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CAPÍTULO V O IMPACTO DA PARTICIPAÇÃO NA APPS NA VIDA E NO

5.3. Prostituição: um conceito

Quando falo de prostituição, estou falando de uma atividade que implica uma relação de troca entre duas pessoas, em que uma das partes oferece um serviço sexual e a outra recebe esse serviço, obrigando-se a pagar em espécie ou em gênero.

No entanto, concordo com Maria Dulce Gaspar (1985) que entende a prostituição feminina como um contínuo de relações possíveis entre homens e mulheres que combinam sexo e dinheiro sem passar pelo casamento ou pela procriação. Eu acrescentaria que essa relação pode ser também entre duas mulheres, em se tratando de prostituição feminina.

Apesar de algumas dificuldades no que diz respeito à forma como poderiam definir a prostituição, as mulheres indicaram e conceituaram o que seria para elas. Para a maior parte das entrevistadas, é um trabalho como outro qualquer para garantir a sobrevivência. A diferença é que umas fazem por necessidade e outras, por prazer.

Esse grupo assemelha-se ao grupo estudado por Jefferson Afonso Bacelar cujas mulheres se utilizam da prostituição para organizar-se financeiramente.

São depoimentos como o de Elisa que revela a necessidade de se prostituir para a sobrevivência imediata e encara a prostituição como um trabalho.

“Ser prostituta pra mim é uma profissão. Porque desde que eu me conheço, que eu entrei nela, eu dependo dela. Eu me visto dela, eu como dela, eu bebo dela, eu me divirto.” (Elisa, prostituta – 2005)

Flávia, em seu relato, apresenta um conceito semelhante ao de Elisa, ao dizer que realmente algumas mulheres se prostituem por necessidade, mas ela se prostitui por prazer, ou seja, gosta de ser prostituta. E relata, assim como Elisa, que a prostituição é um trabalho.

“Olhe, ser prostituta, eu acho que tem duas diferenças. Tem uma que se prostitui por prazer e outra se prostitui... Eu me prostituo por prazer, não é por necessidade. Porque se eu fosse dizer: eu vivo dentro do cabaré porque tô passando fome, tô isso, aquilo outro. Mas eu também podia procurar uma cozinha dos outros pra lavar. Que nem eu vejo muito dia de domingo na fita... na tv jornal, feito a menina falou: eu vivo aqui porque eu não tenho um carrinho para vender cachorro quente. E foi a maior polêmica. Fátima até pegou ar não foi? Por causa desse negócio? Eu estou aqui porque não tem carrinho para vender cachorro quente acabou com a vida das mulé, eu estou nessa vida porque eu quero.” (Flávia prostituta – 2005)

Então na hora de conceituar a prostituição, elas falam muito também sobre o porque se prostituem, justificando a sua permanência na atividade. Flávia desmistifica a idéia de ser prostituta só porque precisa, porque não tem trabalho.

Outras mulheres têm outra definição. Dizem que a prostituição é “vender a carne”, mas não vendem o corpo, e sim fantasias. Dizem que são vendedoras de fantasias sexuais, fantasias que realizam de acordo com a vontade do cliente e do processo de negociação. Isso revela uma ruptura com o conceito anterior da prostituição. Essas mulheres combatem a idéia da venda do corpo feminino. Afirmam que o produto a ser vendido são as fantasias sexuais. São momentos sexuais de acordo com que o cliente necessita e, é claro, com aquilo que consta no acordo. Entendem que a fantasia é o produto

comercializado, e não o corpo. Essa é a noção presente na Associação entre a maioria das mulheres.

Algumas entrevistadas assinalam que a prostituição é um trabalho cuja relação existe entre uma pessoa que compra os serviços sexuais e outra que fornece.

Como foi mostrado, as mulheres que participam da APPS têm vários posicionamentos sobre o que é a prostituição. Quando eu pergunto o que significa, elas apontam, como mostra o quadro, alguns elementos importantes. Algumas falam sobre o trabalho, indicando que a prostituição é um trabalho como outro qualquer.

Outras falam de outros aspectos da vida.

Georgette aponta que é uma vida vulgar. Diz que não aconselharia ninguém a entrar na prostituição, em razão de ser uma atividade muito sofrida; porque precisa ficar na rua o tempo todo esperando os clientes e às vezes volta para casa sem nenhum dinheiro. Diz também que depois de entrar, fica difícil sair.

Já Veneranda declara que prostituição é ser uma mulher independente do marido. Fala da atividade como meio para ter o próprio dinheiro.

Outra define que é ser uma trabalhadora e precisa ser respeitada como uma cidadã cumpridora de deveres, mas que também tem direitos.

Outras conceituam como sendo uma mulher que faz sexo por qualquer coisa e que o amor não está presente nessa relação. É, pois, vender o corpo. Já outra diz que não é vender o corpo, e sim fantasias sexuais, como já mencionei.

QUADRO III

NOME O que é a prostituição?

Georgette “(...) É uma vida vulgar”.

Leonora “É tudo. É mãe, amiga (...).”

Elisa “(...) É uma profissão (...).”

Tieta “Acima de tudo é ser uma cidadã. (...) A

prostituição é como um trabalho. Vejo a prostituta como uma trabalhadora cidadã.”

Flor “É saber o que tá fazendo no dia-a-dia

(...)”

Flávia “(...) Eu me prostituo por prazer. Sei que podia muito bem trabalhar em outra coisa como procurar uma cozinha para lavar, mas gosto de me prostituir. É o meu trabalho”.

Tereza “(...) Toda parte de sexo que não é feita por amor, é prostituição”.

Laura “É vender as carnes e fantasias porque

não vendem o corpo e sim fantasias”. Adriana “Prostituta é uma pessoa que vende seu

corpo, vende seu carinho, escuta os problemas dos homens que as procuram. É um pouco de psicóloga também”. Veneranda “Uma mulher guerreira que queria sair de

ser submissa do marido e viver sua vida independente (...)“

FONTE: Entrevista realizada com as mulheres prostitutas em 2005.