• Nenhum resultado encontrado

As temáticas urbanas segundo o inventário dos estudos portugueses

ESPÉCIE  INDIVÍDUO  SOCIEDADE  NATUREZA

4. A FORMAÇÃO DA AGENDA AMBIENTAL PELOS MEDIA NO BRASIL E EM PORTUGAL

4.2. As temáticas urbanas

4.2.1. As temáticas urbanas segundo o inventário dos estudos portugueses

Schmidt (2003, p.165-167) realizou uma cronologia da evolução das notícias sobre ambiente em Portugal. A conclusão é que apesar da tendência crescente, a partir da Conferência de Estocolmo (1972), não havia regularidade e nem consistência na cobertura. “Este ‘sobe e desce’ sucessivo relaciona-se por um lado, com a relevância que determinados acontecimentos e assuntos adquiriram em diferentes contextos históricos e, por outro lado, com as próprias alterações de estrutura que os telejornais foram sofrendo” (p.141).

Entretanto, a autora identifica um marco no noticiário português sobre ambiente, no ano de 1983, o qual está relacionado diretamente com o avanço do armamento nuclear na Europa e a

127 instalação de mísseis. Conforme a investigadora, outros temas de relevância na agenda européia, como energia e petróleo, somaram-se na composição do noticiário conduzido pelo risco nuclear. Contudo, somente após a adesão de Portugal à União Européia (1985), “foi que entramos no pelotão da inquietação ambiental internacional”, conclui Schmidt (2003, p.143).

Conforme Schmidt, as categorias gerais de maior repercussão pública em Portugal, no período de 1980 a 1980, foram, por ordem de importância:

I - Riscos ambientais – Inclui todas as notícias relacionadas a acidentes, incêndios, cheias e a divulgação sobre mísseis e usinas nucleares. Como ressalta Schmidt, o acidente de Chernobyl tornou-se uma espécie de parâmetro e referência para as reportagens sobre riscos nucleares. Apesar do peso dessa categoria no noticiário, com 32,8 da cobertura no período analisado por Schmidt, os temas noticiados não apresentavam conotação ambientalista propriamente dita, pois os assuntos eram inseridos na agenda mediática de forma a chamar atenção para os riscos em si, sem relacioná-los diretamente à agenda verde.

II - Energia e petróleo – Apesar da relevância, essa categoria também não foi contemplada por uma cobertura ecológica propriamente dita. A autora chama atenção para os aspectos econômicos e políticos que predominaram nas discussões sobre energia e combustíveis. Poucas vezes eram debatidos aspectos como poluição e alternativas energéticas renováveis. A energia é apresentada como alavanca do crescimento econômico.

III - Gestão do território – Engloba uma variedade de assuntos, tais como obras públicas de grande impacto na paisagem urbana, a exemplo de pontes, viadutos, barragens e edifícios públicos. Inclui ainda as medidas governamentais para intervir na organização do espaço urbano, como recuperação de sítios históricos. A cobertura sobre esses temas, na avaliação da autora, revela um caráter ainda incipiente no âmbito governamental português.

IV - Temas globais – A cobertura sobre temas ecológicos de caráter global é apresentada pela estudiosa como conseqüência das discussões ambientais promovidas e protaganizadas pela União Européia. É, portanto, a necessidade de alinhamento de Portugal com as políticas européias para o ambiente que levam os media portugueses (e a população) a se interessar pelos mais diversos assuntos da agenda verde internacional. Entre os temas dessa agenda destacam-se: poluição urbana, chuva ácida, efeitos dos agrotóxicos, manejo sustentável dos recursos naturais, desgaste na camada de ozônio e aquecimento da terra.

128 V - Saneamento básico - Este tema foi introduzido na agenda ambiental portuguesa devido aos impactos da falta de saneamento na saúde humana. A cobertura reflete principalmente as políticas do Governo português voltadas para a melhorar o tratamento sanitário de dejetos, a fim de evitar danos à saúde da população.

Ainda no que se refere à agenda urbana, o estudo de Pereira Rosa (2006) registra uma ampliação das categorias temáticas na cobertura da imprensa portuguesa, fenômeno que o autor atribui à atuação da Quercus. O autor destaca as seguintes categorias temáticas:

I - Contaminação das praias – nessa categoria são destacadas as notícias relacionadas à qualidade da água e eventuais riscos de contaminação dos freqüentadores. Conforme os estudos analisados, o tema é recorrente na agenda jornalística portuguesa, especialmente nos períodos de veraneio. Schmidt (2003, p.354) destaca que as praias recebem atenção especial do noticiário televisivo, uma vez que freqüentemente se tornam alvo de alertas e denúncias em períodos de feriados. Segundo a análise da autora, a cobertura jornalística sobre o tema apresenta o mérito de relacionar o assunto com outros tema ambientais igualmente relevantes como a ocupação do solo urbano, a contaminação das águas e a concentração populacional em determinadas áreas urbanas. Pereira Rosa (2006), por sua vez destaca a atuação da organização não-governamental Quercus, que se tornou atuante na denúncia de riscos à saúde dos usuários de espaços de lazer nas praias.

II - Gestão de resíduos urbanos e industriais – uma das categorias mais relevantes nos estudos analisados foi a incineração de lixo, especialmente em decorrência da atuação da Quercus. Como registra Pereira Rosa (2006), a organização conseguiu manter o tema na pauta da mídia durante oito anos (de 1990 a 1997) até o problema ser solucionado de modo relativamente satisfatório pelos órgãos oficiais.

III - Gestão dos recursos hídricos - O peso dessa categoria no noticiário sobre ambiente em Portugal, segundo Pereira Rosa (2006) justifica-se pela relevância que assumiu, em termos do debate público, o Plano Hidrológico Nacional e a construção da barragem do Alqueva, em decorrência da militância ecológica da Quercus. Além disso, a análise do autor demonstra que a temática relativa às águas mobilizou o noticiário de todo o país, especialmente durante a década de 1990. “As notícias relacionadas com a água não se limitaram às regiões envolvidas. Ocorreram em todo o país, uma vez que a associação fez um grande esforço de denúncia

129 nacional de qualquer acção poluidora de cursos fluviais, lençóis freáticos ou praias de importância estratégica” (Pereira Rosa, 2006, p.91).

IV - Poluição atmosférica – Esta foi uma das categorias de maior relevância no noticiário português, ressaltada tanto por Schmidt (2003) como por Pereira Rosa (2006), além de ser o bloco temático com a maior abrangência de abordagens, fontes e atores sociais envolvidos e citados. Além da apresentação continuada de diagnósticos sobre as causas e efeitos da poluição, os estudos mencionados destacam ainda a avaliação de especialistas sobre os impactos da poluição na saúde humana e o discurso do empresariado sobre as responsabilidades acerca do fenômeno. As notícias sobre poluição conquistaram espaço definido nos jornais e na televisão ainda no início dos anos de 1980. Entretanto, Schmidt (2003) registra uma tendência à maior valorização dos problemas locais.

V - Transportes – Além das discussões sobre a construção de pontes e o impacto ambiental negativo das obras, esta categoria concentrou-se no debate sobre a oferta de transportes públicos e o aumento indiscriminado do uso de veículos individuais, com elevado potencial poluente. Trata-se, pois de uma categoria que relaciona diversos aspectos inerentes à temáticas dos transportes urbanos.

VI - Reciclagem – Como uma das categorias mais recentes no noticiário português, a possibilidade de reutilização de embalagens plásticas, de vidros e de papel tornou-se um dos grandes temas do início dos anos 2000. Como ressalta Pereira Rosa (2006), as matérias jornalísticas sobre esse assunto apresentavam as vantagens da reciclagem, em um tom nitidamente engajado, de apelo à adesão da população a essa prática.

Outline

Documentos relacionados