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O anticomunismo nos Boletins Mensais Ipês durante a ditadura

CAPÍTULO 3 – O Boletim Mensal Ipês durante a ditadura militar

5. O anticomunismo nos Boletins Mensais Ipês durante a ditadura

Após o golpe militar, o comunismo ainda é visto como uma ameaça, segundo o ponto de vista do Ipês, e isso se expressa fortemente nos Boletins Mensais Ipês. A recorrência ao anticomunismo pelo Instituto durante a ditadura é disseminada naquele período a partir de um discurso dualista, fazendo a comparação entre as vantagens do regime capitalista e do regime comunista. Outra estratégia consistia em mostrar o comunismo como uma ameaça

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internacional, mostrando exemplos de países comunistas, tais como Cuba, União Soviética e os países do Leste Europeu. Apresentava-se, também, o comunismo como uma ameaça interna, sob a lógica do “inimigo interno” responsável pela subversão.

Nos Boletins, isso aparecia claramente e, durante o governo Castello Branco, o anticomunismo que, no governo João Goulart, expressava-se na publicação de maneira aparentemente sutil, torna-se mais explicito por meio de textos cujo alvo preferencial de críticas era o comunismo, sem disfarces, junto dos textos menos explícitos, mas igualmente anticomunistas.

O anticomunismo do Ipês utilizava as seguintes estratégias de desqualificação do seu inimigo: o argumento econômico, para mostrar que os regimes comunistas seriam atrasados; o argumento geopolítico, defendendo que o comunismo seria uma ameaça mundial e o Brasil um dos palcos da luta; e a tese da infiltração comunista, acusando os comunistas de estarem presentes em todas as instituições. Outro recurso era a comparação. Comparava-se o governo João Goulart com o governo Kerensky, ou com Jacob Albernaz163, associando-o à instabilidade política, ao caos, à desordem e ao perigo de o país se tornar comunista.

Os textos apresentados nos Boletins nesse período eram, em grande parte, de autoria dos próprios dirigentes do Ipês; havia também traduções de textos anticomunistas de autores estrangeiros, de representantes das Forças Armadas como a revista Est Ouest, além de publicações de jornais brasileiros, e de Ipês regionais, como o Ipesul. Todo esse tipo de material era publicado nos Boletins. Os discursos nesses textos apresentavam forte confluência com os valores dos membros e conferencistas do Ipês. Os textos publicados eram de autoria de empresários, militares, e militantes anticomunistas que apresentavam valores muito próximos não apenas em relação ao Ipês, mas também em relação à ESG.

Um dos enfoques do anticomunismo ipesiano era a economia, utilizando como estratégia de desqualificação, a comparação do modelo econômico soviético de planejamento e intervenção estatal com o modelo de economia de mercado de países como os Estados Unidos e os da Europa Ocidental, como no texto “Comunistas usam a Economia do Mercado” no qual o autor Haroldo Poland tenta comprovar que o modelo econômico soviético não é um bom modelo de desenvolvimento econômico, porque, no caso da URSS, trata-se de um confuso regime misto. Desqualifica o desenvolvimento econômico soviético, alegando que países subdesenvolvidos também podem alcançar taxas de desenvolvimento econômico mais

163 Kerensky foi o primeiro ministro do governo provisório russo que deixou o poder, após a Revolução Russa de

1917. Jacob Albernaz foi presidente da Guatemala, derrubado por um golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos em 1954.

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elevadas. Os níveis de industrialização da URSS, entretanto, são considerados como altamente custosos por ocorrerem à custa do consumo, dos salários baixos e da imposição de um regime de trabalho extenuante. A URSS é descrita como um modelo típico de um estado totalitário, além de ser qualificado como um país atrasado em termos econômicos.

[…] os exemplos da Rússia e, mais tarde, da China Comunista, diz-nos Ernerto Conine, constituem provas convincentes de que países atrasados podem se industrializar em prazos surpreendentemente curtos, desde que estejam dispostos a obrigar os seus cidadãos a fazer aquilo que, até hoje, nenhum povo fez voluntariamente: suportar prolongada pobreza e irritante arregimentação enquanto mantém altos níveis de investimento […] (POLAND 1966, p. 12).

Outro recurso para delimitar o comunismo como ameaça, utilizado pelos Boletins

Mensais Ipês, era publicar traduções de periódicos estrangeiros. O propósito era apresentar o

comunismo como uma ameaça mundial e mostrar que os empresários brasileiros não estavam livres dela. Publicavam-se textos da América Latina, da Rússia e dos Estados Unidos, de autoria de jornalistas, oficiais das forças armadas, empresários. Abordaremos a seguir alguns desses artigos. Os temas abordados privilegiavam a China Comunista, Cuba, grupos comunistas latino- americanos, tratados como uma ameaça mundial, da qual o Brasil seria um dos palcos.

Um dos autores que tinha como enfoque apresentar o comunismo como uma ameaça mundial era Ottocar Rosários, apresentado como um empresário argentino que viajou a China durante o governo Mao Tsé-Tung, conhecendo pessoalmente o sistema de governo comunista. No Boletim Mensal Ipês nº 26-27, é publicado o texto intitulado “O Ocidente e o Conflito Sino-Soviético”, extrato de uma conferência de Ottocar Rosários à Força Aérea Argentina. A publicação de tal texto evidencia o fato de que o Ipês se articulava com entidades similares em países latino-americanos que tinham ligações com militares anticomunistas.

O enfoque do texto é geopolítico, explorando os conflitos entre União Soviética e China no movimento comunista mundial, apresentado como uma ameaça estratégica ao Ocidente Cristão; para provar isso, utiliza-se da tese da infiltração comunista nas “instituições democráticas”. Um dos recursos argumentativos do autor do texto é apresentar-se como um representante do empresariado que se sente ameaçado pelo comunismo, caracterizado como uma ameaça mundial, não apenas aos países do Leste Europeu, mas também do Ocidente, como uma concepção que faria lavagem cerebral nas pessoas.

Desqualificam-se as concepções marxistas, expostas como se fossem um dogma religioso que faz previsões catastróficas nunca realizadas. Ottocar compara os marxistas com

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pessoas supersticiosas e fanáticos religiosos que acreditam nas previsões de fim de mundo, no ano 1000, ou em 1910, com o Cometa Halley, num argumento desqualificador.

A predição marxista de derrocada do capitalismo por via revolucionária levou insensivelmente a ressaltar a própria ideia do progresso evolutivo. Bastou que o marxismo anunciasse o caráter catastrófico das crises econômicas e capitalistas para que a ideia de catástrofe, de decadência, de mudança total e revolucionária, se infiltrasse nas mentes ocidentais pouco a pouco, com a mesma firmeza irracional com que se anunciava o fim do mundo ao iniciar se o ano 1000 ou quando se temia o choque da Terra com o cometa Haley, por volta de 1910. Na mente do homem há uma quota de irracionalidade que deve ser constantemente satisfeita e vemos, com frequência, pessoas que se julgam racionais atitudes que escapam a qualquer controle reflexivo. Sem que Marx talvez o imaginasse, sua ideologia veio servir para canalizar a tendência em acreditar-se na catástrofe (ROSARIOS, out. 1964, p. 24).

Marx é qualificado como um profeta de uma profecia não realizável, e os marxistas são acusados de se utilizarem de profecias para tornar aceitável um golpe revolucionário e para se infiltrar nas instituições democráticas, disseminando as concepções que, segundo o autor, seriam catastróficas. Reduzido a uma religião, o marxismo não seria sequer uma filosofia, mas um sistema de ideias disputando influência com o cristianismo.

O marxismo sempre se apresentou como uma profissão de fé. Por isso, tantos pensadores, puderam a caracterizar como uma nova religião. Toda a religião se manifesta por uma filosofia, um dogma, uma moral e uma igreja. Pois bem, o marxismo, constitui única exceção no mundo, sustenta um sistema de ideias e estrutura e rigidez dogmática, prática uma moral própria e está organizado em uma poderosa Igreja supranacional, que disputa com o cristianismo sua influência ecumênica. Trata-se de uma disputa entre duas maneiras inconciliáveis de viver (ROSARIOS, out. 1964, p. 25).

Outra característica do texto de Ottocar é qualificar o comunismo como uma ameaça mundial sob a disputa de liderança entre China e União Soviética. Constrói-se uma relação de oposição entre esses dois países, que se expressaria em termos étnicos, sociais e de idade da classe dirigente. Enquanto a União Soviética seria uma revolução mais antiga, conservadora, nacionalista e burocrática, a China Comunista é mostrada como um país formado por uma classe dirigente mais jovem, mais monolítica. A China é descrita como um país que lidera os países pobres e desafia o poder da União Soviética, que lideraria os países ricos. Haveria, de acordo com essa argumentação, uma quebra de unidade, um cisma no movimento comunista mundial que poderia chegar a uma guerra entre os dois países. Segundo Rosários (1964), diante do conflito sino-soviético, o Ocidente deveria reforçar não somente as defesas militares, mas,

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sobretudo, as espirituais; recomenda-se, assim, a renovação da Igreja Romana, o avanço de uma democracia social e o rejuvenescimento do capitalismo como defesas contra o comunismo.

O mesmo recurso de se apresentar como um viajante que conheceu pessoalmente o regime comunista chinês é utilizado no texto intitulado “Como um argentino viu e sentiu a China Vermelha”. Nesse texto, Rosários descreve as condições de trabalho na China, que diz ter presenciado pessoalmente. O texto apresenta um caráter descritivo, narrando as condições de trabalho dos trabalhadores chineses que são mostradas como degradantes. Associa as condições de trabalho à falta de um sindicato e, claro, critica o regime chinês que, de acordo com o autor, não deixaria os sindicatos funcionarem. Rosários associa a não existência de sindicatos à ideologia comunista, segundo a qual os sindicatos só servem quando o patrão é particular, não quando o patrão é o Estado comunista. Com base nisso, constata que o pior patrão é o Estado Comunista. Outro texto que explora as disputas entre URSS e China é Acordos

e desacordos da linha Soviética e da linha Chinesa no Brasil, de autoria de Branko Lazithc (da

revista Este & Oeste, publicado anteriormente em julho de 1965).

Além dos textos sobre a China, havia também nos Boletins espaço para publicações sobre outros países comunistas, tais como a União Soviética ou a Iugoslávia. O recurso utilizado é expor uma interpretação anticomunista da situação interna dos países do Leste Europeu, em artigos como “Primeiras Medidas dos Novos Líderes Soviéticos” (pp. 53-59), de autoria de Panas V. Fedenko, ou “Caminho de Tito”, publicado anteriormente no jornal The Interpreter. Tais textos são utilizados para produzir descrença em relação ao comunismo, para apresentá- los como ameaça interna.

O artigo “Caminho de Tito” discute a recondução do Marechal Tito ao Comitê Central do Partido Comunista durante o 8º Congresso, em 1963, quando se esperava sua queda, tendo em vista a sua idade avançada, e, por causa de uma resolução interna da Liga Comunista preconizando que deveria haver renovação, estabelecendo que os membros de órgãos públicos não deveriam ser eleitos para períodos consecutivos. Porém, Tito é reconduzido, garantindo a continuidade do modelo iugoslavo de política econômica de autogestão. O autor procura expor as contradições internas do regime iugoslavo, explorando as incertezas. Outro aspecto dessa argumentação é a previsão de uma resistência nacionalista em relação ao governo, disfarçada de resistência à política de descentralização. Apresenta-se, assim, uma forma de análise de conjuntura interna do país, explorando os seus problemas internos.

Em “Primeiras Medidas dos Novos Líderes Soviéticos” de Penas Fedenko, também publicado no Boletim Mensal Ipês nº 32-33, procura-se explicar os motivos que levaram à queda

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de Nikita Kruschev. O fato é explicado pelo medo de um retorno do culto à personalidade, pelo descumprimento dos planos traçados, tais como o que o autor classifica como caóticos decretos agrícolas do líder soviético deposto.

Outro texto faz referência a Cuba: em “A influência do castrismo na América Latina”, Brian Crozier sustenta que o castrismo teria perdido força na América Latina. A preocupação expressa nessas linhas é em desacreditar a figura de Fidel Castro, liderança importante na América Latina naquele período, que influenciava setores importantes de esquerda. Um dos recursos utilizados é apontá-lo como um demagogo qualquer que se aproveita do antiamericanismo presente no Continente. Tal tendência é encarada por Crozier como uma atitude emotiva, como um complexo antitanque a ser explorado por qualquer aproveitador. Fazendo referência à Crise dos Misseis, afirma que Castro se colocaria na condição de um Davi contra um Golias (no caso, os EUA), auxiliado por um poderoso Hércules, isto é, a União Soviética. Afirma também que, quando se dizia que Fidel Castro era comunista, os intelectuais cubanos gargalhavam. Os recursos retóricos utilizados por Crozier criam, dessa maneira, uma imagem de um demagogo que seria comunista por conveniência. Outro recurso para desqualificação é apontar uma suposta diminuição do prestigio de Fidel Casto na América Latina e mostrar como perigosa a influência da guerrilha cubana e do castrismo em países latino-americanos. Aponta como exemplos a Venezuela, Guatemala e El Salvador.

Para comprovar a suposta perda de prestigio de Castro, utiliza como exemplo a Venezuela, argumentando que a interferência castrista não foi suficiente para que houvesse uma adesão maciça à guerrilha local. Defende que a influência nos sindicatos de um dos partidos venezuelanos, Ação Democrática, teria contribuído para que a influência comunista fosse minimizada. A retórica anticastrista procura também associar políticos brasileiros à figura de Fidel Castro. Os exemplos apontados seriam o que ele denomina como PC dissidente (PC do B), Leonel Brizola e Francisco Julião.

Outro aspecto de desqualificação é apresentar Fidel Castro como uma liderança pouco confiável, que joga de acordo com suas conveniências. Aponta uma postura dúbia de Castro que, apesar de ter uma proximidade maior com a China, mantinha-se também alinhado com a URSS. Isso é apontado como recurso contra a perda de prestigio, porque os PCs continuaram alinhados ao PC da URSS.

Os Boletins apresentavam espaço para que militares publicassem, a exemplo do texto “Situação atual do comunismo e sua infiltração particularmente na América Latina e Brasil”,

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transcrição da conferência do Coronel Carlos Alberto Fontoura164 e do major da Cavalaria Washington Bermúdez165, reproduzida no Boletim Mensal Ipês nº 42-43, tendo sido publicada anteriormente no periódico Democracia e Empresa, do Ipesul. De acordo com a apresentação do texto na seção Mesa de Redação, os palestrantes eram do Estado-Maior da 6ª Divisão de Infantaria, com sede em Porto Alegre. A conferência era parte do programa de instrução de oficiais daquela Grande Unidade, tendo sido orientada pelo seu General de Divisão Adalberto Pereira dos Santos166. O motivo da publicação dessa conferência, de acordo com o editorialista do Ipês, foi sua enorme repercussão (MESA de Redação, 1966, p.4). A reprodução dessa

164 Carlos Alberto Fontoura tornou-se coronel em agosto de 1961 do III Exército, no Rio Grande do Sul,

participou das articulações que redundaram no golpe de 1964, atuando na desmobilização de tropas no interior do Rio Grande do Sul, organizadas para resistir ao golpe por Leonel Brizola. Entre os anos de 1965 e 1966, foi subchefe de gabinete do ministro do Exército, Artur da Costa e Silva (1964-1966), tendo sido promovido a general- de-brigada em 1966. Participou de cursos da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – ECEME, e, nos Estados Unidos, do Comand and General Staff College. Foi instrutor da ECEME, comandante do 8º Regimento de Cavalaria, sediado em Uruguaiana (RS), e chefe do estado-maior da 2ª Divisão de Cavalaria e da 6ª Divisão de Infantaria (6ª DI). Foi chefe do estado maior do III Exército (1967- 1969) no governo Costa e Silva, chefe do Serviço Nacional de Informações – SNI (1969-1974) nos governos Costa e Silva e Médici. Foi promovido a general de divisão, em 1971, no governo Médici. Foi embaixador brasileiro em Lisboa no governo Geisel (1974-1978), o que coincidiu com a Revolução dos Cravos. Em dezembro de 1975, o general Fontoura pediu sua passagem para a reserva do Exército. Foi transferido para a reserva por decreto de fevereiro de 1976, e reformado em 1981, falecendo em 11 de julho de 1997 (FONTOURA, 2010, s/p.).

165 Washington Bermúdez: Foi coronel da cavalaria secretário da Segurança Pública no Rio Grande do Sul (1966)

no governo Ildo Meneghetti (PSD-RS) e assessor parlamentar do Ministério do Exército. Recebeu a medalha do Pacificador em 1971. Durante a ditadura militar, essa honraria era concedida aos agentes da repressão. Foi um dos acusados de estar envolvido num dos primeiros casos de tortura e morte na ditadura brasileira, ainda no governo Castello Branco, conhecido como caso Mãos Amarradas. Esse caso se refere ao assassinato do ex-sargento Manoel Raimundo Soares que foi preso protestando contra a vinda a Porto Alegre de Castello Branco, em 11 de março de 1965. Era acusado de ligação com Leonel Brizola, o que o tornava subversivo. Preso, sofreu uma série de torturas nas prisões por onde passou (DOPS, Ilha Presidio). Foi assassinado no dia 24 de agosto de 1966. Seu corpo foi encontrado com as mãos amarradas às costas, boiando na Ilha Pintada. Uma carta de seu ex-companheiro de cela, Luiz Renato, denuncia o assassinato do ex-sargento a sua esposa e é publicada no jornal Última Hora. Diante da repercussão, em 1967, foram abertos vários inquéritos e uma CPI na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, que resultou no pedido de indiciamento de Bermúdez e outros envolvidos. Porém, os responsáveis não foram punidos (PALMAR, 2012, s/p.; TORTURADORES, 2012, BRASIL. Comissão Nacional da Verdade v. 2, pp. 605- 606).

166 Adalberto Pereira dos Santos: Militar gaúcho nascido em Tiquará, ligado à Escola Superior de Guerra. Cursou

o Colégio Militar de Porto Alegre, a Escola de Estado Maior do Exército, no Rio de Janeiro, e a Escola Superior de Guerra, nos anos 1950. Tornou-se general em 1960. Com larga trajetória em comando de escolas militares, foi Comandante da 6ª Divisão de Infantaria (6ª DI), sediada em Porto Alegre. Participou da Revolução de 1930 e do combate à Revolução Constitucionalista de 1932; integrou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a 2ª Guerra Mundial, onde serviu como oficial de ligação na 1ª Divisão de Blindados do Exército norte-americano. Durante o governo João Goulart, foi oposição, tendo sido exonerado da 6ª DI por criticar as medidas anunciadas pelo presidente da República no Comício do dia 13 de março de 1964, afirmando que elas levariam à “comunização do país”. Participou da conspiração que levou ao golpe de 1964, reassumindo o comando da 6ª DI durante o governo Castello Branco. Ainda nesse governo, comandou a 1ª DI e a Guarnição da Vila Militar, ambas no Rio de Janeiro. Em 1965, foi promovido a general-de-exército e assumiu o comando do I Exército, no Rio de Janeiro. No governo Costa e Silva, foi chefe do Estado-Maior do Exército (EME) e participou da reunião na qual foi aprovado o Ato Institucional nº 5, votando favoravelmente. Entre 1969 e 1973, torna-se ministro do Superior Tribunal Militar (STM), período em que tratou de processos de presos políticos e no qual foi presidente no biênio 1973-1974. Durante o governo Ernesto Geisel, foi vice-presidente da República (SANTOS, 2010; SOUZA PINTO, 2008).

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conferência mostra a preocupação do Ipês em disseminar textos anticomunistas de oficiais das Forças Armadas ligados à ESG.

O enfoque dos autores é geopolítico, apresentando as relações internacionais como marcadas pela forte mundialização. É nesse contexto que o comunismo é apresentado como uma ameaça de caráter mundial. Uma das referências utilizadas é a do geógrafo Harold Mackinder para justificar o avanço de um suposto Bloco Comunista.

A história do comunismo no Brasil e no mundo é traçada a partir de uma perspectiva anticomunista com base nos pressupostos da ESG, utilizando-se de categorias como guerra psicológica, guerra revolucionária etc. Além disso, é elaborado um panorama da ameaça do comunismo em todo o mundo, por meio de gráficos, tabelas, mapas, referências bibliográficas, tudo para dar um caráter científico à sua exposição e para supervalorizar a suposta ameaça. Uma das tabelas faz referência aos partidos comunistas pelo mundo, medindo o seu grau de influência. Outra aponta os armamentos da União Soviética, mostrando-os como uma ameaça aos Estados Unidos e seus aliados, que estariam em postura defensiva contra o Bloco Soviético. Este usaria como recurso a infiltração e a osmose.

Em outra tabela, é indicado o grau do que denomina “infiltração comunista” no governo e nas instituições brasileiras. A lista apresenta os nomes de supostos comunistas que integram o quadro em órgãos governamentais, imprensa e sindicatos. O texto menciona o XXIII Congresso do Partido Comunista da União Soviética – PCUS, no qual teria sido defendida a tomada do poder através de uma frente democrática nacionalista, explorando as múltiplas