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Esquema 9: Cenários possíveis: sem e com a variável mediadora

2.2 Viabilizando desempenho superior

2.2.2 As práticas socioambientais

O atendimento das demandas ambientais e sociais ainda é um tema emergente para a área de estratégia de operações (CARTER; ROGERS, 2008; LINTON et al., 2007; PAGELL; WU; WASSERMAN, 2010; PARMIGIANI et al., 2011; PAULRAJ, 2011;).

A importância do tema para as empresas focais legitimou-se em função da demanda dos stakeholders (clientes, fornecedores, acionistas, credores, comunidades envolvidas e governos), uma vez que estes as consideram, em uma visão de cadeia de suprimentos, como as organizações responsáveis pelas práticas e níveis de desempenho, tanto ambiental quanto social, tanto dela mesma, quanto de fornecedores de insumos e prestadores de serviços (HUTCHINS; SUTHERLAND, 2008).

Vale assinalar que as empresas focais são aquelas que: (i) estabelecem as regras ou o ritmo da cadeia de suprimentos; (ii) providenciam o contato direto com o consumidor; e (iii) são responsáveis em prover o desing de novos produtos e serviços (HUTCHINS; SUTHERLAND, 2008).

Nessa condição, esta tese utilizará o seguinte conceito de sustentabilidade:

É o design e a operação de sistemas que garantam que a humanidade faça uso dos recursos naturais, desde que não levem à diminuição da qualidade de vida, seja por perdas de oportunidades econômicas ou quanto aos impactos negativos sobre as condições sociais, a saúde humana e o meio ambiente (MIHELCIC et al., 2003, p. 5315, tradução nossa).

É oportuno observar que a maioria dos estudos sobre sustentabilidade tem abordado unicamente para os aspectos sobre as questões ambiental e econômica (SEURING; MULLER, 2008), negligenciando-se o terceiro pilar, o aspecto social, que também faz parte do triple bottom line (3BL) (ELKINGTON, 1998). Essa evidência também é encontrada na literatura brasileira (GALLON et al., 2008).

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Assim, adicionalmente às tecnologias ambientais, de controle, prevenção e de diretrizes de boas práticas, este trabalho aborda o aspecto social quanto aos recursos internos da organização que auxiliarão no processo de transformação. Nessa dimensão social relatam- se questões relativas à integração, às possibilidades de capacitação, satisfação no trabalho e segurança operacional. Para tanto, segmenta-se as práticas ambientais e sociais, em maiores detalhes, a seguir.

2.2.2.1 As práticas ambientais

No contexto ambiental, a década de 1990 marca uma profusão de nomenclaturas oriundas dos estudos no ambiente de manufatura a fim de estabelecer os planos para a área, a seguir: (i) reduzir os desperdícios; (ii) aumentar o controle sobre a matéria-prima; (iii) prevenir os níveis de poluição; e (iv) analisar o ciclo de vida do produto (ACV).

Para atender a parte das cobranças na área ambiental, definem-se as tecnologias ambientais voltadas para o meio ambiente que podem ser divididas em três grupos: primeiro, quanto aos mecanismos de controle da poluição, o segundo quanto às práticas de prevenção, e por fim, quanto aos sistemas de gestão exemplificados a seguir:

– As práticas de controle de poluição estão relacionadas com investimentos em ativos não produtivos, utilizados para a armazenagem, controle e tratamento das emissões e efluentes. É realizado por meio de investimentos estruturais para reduzir os riscos associados aos processos (KLASSEN; WHYBARK, 1999); – As práticas de prevenção referem-se aos mecanismos para melhor utilização da matéria-prima, por meio da reutilização, reciclagem ou substituição por componentes mais competitivos. Adicionalmente, as práticas de prevenção buscam o melhor planejamento para redução das perdas, a simplificação e/ou eliminação de etapas desnecessárias de processos e de mecanismos de viabilizem a redução das emissões para a fim de evitar futuros passivos e multas;

– O sistema de gestão ambiental – SGA (em inglês, environmental management system – EMS): ressalta os aspectos formais e também dos dados e informações referentes aos procedimentos e processos para treinamento dos colaboradores, monitoramento e relatórios para divulgação ante os stakeholders sobre o desempenho ambiental (MELNYK; SROUFE; CALANTONE, 2003).

As práticas para a avaliação do ciclo de vida (ACV) de um produto ou serviço podem fornecer dados e informações relacionadas aos impactos a que esses itens podem incorrer ao longo do uso. Uma ACV considera as fases da vida, tais como extração de matéria-prima, processamento de material, fabricação, distribuição, uso e opções de eliminação (por exemplo, reciclagem), vistas em maiores detalhes a seguir (CARTER; ROGERS, 2008; DARNALL et al., 2008; HART, 1995; SARKIS, 1995; SEURING; MULLER, 2008):

– Design de produto: Reconhecer as técnicas de ACV para auxiliar na determinação de como projetar um produto para minimizar o impacto ambiental durante a sua fabricação, ao longo do período de utilização e depois da sua vida útil. Possui interface com a área de gestão de projetos e leva em conta o esgotamento de recursos, bem como os impactos ambientais;

– Fabricação de subprodutos: Considerar a função produção de forma mais ampla, ponderando sobre a cadeia de suprimentos de forma estendida, incluindo a redução e/ou eliminação de subprodutos por meio de tecnologias de processo, de qualidade e das técnicas de manufatura enxuta (lean manufacturing). Assim, deve-se avaliar o custo total e incluir os efeitos do esgotamento de recursos e a geração de subprodutos que não são nem capturados nem utilizados (poluentes e resíduos);

– Subprodutos produzidos durante o uso: Avaliar o envolvimento dos fabricantes para fornecer uma série de serviços a fim de apoiar e complementar a venda do produto original.

– Extensão de vida útil do produto: Reconhecer o ciclo de vida do produto e os subprodutos produzidos por ele. Neste ponto, a análise de projeto de produto para reconhecer as matérias primas assim como do potencial de esgotamento desses recursos é essencial para o sucesso da avaliação da extensão da vida útil do produto.

– Remanufatura: Refere-se às políticas desenvolvidas com a intenção de oferecer uma condição de reutilização, ambientalmente, mais favorável para o descarte do produto ao final de sua vida útil. Contudo, essa fase depende, em grande medida, das ações tomadas em fases anteriores. Assim, o design do produto inicial tem grande influência sobre o grau em que um produto pode ser reutilizado, remanufaturado, reciclado, incinerado ou eliminado. Ademais, para a viabilização dos resultados desejados, exigem-se mudanças nos processos associados ao

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desenvolvimento de políticas ambientais, aos incentivos legais, aos aspectos relacionados à operação, tais como: a previsão de demanda, a logística reversa, as relações interfuncionais e interorganizacionais, e também quanto à consciência ambiental dos usuários.

– Reutilização: Avaliação do trade-offs entre o que é economicamente viável para os membros da cadeia de suprimentos e quais benefícios para a população, num sistema integrado, para os processos de recuperação do item ao final da vida útil.

No próximo tópico, abordam-se as práticas sociais disseminadas junto à área de operações.

2.2.2.2 As práticas sociais

Hutchins e Sutherland (2008) ponderaram que a definição das diretrizes de relatórios sociais de sustentabilidade, tais como, o Sustainability Reporting Guidelines, é resultado do empenho conjunto de várias entidades, como, por exemplo, a organização não governamental CERES (Coalition for Environmentally Responsible Economies) e os programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (United Nations Environment Programme – UNEP) e para o Desenvolvimento Sustentável (em inglês, United Nations Division for Sustainable Development – UNDSD).

Contudo, num contexto de estratégia de Operações (EO) e pela hierarquia das decisões da estratégia de conteúdo, relatam-se decisões estruturais e de infraestrutura para a unidade de negócio. Especificamente quanto às ações de infraestrutura, essas se caracterizam sobre os investimentos em longo prazo para o desenvolvimento contínuo das políticas de mão-de-obra que as organizações deverão desenvolver para viabilizar as estratégias, sobre os sistemas de qualidade, a cultura organizacional e tecnologias de informação e comunicação (DANGAYACH; DESHMUKU, 2001; FINE; HAX, 1985).

De tal modo, evidencia-se, aqui, que os estudos de práticas sociais na área de operações implicam tanto desafios internos como externos à organização (PULLMAN et al., 2009).

Nesse panorama, esse trabalho fará uso da visão sobre sustentabilidade social que busca avaliar, reconhecer e mensurar as iniciativas de melhoria, segurança e saúde dos

colaboradores e a garantia de condições de trabalho que ofereçam dignidade para a mão de obra em organizações da área de manufatura engajadas com a responsabilidade social (BROWN, 1996; BROWN et al., 2000; DAS et al., 2008; PARRIS; KATES, 2005).

Brown (1996), em artigo teórico, clama pela necessidade de estudos na área de segurança adicionalmente aos parâmetros de avaliação de desempenho da área de operações (eficiência em custo, qualidade, velocidade e flexibilidade).

Das et al. (2008) revelam que caso o trabalhador não possuir um ambiente seguro para atender a uma necessidade básica, então se pode afirmar que esse mesmo trabalhador não terá disposição para buscar melhorias de desempenho.

Assim, pode-se afirmar que as práticas sociais variam de uma organização para outra, pois dependem muito do nível do esforço necessário, para que essas possam incorporá- las nos processos, e também quanto aos encargos financeiros associados à sua adoção (HUTCHINS; SUTHERLAND, 2008).

Nesse sentido, têm-se os seguintes exemplos de práticas sociais e os benefícios que podem ser alcançados:

– Integração: Promover conectividade da organização com o meio externo, provendo mecanismos de governança corporativa que pode auxiliar na compreensão dos impactos da organização no ambiente;

– Capacitação: Realizar treinamento, a reciclagem e o julgamento de empregabilidade são fatores indispensáveis para avaliação do bem-estar dos colaboradores. Nesse aspecto, a participação de funcionários em treinamentos tem correlação direta quanto à melhoria do desempenho ambiental e da qualidade dos produtos e serviços;

– Nível de satisfação: Avaliar, continuamente, o nível de satisfação dos colaboradores, as atitudes dos colaboradores na organização e os indicadores de desempenho operacional, ambiental e social. Neste panorama, avalia-se a oportunidade de desenvolvimento de habilidades e conhecimentos tácitos de difícil cópia, raros, valiosos e socialmente complexos;

– Segurança operacional: Mapear os processos de fabricação e os pontos críticos quanto à segurança operacional, promovendo, assim, menor rotatividade nos cargos, menores índices de acidentes de trabalho, e, dessa forma, proporcionando melhoria de desempenho operacional e, consequentemente, redução dos custos operacionais.

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No próximo tópico, relata-se o papel das competências operacionais nas organizações e como se justifica as diferenças de desempenho entre as organizações com as mesmas práticas.

Narasimhan et al. (2005) afirmam que os investimentos em práticas operacionais, por si só, não constituem competências, existe um caminho de aprendizagem, de uso intensivo e em consonância com a estratégia de operações, conforme visto a seguir.