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As Qualificações Sociais

No documento NVESTIMENTOSI NTERNACIONAIS E AC (páginas 73-80)

PARTE I – DOS INVESTIMENTOS INTERNACIONAIS

4.10. As Qualificações Sociais

Embora, como dissemos anteriormente, não sejam tipos societários, per

se, juridicamente previstos em nossa legislação, as qualificações a seguir analisadas

têm seu interesse neste trabalho, visto que permitem a atuação da comunidade em defesa e promoção dos direitos humanos.

a) Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP

Primeiramente, cumpre ressaltar que a qualificação como OSCIP somente é conferida às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, que tenham por objeto social pelo menos uma das seguintes finalidades103:

a) promoção da assistência social;

b) promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;

c) promoção gratuita da educação; d) promoção gratuita da saúde;

e) promoção da segurança alimentar e nutricional;

f) defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável;

g) promoção do voluntariado;

h) promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza;

i) experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito;

j) promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;

l) promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais; e

m) estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas nos incisos acima.

Ainda, conforme definido na Lei n° 9.790, de 23 de março de 1999, para qualificarem-se como OSCIP, as pessoas jurídicas interessadas deverão conter em

103

seus estatutos algumas disposições104 específicas, tais como: (i) a observância dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e eficiência; (ii) a adoção de práticas de gestão administrativa, necessárias e suficientes a coibir a obtenção, de forma individual ou coletiva, de benefícios ou vantagens pessoais; (iii) a constituição de conselho fiscal ou órgão equivalente; (iv) a previsão de que, em caso de dissolução da entidade, o respectivo patrimônio líquido será transferido a outra pessoa jurídica qualificada nos termos da Lei n° 9.790/99, preferencialmente que tenha o mesmo objeto social da extinta; (v) a possibilidade de instituir remuneração para os dirigentes da entidade, que atuem efetivamente na gestão executiva; (vi) normas de prestação de contas, observados os princípios fundamentais de contabilidade e das Normas Brasileiras de Contabilidade; (vii) publicação, por qualquer meio eficaz, no encerramento do exercício fiscal, do relatório de atividades e das demonstrações financeiras da entidade; e (viii) realização de auditoria em suas contas, inclusive por auditores externos.

Uma vez cumpridos os requisitos acima apresentados, a entidade sem fins lucrativos poderá formular requerimento escrito ao Ministério da Justiça, solicitando o reconhecimento como OSCIP105.

A principal vantagem da qualificação de entidades sem fins lucrativos como OSCIP é a possibilidade de firmar termos de parceria com o Estado para a execução de atividades de interesse público em regime de cooperação, além da permissão para remunerar seus dirigentes sem que a entidade perca seus benefícios fiscais. O Termo de Parceria é uma alternativa mais simples que as OSCIP possuem de receber recursos públicos para a realização de projetos em cooperação com órgãos das três esferas de governo.

Além disso, as empresas que doarem para a OSCIP poderão deduzir tal doação em até 2% (dois por cento) do seu lucro operacional106.

104

Art. 4º da Lei 9.790, de 23 de março de 1999. 105

Art. 5º da Lei 9.790, de 23 de março de 1999. 106

Por fim, a OSCIP é uma qualificação somente conferida às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, que verdadeiramente atuam no Terceiro Setor, com responsabilidade e transparência. A OSCIP é a efetiva corporificação do conceito de “responsabilidade social”, uma vez que as entidades qualificadas como tal devem prestar contas dos recursos utilizados ao longo do ano, bem como dos resultados alcançados com a sua utilização.

b) Organizações Sociais

As Organizações Sociais (“OS”) são pessoas jurídicas de direito privado, sem finalidade lucrativa, autônomas administrativa e financeiramente, organizadas sob a forma de fundações privadas e associações, que, por meio de uma parceria firmada com o Poder Público, adquirem o título de utilidade pública.

O título de utilidade pública concede às OS, no exercício de suas atividades, vantagens de ordem econômica e financeira, uma vez que a finalidade das OS é beneficiar a sociedade e atender ao interesse público.

A referida parceria formaliza-se por um Contrato de Gestão, elaborado nas formas e condições estabelecidas pela Lei n° 9.637, de 15 de maio de 1998, que dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais; a criação do Programa Nacional de Publicização; a extinção de determinados órgãos e entidades; e a absorção de suas atividades por organizações sociais.

As OS foram constituídas com o intuito de fomentar as atividades de entidades prestadoras de serviços que atendam ao interesse público e à sociedade, atuando em áreas nas quais o Poder Público também atua, porém não com exclusividade, conforme dispõe o artigo 1° da Lei n° 9.637/98:

Art. 1o O Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos aos requisitos previstos nesta Lei. (grifo nosso)

Contudo, cumpre ressaltar que o fato de atuarem como prestadoras de serviços de atividades as quais o Estado também exerce, não significa que o Estado está delegando poderes às OS para exercê-las, ou ainda, que o Estado as está privatizando.

Quanto à publicização, entende-se como a atribuição de uma qualidade de coisa pública a uma entidade que originariamente teria natureza privada. Esta definição compreende as atividades exercidas pelas OS, no sentido de que objetivando atender aos interesses da sociedade, as OS assumem as características de uma entidade pública, atuando juntamente com o Poder Público.

Dessa forma, tem-se que a atribuição deste título especial às OS, diante de sua autonomia administrativa para prestação de serviços de relevante interesse social, beneficia a sociedade como um todo, tendo em vista que as OS estão liberadas de determinados trâmites burocráticos que permeiam o Poder Público no exercício de suas atividades, o que lhe dá maior agilidade e eficiência.

Analisados todos os tipos societários capazes de receber investimentos estrangeiros, assim como os tipos societários que podem auxiliar o setor privado na promoção dos direitos humanos, voltaremos abaixo a estudar os investimentos internacionais e os sistemas criados para a sua proteção.

CAPÍTULO QUINTO. PROTEÇÃO E GARANTIA DOS INVESTIMENTOS INTERNACIONAIS

Tamanha importância é dada aos investimentos internacionais, que diversas instituições e fundos foram criados ao longo das décadas para a proteção dos investidores e dos investimentos realizados em âmbito internacional.

Mais recentemente, tendo em vista os diversos benefícios proporcionados pelos investimentos estrangeiros, notadamente na área econômica e na geração de empregos, os países receptores têm adaptado seus processos e suas normas jurídicas para adotar legislação mais receptiva ao investimento internacional, a fim de proporcionar mais garantias ao investidor estrangeiro.

Neste sentido, segundo Gabriela Sampaio Rabello “existe um processo contínuo, em nível mundial, para que se dê segurança ao fluxo de capitais entre nações, tanto para o país investidor, quanto para o país receptor dos recursos”107.

Porém, num passado recente, foi extremamente importante a criação de instituições e processos que protegessem o investidor externo quando da aplicação de recursos em outro país, garantindo também o seu retorno.

A Convenção de Washington de 1965 e a Convenção de Seul de 1985 são os dois principais tratados internacionais multilaterais, ambos patrocinados pelo Banco Mundial, que objetivam oferecer segurança aos investimentos internacionais e seus investidores.

Esses tratados preocupam-se em oferecer garantias ao investidor externo no sentido de que este: (i) possa repatriar o investimento e os lucros obtidos para o país de origem; (ii) não sofra expropriações108 da propriedade.

107

Op. cit. p. 98 108

Cf. BAPTISTA, Luiz Olavo. Investimentos Internacionais no Direito Comparado. Porto Alegre : Livraria do Advogado, 1998. p. 91.

No que diz respeito à repatriação do investimento e dos lucros, os Estados receptores de investimentos internacionais abordam a questão de duas maneiras: (i) alguns Estados concedem autorização genérica para os investidores que preencham certas condições - como é o caso do Brasil, que exige o Certificado de Registro no BACEN e pagamento de imposto de renda, se for o caso109; (ii) outros, na realidade a maioria dos países desenvolvidos, exigem uma garantia individual, de natureza quase contratual ou de concessão110.

Com relação à garantia da propriedade privada, muitos países, como o Brasil e os Estados Unidos, sujeitam o direito de expropriar ao “interesse público”, expressão paralela ao public purpose, adotada pelos EUA, prevendo que a indenização deve ser “prévia e justa” ou prompt adequate and effetive.

Isto posto, analisaremos neste capítulo os diversos sistemas criados para garantia dos investimentos internacionais, verificando assim o impacto positivo na circulação de divisas no âmbito mundial.

5.1. Convenção de Washington – ICSID111

O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) propôs, através da Convenção de Washington, em 1965, a criação de um organismo voltado para solucionar controvérsias relacionadas a investimentos internacionais, denominado Centro Internacional para a Resolução de Conflitos sobre Investimentos - CIRCI (ICSID – International Centre for Settlement of Investment Disputes).

O CIRCI é um centro de conciliação e arbitragem destinado a solucionar as possíveis controvérsias entre Estados e investidores estrangeiros. Luis Olavo Baptista aponta o CIRCI como o tratado multilateral de garantia de investimentos mais bem-sucedido 112.

109

Atualmente o Brasil não tributa a distribuição de lucros realizada aos acionistas ou quotistas, mesmo que situados no exterior.

110

Cf. BAPTISTA, Luiz Olavo. Op. cit. p. 92 111

ICSID – International Centre for Settlement of Investment Disputes. 112

A Convenção não faz qualquer referência ao que se entende por investimento; no entanto, evidentemente, não se refere a um investimento qualquer, mas sim ao investimento internacional, conforme fica claro pela leitura do artigo 25113 da Convenção, ao dispor que a nacionalidade do investidor deve ser outra que não a do Estado receptor do investimento.

O CIRCI entrou em vigor em 14 de outubro de 1966114, após a sua ratificação pelo 20º país signatário. Atualmente conta com mais de 136 países- membros. Foi criado por acreditar-se que a existência de um organismo especialmente voltado para facilitar a resolução de conflitos entre Estados e investidores externos ajudaria no aumento do fluxo internacional de investimentos.

O CIRCI possui um Secretariado e um Conselho Administrativo chefiado pelo Presidente do Banco Mundial e seus membros são os representantes de todos os países-membros. Apesar de ser um organismo independente, o CIRCI possui relação muito próxima com o Banco Mundial, visto que todos os seus membros também são membros do Banco.

Como dissemos acima, o objetivo do CIRCI é ajudar na solução de disputas e controvérsias entre governos e investidores externos. Esta missão é cumprida por meio de conciliações ou arbitragens, as quais podem ser requeridas por qualquer país-membro, a qualquer momento.

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