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Parte I O Sector Vitivinícola

3. As normas nacionais

O regime das denominações de origem (DO) e as indicações geográficas (IG) vitivinícolas previsto na OCM determina a existência de um sistema nacional de certificação, conforme com um quadro jurídico comunitário de controlo, que garante a conformidade do produto em relação às especificações definidas para as DO e IG69.

O artigo 47º, nºs 1 e 2 do Regulamento (CE) nº 479/200870 regulamenta os controlos relacionados

com as DO e as IG vitivinícolas previstas na OCM, cabendo aos Estados-Membros tomar as medidas necessárias para impedir a sua utilização ilegal, bem como designar a autoridade competente71 responsável pela realização do controlo das obrigações estabelecidas na OCM e

assegurar que os operadores que cumprem essas obrigações têm direito a estar abrangidos por um sistema de controlo.

A verificação da conformidade com as especificações do produto durante a produção e durante ou após o acondicionamento do vinho é assegurada pela autoridade competente designada ou por um ou mais organismos de controlo72, na qualidade de organismo de certificação do produto (artigo

48º, nº 1 do Regulamento (CE) nº 479/200873).

aromatizados de produtos vitivinícolas são bebidas nas quais os produtos vitivinícolas representam, pelo menos, 50% do volume total. Têm um título alcoométrico volúmico igual ou superior a 1,2% vol e inferior a 10% vol..

68 O Regulamento (UE) nº 251/2014 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de Fevereiro de 2014, revoga o Regulamento (CEE) n° 1601/91

do Conselho.

69 Neste sentido, ALBERTO RIBEIRO DE ALMEIDA, A Autonomia Jurídica da Denominação de Origem: Uma Perspectiva Transnacional. Uma Garantia

de Qualidade, Coimbra, Coimbra Editora, 2010, pp. 813 a 817.

70 Regulamento (CE) nº 479/2008 do Conselho de 29 de Abril de 2008, que estabelece a organização comum do mercado vitivinícola, que altera os

Regulamentos (CE) nº 1493/1999, (CE) nº 1782/2003, (CE) nº 1290/2005 e (CE) nº 3/2008 e que revoga os Regulamentos (CEE) nº 2392/86 e (CE) nº 1493/1999; Esta disposição encontra-se actualmente no artigo 90º, nºs 1 e 2 do Regulamento (UE) nº 1306/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Dezembro de 2013, relativo ao financiamento, à gestão e ao acompanhamento da Política Agrícola Comum.

71 Por remissão directa, o conceito de autoridade competente é o constante no artigo 2º, ponto 4 do Regulamento (CE) nº 882/2004 do Parlamento

Europeu e do Conselho de 29 de Abril de 2004, relativo aos controlos oficiais realizados para assegurar a verificação do cumprimento da legislação relativa aos alimentos para animais e aos géneros alimentícios e das normas relativas à saúde e ao bem-estar dos animais: “a autoridade central de um Estado-Membro com competência para organizar controlos oficiais ou qualquer outra autoridade a quem tenha sido atribuída essa competência”.

72 Por remissão directa, o conceito de organismo de controlo é o constante no artigo 2º, ponto 5 do Regulamento (CE) nº 882/2004 do Parlamento

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Foi já no âmbito desta lógica de controlo, ainda em preparação na União Europeia, que em 2004 Portugal reformulou profundamente o sector vitivinícola com o Decreto-Lei nº212/200474e o

Despacho nº 22522/200675que lhe dá cumprimento. Em termos institucionais, nasceu o

mecanismo de reconhecimento das CVR existentes como entidades certificadoras, ou seja, os organismos de controlo e certificação do produto previstos na lei comunitária. Abordámos esta questão no ponto 1. supra.

O Decreto-Lei nº212/2004 veio também disciplinar o reconhecimento e protecção das respectivas DO e IG e o seu controlo, certificação e utilização. O legislador vitivinícola nacional começa por definir, pela primeira vez, os conceitos de DO e de IG76, indicando depois os produtos vitivinícolas

em que podem ser empregues, embora a nomenclatura esteja já desactualizada à luz das alterações comunitárias publicadas posteriormente (vinhos; vinhos espumantes; vinhos frisantes; vinhos licorosos; aguardentes de vinho e bagaceiras; vinagres de vinho).

Seguidamente, o legislador estabelece o mecanismo de reconhecimento das DO e IG, as entidades competentes para a sua defesa e o seu âmbito de protecção. Da máxima importância é a definição do conceito de regulamento de produção e comércio, para uma DO e para uma IG, e dos aspectos que este documento deve disciplinar, abordaremos em pormenor no ponto seguinte.

Em complemento a este diploma, foi publicado o Decreto-Lei nº 213/2004, de 23 de Agosto, que estabelece o regime de infracções relativas ao incumprimento da disciplina legal aplicável à vinha, à produção, ao comércio, à transformação e ao trânsito dos vinhos e dos outros produtos vitivinícolas e às actividades desenvolvidas neste sector. Salientamos as normas referentes à violação das DO e IG vitivinícolas, constantes dos artigos 8º e 9º, quanto ao crime de usurpação de DO ou IG e ao crime de tráfico de produtos vitivinícolas, e do artigo 11º, quanto à contra-ordenação de uso indevido de DO ou IG.

relativa aos alimentos para animais e aos géneros alimentícios e das normas relativas à saúde e ao bem-estar dos animais: “um terceiro independente no qual a autoridade competente tenha delegado determinadas tarefas de controlo”.

73 Esta disposição encontra-se actualmente no artigo 90º, nº 3 do Regulamento (UE) nº 1306/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de

Dezembro de 2013, relativo ao financiamento, à gestão e ao acompanhamento da Política Agrícola Comum.

74 Decreto-Lei nº 212/2004, de 23 de Agosto, que estabelece a organização institucional do sector vitivinícola.

75 Despacho nº 22522/2006, de 17 de Outubro, que estabelece, para o território do continente, as condições, os requisitos organizacionais,

técnicos, humanos e materiais e os prazos para a apresentação das candidaturas das entidades certificadoras que nos termos do nº 1 do artigo 10º, conjugado com o artigo 19º, ambos do Decreto-Lei nº 212/2004, de 23 de Agosto, pretendam ser reconhecidas e designadas para exercer as funções de controlo da produção e comércio e de certificação de produtos vitivinícolas com direito a denominação de origem (DO) ou indicação geográfica (IG).

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Para além destas leis-base do sector, existem outras normas nacionais com relevância em matérias específicas, tais como o exercício de actividade no sector vitivinícola77, a rotulagem dos produtos

vitivinícolas78, os controlos no sector e as declarações obrigatórias e registos79, as autorizações de

plantação de vinhas80, os programas de apoio à promoção e informação dos vinhos81, a

reestruturação e reconversão das vinhas82 e o seguro vitícola de colheitas83.

De âmbito mais específico são as normas que disciplinam as regras de produção e comércio de cada DO e IG vitivinícola, que analisamos em particular no ponto 4. a seguir exposto.