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3 BOM JUÁ E PLATAFORMA TERRITÓRIOS SOTEROPOLITANOS

3.3 Bom juá e Plataforma no contexto soteropolitano atual

3.5.1 Industrialização em Plataforma

3.5.1.2 As vilas operárias

A revolução industrial foi um grande avanço para a sociedade mundial. Com ela cresceu a necessidade de mão de obra e consequentemente as migrações das zonas rurais para as urbanas. Sabemos que no século XIX emerge a preocupação das elites dominantes com a organização do trabalho industrial, sendo assim alguns industriários para atingir os seus objetivos na produção se utilizaram da engenharia social. Ela “é uma prática utilizada para obter acesso à informações importantes ou sigilosas em organizações ou sistemas por meio de enganação ou exploração da confiança das pessoas” (S.d, S.l.). Também pode ser, de acordo com Torres (2014), um ataque psicológico onde a vítima, que pode ser uma pessoa ou grupo, é induzida a fazer algo alheio à sua vontade 81.

Tomando como exemplo as vilas operárias, os funcionários e a fábrica, pode-se notar que ela tinha como retorno o ajuste do interesse, responsabilidade e submissão dos(as) trabalhadores(as) tendo como base a engenharia supracitada. No caso do trabalhador, de certa forma, ela evidencia o que de melhor o(a) funcionário(a) tem para oferecer, a sua força de

81 Embora a engenharia social seja ultimamente estudada com foco na informática, relacionada aos ataques às

redes de computadores é uma prática antiga utilizada pera controlar os trabalhadores, ou pessoas num grupo coletivo. No entanto serve para explicar a formação das vilas operárias pelos capitalistas no implemento ao trabalho industrial. Informações a esse respeito estão disponíveis em: <http://www.enq .ufrgs.br/files/ Engenharia%20Social.pdf> e TORRES,Alissa. OUCH – SANS – Securing the human. Engenharia Social <http://www.enq.ufrgs . br/files/Engenha ria%20Social.pdf>. Acesso 15 mai. 2016.

trabalho. Para a manipulação acontecer é importante que alguns princípios sejam observados e sejam alcançados os fins da engenharia supracitada, e desta forma serem ajustados os comportamentos todos trabalhadores. Para isto se deve evidenciar o seguinte: a vaidade pessoal e/ou profissional, esta relacionada ao fato do ser humano ser aberto a elogios, neste caso, utiliza-se o argumento que agrade à pessoa o o grupo, de forma que aflore a responsabilidade e as ordens sejam acatadas de bom grado. Isto sendo ligado estando ligado aos compromissos profissionais e pessoais de forma favorável.

No caso da autoconfiança, ela busca pela transmissão da sabedoria de forma que a mesma seja útil para cada membro do grupo e consequentemente para a coletividade. Sendo assim transmite para o coletivo a confiança. Já a formação profissional, está voltada para a valorização profissional de maneira que favoreça o anteconhecimento pessoal. A vontade de ser útil, está voltada para a colaboração quando necessário; depois a busca de novas amizades que é a capacidade de o ser humano se sentir bem com elogios, o que pode causar vulnerabilidade e abertura para as informações. Outro princípio é a propagação da responsabilidade, onde o homem considera que a responsabilidade deve ser dividida nos espaços de convivência, e finalmente a persuasão, como a capacidade de persuadir para obter o objetivo desejado devido à vulnerabilidade das pessoas manipulação.

Diante do que foi relatado anteriormente ao observar os benéficos que o território oferecia, o sistema fabril plataformense conciliou as características locais para garantir o controle, o desempenho, a fidelidade e a gratidão das(as) trabalhadores(as). Mas, ao mesmo tempo que os sentimentos de autoestima foram gerados com a aplicação da engenharia social nos trabalhadores, tomando como exemplo D. Ju, declarando que trabalhou na fábrica desde criança. Segundo ela para trabalhar “subia num banco para alcançar os teares, e as máquinas”, assim contribua com o orçamento familiar. Outros(as) ainda enaltecem à família Catharinos como responsável pelo desenvolvimento da região e que eles tinham tudo. Contudo outros moradores(as) reconheçam o desenvolvimento promovido pela fábrica ao local compreendem no decorrer do tempo, que a companhia concomitantemente explorava os trabalhadores(as). Algumas greves aconteceram e assim como o protesto das mulheres com o Bloco do Bacalhau durante o carnaval.

Voltando ao tema vilas operárias, as primeiras surgiram na Europa. Conforme (Viana 2004, p. 5) elas surgiram em forma de assentamentos habitacionais; as patrocinadas por empresas privadas para os funcionários e as voltadas para o mercado de locação, neste

caso os investidores eram privados não ligados ao ramo industrial. As fabris são as segundas. Serra (2010) ainda aponta no século XVIII os mesmos projeto na Grã-Bretanha. New Lanark (1786), Saltair (1853), Itália (1878) e na Catalunha onde existiu uma legislação específica. No Brasil não teve uma legislação para a instalação das vilas operárias, apenas uma consensual entre os políticos paulistanos.

Salientamos que no Brasil, as senzalas são as primeiras habitações para trabalhadores escravizados(as), se incia com a indústria açucareira. Contudo, a indústria brasileira inicia de acordo com Correia; Almeida (2009) desde 1880, com as usinas de açúcar; empresas de mineração, ferroviárias, charqueadas, frigoríficos, siderúrgicas, fábricas de vidro, papel e têxtil onde se intensificou a construção das vilas operárias nas zonas rurais e urbanas. Mas, foi nas décadas de 1930 e 1940 que elas se proliferaram na Região Nordeste, sendo 16 em 20 anos e muitas delas se converteram em cidades. Nelas existiam creches, escolas, posto médico e igrejas, além de feira, parque, cinema, hospital, posto médico, teatro, escola, clube, campos de futebol, armazém de abastecimento.82

Para a Região Nordeste a autora aponta algumas como as de Jacarecanga (Fortaleza), Paulista, Pernambuco, Rio Tinto e Santa Rita na Paraíba, as três últimas se tornaram cidades. Em Recife Apipucos, em Sergipe, Neópolis, Estância, Natal e Salvador em Plataforma. A arquitetura da estética fabril era pouco ornamentada, de formas simples, materiais naturais de madeira, eram geminadas duas a duas ou enfileiradas; com uma ou duas janelas na fachada sem recuo frontal, estas destinadas aos operários. Já os bangalôs eram isolados, com jardins casas conjugadas duas a duas, algumas eram em blocos, de andares, duas janelas frontais, terraços e melhores que as anteriormente citadas e destinadas aos gerentes. A art decor, destacava-se pelas linhas retas, de volume simples e aerodinâmicos e tom pastel. A tipologia das casas dependia da hierarquia dos funcionários (CORREIA, 2008). Nas Figura 39, 40 e 41 vemos que estas casas remanescentes da vila operária da Fábrica São

82 Viana (2004) em seu estudo de caso destaca uma do ramo têxtil, Saltaire (1851), Inglaterra, esta serviu de

modelos para as brasileiras, e duas em São Paulo a Maria Zélia e CESP - UHE Bariri-SP. Já Correia, Almeida (2009) evidencia a ação do Estado e das empresas privadas na construção das moradias dos trabalhadores; e Almeida (2008) destacam vilas operárias em São Paulo e Região Nordeste, neste aponta o estilo arquitetônico art decor nas vilas operárias paulistas e nordestinas no que tange às moradias, escolas, fábricas e igrejas.

Braz em Plataforma, conservam o estilo original, assim como a da Escola Úrsula Catharino (Figura 46).

Na Figura 41, as casas conservam o mesmo estilo, apenas a azul conserva as telhas originais, as demais estão cobertas com telhas de amanto. Esta vila ocupava todo o

Figura 50 – Brasão da FATBRAZ

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Figura 49 - Casas da vila operária estilo art décor

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

território de Plataforma desde a Praça São Braz até o São João, próximo à ferrovia, onde atualmente é a quadra esportiva co Centro Cultural César Borges e quadra localizada logo atrás dele. Já na Figura 33, vemos uma casa componente da vila operária, sem conservação do estilo original, tendo nas paredes revestimento cerâmico, portas de alumínio, gradio de ferro e laje com varanda de telha cerâmica. A figura 42 as fachadas das casas da Rua Úrsula Catharino, observa-se muitas modificações, ou seja atualizações para a arquitetura mais moderna, inclusive com revestimento cerâmico. Na (figura 43), Rua da Feirinha, a mesma Úrsula Catharino, onde acontecia a feira quando a fábrica funcionava plena atividade, é digno denota que a feira durou muito tempo depois que a fábrica encerrou as suas atividades.

Figura 52 - Casa remodelada componente da vila operária

Figura 53 - Casas da Rua da Feirinha Fonte: Arquivo Pessoal (2014).

Além da fábrica São Braz, a Viação Férrea Federal Leste Brasileiro(VFFLB) criada na época do Império, no ano de 1855 também mantinha uma espécie de vila operária em Plataforma. Antes da administração da Leste, a ferrovia baiana foi construída pela empresa inglesa, Companhia Bahia and São Francisco Railway, ela deveria fazer a ligação Salvador/ Cidade da Bahia/Calçada até o Rio São Francisco. No ano de 1911 a administração passou para a Compagnie Chemins de Fer Federaux du l’Ést Brésilien (CCFFEB), e em 1934 a Viação Férrea Federal Leste Brasileiro (VFFLB). No ano de 1957 a Rede Ferroviária Federal Leste Brasileiro (RFFSA) se federaliza, em 1984 a empresa passa a ser de capital misto e se torna a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), no ano de 2005 a companhia e se torna a Companhia de Transporte de Salvador (CTS).83

Quando a VFFLB administrava a ferrovia e criou postos de trabalho e viabilizou a moradia dos funcionários. Eles eram responsáveis por fazer a manutenção da rede férrea desta forma havia a economia de tempo em caso de descarrilamento e a fábrica não atrasava a entrega de sua produção. Por esta razão surge a Rua dos Ferroviários. Na figura 44 a visão da rua dos ferroviários no dia da Festa de São João em Plataforma, neste dia o pescador Jutaí organizou um arrastão de forró e esta imagem o ilustra. Nesta rua os imóveis são próprios, por que os funcionários compraram da Lestes as casas que moravam. A empresa adquiriu o terreno comprando-o estes lotes da família Catharino. Na tessitura do território ambas em empresas facilitavam a moradia dos seus funcionários, que no caso da São Braz os operários pagavam o laudêmio pelo uso do imóvel.

A opinião se divide entre os moradores de Plataforma e ex-funcionários da São Braz. Alguns destacam que elas eram benevolência dos patrões para os operários, para outros um sistema de submissão onde o benefício sutilmente se revertia num mecanismo de controle. Isto porque nas vilas existiam toda a estrutura social e econômica para a sobrevivência dos(as) trabalhadores(as). Assim eles permaneciam sempre próximo do ambiente do trabalho e do lazer.

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Informações coletadas nos arquivos da CBTU. Fonte: Arquivo Pessoal (2014).

Na vila operária de Plataforma existia o cinema de Sr. Júlio os clubes sociais, Fonte: Arquivo Pessoal (2015).

Figura 54 - Rua dos Ferroviários

Figura 55 - Escola Municipal Úsula Catharino

campo de futebol, o posto de Saúde e a Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU), posto de emergência estatal, creche e a escola Municipal Úrsula Catharino datada de 1929, Figura 4584. De acordo com as informações dos moradores, o grupo escolar era uma preocupação da esposa do comendador com a educação dos(as) filhos(as) dos(as) operários(as) por isto ele foi inaugurado e transferido do antigo local para o atual. O antigo prédio da do grupo escolar anteriormente citado atualmente é um imóvel em ruínas num terreno baldio.

A Figura 47 mostra a Escola São Braz antiga residência da família Almeida Brandão. Quando as terras foram vendidas para a família Martins Catharino pela família Almeida Brandão, este patrimônio passou a ser utilizado como residência do gerente da fábrica. Estas também foram construídas com o estilo art decor, assim como as fachadas da fábrica, Escola e Igreja de São Braz, bem como no topo da fachada da Escola Úrsula Catharino. Alguns detalhes da arquitetura também apontam tendências baseadas na obra do

84D. Úrsula Costa Martins Catharino esposa de Bernardo Cathrarino, imigrante português proprietário da

Fábrica São Braz. Ela funcionava ao lado esquerdo da Escola São Braz (Figura 47), atualmente é um prédio abandonado em ruínas num terreno baldio.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Renascimento, o Nascimento de Vênus de Sandro Boticelli (Figura 48). No entanto, o informante Cláudio, morador e pesquisador plataformense específico da igreja de São Braz, destaca que uma outra pesquisadora aponta estes detalhes como oriundos da arte afro- brasileira inspirada no rosário. A (Figura 48), em vez de arte afro-brasileira traz muita semelhança com aos pedestais greco-romanos, (Figura 49). Eles estão presentes na igreja de São Braz, na fachada da janela da Escola São Braz e no topo do platibanda da escola Úrsula Catharino.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Fonte: Arquivo pessoal. (2015). Figura 57 - Escola São Braz

Semelhança entre a (FIGURA 59) ornamento na janela da Escola São Braz, a 57 e 59 e também se observa na pilastra do altar da igreja de São Braz, (FIGURA 58).

Fonte: Pinteres(t (2015).

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Figura 59 - Pedestal greco-romano

Segundo Cláudio, os galhos representam o cultivo da cana-de-açúcar ornamento circular sobre ele o fumo que também era cultivado na horta da companhia.

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