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3 A FILOSOFIA DO INTERHUMANO DE MARTIN BUBER: O HOMEM,

3.1 O PROBLEMA DO HOMEM: A ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA DE

3.1.1 As perspectivas que influenciaram o pensamento buberiano

Para discutir sobre a antropologia buberiana faz-se necessário apresentar as perspectivas que iluminaram o pensamento de Buber (1967). Em sua obra “Que és el

hombre?”, ele discute as ideias de Aristóteles, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino,

Hegel, Marx, Feurbach, Nietzche, Husserl, Kierkegaard, Heidegger e Scheler. Na visão do autor, tais perspectivas se revelam incompletas, pois não abarcam o humano em sua totalidade.

Em Aristóteles, o mundo é compreendido como um mundo de coisas, em razão da imagem óptica, isto é, uma valorização do sentido da visão em detrimento dos outros nesse conhecimento. Nesse sentido, o homem também recebe a qualidade de coisa no mundo e passa a ser compreendido como “ele” e não como “eu”, assim o mundo é capaz de entendê-lo, mas ele mesmo não compreende o mundo. Em Santo Agostinho, o homem ganha a dimensão de mistério, sendo o centro de sua problemática seu coração angustiado, o qual não pode ser aquietado pelas coisas do mundo, assim o homem não pode ser compreendido apenas como parte do mundo, como coisa entre coisas, pois possui alma, é capaz de transcender. Contudo, a divisão entre corpo e espírito se faz melhor em São Tomás de Aquino, embora este não reconheça a problemática especial do ser humano.

Já no Renascimento, o foco dos estudos sobre o homem se volta para aquilo que ele pode conhecer. Os autores dessa época afirmam, segundo Buber (1967), que o homem tudo pode saber, tudo pode conhecer. Tal assertiva é defendida pela ideia de que o mundo foi criado pelo homem, tendo seus olhos como espectador. Contudo, após a revolução copernicana, que retira a terra do centro, a ideia de infinito surge com força, e com ela o fato de que o mundo é para além do que os olhos veem e revela o problema do homem nesse infinito. Tal problemática carrega em si a crise do homem em se sentir inseguro no mundo, em considerar-se como estranho em casa.

A partir dessa leitura, Buber (1967) apresenta uma crítica as ideias de Hegel e Marx, os quais tentam indicar caminhos para seguridade do homem no mundo. Conforme o autor, Hegel oferece um sistema que se desvia do problema antropológico, apontando formas objetivas para concretizar a pessoa humana no mundo, tais formas se colocam na figura do Estado como aquele que é absoluto e a Metafísica como aquela que detém o conhecimento.

No sistema de Hegel, o tempo aparece como aquele que nos fornece compreensão sobre o homem e sobre imagem de mundo. Nele há o tempo cosmológico, como aquele que existe em sua totalidade: passado, presente e futuro, e aquele que não pode ser vivido, apenas pensado; e o tempo antropológico, como aquela realidade concreta do homem, a qual é materializada no presente a partir de suas decisões.

Segundo Buber, em Marx encontramos o problema da redução sociológica, na qual o lugar do homem não é mais o mundo, mas sim a sociedade. Trata-se da redução do humano às relações sociais de produção, as relações de classe; as quais deviam ser superadas pela força do proletariado, alcançando a sociedade perfeita, isto é, uma sociedade sem classes sociais, ignorando assim outros aspectos. Buber (1967) concorda com o fato que a vida social tem força para renovar-se, contudo, discorda que ela se diferencie de todas as demais formas de vida humana, pois esta pode assim, tornar-se uma força destruidora. Para ele, a redução sociológica não carrega em si um problema da decisão humana, posto que, muitas coisas que acontecem no mundo – como as catástrofes, por exemplo – colocam o homem no limite de sua decisão, e fazem com que a vida social seja renovada sem precisar de uma escolha humana, aparece como necessidade. Desse modo, Buber afirma que não há nenhuma garantia para evitar a insegurança do homem, e que dele depende a decisão de colocar o pé e se arriscar nesse abismo que é o mundo.

Outra redução que Buber (1967) aponta como problemática, é a redução antropológica de Feuerbach, apresentada em sua nova filosofia, a qual entende o homem terreno descartando o espírito. Bourckhardt (2013, p. 30) explica: “Em Feuerbach encontramos a valorização plena do homem cravado com seus pés no chão, ligado profundamente à terra. Tudo aquilo que vai para além do terreno, o filósofo o rejeita com veemência”. Nessa filosofia, o homem se converte em objeto único da filosofia e a antropologia passa a ser ciência universal. De acordo com Buber (1967), ocorre uma redução aqui do ser para a existência humana. Dito de outra forma, o olhar para o problema do homem não se concentra mais no ser único, singular, mas passa a ser considerado em uma amplitude que envolve a todos. Apesar da crítica, Buber (1967) considera o pensamento de Feuerbach no que diz respeito a integralidade do homem, como ser que se relaciona com-outros, num laço entre Eu e Tu, constituindo sua essência como aquele que vive em comunidade. Tal ideia é fundamental para o que Buber chamará de verdadeira antropologia filosófica, como aquela que responde à pergunta “o que é o homem?”. A crítica direcionada ao pensamento de Nietzsche está no fato dele entender o homem a partir de uma categoria do mundo animal, como aquele que age por sua vontade, e não por sua própria consciência. Ele explica a partir de duas categorias nietzschianas, considerando o

homem no porvir, portanto, o homem é uma promessa, um animal que pode prometer, e por

isso, o futuro depende dele. Assim, essa característica distingue o homem de outros animais tornando-o também devedor – se promete, precisa cumprir; e a vida é vontade de poder, assinalando que o homem genuíno tem boa consciência dessa peculiaridade. Buber (1967) critica essa teoria, afirmando, primeiramente, ser falsa a ideia de credor e devedor, haja vista que, o conceito de dever desenvolvido pelas sociedades primitivas é elaborado a partir das leis fundamentais que regem a sociedade, e devedor é aquele que viola essas leis e não aquele que promete; em segundo lugar, critica a ideia de vontade de poder, pois, ele não acredita que o poder permanece apenas na vontade humana, ele torna-se uma posição, e como tal é perigoso, desleal e destruidor. Como exemplo disso, temos as guerras que foram provocadas pelos próprios homens.

Justamente nesse contexto de guerras é que surgem os estudos antropológicos, colocando em questão o que é o homem. Buber (1967) traz para o debate autores importantes como Husserl, Kierkegaard, Heidegger e Scheler. De Husserl, Buber (1967, p. 79-80,

tradução nossa) elege três proposições que são vistas por ele como contribuições ao problema

antropológico: 1. “a humanidade que luta por sua própria compreensão”17; pelo fato que

envolve o homem em uma contrariedade, pois, ao mesmo tempo que ele provoca eventos que não é capaz de controlar, como as guerras, por exemplo; ele é também a esperança de renovação. 2. “Se o homem se torna um problema “metafísico”, em um problema filosófico específico, é que ele está em questão como um ser racional”18; tal proposição é vista por Buber a partir da comparação daquilo que não é racional no homem, pois o homem não pode ser entendido apenas pela sua razão, mas por todo seu ser, visto que, até mesmo os instintos do homem (irracional) é diferente do animal. Como ele afirma: “O problema da antropologia filosófica é o problema de uma totalidade específica e sua conexão específica”19. 3. “A

masculinidade consiste, essencialmente, em um ser humano em entidades humanas generativa e socialmente ligadas”20; tal proposição revela a essência do homem, a saber, o homem não é

um ser isolado, mas um ser de vínculos, de encontro.

Buber (1967) aborda as ideias de Kierkegaard a partir de sua antropologia teológica, na qual o autor considerava o homem singular em relação com o Absoluto. Segundo

17 “la humanidad que pugna por su propia comprensión”

18 “Si el hombre se convierte en problema ‘metafísico’, en problema filosófico específico, es que se halla en cuestión como ser racional.”.

19 “El problema de la antropología filosófica es el problema de una totalidad específica y de su conexión específica”.

20 “la hombría consiste, esencialmente, en un ser hombre en entidades humanas vinculadas generativa y socialmente”.

Bourckhardt (2013, p. 29): “O eixo condutor da filosofia de Kierkegaard está no indivíduo e sem dúvida esta é a contribuição fundamental do filósofo dinamarquês para a gestação da dialógica buberiana”. Para tal filósofo, a verdadeira relação recíproca dava-se com o Absoluto, considerando este último também como pessoa. Buber (1967) afirma que tal conceito é importante, pois, pela primeira vez na história do pensamento, a metafísica lida com uma força e consequência desconhecidas com a concretude do homem vivo. Contudo, tal relação, na visão de Kierkegaard, era uma relação ôntica, isto é, particular do ser, não precisando se relacionar com outras pessoas para vivenciá-la. Buber critica essa ideia afirmando não ser possível se relacionar com o Absoluto deixando de lado o mundo.

As críticas às doutrinas de Martin Heidegger e de Max Scheler ganham maior relevância na antropologia de Buber. Ele critica a teoria da existência de Heidegger que, ao tentar responder à pergunta kantiana, se utiliza de uma ontologia fundamental, a qual se limita ao relacionamento do indivíduo consigo mesmo. Para Buber (1967), essa teoria é incapaz de abarcar o homem em sua totalidade. Heidegger trata de temas fundamentais da vida humana apenas a partir da relação do ser com ele mesmo, como a morte e a culpa; já Buber acredita que nenhum desses temas pode ser trabalhado de modo isolado, pois somente na presença do Outro diferente é que a vida torna-se capaz de se desenrolar.

A filosofia de Heidegger encontra base na teoria de que o homem não pode se apoiar em mais ninguém que não seja ele mesmo, visto que, até a ideia de relação com o Absoluto foi rompida com o niilismo. Contudo, isso não responde a pergunta antropológica, pelo contrário, faz com que aumente cada vez mais a solidão humana. Heidegger se desvia tanto da relação com o Absoluto quanto da relação com o outro homem, desenvolvendo assim uma relação inteiramente monológica. Nas palavras de Buber (1967, p. 93, tradução nossa):

Heidegger não apenas se desvia do relacionamento com um divino Incondicionado, mas também daquele outro relacionamento em que um homem experimenta incondicionalmente outro que não é ele mesmo e, portanto, experimenta o Incondicionado. A existência de Heidegger é uma existência monológica.21

Buber (1967) discute a afirmação de Heidegger de que a essência do “homem é um ser no mundo” e afirma que a mesma parece contraditória, pois ao mesmo tempo em que ele reconhece que o mundo não diz respeito só aos instrumentos que ele pode usufruir, sendo também formado pelas pessoas, as quais não devem ser consideradas como coisas e sim existências como ele próprio; ele limita a relação entre os homens à relação de “solicitude”,

21 Heidegger no sólo se desvía de la relación con un Incondicíonado divino sino también de esa otra relación en la que un hombre experimenta incondicionalmente a otro que no es él y experimenta así lo Incondicionado. La Existencia de Heidegger es una Existencia monológica.

22isto é, de pedido/ajuda. Buber critica essa ideia, afirmando que a relação de solicitude em si

não é uma relação essencial, porém reconhece que dentro de tal vivência pode se encontrar experiências que marcadas pelo aspecto de solicitude, conduzem uma relação genuína, como é mãe e filho, do qual um é solicito ao outro, mas surge dai uma amizade e/ou amor recíproco. Na relação essencial buberiana o ser se abre e quebra os seus próprios limites.

Outra categoria fundante em Heidegger é o nós. Para ele, o homem que se vincula na mera relação de pedido não é Tu, mas um ele/ela, assim, este passa a ser desconhecido como acontece com a pessoa na multidão. Desse modo, não acontece o nós, mas o “se”. Para Buber (1967) o nós envolve independência de si e responsabilidade própria. Em suas palavras: “Entendo por “nós” uma união de diferentes pessoas independentes, que já alcançaram o auge da “mesmice” e de sua própria responsabilidade. União que repousa, precisamente, com base nesta “mesmice” e responsabilidade própria e é possível por eles.”23 (p. 104-105, tradução nossa). Essa categoria de nós essencial, segundo nosso autor, é rara de acontecer, não é

qualquer grupo que ao se juntar é capaz de constituir o nós.

Abordando a antropologia de Scheler, Buber (1967) afirma que ele traduz bem a situação do homem, em seu caráter problemático visto que não sabe o que é, e tem consciência disso. A antropologia de Scheler é o “fundamento das coisas” que acontece no decorrer do tempo cósmico, no qual o eu é dissolvido. Nesse viés, Deus é também colocado no tempo, e deixa de ser para “tornar-se”. Com esse contexto, Deus é produto do tempo. Buber interpreta essa teoria afirmando que se Deus vem a tornar-se algo, não há espaço para um ser semelhante, pois, não há outro fora do tempo. A partir dessas ideias, elabora a teoria buberiana de realização de Deus através do homem.

A teoria de Scheler gira em torno de dois elementos: o espírito, como representação e o ímpeto, como vontade; ideias que advém de Spinoza e Schopenhauer. Para Scheler o espírito não é o fundamento do mundo, nele não há ação, nem força criadora, precisando do ímpeto para “freá-lo” e então iniciar o processo cósmico. Nesse sentido, há uma relativização da divindade enquanto espírito, não podendo afirmar que Deus é o fundamento do mundo.

22 A questão da relação de solicitude também é abordada na filosofia de Paul Ricouer. Na leitura de Gubert (2011), ao abordar sobre Alteridade e Reconhecimento a partir desse pensador discute sobre seu conceito de solicitude, observa-se que ele avança na questão de dar e receber carregando sobre si o peso da obrigatoriedade, sendo marcada por uma autêntica reciprocidade. Reconhece que solicitude em Ricouer carrega em si o princípio da insubstituibilidade de cada pessoa em relação a outra. Nas palavras de Gubert (2011, p. 79): “a solicitude acrescenta o dado de que cada pessoa é única e insubstituível para nós. Somos insubstituíveis não a nós mesmos, mas aos outros”.

23 “Entiendo por “nosotros” una unión de diversas personas independientes, que han alcanzado ya la altura de la “mismídad’ y la responsabilidad propia. unión que descansa, precisamente, sobre la base de esta “mismidad” y responsabilidad propia y se hace posible por ellas.”

Para Scheler, o atributo espiritual concentra-se nele mesmo, é um bem específico do homem que o permite se questionar sobre o fundamento das coisas, como a dor em geral, por exemplo, haja vista que, é pelo espírito ser possível entrar na realidade concreta da coisa para descobrir sua essência.

Buber (1967) critica essa ideia afirmando que a teoria de Scheler é contraditória uma vez que, se o espírito não possui nenhuma força criadora, por que razão precisaria ser freado? Buber explica que essa confusão acontece pelos usos errôneos do termo força e poder. E que, nesse caso, o espírito seria o poder, aquele que dá movimento a tudo no mundo, pois ele é acontecimento. Ele começa com o impulso, mas está lá antes de que ele venha a existir, no dizer de Buber, é graça que se manifesta, é pura potência, condição para a participação do homem no mundo, pois, é através do espírito que o homem se comunica e pode ser ouvido.

Buber não concorda com a separação entre espírito e impulsos, afirmando que tal divisão é “a consequência da separação entre homem e homem”24 (BUBER, 1967, p. 138, tradução nossa), ou seja, do rompimento das relações inter-humanas, o que gera a crise de

confiança presente no mundo contemporâneo. Tal crise, desenvolvida pela comunidade cósmica, pelo problema do homem não se sentir em casa no mundo; a qual é suprida pelas tentativas de comunitarismo que tendem a reprimir os desejos particulares em favor dos coletivos, suprimindo a espontaneidade singular, em troca de uma segurança do grupo. Essa desintegração da comunidade resulta na impotência do espírito, assim, a palavra já não é ouvida, e a peculiaridade do homem, que é a linguagem é fragilizada.

3.1.2 “A esfera do entre”: a proposta de Martin Buber

Tais perspectivas nos apontam elementos para a compreensão da proposta antropológica de Buber, ancorada no reconhecimento de fatores como: a crise da insegurança no mundo, a sobreposição da sociedade ao indivíduo singular, o rompimento com a comunidade, a criação de novas formas de comunitarismo, a incapacidade do homem de lidar com suas criações, a sobreposição da razão em detrimento das outras dimensões humanas, o problema da relação monológica e a questão do espírito.

A crise da insegurança do homem no mundo se desencadeia com o declínio da comunidade, onde as relações se davam no âmbito do face a face, do envolvimento direto, com o surgimento da modernidade que desponta com o advento da Industrialização e desenvolvimento da tecnologia, no qual as relações passam a ser significativamente mediadas

por máquinas e objetos. Acreditava-se que essa nova era possibilitaria uma segurança ao homem em relação ao mundo, contudo, o sentimento de solidão permaneceu. Quanto a essa questão, Parreira (2016, p. 19) afirma: “a modernidade trouxe consigo o advento da máquina e da tecnologia inovadora. Em contrapartida, o homem se distanciou do que tinha imaginado como um “mundo novo” e sua expectativa não foi cumprida, o que o fez se ressentir ante a decepção”. Nessa leitura, percebe-se que não são os instrumentos que oferecem seguridade ao homem no mundo, nem aquilo que ele produz. Apenas a relação com as pessoas pode possibilitar a segurança do homem no mundo.

Buber (1967) nos direciona para essa condição ao afirmar que o único aspecto que pode levar o homem a ter segurança no mundo é a fé, não no sentido religioso, mas no sentido da confiança. É porque confio em alguém que posso viver no mundo e ter segurança nele. Enquanto tivermos relações em que os instrumentos se sobreponham as pessoas, não será possível constituir a confiança entre os homens e a segurança no mundo permanecerá como utopia.

A problemática da sobreposição da sociedade ao indivíduo como singular agrava ainda mais a constituição de relações de confiança, posto que, desconsidera o ser em sua alteridade. Considerar o homem em sua singularidade é reconhecê-lo e confirmá-lo enquanto humano, ao mesmo tempo em que perceber sua própria humanidade. Segundo Zuben (2008, p. 108):

um indivíduo que participe do evento da relação e, mediante a sua atitude de distanciamento, de abertura ao outro e de acolhimento do outro, tome parte do mundo do Tu, reconhece o seu confrontante como o outro e, igualmente, conhecendo-se a si próprio como pessoa.

Nessa perspectiva destaca-se a importância da comunidade, da vida no convívio com o Outro, vivência que é sublinhada por Buber (1967) em sua antropologia como aquela que permite ao homem conhecer o mundo. Em suas palavras:

O homem que conhece um mundo é homem com homens. [...] Mas, na verdade, a antropologia filosófica do nosso tempo ainda não atingiu esse conhecimento ou mesmo em seus representantes mais significativos. Se eles estão inclinados para o espírito ou para a natureza, o fato é que eles não vieram para ouvir o poder da comunidade.25 (BUBER, 1967, p. 70, tradução nossa).

O problema da comunidade é tema central na antropologia de Buber. Dentro da análise sobre os fatores que o levaram a desenvolver a problemática antropológica, ele aponta dois

25 El hombre que conoce um mundo es El hombre com ló hombres. [...] Pero, en verdad, la antropología filosófica de nuestra época no ha alcanzado todavia este saber ni siquera en sus representantes más significados. Ya se inclinen hacia el espiritu o hacia la naturaleza, el caso es que no han acudido a escuchar el poder de la comunidad.

aspectos da crise contemporânea: o rompimento com as formas orgânicas de comunidade e a incapacidade do homem de dominar aquilo que ele criou.

No primeiro, o rompimento com as formas orgânicas de comunidade, a autor demarca o preço da conquista da emancipação política, tendo como marco a Revolução Francesa, a qual aparece como símbolo histórico no rompimento com o Antigo Regime. Essa emancipação política cobra outras formas de ser no mundo, representada pela sociedade burguesa, e as organizações comunitárias perdem a força, com ela o sentimento de segurança, de pertencer a um grupo vai enfraquecendo. Segundo Buber (1967), essa mudança sociológica cria no homem o sentimento de solidão, de inospitalidade, de vazio; e o drama de não se sentir em casa no mundo retoma. Para solucionar esse problema, as novas formas de sociedade