• Nenhum resultado encontrado

7.4 Análise dos grupos de fatores selecionados

7.4.1 Desinência número-pessoal

O grupo de fator desinência número pessoal possui como fatores a presença da desinência verbal de 1ª pessoa do plural –mos e o verbo na 3ª pessoa do singular - ∅ . Constatou-se que, quase categoricamente o pronome nós ocorre quando a desinência número- pessoal é marcada ou quando exista uma pequena indicação de que havia uma desinência de 1ª pessoa do plural – 95%% dos casos (86/90), como no exemplo:

(14)

a) Mas nós moramo muito tempo aqui no segundo andar. (0&h>ª*O!)

b) Ele era amigo do meu pai e... nós estudamos juntos num jardim que era da tia dele. (0Rh+ª$Ç!)

No exemplo (14a) a terminação não é totalmente desfeita em termos fonológicos, existindo a perda de um segmento fonológico. Em (14b) tem-se a terminação –mos, que determina a 1ª pessoa do plural.

Abaixo será apresentada a Tabela 13 com os dados referentes à desinência número-pessoal:

Tabela 13 - Resultados do total de ocorrências e frequência do grupo de fatores

desinência número-pessoal em relação ao uso das variantes a gente e nós e seus

respectivos pesos Desinência número- pessoal -mos % - ∅ - 3ª pessoa do singular % N. Total de nós 86/90 95% 04/90 5% N. Total de a gente 34/394 8% 360/394 91% PR 0.09 0.75

A Tabela 13 evidencia que o número de ocorrências do pronome nós com o verbo na 3ª pessoa do singular diminui consideravelmente – 8% dos casos (04/90), como os exemplos a seguir:

(15)

a) aí eles falou não quero o dinheiro da sua mãe nós que(r) o seu filho agora. (0Gm- ^#O!)

b) nós duas...foi. (0Gm-^#O!)

Conforme os dados apresentados na Tabela 13 os casos da forma a gente com a desinência de 1ª pessoa do plural é baixo – 8% dos casos (34/394). Em contrapartida, o número de ocorrências da forma a gente com a 3ª pessoa do singular é quase o número total dos dados – 91% (354/386), com peso relativo (0.75). Logo, conclui-se que esse grupo de fatores é determinante para o uso das variantes a gente e nós.

Este resultado está parcialmente em consonância com o trabalho de Almeida (1991), em que a autora afirma haver duas tendências, que são: preservar a harmonia entre os traços do verbo e de seu sujeito e a redução das desinências verbais que indicam pessoa. Não é possível fazer nenhuma declaração a respeito dessas tendências no português de Belo Horizonte. O que pode ser afirmado é que os resultados apresentados confirmam a tendência em manter a harmonia entre os traços de verbo e de seu sujeito nesse dialeto, devido ao fato de a forma a gente ocorrer, preferencialmente, com a desinência de 3ª pessoa do singular e o pronome nós com a desinência de 1ª pessoa do plural.

Este trabalho investigativo e os estudos de Lopes (1999), Rocha (2009), Maia (2009) e Zilles (2005) consideraram o grupo de fatores desinência número-pessoal como relevante. A partir disso, pode-se inferir que a forma a gente ocorre mais quando o verbo possui desinência verbal de 3ª do singular, enquanto o pronome nós tende a ocorrer quando se tem a desinência de 1ª pessoa do plural. Isso significa que a desinência número-pessoal condiciona o uso de uma ou outra variante.

Este grupo de fatores foi avaliado para averiguar se a disposição das variantes nós e a

gente na sequência do discurso favorece ou não o uso de uma das formas. Os fatores desse

grupo são:

A – Formas qualificadas como A foram as que apareciam no corpus estudado como 1ª

ocorrência;

B – As formas qualificadas como B tinham como antecedente a gente com referente igual; C – As formas qualificadas como C tinham como antecedente a gente com referente

diferente;

D – As formas qualificadas como D tinha como antecedente o nós com referente igual; E – As formas classificadas como E tinham como antecedente o pronome nós com referente

diferente.

A Tabela 14 apresenta os dados da rodada do Varbrul, relacionados à disposição da

variável na sequência do discurso:

Tabela 14 - Resultados do total de ocorrências e frequência do grupo de fatores

disposição da variável na sequência do discurso em relação ao uso das variantes a gente e nós e seus respectivos pesos relativos

Fator N. total de Nós % N. total de A gente % PR A 83/291 28% 208/291 71% 0.41 B 8/141 5% 133/141 94% 0.75 C 3/10 30% 7/10 70% 0.58 D 24/37 64% 13/37 35% 0.15 E 2/5 40% 3/5 60% 0.78

Fonte: Dados da pesquisa (2013)

Os fatores em que a forma a gente possui mais ocorrências são formas que tinham

como antecedente a forma ‘a gente’ com referente igual com peso relativo 0.75, formas que tinham como antecedente a forma ‘a gente’ com referente diferente com peso relativo 0.58 e formas que tinham como antecedente o pronome ‘nós’ com referente diferente com peso

relativo 0.78. Tais fatores são os que mais favorecem o uso de a gente, em função dos valores de seus pesos relativos.

Os fatores que desfavorecem o uso de a gente são formas que apareciam no corpus

estudado como 1ª referência, com peso relativo (0.41) e formas que tinham como antecedente o pronome nós com referente igual, com peso relativo de 0.15.

Vale destacar que o fator E, antecedente o pronome nós com referente diferente, foi considerado pelo Varbrul como o fator que mais favorece o uso da forma a gente. Entretanto, esse fator possui poucos dados, indicando que seria importante averiguar esse fato em outro trabalho posteriormente.

A seguir serão listados alguns exemplos retirados do corpus deste trabalho, para cada um dos fatores deste grupo:

A – primeira referência

(16) a) é... mas um dia desses se você quiser a gente dá uma volta de avião. (1Qh-º$O)

b) aqui em Belo Horizonte nós temos três escolas reconhecidas que oferecem essa parte teórica (1Nm-^#O)

B – forma antecedente ‘a gente’ com referente igual

(17) a gente era bem unido ... ah sei lá .. tinha umas briguinhas assim .. normal.. mas briga.. briga não.. brigam.. bem mais.. sei lá eu acho que..em questão da violência e tudo.. as vezes eu acho que até a

televisão ensina na época que a gente era criança não tinha televisão em casa. (1Nm-^#O)

C – forma antecedente ‘a gente’ com referente diferente

(18) na gráfica dele fazer uma capa do cd que a gente ia... lança e tal.. é.. da antiga banda que eu tinha.. a gente... eu... tinha feito a capa e tal. (18h-ª#O)

D – forma antecedente ‘nós’ com referente igual

(19) Antigamente a lei municipal que organizava a construção num era essa que nós temos hoje, ne... Hoje nós temo uma lei de ocupação de solo que ela delimita uma porção de coisa. (0Rh+ª$Ç)

E – forma antecedente ‘nós’ com referente diferente

(20) Nós casamo no civil. Em 77. Ele morreu em novembro de 77. Mas ele pedia para mim casar com ele. Que uma lágrima desceu.

Oh meu Deus do céu. Como que o trem pode ser. É uma coisa que acaba com a gente aos poucos. (1Xm>^*p)

Em harmonia com o trabalho de Omena, a sequência das variantes nós e a gente no discurso influencia o uso de uma das formas no português de Belo Horizonte: “A probabilidade de se usar a gente, ao invés de nós, é maior quando o antecedente formal for a

gente e a referência for igual à anterior [...]” (OMENA, 1996, p. 195).

Rocha (2009), Almeida (1991), Omena (1996) e Lopes (1999) propõem em seus estudos que a disposição da variável na sequência do discurso contribui para determinar o uso de a gente. Com isso, o paralelismo formal é considerado um dos fatores que favorecem a utilização da forma inovadora, lembrando que quando a gente for a 1ª referência, a probabilidade de se ter a mesma forma é maior do que uma nova referência, como o pronome

nós. Já o inverso, se a forma antecedente é o pronome nós, a possibilidade de usá-lo é

potencialmente maior do que a forma a gente. Portanto, o fator disposição da variável na sequência do discurso age como condicionador da variação no uso das formas a gente e nós no português de Belo Horizonte.