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Capítulo 3 – A Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Funchal

3.2 A Junta de Planeamento da Madeira e a Câmara Municipal do Funchal

3.2.1 As primeiras medidas da Junta de Planeamento da Madeira

A JPM, desde o início da sua constituição, implementou uma nova política para resolução dos gravíssimos problemas que assolavam o arquipélago. Para a CMF, a nomeação do presidente da CA, para vogal desta junta, tornou-se, também, uma oportunidade para a autarquia poder ver solucionadas algumas das suas necessidades. No entender de Virgílio Pereira, a JPM, “serviu como exemplo que era possível uma mudança, do sistema arcaico para as regiões autónomas e insulares e que era possível mudar e portanto foi um começo cívico”, frisando ainda o facto de esta experiência ter constituido “um começo não assertivo como a gente gostaria que fosse e que não

menor frequência a partir de meados de 1976, eles continuaram muito para além de estarem em pleno funcionamento os órgãos de governo próprio da novel Região Autónoma” (Gouveia, 2002: 132). Referindo-se à FLAMA, quando estava na JPM e se deslocava a Lisboa em exercício de funções, muitas vezes, Virgílio Pereira era abordado pelos diretores gerais com quem contactava, dos Ministérios, secretários de Estado ou mesmo ministros que “acabavam sempre perguntando: e a FLAMA, como é que vai a FLAMA? E eu dizia, olhe, não sei, eu também vinha perguntar aos senhores, porque eu estou convencido que quem tem as respostas é os senhores, não sou eu, apesar de ser madeirense”, sendo refutado por estes com a acusação de estar a fazer especulação, dizendo: “mas porquê que você agora está com essas especulação? Porque, o senhor deve ter aí na gaveta, uma série de pedidos da minha Câmara e de outras e … amanhã, amanhã (…) ”, o que é elucidativo da situação política vivida nesta altura. (Entrevista a Virgílio Pereira – Anexo XI).

conseguiu aquela autonomia que a gente desejava“117. Com pouco mais de um mês de

atividade, esta junta reuniu-se com os órgãos de comunicação social a fim de abordar “aspectos da situação económica da Madeira”. Os diferentes vogais prestaram esclarecimentos relacionados com os ministérios que lhes estavam delegados. Virgílio Pereira, no tocante às áreas que estavam sob a sua incumbência, comunicou estar prevista a vinda à região de técnicos do Ministério do Equipamento Social, que, juntamente com as câmaras municipais e serviços da Junta Geral, estabeleceriam o plano de obras a realizar durante esse ano e as respetivas prioridades.”118.

O Ministério da Administração Interna, através da sua Direção-geral da Administração local, enviou aos governadores civis dos distritos do país, a circular, n.º B-24/75 de 7 de maio de 1975. Com esta circular, o Ministério pretendeu saber a real dimensão da situação financeira das câmaras municipais dos vários distritos do país, solicitando o envio, dos mapas das receitas cobradas e despesas, realizadas pelas câmaras do seu distrito, durante o ano de 1974.

Dando cumprimento à respetiva circular, a CMF enviou ao governador do Distrito Autónomo e presidente da JPM, brigadeiro Carlos de Azeredo, através do ofício, 3035, com data de 30 de abril de 1975, o mapa das receitas despesas do ano de 1974. Deste mapa, constava como receita a importância de 143 360 925$00 e despesa 12 597 860$50119.

As eleições para a Assembleia Constituinte realizaram-se no dia 25 de abril de 1975, um ano após a revolução dos cravos. Tiveram uma enorme participação eleitoral, votaram 91,79% dos eleitores. Os resultados eleitorais ditaram a vitória a nível do país, ao PS com (37,82%) dos votos, seguido do PPD/PSD (26,41%) votos, PCP (12,54%) votos, CDS (7,60%) votos, MDP/CDE (4,12%) votos e FEC/ML (0,57%) votos. No arquipélago da Madeira, o PPD/PSD obteve a maioria com (78 320) votos, seguido do PS (24 519) votos, CDS (12 657) votos, PCP (2 053) votos, MDP/CDE (1630) votos e a FEC/ML (1 454) votos120. Com este resultado, os portugueses optaram pela “divisão entre os que pretendiam institucionalizar rapidamente um regime político de democracia pluralista de tipo ocidental e os que eram indiferentes a essa preocupação” (Ferreira, 1994: 206).

117 Entrevista a Virgílio Pereira – Anexo XI.

118 Diário de Notícias, Funchal, 1 de maio de 1975, p. 1 e 2. 119 ABM, DRAPL, 2099, Proc. V - 6/5, de 30-5-1975 – Anexo V.

A JPM, no dia 12 de junho de 1975, deu uma conferência de imprensa, abordando diversos temas relacionados com a vida económica e social do arquipélago. Acerca do problema da habitação social, o vogal Virgílio Pereira, referiu-se aos 1200 contos que o Governo Central distribuiu pelo país para o fomento da habitação. Desta verba, coube ao Distrito do Funchal, 20 mil contos, destinados à construção de novos fogos, sendo este apoio considerado, “como balões de oxigénio à construção civil que se encontrava já numa situação crítica”. A CMF esclareceu, face ao apoio dado pelo FFH, ter optado por ser este organismo a construir “os fogos – cinquenta no caso do hospital – perante a entrega dos terrenos. Como contrapartida, a Câmara exigiu que as rendas a cobrar, nunca ultrapasse um sexto do vencimento mínimo nacional”.

Para colmatar a situação de crise de habitação, estava ainda previsto, “a construção de 304 fogos (…) no Concelho do Funchal: 6 no Caminho de S. João; 50 no Bairro do Hospital; 8 em S. Roque; 54 em Santo António e 166 no restante terreno livre no Bairro do Hospital”. Proceder-se-ia também, à construção de 21 moradias individuais em Santo Amaro e no Bairro da Nazaré a um empreendimento englobando 1800 fogos121.

No Funchal, o avolumar dos problemas precisou de uma intervenção mais célere por parte dos organismos oficiais. O tecido económico e a maioria dos habitantes do arquipélago estavam aqui sediados. Foi urgente promover um maior investimento e melhorias a nível de infraestruturas. Das grandes obras providenciadas é possível destacar: as obras de saneamento básico na Avenida do Mar, as obras relativas ao tratamento de água na parte oriental da cidade e a sua ligação dos Tornos às Babosas e “o projecto da continuação da conduta principal para abastecer a zona alta de Santa Maria Maior e São Gonçalo até a cota 500 metros”122.