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AS PERCEPÇÕES ASSOCIADAS AO TRANSTORNO

No documento Comitê Cientifico. Conselho Editorial (páginas 195-199)

Joíse de Brum Bertazzo¹ Eixo temático: Sociedade e inclusão

Palavras-chave: Atendimento Especializado. Profissionais. Saúde. Educação.

Percepções. Transtorno do Espectro Autista.

INTRODUÇÃO:

As percepções de diferentes sujeitos envolvidos diretamente com o autismo configuram-se em conteúdo que requer investigação, tendo em vista o aprimoramento da qualidade das intervenções com esse público. Beck e Freeman (1993, p. 8) colaboram para o entendimento do significado e implicações da percepção sobre os sentimentos e comportamentos das pessoas:

A maneira como é avaliada uma situação depende, pelo menos em parte, das crenças relevantes subjacentes, as quais estão integradas em estruturas mais ou menos estáveis, denominadas “esquemas”, que selecionam e sintetizam informações. A sequência psicológica progride, pois, da avaliação para a estimulação afetiva e motivacional, e finalmente, para a seleção e implementação de estratégia relevante.

Sendo assim, em se tratando de autismo, “supõe-se que crenças sobre essa condição, sua origem e formas de intervenção, orientam maneiras de lidar __________________________

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com esses indivíduos”. (GOLDBERG, 2002, p. 18).

Diversas pesquisas têm se ocupado em estudar as percepções de sujeitos que se relacionam de forma pessoal ou profissional com pessoas com autismo, detendo-se majoritariamente a docentes, colegas de escola e familiares (SCHMIDT et al., 2016, KUBASKI et al., 2016, PIMENTEL; FERNANDES, 2014, MINATEL; MATSUKURA, 2015). Sendo assim, objetiva- se, nesse estudo, identificar e analisar as percepções sobre o autismo manifestadas por uma equipe de profissionais da Psicologia, Fonoaudiologia e Educação Especial envolvidos com o processo educacional de sujeitos com esse transtorno, refletindo sobre os possíveis efeitos de tais percepções.

METODOLOGIA

Esse resumo trata-se do recorte de uma pesquisa qualitativa, sendo um estudo de casos múltiplos (Yin, 2005). O público alvo é um grupo de profissionais formado por membros da equipe do Núcleo de Apoio Educacional Especializado (NAE) de uma cidade gaúcha. O núcleo tem como objetivo proporcionar às escolas da rede municipal, atendimento especializado em áreas da saúde e educação e tem atuação tanto clínica quanto escolar, desenvolvendo ações diretamente com os alunos, com suas famílias e professores. Observa-se o perfil dos participantes na Tabela 1:

A coleta de dados ocorreu através de entrevista semiestruturada, sendo selecionado para análise o conteúdo advindo das respostas a pergunta: Quais as características/como é uma pessoa com Autismo?

O tratamento dos dados foi feito através de análise de conteúdo (BARDIN, 2009).

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Com base na análise de conteúdo foram identificadas três categorias que englobaram quinze relatos. A primeira delas, Atributos Positivos, foi composta por relatos das características do autismo descritas como diferenças/dificuldades/limitações ou empobrecimento de habilidades, porém sem a conotação de impossibilidade/ausência/falta. A segunda categoria, Atributos Negativos, abrangeu relatos das características descritas como impossibilidade/ausência/falta/apatia com a conotação da presença de limitações intransponíveis. Por fim, a categoria Atributos Neutros compilou relatos das características do autismo descritas na forma de citação, sem conotação de possibilidade ou impossibilidade.

A categoria Atributos Positivos englobou 26% dos relatos analisados, sendo compreendidas manifestações como: ‘É diferente, mas se consegue

estabelecer vínculo e ter comunicação.’ (P7).

A categoria Atributos Neutros teve a mesma proporção de relatos, podendo ser ilustrada da seguinte forma: ‘Se desestruturam ao sair da rotina

com sons, ruídos[...]’ (P6).

Já a categoria Atributos Negativos representou 46% dos relatos analisados, cujo teor é indicativo de percepções centradas na impossibilidade: ‘não tem necessidade de brincar com as outras crianças’ (P2); ‘ela não

corresponde aos estímulos’ (P1); ‘São pessoas que precisam de ajuda permanentemente [...] a vida inteira’ (P6).

A partir do teor das percepções analisadas, podem ser pensadas hipóteses sobre possibilidades de seleção e implementação de estratégias por parte dos profissionais. Em se tratando de atributos neutros, compreende-se que o sujeito tem a escolha de investir ou não no desenvolvimento do aluno/paciente com autismo. Há diferença quando se trata de atributos positivos, podendo-se inferir que, ao reconhecerem possibilidades, os profissionais tendem a investir nelas. No entanto, quando se trata de atributos negativos, parece não haver motivos para investimentos que favoreçam a evolução da pessoa com autismo.

Conforme Tostes, Langame e Santos (2016, p.113), “é notória a importância do amparo ao portador e seus familiares através de uma equipe interdisciplinar capacitada que propicie um atendimento especializado.” O despreparo dos professores para lidarem com casos de autismo e para a necessidade destes “de melhores instruções e mais apoio de outros profissionais”, de forma a qualificar a educação desses sujeitos é destacada por Pimentel e Fernandes (2016, p.171). Uma vez que as percepções da equipe que deveria fornecer apoio a família e aos professores indicam uma descrença nas possibilidades do sujeito com autismo, pode-se inferir que a sua atuação poderá não proporcionar resultados promissores.

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A partir do exposto, refletindo sobre os possíveis efeitos das percepções dos profissionais, aponta-se a necessidade de oportunidades formativas que considerem não apenas formação de professores, mas de todos os sujeitos atuantes no cenário que se desenha para o autismo. Além disso, destaca-se que não sejam considerados somente conhecimentos sobre o transtorno nas formações, mas também o enfoque das percepções dos participantes, buscando sensibilizá-los para uma compreensão que lhes permita reconhecer as dificuldades associadas ao autismo, mas sem deixar que estas embacem a percepção das capacidades dos sujeitos com esse transtorno, impedindo a visualização de estratégias que contribuam efetivamente para o seu desenvolvimento contínuo e ilimitado.

REFERÊNCIAS:

BARDIN, L. (2009). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70.

BECK, A. & FREEMAN, A. (1993). Terapia Cognitiva dos transtornos de

personalidade. Tradução de Fillman, A. E. Porto alegre: Artes Médicas.

GOLDBERG, C. (2002). A Percepção do professor acerca do seu trabalho com

crianças portadoras de autismo e Síndrome de Down: um estudo comparativo.

2002. 57 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) -Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

KUBASKI, C.et al. Investigando a qualidade da inclusão de alunos com autismo

nos anos iniciais. In: 37ª Reunião Nacional da ANPEd, 2015. Universidade

Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Disponível em: <

http://www.anped.org.br/sites/default/files/trabalho-gt15-4422.pdf> Acesso em: 22 fev, 2017.

MINATEL, M. M. MATSUKURA, T. S. Familiares de crianças e adolescentes com autismo: percepções do contexto escolar.RevistaEducação Especial, Santa Maria, v. 28, n. 52, p. 429-442,maio/ago. 2015.

PIMENTEL, A. G. L.FERNANDES, F.D.M.A perspectiva de professores quanto

ao trabalho com crianças com autismo.Audiol., Commun. Res.[online]. 2014,

vol.19, n.2, pp.171-178. ISSN 2317-6431.http://dx.doi.org/10.1590/S2317- 64312014000200012

SCHMIDT, C. et al. Inclusão Escolar e autismo: uma análise da percepção docente e práticas pedagógicas. Revista Psicologia: Teoria e Prática, São Paulo, v. 18, n.1, p. 222-235, jan/abr. 2016.

TOSTES, M. H. F. S. LANGAME, A. P. SANTOS, D. J. “O que eu penso quando eu escuto a palavra autismo?” Percepção de pais e profissionais em relação ao autismo. JMPHC. Journal of Management and Primary Health Care, v. 7, n. 1, p. 113-113. 2016.

YIN, Robert.(2005)Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman

199 A ATUAÇÃO DO EDUCADOR ESPECIAL FRENTE A FORMAÇÃO

No documento Comitê Cientifico. Conselho Editorial (páginas 195-199)