• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO V O IMPACTO DA PARTICIPAÇÃO NA APPS NA VIDA E NO

5.5. Reivindicações, conquistas, mudanças

5.5.3.3 Relação com outros movimentos e com o Estado

A maioria das mulheres afirma já ter participado de alguns eventos, fóruns ou encontros, principalmente aqueles, em que se debate sobre a prostituição, bem como violência contra a mulher, Doenças Sexualmente Transmissíveis, política, direitos humanos e outros.

Para se ter uma idéia da mobilização política dessas mulheres, têm representação da APPS na Articulação Aids de Pernambuco, no Fórum de Mulheres de Pernambuco, no Conselho da Mulher, na Conferência da Igualdade Racial, Conselho de direitos humanos, participam do Conselho Gestor de Saúde, além de todos os encontros organizados pela Rede Nacional de Prostitutas e demais Associações nos diversos Estados.

Quando as mulheres falam das relações com outras instituições, abarcam tanto os Fóruns e Conferências que participam, como também as coordenações DST/AIDS e Ministérios da Saúde os quais dão o suporte financeiro.

Naqueles encontros, cujo tema é a prostituição, é onde elas mencionam que tem mais voz e vez. Podem, pois, expressar seus conhecimentos, suas dúvidas e reivindicações. Entre as mulheres entrevistadas, estão as que ocupam o cargo de coordenadora e que freqüentemente falam nos encontros. Encontrei mulheres que se consideram bastante tímidas e desencorajadas pelo preconceito existente com as prostitutas, razão pela qual não têm nem coragem de se identificar como tal. Mas, ao mesmo tempo, fazem questão de enfatizar que estão lutando contra isso. Sabem da importância da identificação. mas que isso vai se dando num processo natural. Uma entrevistada revelou que as mulheres sócias poucas vezes se expressam nos encontros quando acompanhadas com uma das coordenadoras. O que significa que elas se sentem mais seguras com a presença daquelas figuras porque sabem que elas estão acostumadas àquela situação e se cometerem alguma falha terão a ajuda imediata.

Todas as mulheres entrevistadas consideram bastante positiva a participação delas em encontros porque alargam os canais de integração das prostitutas e supostamente o aumento da sensibilidade tanto do Estado como de outros movimentos sociais e populares em relação às suas demandas. Assim, também a sociedade pode conhecer o seu projeto político, o que realmente elas estão querendo, dar visibilidade ao movimento e provocar mudança de tratamento.

As prostitutas falam também sobre a participação junto à Rede Nacional de Prostitutas. A maioria só conhece Gabriela Leite pela televisão ou em foto. Já aquelas mulheres ligadas à liderança da APPS a conhecem e já participaram de encontros em que ela estava presente. Afirmam que todas as sócias ficam atualizadas sobre os encontros da Rede de Prostitutas tanto nas reuniões realizadas na APPS como através das notícias que são veiculadas pelo Jornal O Beijo.

As mulheres acreditam que o principal colaborador e parceiro da APPS é o Estado. Mencionam a Coordenação Estadual DST/AIDS Municipal e Federal. O que não é de se estranhar já que anteriormente afirmamos que hoje só existem recursos e projetos no âmbito da saúde, sendo a única esfera a trabalhar com essas mulheres. Sobre o tipo de trabalho, afirma Françoar:

“As prostitutas é um recorte populacional que o programa de AIDS a nível nacional, a nível mundial, trabalha. Então a gente aqui na coordenação do programa e na execução das atividades do programa, principalmente na questão da prevenção, já era um recorte populacional que era do interesse, da nossa preocupação. (...) SUS, o SUS pela sua própria existência já deve estar preocupado com a prevenção, deve tá preocupado com esses recortes populacionais que estão mais vulneráveis, seja lá com a participação com informação, seja com a distribuição de preservativo, seja lá o que for não só a questão de HIV e AIDS” (...) (Françoar, Coordenador Estadual do Programa DST/Aids - 2005)

Entre as instituições do Estado, as mulheres citam a Polícia Civil, Coordenadoria Municipal da Mulher, Coordenação DST’s/AIDS, ONG’s como o SOS Corpo e o GAJOP. Também relembram de pessoas que contribuíram desde o início para a formação da APPS, como os donos de bares. Disseram

que cada um contribuiu de uma forma. Mas, dentro de um sistema de classificação, as mulheres colocam o Estado através das Coordenações DST’s/AIDS, em primeiro lugar. Como demonstra o depoimento de Tereza:

“Primeiro é a coordenação Estadual DST’s e AIDS. Depois vem o Ministério da Saúde. A primeira pessoa, a gente não tinha nem associação ainda, foi Drº Françoar da Coordenação Estadual. Depois veio o Ministério com o projeto piloto, a gente também tem a coordenação municipal do Recife, na pessoa de Drº Acioly Neto, a gente tem também a coordenação de Jaboatão, que é Drª Sony, a gente tem a coordenadoria da mulher da prefeitura da cidade do Recife, que são patrocinadores dos cursos que nós fazemos e qualquer coisa que a gente precisa, feito agora nessa greve, donos de bares são muito sensíveis a gente . Seu Carlinhos, quem puder ajudar, vai ajudando, o sindicato de empregadas doméstica, a gente é puta então puta tem que ter parceiros, e a gente tem muitos. O Fórum de Mulheres, Centro de Dependência, Drª Vera Baroni como advogada, Cláudia Molina da Polícia Civil, a deputada Tereza Leitão, eu tô participando até do Fórum - Fórum de Reforma Urbana, eu participei do plano diretor e o pessoal chamou a gente pra estar integrada, das necessidades da cidade. Que a gente vive e convive na cidade do Recife, a gente não vive em casa dormindo, então, prostituta é quem mais usufrui do centro da cidade, direitos humanos também a gente tem também o Gajop, OAB, muita coisa.” (Tereza, prostituta – 2005)

Sobre esse aspecto, na minha compreensão, é preciso uma reflexão crítica por parte do grupo pesquisado para saber por que é que a Coordenação Estadual DST’s e AIDS é o principal parceiro e por que há tanta dificuldade de projetos serem aprovados em outras áreas como educação e outras políticas públicas.