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Os que dizem que só falamos em guerrilha e que, por isso somos exclusivistas, dificilmente podem esconder detrás de tal conceito uma concepção oportunista sobre a emancipação do povo brasileiro.

Na verdade, aceitam a tese apenas para constar, e somente como um meio para efetuar negociações e acordos políticos em torno de eleições e outras saídas conciliatórias de caráter burguês (7, p. 273); 10. O fato de estudantes e povo em geral terem oposto a justa violência das massas à violência da reação comprova também que cresce, entre milhões de brasileiros, a compreensão de que não se pode esperar que a ditadura se “democratize”, e que não se pode esperar que esta situação se modifique através de eleições ou de ação dos homens do m.d.b. ou da “frente ampla” (6, p. 1).

O discurso da ALN de crítica à esquerda não armada desenvolve-se a partir da oposição semântica fundamental /ruptura/ vs /conciliação/, com euforização do primeiro. Embora o discurso não explicite, a oposição que se apresenta contrapõe /luta/ a /liberalismo/, ou seja, a luta de classes marxista ao contrato social. Trata-se de um discurso que defende romper com a maneira de fazer política até então valorizada como positiva por grande parte dos grupos políticos de esquerda, marcada por práticas como “acordos e entendimentos”, “negociações”, “eleições”, “saídas conciliatórias”, etc., e fundar novas prática e ética políticas. Assim, esse discurso apresenta críticas ao PCB, principal representante da esquerda comunista, por sua opção política conciliatória e pacifista e ao MDB, único partido oposicionista legal, por legitimar o sistema, etc. O discurso da ALN defendia a substituição dos partidos por organizações revolucionárias, estruturadas a partir de uma concepção estratégica e de princípios de funcionamento rígidos, que priorizavam as ações revolucionárias, valorizavam a violência e criticavam as discussões teóricas até então características da esquerda.

A partir das dicotomias teoria vs prática, falar vs fazer, e utilizando-se das conotações negativas que “só falar” pode adquirir em política, o discurso guerrilheiro proclama o princípio da ação que, em seu funcionamento semântico, opõe-se a enganação, como ocorre no sexto exemplo (“enganado com palavras”). Esse princípio da ação remete a um dos versos mais cantados pelos jovens “rebeldes” no período do regime militar, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, revelando, desse modo, uma inquietação que se manifestava de diferentes formas.

O discurso da ALN pretende fazer crer que a única forma de oposição autêntica e possível é a luta armada. As críticas desferidas às outras oposições são principalmente do âmbito da ética ou da prática política, como mostram as passagens seguintes: “prática através do proselitismo”, “enfrentar o inimigo dentro do quadro do regime vigente e sem

pretensão de modificar na prática”, “oportunista”, “de caráter burguês”, “com os vícios e deformações já conhecidos”. O discurso guerrilheiro reivindica-se como uma nova forma

de fazer política, uma vanguarda reunida em uma organização de novo tipo, que se opunha ao velho modelo, adjetivado como tradicional, convencional, ultrapassado.

Esse discurso, ao desqualificar o adversário, polemiza com ele, estabelecendo o que Maingueneau (2005) chama de relação de interincompreensão3. Essa relação aparece de maneira explícita no exemplo (9), onde estão presentes os discursos da esquerda não armada e da guerrilha. O primeiro, a partir de um conjunto de restrições semânticas e de sua gramática discursiva, lê o discurso guerrilheiro como “exclusivista”; este, por sua vez, traduz o discurso dos grupos não armados como “oportunista”.

O modo de dizer desse discurso, assim como na crítica à ditadura, contribui para a construção da imagem de um enunciador politizado e, nesse tema, mostra também um domínio da linguagem de esquerda, pois além de siglas e expressões relativas a grupos políticos atuantes no país naquele momento (m.d.b, frente ampla), encontram-se jargões empregados por organizações e partidos políticos de esquerda (documentos programáticos e táticos, Comitê Central, massas, vanguarda, reação, burguês, etc.), todos sem

3 De acordo com Maingueneau (2005, p. 103-123), em uma relação polêmica, um discurso lê o Outro a partir

de seu próprio sistema de regras, um “entende os enunciados do Outro na sua própria língua, embora no interior do mesmo idioma” (idem, p. 104). Nesse sentido, para preservar sua identidade, um discurso-agente traduz um discurso-paciente nas categorias negativas de seu registro, o que faz com que ele não estabeleça uma relação com o discurso do Outro, mas com o simulacro que constrói daquele discurso. Essa operação é denominada pelo autor de relação de interincompreensão.

acompanhamento explicativo, o que pressupõe um enunciatário que aceite participar da comunidade de co-enunciadores que adotam essa linguagem. O enunciador coloca-se como alguém que sabe o que diz e desmascara seus rivais, como podemos observar nos exemplos abaixo:

a) o militante recrutado através do proselitismo abandona as fileiras em que ingressou (ex.6)4;

b) vícios e deformações já conhecidos (ex.7);

c) Na verdade, aceitam a tese apenas para constar (ex.9);

d) O fato [...] comprova também que cresce, entre milhões de brasileiros, a compreensão de que não se pode esperar que a ditadura se “democratize” [...] (ex.10)

No primeiro fragmento, o presente histórico utilizado naquele contexto adquire um caráter universalizante, produzindo um efeito de sentido de verdade geral. Em (b), a expressão já conhecidos atribui ao dito o estatuto de algo público. E, assim, esse enunciado, por não se constituir enquanto responsabilidade exclusiva do enunciador, evita que este tenha que prová-lo, além de investir o enunciado de autoridade. Mecanismo semelhante ocorre em d), quando, ao afirmar o fato (...) comprova, o enunciador apóia-se também em uma instância exterior, desta vez a realidade empírica, para fortalecer o efeito de verdade de seu enunciado. Ainda com relação ao último excerto, as aspas que recaem sobre

democratize e frente ampla marcam o pertencimento desses termos à fala do outro, o

discurso da esquerda não armada, que afirmava a necessidade de lutar pela democratização por meio de uma frente ampla, e reforça a descrença do discurso guerrilheiro nessa forma de luta. No terceiro fragmento, a introdução de um período com a expressão na verdade enfatiza a ideia de desvelamento e desmascaramento anteriormente apontada, ou seja, a divisão da realidade entre o que é verdadeiro e o que é falso, ilusório, enganoso.

Observamos uma mudança nos principais temas de cada crítica. No entanto, no modo de dizer, o discurso continua semelhante. Assim, o enunciador reforça sua imagem de sujeito politizado e detentor do saber; sendo reforçada também a imagem do enunciatário como um sujeito politizado. Esse enunciador, ao defender a ruptura com os modelos políticos antigos e a via armada como única maneira de fazer a resistência, apresenta traços

4 Nos exemplos apresentados, grifaremos as passagens que ilustram as questões que serão discutidas. Assim,

considerem-se todos os grifos “nossos”. Quando os destaques forem oriundos do texto original, esses serão apontados.

de um sujeito polêmico (ruptura), inquieto (busca o novo), circunscrito (exclusividade da luta armada) e realista (luta armada como único caminho viável).

Podemos afirmar que, ao estabelecer relações com outros discursos, delineiam-se no discurso guerrilheiro alguns traços de sua identidade. Inicialmente surgem dois grandes grupos: de um lado, a ditadura; de outro, todos aqueles que se opõem ao regime militar. Nesse primeiro momento, é preciso afirmar-se como inimigo do governo. No entanto, a oposição tem várias faces, e a luta armada sente necessidade de definir, no interior desse grande grupo, sua própria peculiaridade, necessidade que se torna vital no caso de um discurso fundado na ruptura e na exclusividade. Parte da identidade desse discurso forma- se, portanto, por meio da diferença em relação à ditadura e às demais oposições. Vale ressaltar que nem sempre ocorre primeiro a negação do discurso da ditadura e, apenas em seguida, a negação do discurso da esquerda não armada. Essas relações interdiscursivas podem acontecer tanto sucessiva quanto simultaneamente.

A análise anterior revela diversas características do discurso interno da ALN. Temos, assim, a oposição semântica fundamental continuidade vs ruptura, com euforização do segundo termo. Trata-se de um discurso fundado na ruptura. Narrativamente, há um sujeito (guerrilheiro) que deseja conquistar o objeto-modal poder (poder governar), que representa o meio de se atingir o objeto valor descritivo “liberdade”. Para isso, ele precisa vencer o anti-sujeito (ditadura), que se encontra em conjunção com o poder.

O guerrilheiro é um sujeito atualizado pelo desejo de revolta e de vingança. Consultando os dicionários Houaiss e Petit Robert, encontramos as seguintes acepções:

Revolta

Manifestação coletiva, organizada ou não, de insubmissão contra qualquer autoridade;

Action collective, généralement accompagné de violences, par laquelle un groupe refuse l’autorité politique existante, la règle sociale établie.5

5 Ação coletiva, geralmente acompanhada de violência, pela qual um grupo recusa a autoridade política

Vingança

Ato lesivo, praticado em nome próprio ou alheio, por alguém que foi real ou presumidamente ofendido ou lesado, em represália contra aquele que é ou seria o causador desse dano;

Dédommagement moral de l’offensé par punition de l’offenseur6.

Enquanto a revolta tem um caráter coletivo e volta-se contra uma autoridade, a vingança é pessoal e direcionada a um agressor.

Semioticamente, ambas se caracterizam como uma configuração passional constituída por uma sequência de estados que podem ser resumidos pelo esquema: frustração – descontentamento - agressividade (Cf. GREIMAS, 1983, p. 225-246). A diferença é que o actante causador da frustração, no primeiro caso, é o destinador; no segundo caso, o anti-sujeito. Tanto na definição do dicionário quanto da semiótica o destinador representa uma autoridade e o agressor pode revestir o anti-sujeito, embora isso não seja uma regra. A decepção e a frustração surgem como quebra de uma expectativa, de uma espera.

Dessa forma, tem-se inicialmente um sujeito que deseja a conjunção do Brasil e dos brasileiros com determinados valores, como: a prosperidade, a autonomia e a liberdade. No entanto, a subida dos militares ao poder fortalece a política imperialista americana e instaura em nosso país um regime de empobrecimento, dependência e forte opressão. Quebram-se, assim, as expectativas desse sujeito, que se decepciona e se ofende. Decepcionado, o sujeito se revolta, pois pretende livrar-se da axiologia imposta pela ditadura nos campos político, econômico e ideológico. Por outro lado, ofendido com a repressão, a tortura e os assassinatos, ele desenvolve um desejo de vingança, nesse caso, “em nome alheio”.

A decepção e a ofensa são desencadeadas pela perda da esperança, ou seja, quando o sujeito sabe que não poderá entrar em conjunção com os valores desejados. Assim, se justifica a presença de um enunciador que se coloca como um detentor do saber.

A crítica aos demais grupos que também se opõem à ditadura revela duas outras características fundamentais desse discurso: a revolta e o exclusivismo. Assim, temos

inicialmente um sujeito manipulado pela oposição à ditadura7, confiante de que seu destinador (como sujeito do fazer) irá colocá-lo em conjunção com os valores almejados, ou seja, o poder e, consequentemente, a autonomia e a liberdade. No entanto, a ação esperada não se realiza. Decepcionado, o sujeito perde a confiança em seu destinador, contra quem se revolta, e passa a adotar um novo destinador, ou seja, outro método de luta, de acordo com o qual a única maneira de alcançar o objeto-valor desejado é a luta armada, a guerra revolucionária, o que torna o sujeito que a realiza um ser diferenciado, especial.

Ressalte-se que a esquerda não armada oscila, no discurso da ALN, entre destinador-manipulador e anti-sujeito. O primeiro papel é revestido sobretudo no momento anterior à opção pela guerra revolucionária, quando os comunistas representavam a grande referência axiológica para os futuros guerrilheiros; no entanto, seria difícil imaginar que, em poucos meses, apenas com a mudança da forma de luta, toda uma axiologia de anos desaparecesse do discurso dos revolucionários armados; o segundo papel actancial surge a partir da ruptura, pois, os dois grupos, armados e não armados, pretendiam derrotar a ditadura. Dessa forma, ao desfazerem suas alianças, tornam-se rivais. Apesar disso, o discurso guerrilheiro não manifesta desejo de vingança contra a esquerda não-armada.

Em um percurso narrativo canônico, após a manipulação, ocorre a aquisição de competências e, em seguida, a performance do sujeito. De forma semelhante, no discurso da ALN, após a crítica à ditadura e aos demais grupos de esquerda, que funciona como uma espécie de manipulação para atualizar o sujeito, isto é, convencê-lo a querer e/ou dever

fazer, encontram-se documentos voltados para a preparação do guerrilheiro e da revolução,

meios para o povo chegar ao poder.

Ratificando a lógica de uma guerra, segundo a qual se faz necessário definir muito bem quem é o inimigo e quem é o aliado, esse discurso enfatiza a presença do sujeito e do anti-sujeito, cada um com seus adjuvantes, o que se realiza principalmente por meio do desenvolvimento do ator guerrilheiro.

Enfatiza-se, ainda, uma sequência hierarquizada de programas e competências necessários para a realização do programa de base, que se desenvolve por meio do percurso temático da guerra revolucionária. Permeando ator e percurso temático, temos um contrato

7 Apesar de os exemplos selecionados não exporem essa questão de forma clara, é possível identificar ao

enunciativo que busca fazer o sujeito crer poder e saber fazer, ou seja, transmitir-lhe confiança.

Analisaremos a seguir a construção e o funcionamento do ator guerrilheiro, assim como da configuração temática guerra revolucionária. Pretendemos, assim, delinear, por meio destes, como se constituem as imagens do enunciador e do enunciatário do discurso da ALN.

O guerrilheiro

Antes de iniciar o estudo da constituição do ator guerrilheiro, faz-se necessário definir o significado do conceito de ator para a teoria greimasiana. O Dicionário de

Semiótica (GREIMAS; COURTÈS, s.d) apresenta as seguintes definições:

Ator: lugar de convergência de investimento de dois componentes, sintáxico e semântico. Para ser chamado de ator um lexema deve ser portador de pelo menos um papel actancial e no mínimo um papel temático. (p. 34)

Papel actancial: estes [papéis actanciais] se definem ao mesmo tempo em função da posição do actante no interior do percurso narrativo, e do investimento modal particular que ele assume. Desse modo, o actante- sujeito, por exemplo, será sucessivamente dotado de modalidades tais como as do querer-fazer, do saber-fazer ou do poder-fazer: nesse caso, o sujeito assume os papéis actanciais de sujeito do querer, sujeito do saber, sujeito do poder-fazer, os quais assinalam outras tantas etapas na aquisição da sua competência modal (preliminar à sua performance.) (p. 11-12).

Papel temático: entende-se por papel temático a representação, sob forma actancial, de um tema ou de um percurso temático. [...] A conjunção de papéis actanciais com papéis temáticos define o ator. (p. 453-454)

A partir das informações acima, é possível concluir que o ator representa um espaço privilegiado de manifestação de estruturas narrativas e discursivas, contemplando, assim, uma ampla dimensão do percurso gerativo do sentido.

A narrativa desse discurso instala um sujeito guerrilheiro que, insatisfeito, rompe com a situação de espera passiva e torna-se um ser engajado, ou seja, assume para si o

dever fazer a revolução. Notamos que o guerrilheiro exerce diferentes papéis actanciais no

nível narrativo, sendo o principal deles o de sujeito do fazer que, como visto no Dicionário

de Semiótica (GREIMAS; COURTÈS, s.d), desdobra-se em sujeito do querer, do dever, do

poder, do saber fazer, etc.). Além disso, este também cumpre as funções de destinador- julgador, ao sancionar negativamente os atos da ditadura e de destinador-manipulador, quando busca adeptos para sua luta, etc.

Com relação aos papéis temáticos, o mais importante é o que se refere à junção de temas relativos à formação do sujeito guerrilheiro, o que chamaremos de papel temático do guerrilheiro. Vale ressaltar que, em conseqüência da nossa opção por realizar uma análise do discurso que privilegia as questões ideológicas, nosso estudo do ator dará mais ênfase ao papel temático do que aos papéis actanciais.

Para a realização da análise do ator guerrilheiro, foram selecionados, a título ilustrativo, alguns trechos do Mini-manual do guerrilheiro urbano, obra de Carlos Marighella na qual se apresentam o caráter, as habilidades e as atividades cotidianas dos guerrilheiros que atuavam nos grandes centros urbanos. Datado de 1969, esse manual circulou na esquerda armada de diversos países. Antes de prosseguirmos, vale destacar que a guerrilha urbana representa a primeira fase do processo8 revolucionário, sendo, portanto, uma espécie de escola de formação do guerrilheiro. Essa ideia de formação é reforçada pela escolha do gênero manual, que pressupõe um enunciador que transmite um saber e/ou poder e um enunciatário que busque essas competências.

11. O guerrilheiro urbano é um homem que luta contra uma ditadura militar com armas, utilizando métodos não convencionais. Um revolucionário político e um patriota ardente, ele é um lutador pela libertação de seu país, um amigo de sua gente e da liberdade. A área na qual o guerrilheiro urbano atua são as grandes cidades brasileiras. Também há muitos bandidos conhecidos como delinqüentes que atuam nas grandes cidades. Muitas vezes assaltos pelos delinqüentes são interpretados como ações de guerrilheiros.

O guerrilheiro urbano, no entanto, difere radicalmente dos delinqüentes. O delinqüente se beneficia pessoalmente por suas ações, e ataca indiscriminadamente sem distinção entre explorados e exploradores, por isso há tantos homens e mulheres cotidianos entre suas vítimas. O guerrilheiro urbano segue uma meta política e somente ataca o governo, os grandes capitalistas, os imperialistas norte-americanos [...].

O guerrilheiro urbano é caracterizado por sua valentia e sua natureza decisiva. Tem que ser bom taticamente e ser um líder hábil. O guerrilheiro urbano tem que ser uma pessoa preparada para compensar o fato de que não tem suficientes armas, munições e equipe.

8 Como será visto no item referente à guerra revolucionária, inicialmente tem-se a guerrilha urbana, em

seguida, organiza-se a guerrilha rural e, finalmente, constitui-se o exército revolucionário, que desencadeia a guerra de libertação.

Os militares de carreira ou a polícia governamental têm armas e transportes modernos e podem viajar com liberdade, utilizando a força de seu poder. O guerrilheiro não tem tais recursos a sua disposição e leva uma vida clandestina. Algumas vezes é uma pessoa sentenciada ou está sob liberdade condicional, e é obrigado a usar documentos falsos.

No entanto, o guerrilheiro urbano tem certa vantagem sobre o exército convencional ou sobre a polícia. Esta é, enquanto a polícia e os militares atuam a favor do inimigo, a quem as pessoas odeiam, o guerrilheiro urbano defende uma causa justa, que é a causa do povo.

As armas do guerrilheiro urbano são inferiores às do seu inimigo, mas vendo do ponto de vista moral, o guerrilheiro urbano tem uma vantagem que não se pode negar. Esta superioridade moral é o que sustem o guerrilheiro urbano. Graças a ela, o guerrilheiro urbano pode levar ao fim seu trabalho principal, que é atacar e sobreviver (5, p.2);

12. Tem que estar no comando da situação e demonstrar uma confiança tão grande que todos de nosso lado sejam inspirados e nunca pensem em hesitar, enquanto que os do outro bando estão atordoados e incapazes de responder.

[...]

Para compensar por sua debilidade geral e falta de armas comparado com o inimigo, o guerrilheiro urbano utiliza a surpresa. O inimigo não tem nenhuma forma de lutar contra a surpresa e se torna confuso ou é destruído (5, p. 8);

13. O guerrilheiro urbano encarcerado vê a prisão como um terreno que deve dominar e entender para libertar-se por meio de uma operação da guerrilha. Não há prisão, nem uma ilha, ou uma penitenciária na cidade, ou uma fazenda, que não seja impregnável pela astúcia, perseverança e pelo potencial de fogo dos revolucionários (5, p. 17);

14. Desde agora, os homens e mulheres escolhidos para a guerra de guerrilha urbana são trabalhadores; camponeses a quem a cidade atraiu por seu potencial de trabalho e quem regressarão à área rural completamente doutrinados e tecnicamente preparados; estudantes, intelectuais e sacerdotes (5, p. 25).

A primeira frase do exemplo 11 resume, de alguma forma, a relação interdiscursiva anteriormente abordada. Assim, temos, de um lado, a oposição à ditadura; do outro, os métodos não convencionais, expressão que se refere ao mesmo tempo a uma forma de oposição diferente daquela que vinha sendo praticada pela esquerda não armada e a uma forma de luta que, apesar de ser armada e se assumir como guerra, caracteriza-se como uma guerra revolucionária, com um exército revolucionário, não um exército convencional. A noção de ruptura surge, mais uma vez, como elemento central nesse discurso, pois o

revolucionário caracteriza-se por romper com os códigos e valores já existentes e construir