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Capítulo 7 – Do Veto 131

2. Aspectos regimentais

2.2 As novas regras

os líderes partidários foi o seguinte procedimento: na quarta-feira, teríamos uma nova sessão com os líderes partidários das duas Casas do Congresso Nacional e elegeríamos, nessa oportunidade, um critério para a apreciação desses vetos” (DCN de 4/7/2013). Esse entendimento, não obstante, até a publicação desta edição, ainda não se havia efetivado.

Com a entrada em vigor da Resolução nº 1 de 2015-CN, a votação dos vetos tornou-se mais célere. Isso porque, por um lado, suprimiram-se as exigências re-gimentais tanto de constituição de comissão mista para apreciar veto quanto de definição de calendário para sua tramitação e, por outro, com a previsão do uso de cédulas eletrônicas, discussão em globo de todos os vetos em pauta e limites de discussão e de apresentação de destaque, evitou-se que a votação demorasse ho-ras, não só pela mudança do rito processual anterior, mais delongado, mas também pela redução de possibilidades de manobras de obstrução.

Com efeito, em 25 de abril de 2017, tínhamos a seguinte situação em relação aos vetos não apreciados: 227 vetos não apreciados, dos quais 15 apresentados sob a égide da Resolução nº 1 de 2013-CN, sendo dois totais e treze parciais, e 212 vetos oferecidos antes de 1º de julho de 2013, sendo 49 vetos totais e 163 vetos parciais.42 Percebe-se, destarte, que o conjunto das novas alterações promovidas no RCCN com o advento das duas resoluções citadas conseguiu resolver a contento o problema de atraso na apreciação dos vetos. Entretanto, uma solução para apre-ciação dos vetos anteriores à Resolução nº 1 de 2013-CN (apresentados antes de 1º de julho de 2013) ainda é medida que se encontra indefinida, dependendo, pois, de vontade política para realização de esforço concentrado a fim de apreciá-los.

Resolução nº 1 de 2013-CN, é agora contado a partir da data em que o veto for proto-colizado na presidência do Senado Federal (RCCN, art. 104-A).45 Antes das alterações promovidas por essa resolução, o prazo era contado somente a partir da leitura do veto em sessão do Congresso convocada para conhecimento da matéria.46

Na edição anterior deste livro, comentamos que, a partir de agosto de 2013, o Congresso Nacional passou a proceder à leitura de vetos em sessão do Senado Federal (conforme indicado no quadro constante do início do tópico 2.1 deste capí-tulo) e fazer a comunicação à Câmara dos Deputados. Essa medida, indubitavel-mente, promovia maior celeridade aos trabalhos legislativos, uma vez que o Senado Federal realiza sessões diariamente. Naquela oportunidade, registramos, ainda, que, apesar de a Resolução nº 1 de 2013-CN ter suprimido a previsão de convocação de sessão conjunta, a realizar-se dentro de 72 horas, para dar conhecimento de matéria ao Congresso Nacional, permaneciam em vigor o art. 57, § 3º, IV, da Constituição Federal, e o art. 1º, VI, do Regimento Comum do Congresso Nacional, que preveem a realização de sessão conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal tanto para “conhecer do veto” (dar conhecimento de matéria vetada) quanto para “sobre ele deliberar”.

Constituição Federal de 1988 Art. 57. [...]

[...]

§ 3º Além de outros casos previstos nesta Constituição, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal reunir-se-ão em sessão conjunta para:

[...]

IV – conhecer do veto e sobre ele deliberar.

[...]

RCCN

Art. 1º A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, sob a direção da Mesa deste, reunir-se-ão em sessão conjunta para:

[...]

VI – conhecer de matéria vetada e sobre ela deliberar [...]

A prática de leitura dos vetos em sessão do Senado Federal e sua respectiva publicação no DSF ocorreu por três anos, de 18/7/2013 a 23/7/2016, datas em que foram publicados, respectivamente, os vetos nos 24/2013 e 29/2016. A partir do veto nº 30/2016, publicado em 11/8/2016, os vetos voltaram a ser publicados no DCN independentemente de sua leitura em sessão. Por exemplo, os vetos nos 2 a 9/2018 foram publicados no DCN de 15/2/2018, no qual consta expressamente:

45 O art. 104-A é oriundo do reordenamento realizado no § 1º do art. 104, promovido pelo Ato da Mesa do Congresso Nacional nº 1 de 2015 (devido à revogação do caput e § 2º do art. 104 pela Resolução nº 1 de 2015-CN).

46 Antiga redação do § 1º do art. 104 do RCCN: “O prazo de que trata o § 4º do art. 66 da Constituição será

“Não houve sessão”. Essa nova prática decorre da edição da Instrução Normativa da Secretaria-Geral da Mesa do Senado Federal nº 7/2016, que define normas para publicação e estabelece a certificação digital do DSF e do DCN. De acordo com a norma, o “Diário do Congresso Nacional terá edição ordinária e semanal de quinta--feira” (art. 1º, § 2º), e, em sua estrutura, haverá uma seção chamada Parte II em que constarão “matérias e documentos, compreendendo o expediente efetivamente lido ou encaminhado à publicação e as deliberações da ordem do dia” (art. 2º). Em outras palavras, o Congresso Nacional publica os vetos no DCN, tendo esses sido efetivamente lidos em sessão ou simplesmente encaminhados à publicação. Essa prática mantém a agilidade na publicação dos vetos, mas não atende à previsão constitucional de dar conhecimento de matéria em sessão conjunta.

O art. 2º da Resolução nº 1 de 2013-CN aplica a nova sistemática aos vetos publi-cados a partir de 1º de julho de 2013. Dessa forma, a contagem do prazo constitucio-nal de trinta dias, para os vetos apresentados a partir de 1º de julho de 2013, passou a iniciar-se na data de sua protocolização na Presidência do Senado.

Após distribuição dos avulsos com o texto do projeto, indicando as partes veta-das e sancionaveta-das, os vetos serão incluídos na ordem do dia. Depois do esgota-mento do prazo constitucional, a pauta das sessões conjuntas do Congresso Nacio-nal ficará trancada para qualquer outra deliberação, até a votação fiNacio-nal do veto (RCCN, art. 106).47

Ainda em conformidade com as novas regras, os vetos deverão ser apreciados em sessões do Congresso Nacional a serem convocadas para a terceira terça-feira de cada mês, impreterivelmente. Se, por qualquer motivo, não ocorrer a referida sessão, outra sessão conjunta será convocada para a terça-feira seguinte com o mesmo objetivo. Para rejeitar o veto, cada Casa do Congresso necessitará dos votos – realizados em escrutínio aberto (e não mais secreto desde a EC nº 76/2013) e vota-ção nominal – da maioria absoluta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal (CF, art. 66, § 4º, in fine, c/c RCCN, arts. 44, parágrafo único, e 46).48

Somente ao analisar os efeitos causados pelo advento da Resolução nº 1 de 2013-CN, verifica-se significativa transformação da prática de realização de sessões conjuntas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Em 20 de agosto de 2013 (terceira terça-feira do mês), o Congresso Nacional, com base nas novas regras, realizou a primeira sessão conjunta convocada para apreciação de vetos presiden-ciais e deliberou sobre vetos encaminhados ao Congresso Nacional a partir de 1º de julho de 2013. Tendo em vista que nem todos os vetos apresentados a partir dessa data foram deliberados, a pauta das sessões conjuntas restaria sobrestada para apreciação das demais proposições – que incluía o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2014, então pendente de deliberação – até que fosse ultimada a votação dos vetos com prazo expirado de trinta dias. A esse respeito, transcreve-se, a seguir, notícia publicada pela Agência Câmara e divulgada no Portal do Congresso Nacional:

47 De acordo com a nova redação dada pela Resolução nº 1 de 2015-CN.

Acordo deixa veto sobre multa do FGTS para setembro e inviabiliza votação da LDO

Os líderes da Câmara e do Senado decidiram deixar para setembro a vota-ção dos vetos ao projeto que extinguiu a multa extra do Fundo de Garan-tia do Tempo de Serviço (FGTS) e à Medida Provisória 610/13, que trata de renegociação de dívidas rurais. Como os vetos da MP 610 passarão a trancar a pauta do Congresso a partir desta quarta-feira (21), o adiamento inviabili-zou o calendário de votação da lei de diretrizes orçamentárias (LDO), que só poderá ser votada depois de 17 de setembro, data prevista para a votação desses vetos. (SIQUEIRA, 2013)

A primeira sessão conjunta para apreciação de vetos sob as novas regras foi palco de manifestações sociais nas galerias e resultou em vitória do governo com manutenção dos vetos apreciados na oportunidade. A seguir, transcrevemos parte de notícia divulgada pela Agência Senado sobre esse momento histórico da vida política do país.

Congresso mantém vetos de Dilma

Marcada por intensas manifestações nas galerias, a sessão do Congresso Na-cional destinada a análise de quatro vetos da presidente Dilma Rousseff foi encerrada pouco antes das 22h desta terça-feira (20). O resultado, divulga-do na madrugada, confirmou a vitória divulga-do governo, na primeira votação sob as novas regras para apreciação de vetos presidenciais: foram mantidos todos os quatro vetos em análise.

A maior pressão esteve sobre os vetos à Lei 12.842/2013, conhecida como Lei do Ato Médico, que também concentrou os discursos dos parlamentares.

A lei que disciplina a profissão da medicina teve dez itens vetados pelo Poder Executivo. Um dos mais polêmicos é o artigo que permite somente aos médi-cos fazer diagnóstimédi-cos e prescrições terapêuticas. Além disso, outros assun-tos estavam em jogo, como a competência profissional para exercer cargo de direção e chefia de serviços médicos e hospitalares.

Os outros três vetos em exame eram relacionados ao Projeto de Lei de Conver-são (PLV) 13/2013, que estende o Programa Universidade para Todos (Prouni) às instituições municipais de ensino superior; ao PLV 15/2013, que desonerou produtos da cesta básica; e ao artigo do PLS 240/2013 – Complementar que retira do cálculo dos repasses dos fundos de Participação dos estados e dos municípios (FPE e FPM) as desonerações feitas pela União.

Desde cedo, manifestantes, a favor e contra os vetos ao Ato Médico, aglome-raram-se na entrada do Congresso Nacional, conhecida como Chapelaria. Por volta de 21h, enquanto os vetos eram discutidos no Plenário da Câmara, eles chegaram a forçar passagem por portas de vidro que dão acesso ao interior do prédio.

Durante a discussão e votação da matéria, médicos e profissionais de outras categorias da saúde lotaram as galerias da Câmara. Eles não pouparam vaias e aplausos aos parlamentares, que se revezavam na tribuna, defendendo a der-rubada ou a manutenção dos vetos.

Apuração

A votação foi feita por meio de cédula única, em que os parlamentares marca-ram se aceitavam ou não os vetos do Executivo, relacionados aos quatro tex-tos aprovados pelo Congresso. Para derrubar um veto é necessário o apoio de 257 deputados e 41 senadores. Conforme o presidente do Congresso, Renan Calheiros, 458 deputados e 70 senadores votaram. A apuração foi feita pela Secretaria Especial de Informática do Senado (Prodasen).

Outra sessão do Congresso já foi marcada para o dia 17 de setembro, para a análise de outros vetos que até lá estiverem trancando a pauta, por excederem prazo de 30 dias para votação, de acordo com novas regras definidas por líde-res partidários em julho.

Renan Calheiros disse que pretende contribuir para a votação de todas as ma-térias em tramitação no Congresso. “O processo legislativo exige em todos os momentos conversas, diálogos. É fundamental que se aproveite cada dia para tentar se construir uma solução. Eu, no que couber, colaborarei com isso”, afir-mou. (CONGRESSO..., 2013)

A Resolução nº 1 de 2013-CN, além de ter eliminado as exigências regimentais tanto de constituição de comissão mista para apreciar veto quanto de definição de calendário para sua tramitação, definiu também que a discussão de todos os vetos constantes da pauta será em globo, permitindo o uso da palavra, apenas por cinco minutos, aos oradores inscritos. Após a discussão por quatro senadores e seis deputados, inicia-se o processo de votação por cédula, momento em que os líderes poderão orientar suas bancadas por até um minuto (RCCN, art. 106-A).49

A resolução determinou, ainda, a apreciação de veto por votação nominal, em regra, por meio de cédula que permita a apuração eletrônica. A cédula conterá iden-tificação do parlamentar e dela constarão todos os vetos constantes da pauta, agru-pados por projeto (RCCN, art. 46, in fine, c/c art. 106-B, caput).50

Estabeleceu, de igual forma, que, para fins de obstrução, pronunciando-se o líder nesse sentido em relação a um determinado item da cédula, será considerado em obstrução o parlamentar que deixar esse mesmo item em branco, não sendo sua presença computada para fins de quórum (RCCN, art. 106-C).

Prescreveu, bem assim, a possibilidade de apresentação de destaques de dispo-sitivos individuais ou conexos, até o início da ordem do dia, para apreciação no painel eletrônico, a requerimento de líderes de bancadas nas duas Casas, que não necessitarão de aprovação do Plenário, em obediência à seguinte proporcionalidade (RCCN, art. 106-D, caput):51

49 Antigo caput do art. 106-B, caput e §§ 1º e 2º, criados pela Resolução nº 1 de 2015-CN e renumerados pelo Ato da Mesa do Congresso Nacional nº 1 de 2015.

50 Antigo caput do art. 106-A, criado pela Resolução nº 1 de 2015-CN e renumerado pelo Ato da Mesa do Congresso Nacional nº 1 de 2015.

51 Antigo § 1º do art. 106-A, criado pela Resolução nº 1 de 2015-CN e renumerado pelo Ato da Mesa do

Quadro 36 – Cota de destaques por cédula para as bancadas do Congresso Nacional Quantidade de destaques

por cédula

Tamanho da bancada

Câmara dos Deputados Senado Federal

1 5 a 24 deputados 3 a 5 senadores

2 25 a 49 deputados 6 a 11 senadores

3 50 a 74 deputados 12 a 17 senadores

4 75 ou mais deputados 18 ou mais senadores

Fonte: RCCN, art. 106-D, caput.

Importante salientar que, se a cédula com os vetos possuir mais de oito proje-tos ou mais de oitenta dispositivos, será permitido quantitativo de destaques até o dobro do previsto inicialmente (RCCN, art. 106-D, § 1º).52

Outro ponto relativo aos destaques é a inadmissibilidade de sobreposição de lideranças na apresentação de destaque de dispositivos individuais ou conexos, sendo permitida, porém, a combinação (RCCN, art. 106-D, § 2º).53

Por fim, para votação no painel eletrônico de cada matéria vetada, haverá encami-nhamento de dois senadores e de dois deputados, por cinco minutos cada um, prefe-rencialmente alternando-se parlamentares favoráveis e contrários, sendo permitida a orientação de bancada pelos líderes por até um minuto, em qualquer caso (RCCN, art. 106-D, § 3º).54

52 Antigo § 3º do art. 106-A, criado pela Resolução nº 1 de 2015-CN e renumerado pelo Ato da Mesa do Congresso Nacional nº 1 de 2015.

53 Antigo § 2º do art. 106-A, criado pela Resolução nº 1 de 2015-CN e renumerado pelo Ato da Mesa do Congresso Nacional nº 1 de 2015.

54 Antigo § 3º do art. 106-B, criado pela Resolução nº 1 de 2015-CN e renumerado pelo Ato da Mesa do

Capítulo 8

No documento CURSO DEREGIMENTO COMUMDO CONGRESSO NACIONAL (páginas 131-137)