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Parte I O Sector Vitivinícola

4. Instrumentos de regulação específicos de cada DO e IG

4.1. Regras de produção e comércio

Como referimos atrás, o regime das denominações de origem (DO) e as indicações geográficas (IG) vitivinícolas previsto na OCM determina a existência de um sistema nacional de certificação que garanta a conformidade do produto em relação às especificações definidas para as DO e IG. Ora, o legislador português determina, no artigo 6º do Decreto-lei nº 212/2004, que essas especificações constam de regras de produção e comércio definidas para cada DO e IG em regulamento próprio a aprovar por portaria – o regulamento de produção e comércio.

77O Decreto-Lei nº 178/99, de 21 de Maio, quanto ao exercício da actividade no sector vitivinícola. As principais categorias de actividade económica

previstas na lei são as de “engarrafador”, de “armazenista”, de “produtor”, de “vitivinicultor”, de “vitivinicultor-engarrafador” e de “retalhista”. A Portaria nº 8/2000, de 7 de Janeiro, que estabelece os procedimentos administrativos a observar na inscrição dos agentes económicos que exerçam actividade no sector vitivinícola.

78 O Decreto-Lei nº 376/97, de 24 de Dezembro, quanto à rotulagem. A Portaria nº 199/2010, de 14 de Abril, quanto à indicação do ano de colheita

e ou das castas de uvas na rotulagem dos produtos do sector vitivinícola sem DO ou IG. A Portaria nº 380/2012, de 22 de Novembro, relativa às castas de uvas aptas à produção de vinho em Portugal; com esta portaria o legislador português cumpre a obrigatoriedade prevista na OCM dos Estados membros procederem à classificação das castas destinadas à produção de vinho, determinando-se que, apenas estas, poderão ser plantadas, replantadas e enxertadas. A Portaria nº 239/2012, de 8 de Agosto, relativa à designação, apresentação e rotulagem dos produtos do sector vitivinícola, que dá cumprimento à competência atribuída pelo Regulamento (CE) nº 607/2009, norma de execução da OCM, para estabelecerem disposições complementares em matéria de rotulagem e apresentação dos vinhos produzidos nos respectivos territórios.

79 O Decreto-Lei nº 63/2003, de 3 de Abril, quanto ao controlo das exportações dos produtos do sector vitivinícola. A Portaria nº 265/84, de 26 de

Abril, quanto à declaração de colheita e produção de uvas ou de vinhos. O Despacho Normativo nº 42/2000, de 8 de Setembro, relativo aos registos de entrada e saída dos produtos vitivinícolas (conta-corrente).

80 O Decreto-Lei nº 176/2015 de 25 de Agosto, relativo às autorizações para plantações de vinhas e gestão e controlo do potencial vitícola. A Portaria

nº 348/2015, de 12 de Outubro, quanto ao regime de autorizações para plantação de vinha. O Despacho nº 3071/2016, de 29 de Fevereiro, quanto às autorizações para novas plantações de vinha para 2016, e respectiva Declaração de rectificação nº 340/2016, de 30 de Março.

81 A Portaria nº 257/2013, de 13 de Agosto, referente ao apoio comunitário à promoção de vinhos em mercados de países terceiros 2014-2018,

alterada pela Portaria nº 190/2015, de 26 de Junho. A Portaria n.º 90/2014, de 22 de Abril, referente ao apoio à promoção do vinho e produtos vínicos nacionais e à informação e educação sobre o consumo de bebidas alcoólicas do sector vitivinícola, e revoga a Portaria n.º 219/2013, de 4 de Julho.

82 A Portaria nº 357/2013, de 10 de Dezembro, quanto ao apoio à reestruturação e reconversão das vinhas (VITIS) 2014-2018, alterada pela

Portaria nº 67/2014, de 12 de Março, e pela Portaria nº 219/2015, de 23 de Julho. A Portaria nº 71/2016, de 5 de Abril, quanto a um período excepcional de candidaturas ao regime da reestruturação e reconversão das vinhas para 2016-2017.

83 A Portaria nº 42/2012, de 10 de Fevereiro, relativa ao apoio à contratualização do seguro vitícola de colheitas, alterada pela Portaria nº

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O regulamento de produção e comércio de uma DO deve disciplinar os seguintes aspectos (artigo 6º, nº1 do diploma): a delimitação da área ou região de proveniência; a natureza do solo; as castas aptas à produção; as práticas culturais e formas de condução; os rendimentos por hectare; os métodos de vinificação; as práticas enológicas; o título alcoométrico volúmico natural mínimo84; as

características físico-químicas e organolépticas; e disposições particulares sobre apresentação, designação e rotulagem, sempre que necessário.

Por seu turno, o regulamento de produção e comércio de uma IG “deve definir, pelo menos, a delimitação da região de proveniência, as castas e as regras específicas de produção e apresentação, designação e rotulagem, sempre que necessário”(artigo 6º, nº2 do diploma). De notar que, embora sejam normas nacionais publicadas através de portarias, os regulamentos de produção e comércio de cada DO e de cada IG aplicam-se apenas aos produtos com direito à DO ou IG de cada região vitícola do país85.

Por fim, devemos referir que existem ainda regras e procedimentos emitidos pelas entidades certificadoras (EC) que são aprovados como regulamentos internos pelo seu órgão deliberativo (o

Conselho Geral), não sendo publicados no Diário da República86. Os regulamentos internos podem

ser referentes a regras de rotulagem, de requisitos organolépticos, de inscrição na EC, entre outros assuntos objecto de controlo por parte das EC.

84 Entende-se por título alcoométrico volúmico natural, o título alcoométrico volúmico total do produto considerado antes de qualquer enriquecimento,

conforme disposto no Anexo II, Parte IV, Ponto 16. do Regulamento (UE) nº 1308/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho de 17 de Dezembro, que estabelece uma organização comum dos mercados dos produtos agrícolas.

85 A título de exemplo, apresentamos o Regulamento de Produção e Comércio da DO Vinho Verde, constante da Portaria nº 668/2010, de 11 de

Agosto, que contém as disposições sobre o seguinte: as categorias de produtos com DO; o âmbito de protecção da DO e as especificidades em relação a marcas; a delimitação da região; as sub-regiões produtoras da DO Vinho Verde; as características dos solos; as castas a utilizar na elaboração dos produtos vitivinícolas com DO Vinho Verde; as práticas culturais utilizadas nas vinhas, os tipos de vinhas e respectiva forma de condução; a inscrição na entidade certificadora das parcelas de vinhas destinadas; os valores do rendimento máximo por hectare das vinhas; os métodos e práticas de vinificação; a destilação dos vinhos destinados a aguardente vínica e bagaceira com direito à DO Vinho Verde; as práticas e tratamentos enológicos; o título alcoométrico volúmico natural mínimo; as características físico-químicas e organolépticas dos vinhos; as características físico-químicas e organolépticas dos vinhos espumantes; as características físico-químicas e organolépticas das aguardentes; as características físico-químicas e organolépticas dos vinagres; a inscrição dos agentes económicos na entidade certificadora; as instalações de vinificação, destilação, armazenagem e pré-embalagem; os registos, circulação e comercialização dos produtos vitivinícolas aptos e com DO Vinho Verde; a rotulagem dos produtos vitivinícolas; as competências de controlo e de sancionamento da entidade certificadora.

86 Com a excepção dos regulamentos emitidos pelas EC que são institutos públicos (o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I.P. e o Instituto do

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4.2. Regras de certificação

Para cada DO e IG existem ainda regras de certificação, aplicadas pela respectiva entidade certificadora, na verificação da observância do caderno de especificações, durante a produção e durante ou após o acondicionamento dos produtos vitivinícolas.

É a lei comunitária87que determina em que consiste essa verificação: i) num exame organoléptico e

analítico para os produtos com DO e num exame analítico ou num exame organoléptico e um exame analítico para os produtos com IG, os quais são efectuados em amostras anónimas, representativas dos vinhos em causa na posse do operador88; ii) e num controlo das condições

estabelecidas no caderno de especificações, nas instalações dos operadores e quanto aos produtos em qualquer fase do processo de produção, incluindo a embalagem, com base num plano de inspecção que incida em todas as fases da produção do produto. São ainda especificados os tipos de processo que a verificação deve seguir: processo aleatório, com base numa análise de riscos; processo por amostragem; processo sistemático.

Este quadro legal89 estabelece, por fim, que a certificação deve assegurar que um produto só possa

utilizar a DO ou IG que lhe corresponda se os resultados dos exames analíticos e organolépticos provarem que o produto observa os valores-limite e possui todas as características pertinentes da DO ou IG em causa, bem como satisfizer as outras condições constantes do caderno de especificações. Os produtos que não satisfaçam estas condições mas respeitem as outras exigências legais podem ser colocados no mercado sem a DO ou IG pretendida.

A título de exemplo, referimos a certificação de produtos engarrafados efectuada pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), de acordo com o respectivo Manual90. A

87 Artigos 25º, nºs 1 a 3, e 26º do Regulamento (CE) nº 607/2009 da Comissão de 14 de Julho, que estabelece normas de execução do

Regulamento (CE) nº 479/2008 do Conselho no que respeita às denominações de origem protegidas e indicações geográficas protegidas, às menções tradicionais, à rotulagem e à apresentação de determinados produtos vitivinícolas.

88 Os exames analíticos consistem na análise físico-química (que determina o título alcoométrico, os açúcares totais, a acidez total e a acidez volátil e

o dióxido de enxofre total) e em análises complementares (que determinam o dióxido de carbono e qualquer outra propriedade característica prevista na legislação nacional ou no caderno de especificações); o exame organoléptico refere-se à análise do aspecto visual, do aroma e do sabor.

89 Artigos 25º, nºs 4 e 5 do Regulamento (CE) nº 607/2009 da Comissão de 14 de Julho, que estabelece normas de execução do Regulamento (CE)

nº 479/2008 no que respeita às denominações de origem protegidas e indicações geográficas protegidas, às menções tradicionais, à rotulagem e à apresentação de determinados produtos vitivinícolas.

90 O Manual de Certificação da CVRVV compila “as principais regras necessárias para a certificação e controlo da DO Vinho Verde e da IG Minho, as

quais referem-se ao seguinte: à inscrição do operador económico, das vinhas e das instalações na CVRVV; à declaração de colheita e produção; ao processo de certificação de produto a granel; ao processo de certificação de produto engarrafado (realização de ensaios técnicos, aprovação da

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certificação é concedida se forem preenchidos todos os requisitos definidos para o produto: as características físico-químicas e organolépticas conformes, através da realização de ensaios técnicos (os exames analíticos e organolépticos exigidos na lei comunitária); a rotulagem aprovada, de acordo com a conta-corrente e com o resultado dos ensaios técnicos; a conta-corrente específica com saldo e conforme as especificações constantes na rotulagem. O selo de garantia é o resultado final e comprovativo do processo de certificação da CVRVV.

A maior parte das Entidades Certificadoras (EC) optou por um processo de certificação mais simples, constituído apenas pelos exames analíticos e organolépticos exigidos na lei comunitária, sendo a aprovação da rotulagem e a abertura de conta-corrente específica apenas necessárias para a comercialização do produto. Para estas EC, é emitido no fim do processo de certificação um documento comprovativo da certificação e o selo de garantia apenas é atribuído para a comercialização de produtos engarrafados após aprovação da rotulagem e abertura de conta- corrente específica.

Para o legislador vitivinícola91, os selos de garantia, devidamente apostos no recipiente, são

condição

sine qua non

para a comercialização dos produtos vitivinícolas com direito a uma DO ou a

uma IG, devendo ser numerados sequencialmente para garantir a respectiva autenticidade e controlo de utilização.

rotulagem, abertura de conta-corrente específica e atribuição de selos de garantia) (Manual de Certificação da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, Edição nº 15, publicada em Março de 2015, disponível em http://portal.vinhoverde.pt/pt/documentacao).

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