande grupo. E que, mesmo assim, quando se realizam eventos, como: seminários e palestras do interesse das prostitutas, todas são convidadas.

Entre as mulheres entrevistadas, quatro ocupam cargo de coordenação na Associação de Profissionais do Sexo e as demais participam como sócias.

As coordenadoras entrevistadas foram: a coordenadora de finanças, jurídica, da administração e da educação e cultura. Assim, cada uma delas são responsáveis por atividades diferentes. Elas se dividem por exemplo para presenciar os seminários e palestras que participam em instituições. Umas realizam as intervenções nas ruas, outras fazem a busca ativa, representam as prostitutas no Fórum de Mulheres de Pernambuco. Já as sócias, em geral, sempre estão presentes às reuniões todas as segundas-feiras e freqüentam cursos, os quais a APPS ou alguma instituição externa parceira oferece. Com

relação às sócias, sua inserção em atividades ligadas à APPS vai depender também da sua disponibilidade e das suas condições financeiras

CAPÍTULO IV - O MOVIMENTO DE MULHERES PROSTITUTAS EM