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O BRASIL NA DIPLOMACIA DE JOÃO PAULO

1. As prioridades da diplomacia pontifícia

Já durante a sua primeira peregrinação ao Brasil, em 1980 , o Papa João Paulo II enfatizou o caráter excepcional das relações diplomáticas entre a Santa Sé e o Brasil, existentes há mais de um século e meio, “ininterruptas e cada vez mais sólidas” (Discurso n. 1). Efetivamente, o primeiro Embaixador do Brasil, o monsenhor Francisco Corrêa Vidigal, entregou as credenciais ao Papa Leão XII já em 1826. Desde então as relações diplomáticas nunca foram rompidas, mesmo no período da chamada Questão Religiosa (1872-1875).

João Paulo II gostava de fazer referência a essa tradição ininterrupta em di- versas ocasiões (cf. Discursos n. 3, 7 e 11).

Durante a segunda peregrinação, no encontro com o Corpo Diplomá- tico na Nunciatura Apostólica em Brasília, o Papa explicava a razão por que a Santa Sé estabelece relações diplomáticas com os Países. Dizia então:

A Sé Apostólica envia os seus representantes aos vários Países que colaboram não só para o desenvolvimento das Igrejas locais, mas também para o bem ci- vil e humano das populações. A Igreja, que é depositária de um “humanismo novo”, um “humanismo cristão”, é capaz de realizar uma tarefa humanizado- ra em sintonia com sua tarefa primeira, que é a evangelizadora. Ela exercerá com tanto maior impacto e eficácia sua função humanizadora − de fermen- tação cultural, promoção humana, alfabetização e educação de base, assis- tência social, conscientização popular − quanto mais fiel for ela à sua missão primordial que é, e seguirá sendo, religiosa. É sob este prisma que a Igreja se faz presente em todas as Nações onde mantém Representações diplomáticas, e aspira iniciá-las onde isso ainda não foi possível (Discurso n. 9).

Esse aspecto religioso da diplomacia pontifícia era abordado por João Paulo II quase que em cada um dos citados discursos e, de maneira geral, em numerosos pronunciamentos de caráter diplomático. Ao mesmo tempo o Papa enfatizava que as missões da Igreja e do Estado encontram-se num ponto comum: “o homem e o bem da Pátria”, condicionado com premissas adequadas, que são “o entendimento respeitoso, a preocupação de indepen- dência mútua e o princípio de servir melhor ao homem, dentro de uma con- cepção cristã” (Discursos n. 8 e 14).

Dirigindo-se aos diplomatas acreditados no Brasil, durante a sua pri- meira peregrinação, o Santo Padre chamou a diplomacia “uma via de sabe- doria, neste sentido: conta com a faculdade dos homens de boa vontade de se escutarem e compreenderem, de encontrarem soluções negociadas e progre- direm a par, em vez de se enfrentarem” (Discurso n. 2). Chamava também a atenção ao fato de que a Igreja sempre tem considerado como uma ferramenta

indispensável na solução dos problemas o diálogo inter-humano, que permite perceber no semelhante um irmão e − à luz do Evangelho de Cristo − também um filho de Deus. Resulta daí a nobre obrigação de países mais desenvolvi- dos, tais como o Brasil, de demonstrar solidariedade com os países que com suas próprias forças não teriam condições de chegar a um justo e racional ní- vel de desenvolvimento, a um nível adequado à dignidade da pessoa humana (cf. Discurso n. 9). Por outro lado, a Igreja estimula toda nação a agir em prol da melhoria das relações internacionais, não apenas para afastar a ameaça de um conflito ou diminuir a tensão entre os países, mas para solidariamente fazer frente aos grandes desafios dos quais depende o futuro da humanidade (cf. Discurso n. 2).

No caso do Brasil, já no seu primeiro discurso João Paulo II esboçou as três questões principais que têm permanecido no centro da atenção da di- plomacia pontifícia durante todo o seu pontificado. São elas: a ecumenicidade brasileira, a evangelização e a dinâmica juventude da sociedade.

2. “Ecumenicidade brasileira”

Pelo conceito de “ecumenicidade brasileira” o santo Papa compreen- dia o traço “capaz de integrar povos e valores de diversas etnias, os quais contribuem decerto para as características de abertura e universalidade da cultura deste País” (Discurso n. 1, cf. Discurso n. 4). Mas, para que essa inte- gração se possa realizar e fortalecer, o país necessita da paz − da paz exterior e interior:

Pode parecer banal sublinhar ter cada país o dever de preservar a sua paz e segurança no interior. Mas deve em certo modo “merecer” esta paz, asse- gurando o bem comum de todos e o respeito dos direitos. O bem comum de uma sociedade exige que esta seja justa. Onde falta a justiça, a sociedade está ameaçada pelo interior. O que não quer dizer que as transformações necessá- rias para conseguir maior justiça devam operar-se na violência, na revolução e na efusão de sangue, porque a violência prepara uma sociedade de violência, e nós, cristãos, não podemos concordar com ela. Mas quer dizer que há trans-

formações sociais, às vezes profundas, para serem realizadas constantemente, progressivamente e... realismo, por meio de reformas pacíficas (Discurso n. 2). Essas palavras foram pronunciadas durante a primeira peregrinação ao Brasil, quando ainda perdurava a ditadura militar. Alusões ao final des- sa ditadura podem ser encontradas no discurso do Santo Padre por ocasião da cerimônia da entrega das credenciais pelo Embaixador Carlos Frederico Duarte Gonçalves da Rocha, quando o Papa falava do momento histórico na vida da nação brasileira, ao qual “corresponde uma expectativa geral, que de- sejo venha a ser felizmente satisfeita”. João Paulo II expressou então a convic- ção de que na realização desse desejo universal da nação seria útil sobretudo “a índole generosa da sua gente. Esta continuará a empenhar-se, por certo, pelo maior bem de cada brasileiro, para que disponha de meios suficientes para uma realização integral, numa participação responsável e esclarecida na vida e nos destinos da comunidade” (Discurso n. 4).

O Santo Padre tem expressado por diversas vezes a convicção acerca da especial aptidão dos brasileiros para a edificação de uma sociedade aberta e hospitaleira a todos, falando do “povo muito querido: bondoso, dócil e hos- pitaleiro, ao mesmo tempo que possuidor de um rico patrimônio cultural”, dotado de numerosas virtudes: “compreensão, tolerância, afabilidade e com- paixão; dotes que, na grande maioria, se mostram valorizados pelos ditames da fraternidade, inseparáveis da condição cristã” (Discurso n. 5). No entanto o Papa tinha consciência das dificuldades que se apresentam no caminho da plena integração social e por isso, num discurso ao Presidente José Sarney, que precedeu uma missa no Vaticano, mencionou alguns problemas urgentes do período posterior à ditadura militar:

Vamos pedir por todo o Brasil e cada um dos brasileiros, para que a solidarie- dade e o amor social, vivificados pela caridade, levem a remediar e prevenir, neste imenso e dileto País, situações de pauperismo e desequilíbrios econômi- cos; que ninguém fique excluído do desenvolvimento e dos bens do progres- so; que uma vez mais neste momento de mutação, como noutras situações

de impasse, se conjuguem boas vontades e esforços para salvaguardar e au- mentar o patrimônio de valores espirituais e morais − a riqueza mais segura e veraz de um País imensamente rico − e para responder aos desafios que se apresentam à grande família brasileira (Discurso n. 6).

Para atingir o objetivo que é o progresso e o desenvolvimento social, João Paulo II apontava para a necessidade da solidariedade, no seu aspecto nacional e internacional. Na dimensão ética, a solidariedade “obriga a evitar abusos de liberdade por parte de uns, em detrimento da liberdade de outros; e a todos obriga também a comungar a determinação firme e perseverante pelo bem comum, de maneira que todos se sintam verdadeiramente responsá- veis por todos” (Discurso n. 7). A uma solidariedade assim entendida o Papa encorajou várias vezes durante a sua segunda peregrinação ao Brasil, e ao presidente Fernando Collor de Mello, que logo depois encerrou o seu gover- no em razão de um impeachment, disse claramente: “O Brasil atravessa, neste momento da sua história, uma fase que todos sabem ser delicada, face aos imensos problemas sociais e econômicos cuja solução não admite mais dila- ções. O Povo de toda a Nação tem voltados seus olhos para as decisões que tomais, na esperança de um porvir mais luminoso e feliz para os seus filhos” (Discurso n. 8).

Essa “etapa delicada” na história do Brasil, que num discurso ao Pre- sidente Fernando Henrique Cardoso o Papa chamou de “uma fase turbulenta da sua história mais recente”, tem sido objeto de especial solicitude da sua parte. Por isso, por ocasião de uma visita do Presidente Cardoso no Vaticano, ele esboçou as principais áreas da vida social que exigiam o esforço e o enga- jamento comum:

O cenário da vida brasileira aponta na direção de um esforço geral, em vias de aperfeiçoamento, para que a justa distribuição da riqueza seja um fato sempre mais abrangente, para cobrir as distâncias entre pobres e ricos, na atenção e solidariedade para com os menos favorecidos e carecidos de ajuda. O respeito pelas populações indígenas, o empenho por uma reforma agrária atuada de

acordo com as leis vigentes, a preservação do meio ambiente, entre outras motivações, justificam iniciativas sempre corajosas visando o enobrecimen- to da causa democrática. Por outro lado, cabe ressaltar também os inegáveis direitos de toda pessoa humana onde possam cultivar-se os valores culturais, espirituais e morais − patrimônio comum a ser promovido e assegurado. E isso, começando pelos setores vitais para a comunidade, como sejam: a famí- lia, a infância e a juventude, a instrução e a previdência social (Discurso n. 11).

Com efeito, a integração e a solidariedade social só podem realizar- se quando se leva em conta − como o definiu de forma lapidar João Paulo II na sua encíclica programática Redemptoris missio − “o homem todo e todos os homens” (Discursos n. 7, 10, 13 e 14). Para atingir esse objetivo, torna-se necessária uma ética verdadeiramente universal, acima das ideologias, “que devolva confiança ao mundo e dê sentido à vida” (Discurso n. 13), e cujas raí- zes o Brasil pode encontrar na herança da fé cristã, “desde as origens do seu povo, pela evangelização plantada pelos seus descobridores há mais de cinco séculos” (Discurso n. 14).

3.“Terra da Santa Cruz”

O primeiro nome dado ao Brasil foi “Terra da Santa Cruz”, em memó- ria de um cruzeiro levantado no litoral da terra recém-descoberta, há mais de 500 anos. João Paulo II utilizava-se dessa definição com frequência e de bom grado, apontando para as raízes cristãs da nação brasileira e aludindo à obra da evangelização (cf. Discursos n. 3, 5, 8, 12 e 13). Segundo o Papa, a evan- gelização no Brasil realizou-se “em moldes tais e com uma tal continuidade que deixou marcas profundas na vida deste Povo, proporcionando-lhe sem dúvida, na medida em que isso cabe na missão da Igreja, luzes, normas e ener- gias morais e espirituais com as quais foi plasmando a comunidade humana e nacional” (Discurso n. 1). Desde 1500 o Evangelho tem sido pregado por uma multidão de missionários, entre os quais se distinguem santos e beatos mencionados pelo Santo Padre em seus pronunciamentos: S. José de Anchieta − beatificado por João Paulo II no dia 22 de junho de 1980, e no dia 3 de abril

de 2014 canonizado pelo Papa Francisco −, que atuou “em perigos [...] esfor- çados, mais do que permitia a força humana” (Discurso n. 3); S. Frei Galvão, “por todos conhecido como o homem da caridade e da paz”− beatificado por João Paulo II no dia 25 de outubro de 1998 e canonizado pelo Papa Bento XVI no dia 11 de maio de 2007 −, que “sinaliza a todos os homens de boa vontade o caminho de uma Nação cada vez mais justa e mais fraterna” (Discurso n. 12); os beatos Protomártires do Brasil, beatificados por João Paulo II no dia 5 de março de 2000, que preservaram a herança da fé “à custa do derramamento do sangue” (Discurso n. 13).

Essa “diplomacia dos Santos” serviu ao Papa para reivindicar os valo- res que têm as suas raízes na herança cristã do Brasil. Entre eles, apresenta-se em primeiro lugar uma visão cristã do homem, a respeito do qual João Paulo II falava já durante a sua primeira peregrinação ao Brasil:

O homem não pode abdicar de si mesmo, nem do lugar que lhe compete no mundo visível; o homem não pode tornar-se escravo das riquezas materiais, do consumismo, dos sistemas econômicos, ou daquilo que ele mesmo produz; o homem não pode ser feito escravo de ninguém nem de nada; o homem não pode prescindir da transcendência − em última análise, de Deus − sem am- putação no seu ser total; o homem, enfim, só poderá encontrar luz para o seu “mistério” no mistério de Cristo (Discurso n. 1).

Por diversas vezes o Papa tem enfatizado a necessidade de preservar o caráter transcendental da pessoa humana, que é membro tanto da Nação como da Igreja (cf. Discurso n. 4). E apontava para a longa e exemplar tradição da cooperação da Igreja católica com as autoridades civis do Brasil na obra da moldagem dos valores e da busca do bem comum. Mas, acima de tudo, o Santo Padre defendeu com determinação a santidade da vida humana: Será sempre na fidelidade a Deus e ao seu plano salvífico que a Igreja coloca- rá o homem na primeira linha do seu empenhamento pastoral, proclamando que a dignidade e a vocação da pessoa, como a sua vida, são algo sagrado; que todos não somos demais para que se mantenha a sacralidade da vida de cada

ser humano, assegurando-a em todos os momentos de sua existência; todos não somos demais para salvaguardar os bens preciosos da família e do matri- mônio, com suas inseparáveis características e suas indeclináveis funções em relação à vida e educação da prole. Sim, todos não somos demais para ajudar o homem a ser mais homem, auxiliando-o: a passar da “margem” para a es- trada firme da vida autêntica; a saber distinguir as suspeições e propagandas com bases ideológicas que não levam a Deus e, enfim, a saber vencer perple- xidades e perturbações em suas escolhas éticas (Discurso n. 5).

O tema do respeito à vida humana desde a concepção até a morte natural e do respeito ao direito da família a gerar e educar os filhos aparece com frequência nos pronunciamentos de João Paulo II (cf. Discursos n. 1, 6, 8, 10, 11, 13 e 14). Ao mesmo tempo conclamava ele a que o Brasil − baseando-se em seus fundamentos cristãos − edificasse o bem comum sobre as bases evan- gélicas do amor e da justiça:

O Brasil, na sua condição de país prevalentemente católico, cuja in- fluência marcante foi celebrada dentro das comemorações dos 500 anos do seu descobrimento, manifesta a identidade espiritual, cultural e moral do pró- prio povo. Insistir sobre este aspecto não será nunca demasiado, haja vista que o elemento formativo cristão foi determinante entre os fatores que contribuí- ram para a paz e a estabilidade da vida nacional, sem conturbações de maior relevo, ao longo destes cinco séculos de história. Por isso, a Igreja, ao recordar os princípios básicos do Evangelho na vida de cada cidadão e da comunidade, nada faz mais que zelar por esse patrimônio espiritual e moral, conservado muitas vezes à custa do derramamento de sangue de mártires do presente e do passado (Discurso n. 13).

Entre os direitos fundamentais que resultam do caráter cristão da na- ção brasileira, ocupa um lugar especial a liberdade religiosa, “que encontra neste Brasil, que nos hospeda, um digno exemplo” e que estimula a sociedade a buscar a autêntica liberdade e o autêntico progresso (Discurso n. 9). E o progresso moral e espiritual tornou-se possível também graças à atividade

educacional e caritativa da Igreja no Brasil:

Digna de menção, sem dúvida, é a paciente e corajosa ação dirigida a elevar o nível cultural e moral da vossa gente, através de uma tradição mais do que centenária de instituições religiosas de ensino e de uma formação do povo nas dioceses e nas paróquias disseminadas no vasto território nacional. Ao mesmo tempo, não é possível olvidar a firme determinação do episcopado brasileiro na defesa dos pobres e dos humildes − os mais desprotegidos da sociedade − que têm o direito a aspirar por uma vida melhor e mais digna. Esta, que tem sido sempre uma constante na vida e na consciência da Igreja no Brasil, recebe agora um novo impulso por parte de diversas entidades não governamentais que colaboram, não sem inúmeras dificuldades, para uma verdadeira mobilização de solidariedade cristã, visando aliviar o peso dos sofrimentos de uma vasta camada da sociedade (Discurso n. 10).

João Paulo II tem enfatizado essa singular contribuição da Igreja para a educação no espírito dos autênticos valores morais e espirituais (cf. Discurso n. 11), apontando que dela depende o futuro da nação, especialmente o futuro da família. Foi por isso que, levando em conta o imenso potencial dos jovens, o Papa escolheu para a celebração do II Encontro Mundial com as Famílias, nos dias 2-5 de outubro de 1997, a cidade brasileira do Rio de Janeiro. No discurso ao Embaixador Meira Naslausky, o Santo Padre lembrou as suas palavras da homilia pronunciada para o encerramento do encontro, assinalado que “atra- vés da família, toda a existência humana é orientada para o futuro. Nela, o homem vem ao mundo, cresce e amadurece. Nela, ele se torna um cidadão sempre mais maduro do seu país, e um membro da Igreja sempre mais cons- ciente” (Discurso n. 12).

4. “A maior riqueza de um País imensamente rico”

Essa definição, extraída do discurso de João Paulo II ao Embaixador Affonso Arinos de Mello-Franco (cf. Discurso n. 5) e repetida por ele alguns dias mais tarde durante a visita ad limina dos bispos brasileiros da Regional Leste-2 (8 de março de 1986), expressa muito bem a convicção do Santo Padre

a respeito do dinamismo da juventude brasileira, que é, “com suas respeitá- veis tradições e qualidades peculiares, garantia segura de que a Nação há de superar os obstáculos que for encontrando na sua caminhada histórica, rumo a um amanhã melhor” (Discurso n. 1).

A fé na juventude e o contato próximo com os jovens é um traço ca- racterístico de todo o pontificado de João Paulo II; por isso, não é de admirar que ele muitas vezes tenha chamado a atenção ao papel que pode e deve de- sempenhar a geração dos brasileiros jovens na vida da Igreja e da sociedade. Falando da Igreja no Brasil, o Papa enfatizava:

Sobre a vitalidade das dioceses, das paróquias e demais comunidades de vária ordem, em que se processa a vida eclesial na sua pátria, se fundamen- ta a confiança de que, animada pelo espírito do Evangelho, a Igreja no Brasil vai prosseguir a fomentar nos corações, sobretudo dos jovens, dos muitos e esperançosos jovens brasileiros − “a maior riqueza de um país imensamente rico” − abertura salutar aos verdadeiros valores universais: amor sem frontei- ras, liberdade esclarecida, solidariedade fraterna, paz como bem supremo na peregrinação terrena do homem, justiça social” (Discurso n. 5).

Com efeito, um traço característico do Brasil é o fato de ser ele uma nação jovem, “que acredita em si mesma, cheia de esperança num amanhã melhor, consciente do seu futuro e empenhada em libertar-se de entraves ao desenvolvimento e realização que todos desejam” (Discurso n. 7). O Papa olhava para essa jovem nação com esperança, chamando ao mesmo tempo a atenção para a necessidade da plena integração dos jovens na sociedade: “O Brasil não pode abrir mão de sua maior riqueza − o imenso contingente de crianças e jovens que precisam ser integrados plenamente na vida social, no trabalho, na efetiva cidadania” (Discurso n. 8).

E é justamente a esperança, baseada no fenomenal dinamismo dos jovens, a última palavra da diplomacia pontifícia diante do Brasil. O desejo de João Paulo II era que “cada brasileiro se sinta mais ativo de tal esperança, a fim de encontrar a coragem e a generosidade para aqueles esforços que exige

de todos a superação de contrastes” (Discurso n. 7). O potencial da juventude coloca também o Brasil numa situação internacional privilegiada e fornece ocasião para “que o Brasil possa contribuir, neste limiar do terceiro milênio, ao clima de estreitamento das relações cordiais e de sincera cooperação no Continente sul-americano, o Continente da Esperança” (Discurso n 10).

Por ocasião da entrega das credenciais pelo Embaixador Oto Agripi- no Maia, o Santo Padre confessou: “As viagens pastorais realizadas no vosso solo pátrio marcaram-me profundamente, consolidando a esperança de que o Brasil queira prosseguir como guia de muitas nações latino-americanas” (Dis- curso n. 13). A história dos últimos anos mostra como o Brasil − ainda que com dificuldades − está dando conta desse papel e como se mostrou previdente a intuição de João Paulo II e a sua fé nos jovens. Apesar das dificuldades que os brasileiros ainda terão de enfrentar, a última palavra permanece sendo a es- perança: “a esperança de que este País-Continente saberá equacionar os seus problemas, para desempenhar bem o papel de primeiro plano que lhe toca, no