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Belo Horizonte surgiu de uma só vez e possuía um projeto original rigorosamente demarcado. Porém, algum tempo depois de sua inauguração apareceram as colônias agrícolas, outra maneira de ocupar a cidade projetada pelo governo. A partir do surgimento dessas colônias e seções da população é que emergiram os bairros conhecidos até os dias atuais.

A área territorial de Belo Horizonte é de 330,90 km². Para gerir esta cidade tão grande, a prefeitura criou unidades administrativas que ficaram conhecidas como regionais. Suas áreas foram delimitadas em lei no ano de 1985, sendo que duas dessas regionais já existiam – Barreiro e Venda Nova. Atualmente são nove regionais: Barreiro, Centro-sul, Leste, Nordeste, Noroeste, Norte, Oeste, Pampulha e Venda Nova.

A escolha das regionais Barreiro, Leste e Oeste está fundamentada nos pressupostos da teoria sociolinguística e diretamente associada às características socioeconômicas de cada região. Vale lembrar que será feita uma descrição da regional Barreiro como um todo e das regionais Leste e Oeste, sendo que a maior parte dos informantes dessas zonas, em especial, é dos bairros Santa Tereza e Prado.

4.2.1 Regional do Barreiro

Nesta subseção serão apresentadas informações sobre a Regional Barreiro, uma das localidades escolhidas para a realização dessa pesquisa. Os dados foram retirados do site da Prefeitura de Belo Horizonte, especificamente, do projeto Histórias de Bairros de Belo Horizonte, realizado pelo departamento de Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, desde 1999.

As regionais são compostas por bairros localizados na mesma região, que possuem certas identidades em comum, porém não são idênticas.

A regional Barreiro está associada à história de Belo Horizonte, devido à necessidade de produzir os alimentos próximos à capital. Assim, como o uso da geladeira não era comum e o acesso ao transporte era restrito e precário, a regional se desenvolveu inicialmente por estar próxima a Belo Horizonte e, assim, criar suas plantações com intuito de abastecer a capital.

Inicialmente, os bairros da regional Barreiro eram formados por fazendas antigas. Antes mesmo da construção de Belo Horizonte, foi fundada, em 1855, a Fazenda do Barreiro que se estendia por uma grande área. Por volta de 1880, essa propriedade foi repartida, dando origem a duas fazendas, do Pião e do Barreiro.

Na época em que Belo Horizonte estava sendo construída, a fazenda Barreiro era afastada do centro da capital. Porém, sua importância para a cidade já era notada, porque existiam muitos cursos d’água que poderiam abastecer o município. Com isso, o governo do Estado de Minas Gerais comprou a fazenda e criou a Colônia Agrícola do Barreiro.

O governo do Estado vendia as terras para os colonos, com intuito de assegurar o cultivo das mesmas. Os colonos eram brasileiros, italianos, portugueses e alemães, sendo que esses imigrantes vieram para o Brasil no final do século XIX e início do século XX, em busca de melhores condições de vida.

Devido à ausência de investimentos do governo estadual, a antiga colônia do Barreiro foi abolida. No entanto, os moradores deram prosseguimento à produção de alimentos na região. Em 1907, a prefeitura notou a importância e necessidade de aproveitar os recursos naturais da região e criou a nova colônia agrícola, Vargem Grande. O interesse nessa regional explica-se pela presença de muitos cursos d’água.

Até meados do século XX, a região do Barreiro estava ligada ao cultivo da terra. Entretanto, em 1948 o desenvolvimento chegou ao Barreiro, fazendo com que a prefeitura transformasse a regional em uma cidade satélite de Belo Horizonte. Devido ao potencial e história do lugar, a área seria planejada para intensificar a atividade rural, especificamente, a produção de gêneros agrícolas. Não obstante a intenção da prefeitura, a criação da cidade satélite significou o começo de uma transformação da área, devido ao aparecimento de indústrias ao norte da região. A partir de então, foi dado início a formação dos bairros, construção de casas e ruas, fazendo com que a região do Barreiro crescesse consideravelmente.

Foram instaladas indústrias ao sul da região e criada a Via do Minério, que impulsionaram a abertura de novos bairros. Além disso, com a melhoria e facilitação do acesso ao Barreiro, a região recebeu uma grande indústria alemã, a Mannesman, que impulsionou ainda mais o crescimento de bairros e da regional Barreiro. Essa indústria, associada a outras mudanças, fizeram com que o modo de vida rural fosse substituído pelo das cidades grandes.

A última área a ser ocupada do Barreiro foi a antiga Fazenda do Jatobá. Essa região chegou a receber alguns colonos, porém o povoamento só aconteceu de fato na década de 1960, com a construção do Conjunto Habitacional Vale do Jatobá, pela Companhia de Habitação de Minas Gerais – COHAB – MG, programa responsável por construção de casas populares.

Atualmente, a região do Barreiro é a segunda mais movimentada de Belo Horizonte, perdendo apenas para o centro comercial da capital mineira. É formada por mais de nove mil empresas de comércio e prestação de serviços, profissionais autônomos, indústrias de pequeno e grande porte, shopping e diversas instituições que caracterizam a regional Barreiro.

A infraestrutura do Barreiro é bem organizada. O comércio e prestação de serviços concentram-se, principalmente, no Barreiro de Baixo, nas Avenidas Visconde de Ibituruna, Sinfônio Brochado e Afonso Vaz de Melo. A regional do Barreiro possui várias agências bancárias, postos de gasolinas, supermercados locais, agência-sede de grande importância dos Correios, cartório de Registro Civil, Ofício e Notas, Fórum de Justiça, Juizado de Pequenas Causas, Cartório Eleitoral, Delegacia Regional do Trabalho, Agência do Sistema Nacional de Emprego (SINE), Posto PSIU, Agência SENAC, dentre outros.

Em relação à educação, a região do Barreiro possui boa estrutura educacional. No total são 27 escolas municipais, 40 escolas estaduais e 24 creches conveniadas à prefeitura de Belo Horizonte. Além dessas, existem as escolas particulares, cursos pré-vestibulares, profissionalizantes, 3 faculdades, com ênfase para PUC – MG, que tem um campus amplo na região.

4.2.2 Regional Leste - Santa Tereza

Nesta subseção serão apresentadas informações sobre a Regional Leste, que possui bairros tradicionais, como o Santa Tereza e Floresta. Os dados foram retirados do site da Prefeitura de Belo Horizonte, especificamente, do projeto Histórias de Bairros de Belo Horizonte, realizado pelo departamento de Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, desde 1999.

Nos primórdios de Belo Horizonte, o bairro Santa Tereza foi chamado de Colônia Américo Werneck, Bairro da Imigração, Alto do Matadouro, Bairro do Quartel e Fundos da Floresta. O nome oficial foi dado em 1928, e sua origem possui muitas versões. Três delas são: inspiração no bairro carioca de Santa Tereza, referência à imagem da santa espanhola

Santa Tereza D’Ávila e por fim, sugestão dos moradores, devido ao letreiro do bonde que ia para o bairro.

O bairro Santa Tereza faz parte do conjunto de bairros antigos da capital mineira. Sua história começou concomitantemente com o planejamento inicial de Belo Horizonte, e ainda hoje guarda em suas ruas lembranças e memórias dos primeiros tempos.

A ocupação primeira do bairro Santa Tereza foi favorecida devido aos vales dos dois córregos que fazem parte da hidrográfica do Ribeirão Arrudas. Sua formação se deu a partir do planejamento das áreas suburbanas e do desmembramento de duas colônias agrícolas que existiam na região, Colônia Córrego da Mata e a Colônia Bias Fortes.

Santa Tereza possuía muitas plantações, hortas, áreas de pastos para alimentar e criar os animais, dentre outros. Aliada à ocupação das colônias, o fato de ser uma região que fornecia produtos hortifrutigranjeiros consumidos na capital, fez com a prefeitura se preocupasse e abrisse vias de acesso a esses núcleos agrícolas.

O bairro ainda guarda características da década de 1960, apesar da substituição irregular de muitas casas por prédios.

A fama do bairro Santa Tereza é de ser, tradicionalmente, um reduto boêmio da capital mineira, devido às casas de serestas e bares. As pessoas ligadas à arte costumavam se encontrar para confraternizar, compor músicas, dançar e cantar durante as madrugadas. Prova disso é o movimento musical conhecido como Clube da Esquina, que marcou o início da carreira de pessoas consideradas importantes no cenário cultural brasileiro, como Tavinho Moura, Wagner Tiso, Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Márcio Borges, Ronaldo Bastos, Fernando Brant e a banda 14 Bis. Já na década de 1980, o bairro foi o local onde surgiu a banda Sepultura, e logo depois, a banda Skank. Com todo esse aparato cultural, Santa Tereza é considerado um dos bairros que mais contribuiu para o surgimento do cenário musical de Minas Gerais.

O bairro Santa Tereza, atualmente, consegue agregar o antigo e o atual em sua arquitetura, mantendo e renovando a beleza das casas e praças. Possui casas de seresta e feiras de artesanato, que são atrativos para os moradores de outras regiões e turistas. A Praça Duque de Caxias é um dos lugares mais visitados, por ter um ambiente agradável e familiar. Ao seu redor existem vários bares e restaurantes, antigos e novos, que fazem do local um verdadeiro palco para a realização de shows e manifestações culturais. Portanto, a variedade de opções para diversão e lazer fazem do bairro Santa Tereza uma referência cultural de Belo Horizonte.

4.2.3 Regional Oeste – Prado

O bairro Prado é um dos mais tradicionais de Belo Horizonte, por ter sua história ligada diretamente à criação da capital. Na conhecida rua Platina, passaram as carroças que trouxeram material de construção para organizar e arquitetar as obras de edificação de Belo Horizonte.

Em 1928 o desenvolvimento começa a chegar ao bairro, devido à implantação dos primeiros bondes elétricos e as pequenas chácaras foram substituídas por construções feitas por operários.

Após a aprovação da lei do Uso e Ocupação do Solo Urbano, na década de 1970, quase toda a cidade seguiu a tendência de verticalização da arquitetura urbana. Porém, o bairro Prado não assimilou essa mudança com a rapidez que os outros bairros fizeram. Portanto, o processo de verticalização do bairro foi gradual e, consequentemente, manteve grande parte de seu aspecto histórico de ambiente residencial. Ainda hoje, o Prado é considerado um bairro tradicional e residencial.

O Prado é um bairro marcado por conservar algumas de suas características tradicionais, mesmo já tendo passado mais de um século de sua inauguração. Atualmente, a arquitetura do bairro tem mudado rapidamente, devido à construção de prédios no lugar de casas. Outra marca da atualidade do bairro é a quantidade considerável de confecções que estão se instalando na área.

A origem do nome do bairro se deve ao antigo hipódromo de Belo Horizonte, o Prado Mineiro, inaugurado em 1909 pelo prefeito da época, Prado Lopes. Nesse local aconteciam corridas de cavalo, que deram início às primeiras atividades turísticas da capital. Em detrimento desse tipo de esporte, a pista de corrida foi substituída por um campo de futebol, onde sucediam importantes jogos do Campeonato Mineiro. Tais jogos eram pleiteados pelos primeiros clubes da cidade, como Clube Atlético Mineiro, América Esporte Clube, Societá

Sportiva Palestra Itália – atual Cruzeiro Esporte Clube -, dentre outros. Além desses eventos,

o Prado Mineiro foi palco do primeiro voo de aeroplano realizado em Belo Horizonte. Em seguida, o espaço foi ocupado pelo Comando da Polícia Militar de Minas Gerais – PMMG, que instalou o Departamento de Instrução – DI, com a finalidade de formar recrutas da corporação. Posteriormente, foi instalado, também, a Academia de Polícia Militar de Minas Gerais – APM, que é um dos referentes mais importantes do Prado.

Vale ressaltar que o DI (Departamento de Instruções da PMMG) é um dos pontos de referência do bairro até hoje. Teve como idealizador o capitão João Batista Mariano. A partir da criação do DI houve uma mudança no sistema de trabalho da Polícia Militar de Minas Gerais. Até 1934 a Polícia Militar não proporcionava nenhum tipo de treinamento para seus policiais. Em 1975, o DI mudou seu nome para Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Oficiais. Após quatros anos, foi transformada em Academia da Polícia Militar, que atualmente é chamado de IESP – Instituto de Educação e Segurança Pública. Com isso, passou a englobar o ensino, pesquisa, administração, treinamento e graduação universitária, sendo que todos os policiais militares do Estado de Minas Gerais são formados pelo IESP.

Em 1964 acontece o golpe militar, que acaba transformando a Polícia Militar em tropa de elite e segurança do regime. Além disso, foi criado o Clube dos Oficiais da Polícia Militar, localizado na rua Diabase, no Prado, formado pelo parque aquático, quadras esportivas, dentre outros.

Hoje, as ruas Platina, Turquesa, Turfa e Avenida Francisco Sá, formam a centro comercial do bairro, que possui cerca de 500 pontos de vendas, em destaque no cenário econômico da capital mineira. O traçado desigual e apertado das ruas do Prado se mantêm ainda e se estendem aos bairros vizinhos. Muitas casas conservam os pequenos quintais com jardins, o que inspira uma aparente calma do lugar, apesar da crescente saturação.