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CONHECIMENTO EXPLÍCITO (Objetivo)

2.2.2 As Unidades de Inovação como segmentos de gestão da inovação

mercado consumidor.

 Mercado consumidor: usuários da inovação. Beneficiários finais dos produtos decorrentes da inovação

2.2.2 As Unidades de Inovação como segmentos de gestão da inovação

As Unidades de Inovação – UI têm sido vistas como órgãos especialmente envolvidos em atividades relacionadas à proteção intelectual e à transferência de tecnologia, compreendidas neste contexto toda a logística correspondente (INOVANIT, 2009).

No entanto, a própria legislação amplia a atuação dos núcleos de inovação tecnológica descrevendo como função principal a gestão da inovação nas instituições de ciência e tecnologia (lei 10.973/04). O exercício dessa gestão ocorre por intermédio de processos específicos, ligados aos produtos (serviços) desenvolvidos pelas UI (NIT‟s), mantendo a transferência de tecnologia e seus elementos ligados como um dos aspectos e não o único.

Segundo o parágrafo único, art. 16 da lei 10.973/04, “são competências mínimas do NIT”:

I - zelar pela manutenção da política institucional de estímulo à proteção das criações, licenciamento, inovação e outras formas de transferência de tecnologia; II - avaliar e classificar os resultados decorrentes de atividades e projetos de pesquisa para o atendimento das disposições desta Lei; III - avaliar solicitação de inventor independente para adoção de invenção na forma do art. 22; IV - opinar pela conveniência e promover a proteção das criações desenvolvidas na instituição; V - opinar quanto à conveniência de divulgação das criações desenvolvidas na instituição, passíveis de proteção intelectual; VI - acompanhar o processamento dos pedidos e a manutenção dos títulos de propriedade intelectual da instituição.

As competências, para efeito de gestão da inovação e como forma de organizar a atuação de uma Unidade de Inovação, podem ser

consideradas como seus produtos oferecidos. Neste caso, como a própria lei trata, são “competências mínimas”, ou seja, outras competências necessárias à execução da gestão da inovação podem ser incorporadas a esses produtos.

As UI são órgãos constituídos com a finalidade de servirem de apoio à proteção da propriedade intelectual e a externalização da pesquisa desenvolvida nas Instituições de Ciência e Tecnologia, mediante à intermediação com a indústria, objetivando o financiamento da pesquisa e o retorno econômico da produção científica, contribuindo para a ocorrência da inovação.

A atividade de transferência de tecnologia das universidades e outras instituições de pesquisa para o meio empresarial não é recente, porém, tem sido mais evidenciada no Brasil a partir de 2004, com a lei de inovação, a qual contribui também para ampliar a percepção da importância da proteção intelectual.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os Escritórios de Transferência de Tecnologia (ETT) ou Escritórios de Licenciamento de Tecnologia (ELT) são os órgãos ou setores responsáveis por gerenciar as ações práticas ligadas à transferência de tecnologia. A OCDE (2001) também cita tais escritórios como responsáveis na identificação e gestão de ativos intelectuais, envolvendo a propriedade intelectual e a transferência de tecnologia/licenciamento a terceiros.

Os produtos tecnológicos apontados são invenção, modelo de utilidade, desenho industrial, programa de computador, topografia de circuito integrado, nova cultivar ou cultivar essencialmente derivada e qualquer outro desenvolvimento tecnológico que acarrete ou possa acarretar o surgimento de novo produto, processo ou aperfeiçoamento incremental, obtida por um ou mais criadores (lei 10.973/04). Outros aspectos que chamam atenção são:

- Há previsão de parcerias entre empresas e instituições para o desenvolvimento de pesquisa e novas tecnologias;

- Há previsão de participação da União e suas entidades, minoritariamente, no capital de empresas privadas;

- O Art. 16 ressalta que a ICT “Deverá (grifo nosso) dispor de núcleo de inovação tecnológica, próprio ou em associação com outras ICT, com a finalidade de gerir sua política de inovação (grifo nosso)”.

O Decreto 5.563, de 11/10/2005, que regulamentou a lei 10.973/04, também aponta a participação das UI (NIT) na emissão de parecer quanto à exclusividade ou não na transferência ou licenciamento de tecnologia; quanto aos processos de cessão de direitos de criação

pelas ICT‟s; reitera as necessidade de existência de UI (NIT‟s) associados às ICT‟s e as atribuições das UI (NIT) constantes na lei 10.973/04; aponta como atribuição a realização de contatos e estabelecimento de prazos com os inventores independentes.

Outra iniciativa de apoio a inovação ocorreu por conta do Decreto nº 6.259 de 20/11/2007, que instituiu o Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec), com vistas a atender o disposto na lei 10.973/04, para o apoio ao

[...] desenvolvimento tecnológico do setor empresarial nacional, por meio da promoção de atividades de: I – pesquisa e desenvolvimento de processos ou produtos voltados para a inovação; e, II – prestação de serviços de metrologia, extensionismo, assistência e transferência de tecnologia. (Decreto 6.259/07).

A proposta de constituição do Sibratec é robusta, uma vez que envolve a participação de diversos ministérios, organizações de fomento e de financiamento. Também aponta como uma atribuição do Sibratec, disposta no inciso IV, art. 5º, “estabelecer as metas plurianuais para o Sibratec e propor ao Ministério da Ciência e Tecnologia e ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior os instrumentos de financiamento e os orçamentos correspondentes [...]” (Decreto 6.259/07).

Essa atribuição é muito significativa, pois materializa um canal concreto de financiamento a partir do Ministério da Ciência e Tecnologia, considerando as projeções do sistema e, por extensão, de sua rede. Com esse ambiente criado, a formação de redes colaborativas é fortalecida. Indiretamente, trata-se de um fortalecimento das próprias as ICT‟s que, por consequência, deveria refletir nas UI (NIT‟s).

Além dos aspectos legais já relatados, há muitas práticas, especialmente decorrentes de políticas de incentivo em nível de entidades de financiamento ou fomento, que contribuem para um ambiente político e econômico favorável à inovação. Exemplos concretos são os editais para o fomento a inovação da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), de abrangência nacional e da Fundação de Apoio a Pesquisa Científica e Tecnológica (Fapesc), que abrange o estado de Santa Catarina.

Embora os normativos legais e os recursos financeiros constituam-se em importante aspecto de sustentação, incentivo aos processos de inovação e com aspectos ligando sua gestão pelas UI que

este trabalho pretende ocupar-se mais intensamente. O recorte da pesquisa corresponde aos seguintes elementos: o Processo de Inovação, envolvendo seus atores e etapas; a Gestão da Inovação pelas UI; as Redes Sociais das UI e a Institucionalização das UI nas ICT‟s.

2.2.2.1 Produtos das Unidades de Inovação

O desenvolvimento das demais atividades, de outras atividades, de articulação de grupos e ampliação da rede de relacionamentos, que mais afetam a gestão da inovação propriamente dita, não parecem ser objeto de muitas ações das UI. A figura 18 expõe quais são os produtos de uma UI, segundo a lei 10.973/04.

Figura 18 - Produtos de uma UI (NIT), segundo a lei 10.973/04 Fonte: dados primários.

Como principais atividades relacionadas a cada produto, têm-se: Estímulo à proteção intelectual e transferência de tecnologia: disseminar a legislação; informar sobre as vantagens da proteção de pesquisas; orientar procedimentos.

Avaliar e classificar os resultados decorrentes da pesquisa: identificar potenciais; definir/sugerir a proteção intelectual; manter banco de dados.

Avaliar as solicitações de inventores independentes para adoção de invenção: receber e avaliar pedidos; encaminhar para registro; elaborar contratos; manter banco de dados.

Produtos de um NIT Estímulo à proteção intelectual e transferência de tecnologia; Avaliar e classificar os resultados decorrentes da pesquisa Avaliar as solicitações de inventores independentes para adoção de invenção Elaborar e gerenciar os contratos e prestar assessoria legal relacionada a PI Gerenciar a transferência de tecnologia (identificação de parceiros, negociação, etc) Gerenciar os pedidos e os títulos de propriedade intelectual da instituição Opinar sobre a proteção e divulgação das criações desenvolvidas na Instituição

Elaborar e gerenciar os contratos e prestar assessoria legal relacionada a PI: elaborar contratos com pesquisadores, parceiros e inventores; acompanhar processos; gerenciar contratos.

Gerenciar a transferência de tecnologia (identificação de parceiros, negociação etc.): identificar parceiros; negociar com parceiros e pesquisadores; definir pela divulgação ou sigilo; gerenciar o recebimento de royalties;

Gerenciar os pedidos e os títulos de propriedade intelectual da instituição: receber os pedidos; pesquisar nas bases de dados; redigir os pedidos de patentes/registros/certificados; definir estratégias de depósito; depositar e acompanhar os pedidos;

Opinar sobre a proteção e divulgação das criações desenvolvidas na Instituição: avaliar os pedidos de PI; emitir pareceres; criar banco de dados ou encaminhar para redação e registro.

Para o oferecimento dos produtos, da mesma maneira como ocorre em outros setores e organizações, é necessário que haja uma sequência organizada de etapas, constituindo-se em processos específicos para cada produto.

De acordo com Gonçalves (2000, p. 7), “Não existe um produto ou um serviço oferecido por uma empresa sem um processo empresarial. Da mesma forma, não faz sentido existir um processo empresarial que não ofereça um produto ou um serviço”. Ele enfatiza a necessidade do produto e do serviço estarem entrelaçados na sua objetividade, dando razão para sua existência.

A figura 19 ilustra, indicando, numa orientação horizontal – visando apresentar uma perspectiva de direcionamento ao cliente, a existência de processos específicos para que os produtos relacionados concretizem-se. Embora o detalhamento dos processos relacionados aos produtos da UI não se constitua em objeto deste estudo, lembrar de sua existência é importante, tendo em vista que isso permite que se visualize a perspectiva de conjunto de atividades e tarefas necessárias a cada produto.

Figura 19 - Processos e produtos de uma UI (NIT) Fonte: dados primários.

Gonçalves (2000, p. 14), citando Keen (1997), comenta sobre a vinculação entre processos e “competências específicas da empresa”, destacando sua importância e relacionando-as com aspectos ligados à concorrência, estratégia e estrutura. Gonçalves (2000) também lembra o caso da indústria japonesa, cujo investimento de seus fundos de P&D ocorreu em 70% na inovação de processos, enquanto na indústria americana o mesmo investimento deu-se no desenvolvimento de produtos.

Não pretende-se defender que o investimento de P&D deva ser em processos mais que em produtos. É conveniente, porém, lembrar que, a partir das palavras de Gonçalves (2000) e Keen (1997), torna-se prudente considerar que uma UI terá maior êxito no oferecimento de seus produtos, quanto melhor organizar e desenvolver seus processos relacionados. Isso não significa ter seu foco nos processos internos, mas considerá-los como base de sustentação para o sucesso dos produtos oferecidos.

Além da organização dos processos internos com vistas ao oferecimento de seus produtos adequadamente, é fundamental lembrar que há outros elementos de grande importância para o sucesso das atividades de uma UI. O que chama a atenção, neste trabalho, é a institucionalização dos Núcleos e a importância da rede de relacionamentos ou redes sociais das UI; mais especificamente, a rede de relações que as UI possuem com os atores da inovação.

Segundo Lotufo (2009), são três os perfis das UI (NIT): o legal, o administrativo e o voltado a negócios. O autor destaca que o primeiro tem grande influência do departamento jurídico e entendimento de que sua principal função é de regulação e formalização. O segundo perfil, administrativo, vê a UI como um organismo de aprovações e

encaminhamentos; e o terceiro encontra-se mais voltado ao desenvolvimento de negócios a partir dos resultados da pesquisa. Comenta também que todos os perfis encontram abrigo nas UI e que as ICT‟s estão procurando adequar suas UI parar o modelo de desenvolvimento de negócios.

A atenção aos atores da inovação possibilita também melhor compreender e organizar as diferentes competências das UI, segundo a composição de suas redes sociais, o que justifica o fato de ser o elemento que perpassa todos os processos e constitui-se, para as UI‟s enquanto gestores da inovação, em recurso estratégico para o sucesso de suas atividades na condição de rede de relacionamentos e compartilhamentos de informações.

A cadeia de relações que cerca a UI é, portanto, determinante para que seus processos possam atingir o sucesso desejado e, como consequência, seus produtos cheguem a termo da forma necessária. Essa afirmação encontra abrigo na própria legislação, quando cita que a UI é um “núcleo ou órgão constituído por uma ou mais ICT com a finalidade de gerir sua política de inovação” (lei 10.973/04).

A lei citada ao referir-se a gestão da política de inovação da ICT assume conceitos de gestão, envolvendo, necessariamente, a relação entre os diferentes atores, também citados na lei 10.973/04, e os ambientes interno e externo, num contexto em que as UI, na condição de gestoras da inovação, necessitam promover articulações e ampliar contatos com vistas ao sucesso dessa gestão.

2.2.3 Considerações quanto à Gestão da Inovação nas Instituições