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As reformas defendidas no Boletim Mensal Ipês durante a ditadura

CAPÍTULO 3 – O Boletim Mensal Ipês durante a ditadura militar

3. As reformas defendidas no Boletim Mensal Ipês durante a ditadura

interpretação do Ipês em relação à instauração das reformas governamentais durante os primeiros anos da ditadura, em especial aquelas defendidas pelo instituto, bem como as novas temáticas que passam a ser objeto de preocupação dos seus dirigentes publicadas nos Boletins

Mensais. Discute como parte das reformas dos anos iniciais da ditadura no governo Castello

Branco, tais como a política anti-inflacionária e a política de arrocho salarial, têm forte identidade com os ideários do Ipês, e aborda, ainda, como reformas do governo eram defendidas na publicação do Ipês e como elas se relacionam às reformas do Estado Brasileiro, defendidas preliminarmente pelo Instituto. O enfoque tem como objeto as seguintes reformas: política anti- inflacionária através do PAEG e das políticas de arrocho e de controle salarial, bem como as reformas administrativa, agrária, habitacional, tributária e bancária, e a reforma da política de planejamento familiar. Através da análise dessas reformas, pretende-se um melhor entendimento em relação à visão do Ipês sobre essas questões.

Outro aspecto analisado é de como o discurso da Aliança para o Progresso era incorporado pelo Ipês – na seção 4, O Ipês e a Aliança para o Progresso: o alinhamento com a

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publicamente suas concepções em relação a esse tema, trabalhando com o panfleto publicado pelo Ipês em grandes jornais brasileiros, como o Jornal do Brasil em 1962, e examinando como o Ipês entendia a Aliança para o Progresso após o golpe civil militar. A retórica anticomunista do Ipês durante a ditadura é analisada na seção 5, O anticomunismo nos Boletins Mensais Ipês

durante a ditadura, discutindo quais eram seus alvos, os tipos de textos que eram publicados,

e de que forma essa retórica era utilizada como instrumento de defesa da ditadura e de repressão a opositores, comunistas ou não. Outro objetivo dessa seção é mostrar as afinidades entre o Ipês e outras organizações que se envolveram no golpe de 1964 (como o jornal O Globo), através da investigação sobre como o Ipês era visto pelo periódico carioca e como ambos enaltecem a nova ordem. É necessário ressaltar que o anticomunismo do Ipês, durante a ditadura, continua tendo características incisivas, sendo utilizado, naquele momento, com o propósito de defender o governo militar, desqualificar o governo deposto, criticar as greves e manifestações do período precedente, e combater o que consideravam ameaças ao governo que apoiavam. Sobre essa questão, é necessário salientar que o anticomunismo do Ipês permeia todas as suas publicações, como se verifica nos capítulos anteriores e nas outras seções deste capítulo, uma vez que as concepções de mundo do Ipês estavam associadas ao repúdio ao comunismo. Na seção 6, A concepção dual de liberalismo e democracia do Ipês: “democracia” contra o

totalitarismo, discutem-se as concepções de liberalismo e democracia do Ipês e como o discurso

em defesa da democracia é construído de maneira dual, em contraposição ao inimigo delimitado – o comunismo que é associado ao totalitarismo.

Tendo em vista que o tema educação ganha maior importância para o Ipês após o golpe, há uma seção especifica tratando dessa discussão, a seção 7, intitulada A educação sob o ponto

de vista dos Boletins Mensais Ipês. Nessa seção, discutem-se as reformas educacionais

defendidas pelo Ipês, bem como a relação que o Ipês estabelecia entre educação e suas concepções políticas, tais como desenvolvimento econômico e democracia, e também a contraposição entre a educação nesse modelo e a educação comunista. Na seção 8, O

Encerramento das atividades do Ipês Guanabara e do Ipês São Paulo, trataremos das razões

que levaram ao fim das atividades das duas seções.

1. O apoio à ditadura nos Boletins Mensais Ipês

O Ipês foi um dos apoiadores do golpe de 1964, e, com o novo governo, como mostra Dreifuss (2008, p. 475), tornou-se a “voz da revolução” em âmbito nacional e internacional.

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Tais mudanças, como a separação do Ipês Guanabara e São Paulo e o golpe de Estado, levam- no a reavaliar seu papel, passando a se concentrar em cursos voltados para executivos e para atividades educacionais. Ao mesmo tempo, procurou incorporar em seu ideário as concepções do novo governo. Seu discurso externo se modificou. O Ipês passou a ser mostrado como um instrumento contra a subversão, e o seu ideal de democracia foi readequado ao discurso oficial do governo Castello Branco, que instalou uma ditadura militar que se afirmava como uma revolução com o desejo de reinstalar a democracia. Após a conspiração, tratava-se de colaborar com o novo governo:

Em sua fase inicial, que se alongou até princípios de 1964, ao mesmo tempo em que se preparava a opinião pública para a compreensão do mecanismo subversivo que minava a Nação, eram simultaneamente estudadas as principais reformas necessárias ao país para a melhoria do bem-estar social, bem como os textos legais que permitissem as modificações institucionais para a implantação daquelas reformas. Nessa fase, o Instituto contou com apreciável apoio financeiro coletado no meio empresarial, e particularmente com a colaboração de especialistas altamente credenciados para assuntos em estudo.

Vitoriosa a Revolução, o Governo selecionou muitos de seus auxiliares dentre os conselheiros e especialistas do IPÊS para, no ambiente criado, colaborar na implantação dos ideais reformistas que a Revolução trouxe para o cenário público (IPES GB – Relatório Anual Referente ao Ano de 1967, p. 1, grifo nosso).

Além disso, a atuação pública do Ipês na sociedade civil era exaltada na imprensa conservadora130, que também estava envolvida nas articulações que resultaram no golpe de Estado. Por exemplo, no mesmo dia em que o aniversário de dois anos do Ipês era celebrado, o jornal O Globo publicou uma reportagem laudatória intitulada “O Ipês completou dois anos de esforços pela democracia”.

A forma como o Ipês se autorretratava publicamente é mostrada na reportagem de forma acrítica, incorporando-se o discurso ipesiano como uma verdade, ocultando-se sua participação no movimento conspiratório. Os postulados do Ipês são reafirmados nessa reportagem, sendo retratado como uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, que efetuava estudos econômico-sociais de âmbito nacional, preocupada com a democracia e com o bem-estar social, ocultando-se sua participação no golpe de 1964. Louvavam-se também as obras publicadas pelo

130 De acordo com a reportagem da revista O Cruzeiro do dia 23/01/1966, intitulada “A Revolução Festeja seu

Aniversário”, um dos líderes do Ipês, Haroldo Poland, foi homenageado num almoço com 300 líderes de todos os setores empresariais do país, numa mesa presidida pelo ministro Roberto Campos. De acordo com a notícia, “um dos mais devotados conspiradores foi Homenageado pela Revolução antes que o ano terminasse: O Engenheiro Haroldo Cecil Poland, cuja servidão à democracia é uma constante” (REVOLUÇÃO Festeja seu Revolucionário Poland. O CRUZEIRO, 23/01/1966).

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Ipês: 281 mil exemplares de livros e folhetos, e 36 mil exemplares de seu Boletim Mensal (12 números). Publicações essas que, de acordo com a reportagem, além de distribuídas aos associados, foram difundidas pelo país. Nesse período, são defendidas 23 reformas na publicação Reformas de Base: Posição do Ipês, que é amplamente divulgada na imprensa junto com outras obras. As publicações são apresentadas como se fossem obras de um órgão de estudos sério. Oculta-se o uso de outras publicações financiadas pelo Ipês como instrumento para desgastar o governo deposto. Não cita, por exemplo, a obra panfletária UNE Instrumento

de Subversão131, também financiada pelo Ipês, que atacava a UNE. Publicações como essas

resultaram em efeitos práticos. A UNE, no dia 1º de abril de 1964, teve sua sede destruída e, pouco tempo depois, a entidade foi tornada ilegal através da Lei Suplicy de Lacerda, e extinta no governo Costa e Silva (“O IPÊS completou dois anos de esforços pela democracia e pelo bem-estar social”, 31 de mar. 1964, p. 05; DREIFUSS, 2008, p. 466; GORENDER, 2003, p. 77).

O jornal defende a atuação do Ipês, ressaltando seu suposto apartidarismo, que teria sido comprovado na CPI do Ipês/Ibad, e ainda exalta a suposta promoção e incentivo ao aprimoramento do sistema democrático na vida brasileira:

Acaba de completar dois anos de funcionamento o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, instituição mantida por empresários para promover e incentivar o aprimoramento do sistema democrático na vida brasileira. O Ipês é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, destinada a efetuar estudos e pesquisas, econômico sociais de âmbito nacional. No ano passado, o IPES Rio exerceu atividades que atestam a vitória da sua criação através de vários grupos de trabalhos [...] (“O IPÊS completou dois anos de esforços pela democracia e pelo bem-estar social”, 31 mar. 1964, p. 05, grifo nosso).

O Ipês, assim como o jornal O Globo, participou com grande intensidade da ampla articulação civil militar que resultou no golpe de 1964 (REIS FILHO, 2014b, p. 41; 52). O jornal era fortemente anticomunista e defendia reformas do Estado que tinham similaridade

131 De acordo com Dreifuss (2008, p. 307), o Ipês financiou a publicação UNE: Instrumento de Subversão, de

Sonia Seganfredo. A autora foi convidada para escrever o livro pelo Tenente Aquino, baseando-se nos artigos escritos por ela para o Jornal do Brasil em que era denunciada a esquerda sob o título UNE: Meninas dos Olhos

do PC. Seu livro era distribuído aos milhares, denunciando a esquerda, sendo parte de um esforço importante no

sentido de denegrir a atuação da UNE, criando um clima de suspeita. Seganfredo (2008, p.5) associa a UNE a um problema de segurança nacional: “a UNE, esta é a verdade, tornou-se uma das maiores células do comunismo internacional instalada em nosso território, servindo, os seus elementos, aos agentes bolchevistas, de quem, provavelmente, recebem dinheiro, pelos caminhos mais diversos... A entidade estudantil, portanto, constitui-se num problema de segurança nacional [...]” (SEGANFREDO, 2008, p. 5).

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com as concepções do Ipês. Além disso, apresentava-se como um periódico a serviço da democracia, mas participou do golpe. Não é inocente, portanto, a exaltação do Ipês, nas páginas desse jornal.

É importante lembrar que, nos idos de março, o apoio ao golpe foi bastante expressivo entre segmentos majoritários da mídia132, da Igreja, das Forças Armadas, do empresariado e das classes médias, não se tratando, assim, de um apoio restrito a entidades como o Ipês. Como mostram Maria Hermínia Tavares e Luiz Weis no texto Carro Zero e Pau-de Arara: o cotidiano

da oposição de classe média ao regime militar, a mídia em peso apoiou com entusiasmo o golpe,

tendo exultado com o fim das reformas de base e da influência dos sindicatos no governo. Relatam que não houve editoriais clamando contra o desfile nas ruas do sexagenário Gregório Bezerra, amarrado a um veículo militar. Majoritariamente133, a imprensa viu a suspensão dos

direitos civis como um preço a ser pago para o restabelecimento da ordem. Tratava-se de um período em que a sintaxe dos militares e de seus escribas fiéis se propagava pela imprensa, falando-se em “liberdade com responsabilidade”, “crítica construtiva”. Os autores ressaltam também a dependência dos jornais em relação ao governo no triplo papel de financiador, anunciante e censor (ALMEIDA; WEIS, 1998, pp. 351-353).

Já entre os empresários que o Ipês dizia representar, como argumentam Almeida e Weis, devido aos interesses que tinham em jogo, eles não cobrariam os generais que estavam no poder

132Colocando em discussão os 50 anos do golpe de Estado para a revista Estudos Avançados, o jornalista Audálio

Dantas (2014, pp. 67-68) mostra que o tom de campanha adotado pela mídia contribuiu decisivamente para o engajamento da classe média. Naquele período, como mostra Dantas, a vitória em relação ao golpe é festejada pelos grandes jornais, como O Globo, em editoriais efusivos, assim como as revistas semanais da época, O

Cruzeiro e Manchete, lançaram edições extras exaltando o golpe de Estado vitorioso como uma revolução, assim

como fazia o Ipês em suas publicações (DANTAS, 2014).

133Assinalam como honrosa exceção, entre os jornais que apoiaram o golpe, apenas o jornal Correio da Manhã do

Rio de Janeiro, que denunciava os atos de violência por meio de seus editoriais e de textos dos jornalistas Carlos Heitor Cony, Antônio Callado, Marcio Moreira Alves, Paulo Francis, que anteriormente apoiaram a derrubada de Goulart e que passaram a denunciar a ditadura instalada (ALMEIDA; WEIS, 1998, p. 351). A recente obra do jornalista Juremir Machado da Silva intitulada 1964, Golpe Civil Midiático, polemiza, mostrando o apoio de intelectuais que se tornariam importantes opositores da ditadura militar em seus primeiros anos. Para ele, o reacionarismo atinge o ponto mais culminante entre os intelectuais com a publicação da obra Os idos de março e

a queda em abril, escrito por oito jornalistas, tais como Alberto Dines, Antônio Callado, Araújo Neto, Carlos

Castello Branco, Claudio Mello e Souza, Eurilo Duarte, Pedro Gomes e Wilson Figueiredo, que são acusados de bajularem a ditadura recém-instalada e de atacar fortemente o governo João Goulart (MACHADO DA SILVA, 2014, pp. 45-62). Alberto Dines se defende em entrevista à revista Cult, argumentando que, na época, o livro foi uma tentativa de compreensão do golpe, num momento em que as pessoas estavam divididas entre a esquerda e a direita, alegando que ninguém percebia o confronto num contexto em que toda imprensa foi a favor do golpe, e que ele fez a análise por causa dessa situação (HONSI, 2014, s/p). É importante lembrar que jornalistas como Alberto Dines e Antônio Callado foram importantes opositores da ditadura militar. Antônio Callado, por exemplo, esteve envolvido na Guerrilha do Caparaó, como relata em entrevista para o sociólogo Marcelo Ridenti, e escreveu

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por mais democracia, liberdade de pensamento ou pelas crescentes brutalidades cometidas pelos órgãos repressivos. As convicções do empresariado os levaram a se tornar adeptos da nova ordem, compartilhando com os militares o medo do comunismo internacional (ALMEIDA; WEIS, 1998, pp. 351-353). E, no caso especifico dos segmentos empresariais que participavam do Ipês, não havia qualquer interesse em denunciar as arbitrariedades cometidas pela ditadura, porque eram seus cúmplices. O Ipês, como mostramos anteriormente, utilizou intensamente suas publicações para criar um clima de histeria anticomunista, financiou entidades anticomunistas, participou da organização de atos públicos contrários a João Goulart (DREIFUSS, 2008; ASSIS, 2001; STARLING, 1986; GONÇALVES, 2010).

O Ipês apresenta a ditadura ao seu público, nos Boletins Mensais, como uma democracia representativa e econômica, fundada na livre iniciativa, como se a opção pela ditadura fosse coletiva e, além disso, canalizada por uma elite (a coalizão golpista) denominada pela reportagem do jornal O Globo como “forças atuantes que seriam responsáveis por uma nova ordem jurídica e econômica que seria calcada no planejamento”. Avaliza-se a ditadura como se ela fosse uma escolha do povo, ocultando-se a violência e o arbítrio do golpe. Conforme a citação abaixo na seção Gente e Noticia do Boletim Mensal Ipês nº 42-43:

[...] O Brasil fez a sua opção – e essa escolha significa democracia representativa, democracia econômica, livre iniciativa, para complementar a ação pública, sistema de preços e de mercados expostos aos ventos livres da competição sadia. A manifestação do povo, canalizada através de forças atuantes da nacionalidade, legitimou no plano político, um elenco de providencias para instituir a nova ordem jurídica e, no plano econômico, impôs o planejamento capaz de projetar no presente à sombra do futuro [...] (GENTE e Notícia, 1966, p.6).

O alinhamento com a nova ordem chegou a tal ponto que representantes do Ipês foram ao exterior, como porta-vozes do novo governo, defender o golpe de Estado para empresários norte-americanos134. Logo após o golpe de 1964, Haroldo Poland, dirigente do Ipês, em companhia de outros empresários ligados à entidade (isto é, José Luiz Bulhões Pedreira, Luiz Villares, João Reginaldo Cotrim, Paulo Reis Magalhães, Paulo Ayres Filho e Israel Klabin), de acordo com o texto intitulado Brasil/EUA: Encontro de Empresários publicado no Boletim

134O governador da Guanabara, Carlos Lacerda (UDN), de acordo com Lira Neto, viajou para a França para fazer

propaganda do novo governo, substituído interinamente pelo vice-governador eleito indiretamente Raphael Almeida Guimarães (UDN, pois o vice anterior Elói Dutra (PTB-GB), eleito por outra chapa, fora cassado. Dutra era membro da Frente Parlamentar Nacionalista e propôs a CPI do Ibad/ Ipês. Na viagem, Lacerda declarou ao jornal Le Monde, em resposta à pergunta se havia comunistas no Brasil, que sim, e que “nós não os matamos” (LIRA NETO, 2013, pp. 278-280).

112 Mensal Ipês nº 25, em agosto de 1964, viajou aos Estados Unidos135 por conta própria logo após os acontecimentos de abril para explicarem aos empresários do país136 e à opinião pública americana o que, na concepção deles, foi a revolução brasileira.

Com o objetivo de esclarecer a opinião pública americana, foram concedidas várias entrevistas à imprensa, tanto pelo Dr. Haroldo Poland como pelos outros membros da delegação brasileira, explicando o que fora na verdade a Revolução de 31 de março. Dessa forma, desfez-se a falsa impressão reinante em alguns círculos de que o poder no Brasil fora empolgado pelos militares através de um golpe de Estado, quando, na realidade, foi uma revolução de classe média com efeitos mais profundos e extensos do que imaginavam tanto os homens de negócio, como o povo americano e causada não apenas pela forte infiltração comunista no país, mas também e, sobretudo pela corrupção desenfreada que minava o governo anterior, agravando de dia para dia a inflação que ameaçava lançar o Brasil para o caos (BRASIL EUA: Encontro de Empresários In: BOLETIM MENSAL IPÊS, Rio de Janeiro, Ano V, nº 25, ago. 1964, p. 25, grifo nosso).

O golpe de 1964 é apresentado por uma das lideranças do Ipês, Haroldo Poland, na citação acima, como uma revolução democrática de classe média que se volta contra a infiltração comunista e a corrupção desenfreada que, supostamente, minava o governo anterior, negando o caráter militarista do golpe, além de negar que o novo governo fosse uma ditadura, ocultando-se a violação de direitos humanos praticada naquele período (BRASIL EUA: Encontro de Empresários).

Parte expressiva das multinacionais presentes nesse encontro colaborou com o ambiente de desestabilização durante o governo João Goulart. Tratava-se, assim, de um encontro entre conspiradores brasileiros e estadunidenses. Um dos mais ativos conspiradores era David

135De acordo com Dreifuss, nessa viagem, além de desempenhar um papel apologético ao regime, os empresários

estabeleceram contato com diretores de corporações ligados ao Committee for Economic Development – CED (Comitê de Desenvolvimento Econômico), que, em muitos casos, eram executivos de matrizes de companhias que operavam no Brasil (DREIFUSS, 2008 p. 475).

1361) Hulbert Aldrich: Vice- presidente da Chemical Bank of Nova York Trust CO; 2) Richard Aldrich: Vice-

Presidente da International Basic Economy Corp; 3) William Barlow: presidente da Vision Inc.; 4) Henry Borden: presidente da Light e Power Company; 5) John W. Buford: vice-presidente da Hanna Mining Company; 6) Sam Carpenter: Gerente Geral do Departamento Internacional da E. I. du Pont de Nemours e Company; 7) Robert Christopher: redator-chefe do Newsweek Magazine International; 8) John T. Connor: presidente do Merck & Company; 9) Harry Canover: Assistente Executivo do Presidente da CICYP; 10) Aphonse de Rosso: Coordenador da Standard Oil Company; 11) Richard Fenton: presidente da Pfizer International; 12) Leo Fernandes: vice-presidente da Merck & Company; 13) James R. Greene: da Manufactures Hanover Trust Company; 14) Francis Grimes: Vice-presidente do Chase Manhattan Bank; 15- Clarence Hall: Redator Chefe do Readers Digest Association; 16) Philip Holmman: Presidente da Johnson & Johnson International; 17) Donald Kendall: presidente da Pepsi Cola Company; 18) Francis Mason: Vice-presidente do Chase Manhattan Bank; 19) Maurice McAshan Jr.: presidente da Anderson Clayton; 20) McCullongh: presidente da General Eletric do Brasil; 21) George Moore: Presidente do First National City Bank; 22) David Rockefeller: Chase Manhattan Bank (BRASIL EUA: ENCONTRO DE EMPRESÁRIOS In: BOLETIM MENSAL IPÊS, Rio de Janeiro, Ano V, nº 25, ago. 1964, p. 25, grifo nosso; Bandeira, 2012).

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Rockefeller que, segundo Moniz Bandeira (1994, p. 114), atuou para desgastar ao máximo o governo João Goulart com apoio da CIA. Outras multinacionais que contribuíram para o clima de desestabilização também enviaram representantes para o encontro, tais como a Hanna Mining Company, empresa que pressionava o governo Kennedy a não dar nenhuma assistência ao governo João Goulart. Destaca-se também, nesse encontro, a participação de representantes da imprensa dos Estados Unidos, tais como a revista Newsweek Magazine International e da

Reader Digest Association137.

Nesse encontro, os dirigentes do Ipês endossam as teses da equipe econômica do governo Castello Branco, defendendo a necessidade de providências com o objetivo de revitalizar, o mais rápido possível, a vida do país. Defendem o programa de estabilização econômica do governo.

A publicação apoia o diagnóstico da equipe econômica do governo que responsabilizava a inflação pelo clima de insegurança e estagnação econômica e, enaltecendo a política econômica governamental, afirmam que, “com um programa honesto e confiando na colaboração dos países amigos, espera o novo governo dar ao Brasil condições de vida e não