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As organizações armadas em ação (1969-1974)

O segundo período da ditadura, iniciado com o AI-5, “o golpe dentro do golpe”, é fortemente marcado pela dialética repressão vs resistência armada.

Nos anos de chumbo, o que restava do movimento de massas é destruído, a censura aumenta, a repressão organiza-se e se fortale, aprimorando inclusive suas práticas de tortura, cada vez mais institucionalizadas. Do lado da resistência, a luta armada torna-se uma opção atraente, alguns estudantes diriam até natural, como revela José Carlos Gianini, militante da ALN: “(...) com o AI-5, não se criou mais alternativa. A que existia efetivamente era a luta armada, era como se fosse um desdobramento

natural de quem já tinha uma militância mais efetiva no movimento estudantil”17.

No início de 1969, como dito anteriormente, a maioria dos grupos armados encontrava-se constituída; sendo que alguns deles já haviam iniciado as primeiras ações, em 1968 (ALN, VPR e Colina). Otimistas, as organizações militarizadas avaliavam o AI-5 como uma medida de desespero, reveladora das debilidades do regime. Para alcançar seus objetivos (derrubada da ditadura, fim do imperialismo, fim do capitalismo, instalação do socialismo e outros já mencionados), os grupos armados concebiam a guerrilha rural como uma estratégia fundamental18; no entanto, muitos optaram por desencadear inicialmente a guerrilha urbana, vista como um instrumento tático de luta que serviria para recrutar militantes e levantar fundos que possibilitassem a estruturação da organização e da guerrilha rural. Além disso, seria uma forma de propaganda exemplar da guerra revolucionária e desviaria a atenção das forças

16 Gaspari (2002, p. 180-183) considera que os militares cassados, pela sua experiência, foram muito

importantes na construção dos grupos armados.

17 Depoimento publicado em Ridenti (1993, p. 124-125), os grifos são do autor.

repressivas que, preocupadas com as cidades, deixariam o campo livre (Cf. RIDENTI, 1993, p. 48).

Com isso em mente, os combatentes armados intensificaram (ou iniciaram) suas ações. A VPR, que contava com o apoio de alguns militares do Quarto Regimento de Infantaria, localizado em Quitaúna, próximo à capital paulista, havia planejado19 que esses apoiadores, ao desertarem do Exército, saíssem em um caminhão carregado de armas e, na sequência, bombardeassem a sede do Governo do Estado, o Quartel-General do II Exército e a Academia de Polícia. No entanto, o veículo que seria utilizado na realização do plano foi encontrado pela polícia enquanto estava sendo preparado e a organização decidiu antecipar e reduzir a ação. Assim, o capitão Carlos Lamarca desertou com três companheiros em uma Kombi, levando sessenta e três fuzis FAL (Cf. GORENDER, 1998, p. 145-146). A nova versão do plano, mesmo tendo sido muito menos grandiosa do que a prevista, provocou forte repressão, levando muitos militantes da VPR à prisão.

A série de quedas20 sofridas pela VPR não abala o ânimo dos revolucionários,

que seguiam confiantes. 1969 foi um ano áureo para a luta armada brasileira, com várias ações bem sucedidas e a conquista de muitos adeptos; só a ALN contava com cerca de 300 militantes (Cf. GASPARI, 2002, p. 142). No intuito de reunir forças, a VPR alia-se ao grupo mineiro Colina, que também tinha sofrido abalos, formando a Vanguarda Armada Revolucionária – VAR-Palmares. No mês de julho, a organização recém- constituída rouba, no Rio de Janeiro, o cofre do ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros, conseguindo mais de um milhão de dólares (Cf. GORENDER, 1998, p. 147). Nesse contexto de alianças e certeiras execuções, realiza-se a ação mais espetacular da guerrilha urbana brasileira, o sequestro do embaixador dos Estados Unidos. Era semana da pátria e a ditadura não estava esperando por isso, pois, além de esta não ser uma prática muito disseminada entre os movimentos guerrilheiros da época, foi a primeira do gênero no Brasil. Uma surpresa para todo o país. A liberdade do diplomata americano custou quinze presos políticos e a leitura de um manifesto nos principais meios de

19 Esse plano provocou o primeiro grande conflito no interior da VPR. O professor João Quartim Moraes,

um dos dirigentes da organização, opunha-se à realização da ação, pois achava que não tinham ainda estrutura suficiente para aguentar as represálias que viriam como consequência. Essas ideias foram interpretadas pelo grupo ligado ao ex-sargento Onofre Pinto como vacilação. Prevaleceu a linha mais militarista, o que resultou no afastamento do professor João Quartim Moraes. (Cf. CHAGAS, 2000, p. 59- 64)

20 Quedas, no vocabulário utilizado no contexto da luta armada contra a repressão, significa o

comunicação, rompendo ao mesmo tempo a repressão e a censura. Sem dúvida, uma enorme desmoralização política para o regime militar.

A repressão, inicialmente despreparada para enfrentar esse tipo de resistência, começa a se armar. Ainda no primeiro semestre de 1969, com o patrocínio do empresariado paulista, é criada na cidade de São Paulo a Operação Bandeirantes – OBAN, uma espécie de projeto piloto, não institucionalizado, que reunia as polícias federal, militar e civil, além de representantes do Exército, Marinha e Aeronáutica. Inicia-se, a partir daí, o processo de desmantelamento das organizações armadas. Imediatamente após o sequestro, a ditadura prende e tortura membros de diversos grupos, principalmente da ALN, até alcançar Marighella, assassinado em 4 de novembro do mesmo ano.

Num primeiro momento, os guerrilheiros, apesar de isolados, tinham certa simpatia da população, o que não significava apoio efetivo, mas torcida. Efetivamente, os grupos armados contavam com a solidariedade de uma ala de esquerda da Igreja Católica, e de alguns intelectuais e artistas estrangeiros, entre os quais se destaca o filósofo francês Jean Paul Sartre, que abriu espaço em seu prestigioso periódico Les

temps modernes para veicular textos da esquerda armada do Brasil. (Cf. RIDENTI,

1993, p. 75). Após a morte de Mariglella, surge apoio de brasileiros exilados, que começam a se organizar para divulgar e denunciar os crimes cometidos pela ditadura. Como exemplo dessa movimentação, mencionamos a fundação em Paris, sob a liderança de Miguel Arraes (Cf. GASPARI, 2002, p. 272), ex-governador Pernambucano com o mandato cassado, da Frente Brasileira de Informações. As denúncias de tortura se intensificaram no exterior, com grande contribuição da Igreja, com destaque para a participação de Dom Helder Câmara. A dimensão desse movimento foi tamanha que até mesmo o jornal norte-americano New York Times publicou numerosas cartas e artigos denunciando a tortura brasileira (Cf. GASPARI, 2002, p. 282). Pressionado, o presidente Médici faz um pronunciamento no qual declara que não iria mais admitir torturas no Brasil.

Em terreno nacional, os militares, mesmo levando vantagem na guerra

revolucionária, continuavam se armando, além de buscar ganhar a adesão da população

pelo discurso do medo, do perigo dos terroristas. As organizações armadas, por sua vez, tentavam se reestruturar.

A ALN ficou bastante desmantelada após a perda de sua principal liderança, que ocorreu junto com várias outras quedas. Além disso, Marighella era o grande articulador

da rede de contatos e, com sua morte, parte dessa rede se desfez. Joaquim Câmara Ferreira, militante que se encontrava em Cuba, considerado o segundo nome do grupo, retornou ao país para iniciar um processo de reestruturação da ALN. Enquanto isso, a maior organização armada brasileira sobrevive realizando pequenas ações.

Já a VPR encontrava-se, em 1970, em situação ligeiramente melhor do que a da ALN. Ainda em 1969, após desentendimentos no interior da VAR-Palmares, a organização se reestrutura, liderada pelo ex-capitão Carlos Lamarca. No início de 1970, alguns de seus integrantes constroem um centro de treinamento de guerrilha no Vale do Ribeira, desativado entre abril e maio do mesmo ano. Apesar de os militares terem alcançado seu objetivo, o de desativar o centro de treinamento, esta operação não foi vencida sem esforços, pois Lamarca e outros quatro combatentes armados conseguiram fugir rompendo um cerco formado por mais de mil militares. Trata-se de um episódio que causou muita excitação entre os guerrilheiros, pois o exército cometeu vários erros táticos, como admite o general Carlos Alberto Brilhante Ustra:

A título de ensinamento convém ressaltar que o emprego das forças armadas para combatê-los [os guerrilheiros] não foi o adequado. Convém frisar que estávamos enfrentando, pela primeira vez, uma guerrilha rural [...] Mas os erros nos serviram de lição. Mais tarde, quando os guerrilheiros tentaram implantar no Sul do Pará outro foco guerrilheiro, os nossos efetivos foram reduzidíssimos. Empregou-se outra tática de combate (USTRA, 1987, p. 83).

Mesmo com todos os insucessos, os militares das Forças Armadas eram infinitamente mais numerosos e mais munidos do que os revolucionários da esquerda armada. A experiência do Vale do Ribeira, embora tenha causado muita vibração entre os revolucionários, não passou de uma fuga épica.

Percebendo a situação de fragilidade em que se encontravam, as organizações armadas buscaram se fortalecer, formando uma frente de atuação, que agrega ALN, VPR, MRT, a REDE, além de representantes do MR-8, do POC e do PCBR, mas, na prática, ela não obteve muito êxito. Nesse espírito, ALN e VPR realizam conjuntamente, em junho de 1970, o sequestro do embaixador alemão no Brasil, o que resulta na liberação de quarenta presos políticos.

A última grande ação da guerrilha urbana brasileira foi o sequestro do embaixador suíço, realizado em dezembro de 1970 pela VPR. Diferentemente dos seqüestros anteriores, dessa vez os militares se recusaram a publicar o manifesto,

vetaram vários nomes da lista dos presos que deveriam ser libertados, além de terem agido bem mais lentamente nas negociações. A atitude do governo provocou tensão e discórdia entre os militantes que participavam do sequestro, divididos entre aqueles que defendiam a continuidade do processo e os que eram a favor da execução do embaixador. Ao final, depois de mais de 30 dias de “conversas”, 70 presos políticos foram liberados, mas a fórmula sequestro estava esgotada, e a VPR, bastante desgastada.

A ditadura prossegue no desenvolvimento de um aparato repressivo cada vez mais sofisticado para destruir as organizações armadas. A partir do exemplo bem sucedido da Oban, de unificação dos órgãos repressores, criou-se no segundo semestre de 1970 o Destacamento de Operações de Informações – DOI, onde se misturavam informações, operações, carceragem e serviços jurídicos; e o Centro de Operações de Defesa Interna – CODI. Para cada uma das regiões administrativas das Forças Armadas foi instituído um DOI-CODI, órgão de repressão previsto por lei, grande novidade trazida pela ditadura militar.

Além da organização da estrutura repressora, o governo muda a política de combate à luta armada, adotando novas táticas. Entre elas, destaca-se uma intensa campanha na imprensa para colocar a opinião pública contra os ditos terroristas. Nesse sentido, são publicados diversos pronunciamentos de guerrilheiros declarando-se “arrependidos”, o que desmoralizava as organizações perante a sociedade, além de criar um imenso mal estar no interior dos grupos. Em um único mês, julho de 1970, ocorre a declaração de seis abjurados arrependidos (Cf. SIRKIS, 1998, p. 209).

A segunda nova tática do governo para vencer a luta armada é a adoção, por parte dos militares, de uma posição ofensiva, partindo para a busca dos combatentes armados, como revela a afirmação de Ustra (1987, p. 150):

Não poderíamos continuar a sofrer tantas perdas. Enfrentávamos uma guerrilha urbana e tínhamos que nos convencer que a melhor defesa é o ataque. Devíamos ir ao encontro dos terroristas e não esperar que eles nos apanhassem de surpresa. [...] Tínhamos que tentar prendê-los para acabar de uma vez por todas com esta situação de permanente tensão.

Dessa forma, as Forças Armadas começam a fazer emboscadas para capturar guerrilheiros. Essa busca era muitas vezes facilitada pela colaboração de membros das

organizações armadas que passaram a trabalhar para o governo; os “infiltrados” ou “cachorros”.

Uma terceira tática, intimamente ligada à segunda, é a implementação da política do extermínio. Diferentemente dos anos de 1968, 1969 e início de 1970, quando os presos políticos eram torturados e mantidos vivos, apresentando marcas da violência sofrida e podendo ser trocados, a qualquer momento, por embaixadores ou pessoas importantes, o que provoca comoção social e faz propaganda da luta armada, a partir do final de 1970, e sobretudo do início de 1971, a ordem foi eliminar fisicamente os guerrilheiros. Por exemplo, entre 1969 e 1970, 12 militantes da ALN foram mortos pela ditadura; entre 1971 e 1972, foram 30 mortos (GASPARI, 2002, p. 385). Essa política é denunciada de maneira bastante apaixonada por Gorender (1998, p. 260):

A partir de 1971, torna-se sistemática a eliminação física dos presos políticos. Sobe rapidamente o número de “desaparecidos” ou de mortos em fictícios atropelamentos nas ruas, em inventados tiroteios com policiais, etc. Os DOI/CODI instalam “aparelhos” [...] para onde conduzem os prisioneiros e ali os torturam e assassinam. Depois de esquartejados, seus restos mortais são enterrados em lugares dispersos, impossibilitando tentativas posteriores de identificação.

Abaixo, reproduzimos a lista dos mortos pela ditadura21:

Ano Número oficial de mortos 1967 1 1968 11 1969 18 1970 21 1971 33 1972 38 1973 28

21 Quadro produzido a partir de informações extraídas do site: htpp://www.torturanuncamais-rj.org.br,

Paralelamente à repressão, outras medidas e acontecimentos contribuíram para o declínio e a destruição dos grupos armados. Com relação à Igreja, cria-se no final de 1970 uma Comissão Bipartite (Cf. GASPARI, 2002, p. 309-310) de discussão entre a Igreja e o Estado que, apesar de seu caráter informal, constrói uma aparência de abertura para o diálogo.

Economicamente, o Brasil começa colher os frutos de sua política de “modernização conservadora”; o crescimento, acompanhado de grande expansão do setor industrial, era inédito (9,5% , em 1969; 10,4%, em 1970). O país vivia praticamente em pleno emprego e tinha se tornado a décima economia mundial. O clima era de euforia, como indica a passagem abaixo:

As montadoras do ABC paulista haviam posto na rua 307 mil carros de passeio, quase o triplo de sua marca em 1964. Os trabalhadores tinham em suas casas 4,58 milhões de aparelhos de televisão, contra 1,66 milhão em 1964. Um em cada dois brasileiros achava que o seu nível de vida estava melhorando, e sete em cada dez achava que 1971 seria um ano de prosperidade econômica superior a 70. Era o Milagre Brasileiro. O século XX terminaria sem que o país passasse por semelhante período de prosperidade (GASPARI, 2002, p. 208-209).

Toda essa euforia foi capitalizada com a intensificação das propagandas do governo por meio da criação da Assessoria Especial de Relações Públicas – AERP, com a função inicial de coordenar os fluxos e mensagens de comunicação entre o poder central, órgãos setoriais e vinculados e a sociedade civil como um todo22. Surgem diversos slogans nacionalistas e ufanistas: ninguém segura este país; Brasil: ame-o ou

deixe-o; o Brasil é o país do futuro, etc. A onda patriota se fortalece ainda mais com a

conquista do tricampeonato de futebol.

A classe média, que, em 1968, tinha ido às ruas protestar contra o regime, e, em 1969, se solidarizava com os torturados, em 1970 encontrava-se satisfeita com o “progresso”. Nesse contexto, tornava-se cada vez mais difícil recrutar militantes.

Nota-se que, a partir da segunda metade de 1970, a conjuntura torna-se bastante desfavorável para a esquerda armada. Todas as grandes organizações, que haviam atingido mais de cem militantes, encontravam-se desestruturadas (GASPARI, 2002, p.

159). Essa realidade de extrema repressão e intensa propaganda contrária isola ainda mais esses grupos, que vão perdendo progressivamente as redes de apoio. Dessa forma, as ações deixam de representar apenas uma questão ideológica e passam a significar uma questão de sobrevivência das organizações e de seus militantes, cada vez mais militarizados e destruídos. Os guerrilheiros viviam, em sua maioria na clandestinidade, nos aparelhos, tensos com a possibilidade de serem presos, torturados ou mortos, e esperavam ansiosamente pela volta dos exilados, principalmente daqueles que estavam em Cuba.

O levantamento das principais ações armadas confirma o declínio da guerrilha urbana no final de 1970:

Data Ação Resultado Organização

08/68 Expropriação do trem pagador da Santos-Jundiaí ALN 10/68 Justiçamento de Charles Chandler (oficial americano veterano na Guerra do Vietnã) VPR e ALN 07/69 Roubo do cofre de Adhemar de Barros Expropriação de mais de 2 milhões de dólares VAR – Palmares 09/69 Sequestro do embaixador americano

Resgatado em troca de 15 presos políticos e a leitura de um manifesto nos principais órgãos de imprensa

ALN e MR-8

06/70 Sequestro do

embaixador alemão

Resgatado em troca de 40 presos e leitura do manifesto

VPR/ALN

12/70 Sequestro do

embaixador suíço

Trocado por 70 presos. A ditadura se recusa a ler o manifesto

Em 1971, muitos militantes morrem ou desaparecem. A queda mais significativa para a derrota dos grupos armados ocorre em setembro desse mesmo ano, na Bahia: Carlos Lamarca, ex-militante da VPR e do MR-8, maior líder entre os guerrilheiros desde a morte de Marighella. Após o assassinato de Lamarca, as ações guerrilheiras perderam cada vez mais a força. Com tantas dificuldades, aumentavam as divergências internas nas organizações, bem como as desconfianças, dando origem a um novo fenômeno, o “justiçamento de companheiros traidores”. Nesse ano houve dois justiçamentos, ambos na ALN (Gorender, 1998: 178).

Também em 1971, a VPR vive um ciclo de discussões nas quais prevalecem a autocrítica e o debate sobre a viabilidade de continuação da luta armada, o que culmina na decisão, declarada em agosto, de se extinguir a organização armada no Brasil23. A ALN continuou a existir até 1973, embora tenha passado pelo mesmo processo de discussões e cisões internas.

O último suspiro da resistência armada foi a Guerrilha do Araguaia, como afirma Ridenti: “(...) a derrota do projeto guerrilheiro em suas diversas expressões já era visível no final de 1970, consumando-se em definitivo com a eliminação da Guerrilha do Araguaia no princípio de 1974” (1993, p. 80).

A partir de 1967, o PC do B fixa-se na região do Araguaia, começando a enviar militantes, que chegaram basicamente entre 1970 e 1971, somando mais de 60 em 1972. Como os guerrilheiros conheciam razoavelmente a área e contavam com certa simpatia dos habitantes da região, foram necessárias três grandes operações do Exército, realizadas ao longo de dois anos, entre 1972 e o início de 1974, para acabar com a Guerrilha do Araguaia. Seguindo a lógica da política do extermínio, a grande maioria dos combatentes foi dizimada; estima-se em 59 o número de militantes do PC do B mortos (Gaspari, 2002: 399-464).

Geisel toma posse em 1974 prometendo uma transição “lenta, gradual e segura” ao regime democrático. Naquele momento, a luta armada estava extinta e a Guerrilha do Araguaia, à mingua. Iniciava-se, então, uma nova conjuntura e um novo ciclo na esquerda.

No interior das circunstâncias anteriormente apresentadas situa-se nosso objeto de estudo: os discursos produzidos pela ALN e pela VPR, no período de 1967 a 1973.

23 Um grupo de militantes exilados no Chile, liderado pelo ex-sargento Onofre Pinto, opta pela

continuação da VPR a partir daquele país. No final de 1972, seus membros começam a voltar ao Brasil; no entanto, o grupo não consegue reestruturar a Organização, e todos os seus integrantes são mortos até 1974 (Cf. CHAGAS, 2000, p. 144-145).

2. Elementos de Semiótica e Retórica