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3 BOM JUÁ E PLATAFORMA TERRITÓRIOS SOTEROPOLITANOS

3.3 Bom juá e Plataforma no contexto soteropolitano atual

3.4.2 A religiosidade em Bom Juá

Em Bom Juá a religiosidade era basicamente de matriz africana com a presença do candomblé, atualmente ela se baseia nas religiões cristãs católica e evangélica. As festas religiosas de maior repercussão é a de N. Srª Santana padroeira de parte de Bom Juá, que acontece sempre no mês de Julho com atividade festiva durante uma semana e quermesse, e a de São José Operário da Jaqueira do Carneiro.

Na Figura Na (figura 24 e 25) vemos a frente da igreja, bem ornamenta com folhas de coqueiro, bandeirolas e plantas, tendo à frente dois toldos onde foram comercializados lanches desde mingaus, churrasco, cachorro quente, bolos dentre outros. Nela também vemos também o estilo arquitetônico art decor, com vitral no frontão. Vemos na (Figura 26), a procissão de N Srª Santana pelas ruas de Bom Juá sendo acompanhada por adultos e crianças; padres e freiras no horário noturno. Este público antes da proliferação das igrejas evangélicas era maior.

Fonte: Arquivo pessoal 2013).

Figura 34 - Casa com platibanda e revestimenro cerâmco. Antiga fonte de D. Joana

Na Figura 37, a igreja está repleta e os fiéis estão atentos aguardando a entrada da santa depois da procissão, onde a missa seria celebrada. Também dentro da igreja, a ornamentação foi feita com flores amarelas e brancas com arranjos verdes abaixo da cruz, por trás do Santíssimo. Esta igreja por opção dos colaboradores italianos e moradores, não possuem imagens além da da padroeira.

Fonte: Arquivo Pessoal. (2014).

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Figura 35 - Frente da Igreja de N. Srª Santana

A Figura 40 mostra a procissão da padroeira acompanhada por diversos(as) moradores(as). São os remanescentes católicos(as) do território. Este é um dos poucos momentos que os moradores de reúnem para uma atividade coletiva bonjuaense. Os (as) fiéis durante alguns meses organizam este momento, os demais encontros são nas missas dominicais.

Outra festa católica é preservada neste local como a de Santo Antonio citada anteriormente. Na Figura 28 uma amostra o resultado da dedicação das rezadeiras quando organizam a trezena ou tríduo antoniano, e os fiéis cantam em frente ao altar de Santo Antonio (Figura 29), assim como a devoção expressa na fisionomia das demais rezadeiras. Nos dias de reza se reúnem mulheres adultas e crianças. A presença dos homens ainda é

Fonte: Arquivo pessoal (2014). Fonte: Arquivo pessoal (2014).

Figura 37 - Interior da igreja de N. Srª Santana

pouca. Na figura 28 a arte se manifesta na beleza do altar e da própria casa que neste momento se transforma numa casa templo. A reza de Santo Antonio de D. Judite se realiza desde a década de 1960 e a de Arleide é itinerante. Ou seja, esta rezadeira é convidada para rezar nas casas do território.

A presença católica é uma marca na construção dos territórios da periferia de Salvador. A organização dela tece continuidade com a presença e orientação das CEB, na qual muito da identidade dos territórios se conceberam sob a égide do catolicismo, com as festas católicas. Elas se transformando em expressões culturais e afirmação de identidade, haja vistas nos retiros espirituais dos jovens até finais da década de 1980. Isto construiu a identidade dos bomjuaenses, enquanto católicos e militantes políticos, paroquianos da Paróquia de Guadalupe, menos como africano-brasileiros, embora isto ocorra nos momentos em que algum ato de discriminação racial aconteça.

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Fonte: Arquivo pessoal (2015). Figura 39. Santo Antonio D. Judite

A identidade se manifesta fragmentada enquanto moradores de Bom Juá, Jaqueira do Carneiro e Marotinho. É digno de nota que os moradores não entendem o Bom Juá como a área que se estende desde o Largo do Retiro até o Marotinho, Sobretudo cada morador defende a sua parte do território como se fosse locais diferentes: o Bom Juá ocupando o espaço entre a Estação do Metrô até o final de linha. O Marotinho do final de linha até início de São Caetano e a Jaqueira indo do início do Retiro até a Estação do Metrô. Por esta razão ambos têm padroeiro(a) diferentes, em Bom Juá e o padroeiro da Jaqueira do Carneiro, São José Operário. Esta é a forma de pertencimento homogeneizada dos moradores como afirma (HALL, 2002).

Cada habitante se identifica como morador de Jaqueira do Carneiro, Marotinho e Bom Juá. Neste caso a identidade dos(as) bomjuaenses nasce fragmentada, mesmo estando soba jurisdição da mesma paróquia. Talvez aí resida a estagnação do Bom Juá em relação a Plataforma. Enquanto em Bom Juá as pessoas de fragmentam num mesmo território, em Plataforma elas de unificam, mesmo sabendo da presença dos subterritórios, além de valorizar no seu território a cultura africano-brasileira.

N caso dos plataformenses entendem que os seus subterritórios são parte de Plataforma o que fortalece as suas identidades, no caso de Bom Juá, a cada um reclama o seu pedaço de chão e a identidade de bomjuaense, marotinhese e jaqueirense. Neste território aconteceu união na luta e fragmentação nas identidades. Em Bom Juá o paternalismo e colaboração da OFB contribuíram para dificultar a aquisição da independência financeira da instituição gerando dificuldades em nova organização política, e atualmente o território não apresenta atividades para jovens e adultos que não sejam relacionadas com as igrejas evangélicas e católicas. E a associação de moradores funciona como um conselho de moradores.

3.5 Plataforma

Plataforma Minha infância aqui passei,

Ouvindo o som do trem, Nessas águas mergulhei, Como queria voltar esse tempo, heim?

Quando na maré pesquei, E as belas paisagens,

De Plataforma aproveitei. (Delson Pereira)

Para falar de Plataforma é importante traçar a breve historicização do subúrbio ferroviário, agora com relação à população negra. Em Plataforma a população conta com 34.034 habitantes, sendo 12, 60% branca; 24,46% preta; 2, 02% amarela; 55, 55% parda; e 0,38 % indígena. Como citamos anteriormente este território pela sua paisagem bucólica era utilizado para o descanso e pelos recursos naturais contou com algumas industrias de sapatos e têxtil. Plataforma pertence à Região administrativa XVI, está situado no subúrbio ferroviário é banhado pela enseada do Cabrito e Baía de Todos os Santos. A história oficial conta que ele surge devido a uma fortificação do século XVI onde hoje estão as ruínas da Fábrica de

Fonte: O Caminho das Águas (2010). Figura 41- Mapa de Plataforma

Tecidos São Braz. Data de 16 de abril de 1638 quando o príncipe Maurício de Nassau desembarcou na praia. Era uma fazenda do português Antonio de Oliveira Carvalhal. Esse fazendeiro construiu uma usina em 1851 que em 1960 se transforma na fábrica São Braz.

A história também conta que Carvalhal era o 1º Alcaide de Vila Velha76, comandante de uma armada na qual trouxe um Sagres lev de Órfãs Nobres77. O nome do território tem origem por causa da existência de uma plataforma de defesa de Vicente Álvares, datada data do século XVI, construída para defesa das freguesias de Pirajá e Paripe. O forte pode ser explicado pelo fato de Carvalhal possuir engenhos nas áreas de Praia Grande e ser comandante de uma armada portuguesa a serviço da colonização. Mas de acordo com relatos dos moradores era a fazenda passou a ser propriedade de família Almeida Brandão e posteriormente da família Martins Catarino. Esta, ocupando grandes faixas de terra na orla marítima funda a União Fabril dos Fiais, essa fábrica contribuiu para o povoamento local até o início do século XX.

Vizinho a Plataforma existe o Parque de São Bartolomeu (FIGURA 31) que é uma área de preservação ambiental, a única reserva da mata atlântica urbana do Brasil78. Neste local existe a Bacia do Cobre, e é uma Área de Proteção ambiental. Foi criado pelo decreto municipal 5363 de abril de 1978. É uma área de patrimônio cultural simbólico e sagrado para os adeptos da religião do candomblé. E um espaço que está dentro dos interesses municipais como uma da Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), e está revitalizado. Contudo a revitalização foi acompanhada da expulsão dos comerciantes que atuavam e protegia o local.

76 Vila Velha foi um aldeamento de Caramuru e compreende a área do Bairro da Graça.

77Antonio de Oliveira Carvalhal foi nomeado alcaide da Vila Velha (aldeamento de Caramuru). Seu genitor era

Simão de Oliveira, cavaleiro fidalgo, e de Maria de Lemos. era alcaide-mor da Vila Velha (o antigo assentamento construído por Caramuru em Salvador, hoje deve ser perto da igreja de NS da Graça. Era casado Luíza de Mello de Vasconcellos, filha de Troilo de Vasconcellos e de Iria de Mello, em 1557. (? - 1603). Foi mandado a Salvador em 1551 Como (o aldeamento fazer Caramuru); cavaleiro fidalgo, em 1554. C. (1557/07/11) c. Luíza de Mello de Vasconcellos, n. 1531 na Ilha Graciosa, Ý18.12.1603. Antonio de Oliveira TEVE engenho de Açúcar Aquém da Praia Grande. Disponível em: DOREA, Franciso Antonio. Portugal L-

L Arquivos. 1999. Disponível em: <http://archiver.rootsweb.ancestry.com/th/read/PORT UGAL/1999- 05/0928134146>. Acesso em: 01 set. 2015.

78 As informações referentes ao Parque estão disponíveis em: Salvador Cultura todo dia. Parque de São

Bartolomeu. Vivendo Cultura.<http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/vivendo-polo.php?cod_are a=6& cod_polo=16> Acesso em: 04 abr. 2012.

Em virtude da importância do sítio de Plataforma, no ano de 2013 foi aprovado um parecer que recomenda o tombamento de bens arquitetônico de Plataforma. No entanto, essa tese busca além de evidenciar os patrimônios culturais materiais a beleza subjetiva arquitetada no território e construída pelos africano-brasileiros, transpondo os entraves impostos e perpetrados pelo sistema governamental.

Como este parecer foi elaborado? Ele partiu da iniciativa de jovens no ano de 1988. Estes entregaram um requerimento para que a Igreja de São Braz de Plataforma, Fábrica de Tecidos São Braz e a Escola Úrsula Catarino, assim como os imóveis antigos fossem tombados como patrimônio cultural. No entanto a equipe de avaliação do Conselho Estadual de Cultura aceitou para este fim apenas a Fonte de Itacaranha e a Igreja de São Braz. Foram negados na solicitação a Igreja Capela de Monte Serrat e a de São Pedro, conhecida como igrejinha e igreja do matadouro. Desta sai o cortejo da Lavagem da Igreja de São Braz percorrendo todo território de Plataforma até alcançar a igreja de São Braz, Figura 32, vemos na imagem o estilo arquitetônico moderno e eclético da Fábrica São Braz. Logo à frente o

Fonte: Google Map (2016).

antigo Terminal Marítimo da Plataforma.

A (FIGURA 44) mostra que em menos de 100 anos o prédio destacado na (Figura 32), onde funcionava a área administrativa da fábrica, se deteriorou se transformando nas ruínas atuais. A frente, transformada com o tempo num campo de futebol funcionava o atracadouro da fábrica. O que denota o não reconhecimento dos órgãos públicos ligados à preservação do patrimônio cultural soteropolitanos com a importância da preservação deste prédio, visto que existe uma disposição do IPHAN para a preservação do patrimônio industrial. A prova disto é a intenção na demolição de parte da ampliação da fábrica datada de 1932, para transformá-la num balneário com piscina artificial Figuras 7, 8 e 9. Outro fator agravante é que desta forma, a atividade produtiva das marisqueiras e pescadores serão prejudicadas, assim como artificializadas as atividades de lazer das crianças, jovens e adultos. Observamos que neste local também acontecem os babas79, inclusive BA X VI juvenil, Figuras 34,35,36.

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“Baba” é a saliva dos bebês recém-nascidos, principalmente quando estão com as gengivas irritadas po causa da dentiçao. Esta denominação surgiu por que grande parte de pessoas negras margeavam os campos de futebol contemplando-o, só podendo jogar um pouco quando a bola caía em área pública, devolvendo-a ao campo. Outros termos são utilizados no Rio de Janeiro, “pelada”, em referência ao jogo em local sem grama, e em Fortaleza 'racha”.

Fonte: Jornal A Tarde (1986). Figura 43 - Fábrica São Braz

A Figura 45, área externa, parte do campo, e ao fundo ruínas do galpão de tingimento dos tecidos. Ao lado dele era desaguava as tintas dos tecidos, por esta razão a praia se chama Praia do Alvejado.

Fonte: Arquivo pessoal (2016).

Fonte: Arquivo Pessoal (2016).

Figura 44 - Campo na área externa onde se localizava o atracadouro da fábrica

Depois da explanação acima, destacamos que a atual prefeitura dará um uso para o prédio citado a partir do Decreto nº 25.844 anteriormente citado. Por certo valorizará, principalmente o patrimônio industrial que marca a importância deste setor para o desenvolvimento industrial têxtil brasileiro e baiano desde o século XIX. Por esta razão nos próximos parágrafos, explanaremos o processo de industrialização baiana e a seu declínio refletindo no fechamento da Fábrica de Tecidos São Braz.

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