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4.3 Aspectos sociais, econômicos e demográficos de Belo Horizonte

4.3.1 Evolução sócio-demográfica de Belo Horizonte

Esta subseção teve como base o trabalho de Caldas, Mendonça e & Carmo (2008), especificamente a obra Estudos Urbanos – Belo Horizonte: Transformações Recentes na Estrutura Urbana. Este estudo trabalho é composto por nove capítulos, escritos por autores diversos, que apresentaram uma visão abrangente sobre as transformações fundamentais na estrutura urbana municipal. Os dados utilizados foram extraídos do capítulo 1, Evolução Sócio-demográfica, do autor André Junqueira Caetano.

Caetano (2003) fez um estudo sobre o crescimento demográfico da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e Belo Horizonte. Caetano define como crescimento demográfico de uma população “o resultado das diferenças entre as entradas via nascimentos e imigração e saídas por intermédio dos óbitos e emigração.” (CAETANO, 2008, p. 31).

Caetano (2008) citando Simões (2002) e Berquó e Cavenachi (2006), afirma que houve um rápido aumento da população brasileira a partir da década de 50, devido, primeiramente, à diminuição significativa da mortalidade no país e à conservação da fecundidade média de 6 filhos por mulher até a década de 70. A partir da década de 70 esse quadro é revertido, ou seja, a fecundidade cai em todo o país e em todas as classes sociais, passando para 1,8 filhos por mulher em 2006. Além desses autores, Caetano (2008) cita Carvalho e Garcia (2003), que corroboram que nesse mesmo período a esperança de vida ao nascer aumenta, indicando níveis mais baixos de mortalidade.

Essa transição demográfica afeta de maneira diferente, a cada etapa do processo, o curso do crescimento populacional do país. Tal transição foi mais intensa e iniciou-se nas principais áreas urbanas do Brasil, que eram as capitais estaduais e os municípios em torno das metrópoles. Com isso, houve uma grande migração, principalmente rural-urbana, concentrada nas principais capitais do país.

Contudo, o mercado de trabalho das regiões metropolitanas não conseguiu absorver todo esse processo, a partir dos anos de 1980. Além disso, outro fator que colaborou para desacelerar a propensão a uma hipermetropolização da população brasileira, notada até 1970, foi uma crise econômica persistente, que tornou o mercado de trabalho mais restritivo. Nesta mesma época, houve um período de transição demográfica, que foi marcado pela diminuição na taxa de fecundidade, principalmente nas regiões metropolitanas, implicando no declínio do crescimento populacional. A tabela a seguir mostra as taxas de crescimento anuais do Brasil e da RMBH:

Tabela 4 - Taxas anuais de crescimento populacional (%), Brasil

TABELA 1 – TAXAS ANUAIS DE CRESCIMENTO POPULACIONAL (%) – BRASIL, BRASIL URBANO, RMBH, BELO HORIZONTE E DEMAIS MUNICÍPIOS DA RMBH, 1950 A 2000

UNIDADE 1950-60 1960-70 1970-80 1980-91 1991-00

BRASIL 3,0 2,9 2,6 1,9 1,6

BRASIL URBANO 5,5 5,0 4,4 3,0 2,4

RMBH 5,9 6,3 4,5 2,5 2,4

BELO HORIZONTE 7,0 5,9 3,7 1,2 1,1

DEMAIS MUNICÍPIOS DE BELO

HORIZONTE

3,4 7,4 6,3 4,8 3,9

Esses dados evidenciam que a RMBH acompanhou as tendências de crescimento da população urbana brasileira no período de crescimento (1970) e nas décadas posteriores (1980 e 1990). Vale observar que em 1991-00 as taxas de crescimento populacional da região metropolitana eram iguais às taxas de crescimento da população urbana do Brasil, ou seja, 2,4%.

Além disso, a tabela 4 mostra que Belo Horizonte deixou de ser o centro de concentração da população da região metropolitana na década de 1970, se comparado às taxas de crescimento dos demais municípios da RMBH. A partir da década de 1960 as taxas do município baixam progressivamente, fazendo com que os demais municípios, principalmente Contagem, Betim, Ribeirão das Neves, Ibirité, Santa Luzia e Vespasiano, cresçam demograficamente.

Conforme Caetano (2008) o crescimento de Belo Horizonte e da região metropolitana se deu, principalmente, devido às trocas migratórias entre as demais cidades do Brasil. Esse crescimento significativo, entre 5% e 6% ao ano no período de 1991-00, de alguns municípios da região metropolitana deveu-se, fundamentalmente, ao recebimento de migrantes procedentes da capital.

As trocas migratórias maiores aconteceram entre a capital e os municípios de fora da RMBH, que são: Contagem, Ribeirão das Neves, Betim, Santa Luzia, Ibirité, Vespasiano e Sabará. Caetano (2008) afirma que Belo Horizonte foi uma cidade receptora da população não-metropolitana e distribuidora da população intrametropolitana. Tal função, aliada às diferenças dos níveis de fecundidade e mortalidade, o mercado imobiliário e políticas urbanas, reproduz o crescimento demográfico e domiciliar distinguido dentro do município.

Caetano (2008) apresenta uma análise do estudo feito sobre o crescimento populacional de Belo Horizonte e RMBH entre 1991 e 2000. Os dados evidenciam que houve um crescimento acima da taxa esperada da Região Administrativa do Barreiro, Norte, Pampulha e Venda Nova. O aumento foi de 31,2% da população em 1991, para 37,7% em 2000, subindo de 6,5 pontos percentuais.

Referente ao envelhecimento populacional, Caetano (2008) afirma que houve um aumento da população com 60 anos ou mais, resultado do processo de transição demográfica e da seletividade migratória. Assim, Belo Horizonte, em 1991, tinha uma população de 7,4% com 60 anos ou mais, passando em 2000 para 9,1%, ou seja, o crescimento foi de 2,4% da população do município nesse período.

Com base nos censos de 1970, 1980, 1991 e 2000 de Belo Horizonte, Caetano (2008) observou que as primeiras faixas de idade (0 a 9 anos) mostraram uma redução significativa

entre 1991 a 2000 e deixaram de ser as faixas mais representativas. Em contrapartida, houve um aumento dos idosos em sua participação relativa, especialmente das mulheres.

Em 2000 o peso da população jovem era substancial na RMBH, exceto na cidade de Belo Horizonte. Tal fato é consequência de níveis de fecundidade mais altos do que os notados no município nuclear. Além disso, um dos resultados do processo migratório intrametropolitano é o fato de todos os grupos etários terem aumentado, em especial os grupos de 20 a 34 anos (CAETANO, 2008).

Caetano (2008) afirma que de acordo com a Pesquisa PBH Século XXI, feita pelo Cedeplar/UFMG, Belo Horizonte apresentava um quadro parecido com outras capitais do Brasil, em relação à escolaridade média da população. Esse estudo mostra que em 2000, a escolaridade média da população com sete anos ou mais de idade era 7,4 em Belo Horizonte, 7,8 em Curitiba, 8,4 em Porto Alegre, 6,8 em Recife, 6,9 em Salvador, 7,6 no Rio de Janeiro e 7,3 em São Paulo.

Ainda decorrente desta pesquisa, Caetano (2008) afirma que um número expressivo de indivíduos tinha escolaridade média inferior a quatro anos de estudo, sendo considerados como analfabetos funcionais. Além disso, foi constatada uma queda na proporção de responsáveis pelo domicílio que estavam em situação de analfabetismo funcional. Isto é, em 1991 a porcentagem era de 21,6%, passando para 15,9% em 2000, ocorrendo praticamente em todas as Unidades de Planejamento (UP) de Belo Horizonte.

Caetano (2008), a partir de Riani (2004), assegura que ocorreu um avanço significativo dos indicadores educacionais da capital mineira, se considerados por Área de Ponderação. Entretanto, as favelas e áreas limites do município sempre apresentaram os piores níveis. Tal padrão só não se aplica à taxa de atendimento escolar de 7 a 14 anos do ensino fundamental, produto da universalização da educação fundamental, e à taxa de escolarização bruta do ensino fundamental, que se refere às idades superiores para fazer a série em questão. Já o ensino médio apresenta uma cobertura carente, principalmente nas áreas de maior deficiência social e econômica. Assim, os problemas centrais da educação em Belo Horizonte são as falhas apontadas nas baixas taxas de progressão escolar no ensino fundamental e a deficiência no ensino médio, em 2000.

Em relação aos critérios de renda e pobreza, é possível verificar, através de dados referentes aos responsáveis pelo domicílio, seu padrão espacial em Belo Horizonte. Assim, Caetano (2008) apresenta um estudo sobre renda e pobreza, com base no número de responsáveis pelo domicílio com renda até meio salário mínimo em 1991 e 2000, conforme a

relação do total de domicílios da UP – Unidade de Planejamento - de responsáveis pelo domicílio com renda até meio salário mínimo em 1991 e 2000 e a variação percentual desta proporção no período de 1991 e 2000. Vale ressaltar que o traço de meio salário mínimo é o corte usado pelo Ministério de Desenvolvimento Social e de Combate à Fome (MDS) para inserção no Cadastro Único.

O município de Belo Horizonte diminuiu expressivamente o número de domicílios com responsáveis com rendimento de até meio salário mínimo, caindo de 8,8% em 1991 para 7,3% em 2000. Sobre as regiões administrativas, percebe-se que o Barreiro, Noroeste, Oeste e Venda Nova exibiram proporções de chefes de domicílio com renda de até meio salário mínimo, além da proporção do município como um todo nos dois anos analisados. Na Barreiro as UPs de Cima, Barreiro Sul, Jatobá e Olhos D’água também foram caracterizadas da maneira citada anteriormente. Em relação à Região Administrativa Norte, a queda na proporção foi gigante, chegando em 2000, à aproximadamente metade do valor de 1991. A Região Administrativa Oeste apresentou um aumento significativo, ou seja, cerca de 25% entre 1991 e 2000, de responsáveis pelo domicílio com renda de até meio salário mínimo na UP Betânia. Por fim, a Região Administrativa Venda Nova, especificamente, as UPs Copacabana e Mantiqueira-SESC apresentaram o maior peso em termos de domicílio com esse aspecto.

As Região Administrativa Centro-sul, Noroeste e Pampulha conservaram as proporções de responsáveis pelo domicílio com renda de até meio salário mínimo inferior a proporção notada pela capital como um todo, tanto no ano de 1991 quanto em 2000. Contudo, Caetano (2008), citando Machado (2004), assegura que as duas primeiras Regiões Administrativas abrangiam cinco das quatorze Áreas de Ponderação mais carentes de Belo Horizonte em 2000. A metodologia utilizada levou em consideração informações sobre renda per capita, infraestrutura do domicílio, compatibilidade entre escolaridade e idade dos membros do domicílio e compatibilidade entre idade e entrada no mercado de trabalho.