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6 Conclusões

6.2 As respostas às questões de pesquisa

Questão 1: Como empresas brasileiras de manufatura de médio e pequeno porte definem as suas prioridades competitivas?

Entre as empresas pesquisadas há a predominância dos processos top-down na definição das prioridades competitivas. As manufaturas pouco participam do processo de definição dessas prioridades e são poucas as suas contribuições na formação de estratégias emergentes. Os

trade-offs entre os vários critérios de desempenho não são considerados no estabelecimento

das prioridades competitivas. Está presente fortemente o conceito, tanto nos gestores de marketing quanto de manufatura, de que esta deveria ser excelente em todos os critérios simultaneamente. É também claro no entanto, para eles, que muitas vezes isso não é conseguido (“porque a manufatura não é perfeita”) e decisões privilegiando um ou outro

critério acabam por ser tomadas em situações pontuais e de forma ad hoc. Na maioria das empresas não há um padrão, nem explícito nem tácito, prévio que oriente essas decisões.

Questão 2: Como empresas brasileiras de médio e pequeno porte estabelecem os objetivos de desempenho para a área de manufatura?

Predominam nas empresas pesquisadas os processos top-down para o estabelecimento dos objetivos de desempenho. Esses objetivos são definidos pela alta gestão para cumprimento pela manufatura e, na sua grande maioria, referem-se à produtividade (eficiência) e, não, à eficácia32. Se realmente as métricas induzem comportamentos, não é à toa que a maioria dos gestores de manufatura entrevistados tenham apresentado o custo como o maior motivador de suas ações, independentemente de como os produtos competem no mercado. Não obstante, tanto os gestores de manufatura como os de marketing respondem retoricamente, que a manufatura contribui com a competitividade em critérios diferentes do custo. Os trade-offs, portanto, não são considerados na definição dos objetivos e os conflitos são administrados, como regra tácita básica, privilegiando a eficiência em custo. Situações, no entanto ocorrem em que outros critérios se superpõem ao de custo (um pedido de um cliente “importante”, por exemplo), mas são situações pontuais, com decisões ad hoc e, muitas vezes requerem o patrocínio de marketing e até a autorização da alta direção. Na maioria das empresas pesquisadas não há um padrão, nem explícito nem tácito, que oriente a maioria dessas decisões.

Questão 3: Como empresas brasileiras de médio e pequeno porte priorizam os seus programas de melhoramento da manufatura?

Via de regra, os programas de melhoramento são definidos de forma top-down e priorizados em função do seu potencial de redução de custo e aumentos de produtividade, além dos investimentos necessários à implantação. A pesquisa mostrou ainda que mesmo os programas de qualidade têm como motivador a redução dos refugos e dos retrabalhos (e, portanto, do custo de fabricação). A maioria das empresas pesquisadas não leva em conta os trade-offs entre os critérios competitivos para definir seus programas de melhoramento. Da mesma forma que acontece com a definição dos objetivos de desempenho, alguns programas levam

32 Embora uma das empresas pesquisadas adotasse indicadores de desempenho JIT (muitos não referentes à

em conta outros critérios que não o custo na sua definição, mas são decisões pontuais, tomadas ad hoc e os gestores de manufatura não contam com apoio, nem explícito nem tácito, para orientá-los.

Questão 4: Como empresas brasileiras de médio e pequeno porte definem os indicadores de eficácia de seus programas de melhoramento?

Os indicadores de desempenho são predominantemente definidos de forma top-down, assim como os são os objetivos de desempenho da manufatura. Também, na grande maioria, são indicadores referidos à produtividade e, não, à eficácia. Na sua maioria, não são correlacionados à forma de competir da empresa, ou seja, não consideram os trade-offs eventualmente envolvidos entre os critérios de competição na sua definição. Mesmo critérios considerados pelos gestores críticos para a competitividade da empresa, como a velocidade, por exemplo, não são medidos.

No que tange às empresas brasileiras de médio porte analisadas, os resultados da pesquisa de campo corroboraram as evidências anteriores obtidas da literatura assim como as impressões do autor previamente à pesquisa. As manufaturas de empresas brasileiras de médio e pequeno porte não possuem estratégias formais (e muitas vezes, nem tácitas) para orientar a sua operação. Exceto por algumas decisões estruturais, iniciativas de manufatura são adotadas e decisões são tomadas fortemente influenciadas pelo critério de custo, sem que se levem convenientemente em conta outros critérios de competição. Decisões que eventualmente sobreponham outros critérios ao custo são tomadas, via de regra, ad hoc, por imposição ou patrocínio de outras áreas funcionais que não a manufatura. Fica ainda patente dos resultados de campo, como também era a visão dada pela experiência do autor, que a escassa participação da manufatura nas decisões estratégicas e na real competitividade da empresa é resultante da falta de processos formais e explícitos para a formação dos padrões de decisão da manufatura de forma alinhada aos objetivos de competição da empresa. Em muito, a falta desses processos formais tem suas origens na deficiência da literatura em orientar a prática na gestão de tais processos. Como conseqüência, as nossas manufaturas não estão contribuindo em todo o seu potencial, possível e desejável, como arma competitiva, como preconizavam os fundadores da disciplina de gestão de operações.

Esta tese identificou claramente essas dificuldades, através dos resultados obtidos da pesquisa de campo e procurou, através do oferecimento de um modelo de referência para a gestão do processo de formação das estratégias de manufatura, torná-las menores.