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As Vogais altas e os glides no inglês britânico

3.4 O Modelo da fonologia autossegmental

3.4.2 As Vogais altas e os glides no inglês britânico

No inglês britânico, os segmentos vocálicos /i, u, , / ocupam sempre a posição nuclear. As vogais longas constituem um núcleo pesado com duas posições esqueletais (cf. (64 a)) e as vogais breves constituem um núcleo leve (cf. (64 b)). Sendo a duração ou quantidade um fator importante na estrutura sonora do inglês, este modelo permite que este

fato seja fonologicamente representado. A representação das vogais longas e breves é apresentada a seguir. (64) a. R b. R N N x x x i  u 

Podemos generalizar e afirmar que em inglês, somente as sílabas pesadas ocorrem em final de sílaba. Explicamos porque as vogais longas (ditongos e sílabas com consoantes pós-vocálicas) ocorrem em final de sílaba. Explicamos também, porque as vogais breves não ocorrem em final de sílabas. Resumindo, podemos dizer que em inglês a sílaba deve terminar com duas posições esqueletais (e excluímos assim as vogais breves dessa posição). Se duas vogais ocorrem juntas no inglês, sempre temos um hiato ou seqüência de duas vogais em sílabas distintas. Quando numa seqüência de vogais a primeira das duas vogais é longa, há a redução da quantidade vocálica (Kreidler, 1989).

(65) a. “neon" [ni.n] ⇒ [ni.n] néon

b. “cruelty” [kru.l.ti] ⇒ [kru.l.ti] crueldade

Considere a representação de “neon". (66) σ σ O R R N N C x x x x x n i  n

Podemos perceber em (66), que há três posições nucleares seguidas ou consecutivas. Quando isso ocorre, a seqüência de elementos tende a ser reduzida em inglês. Neste caso, ocorre a perda de uma posição esqueletal nuclear que pertence ao núcleo pesado. Esta tendência de constituintes semelhantes não ocorrerem em posições adjacentes nas representações fonológicas, que segue do o Princípio de Contorno Obrigatório (OCP) (Roca & Johnson, 1999). Sugerimos que a redução da vogal longa no inglês é decorrente da aplicação de OCP.

Posições nucleares em inglês podem ocorrer em seqüência em duas condições. A primeira condição é quando as duas posições nucleares pertencem ao mesmo núcleo e incluímos aqui, as vogais longas e os ditongos decrescentes. A segunda condição é quando cada uma das posições nucleares pertence a sílabas distintas. As duas condições aplicam-se com exclusividade: ou preserva-se a vogal longa ou restringe-se ao máximo que ocorra somente duas posições nucleares consecutivas em sílabas distintas.

Em inglês, somente as vogais longas ocorrem em final de sílaba:

(67) a. “sea” [si] mar

b. “spa” [spa] spa

c. “loo” [lu] jogo de cartas

d. “saw” [s] viu

Entretanto, em duas condições específicas vogais breves ocorrem no final de sílaba ou palavra em inglês. O primeiro caso é quando em posição átona final (68).

(68) a. “happy” [hæpi] feliz

b. “city” [sti] cidade

c. “argue” [ju] discutir

O segundo caso, é quando ocorre uma vogal alta seguida de outra vogal (69).

(69) a. “react” [riækt] reagir

c. “actual” [æktjul] real

Para entendermos o primeiro caso, devemos levar em conta que o inglês é uma língua sensível ao acento (Kreidler, 1989). Se ocorrer uma sílaba pesada (com vogal longa, ditongo ou consoante pós-vocálica) o acento recai sobre ela. Quando consideramos as palavras que têm uma vogal breve em final de palavra, verificamos que a grande maioria destas palavras é formada com o sufixo –y: “happy”, “easy”, etc.30 Uma possibilidade, é assumir que estas formas são lexicalmente marcadas e são formas que permitem vogais breves em final de palavra.

Quanto aos ditongos decrescentes em inglês, estes são lexicalmente dados. Considerando-se que o acento é sensível ao peso silábico, observamos que junto com vogais longas e sílabas travadas os ditongos atraem o acento. Sendo assim, os ditongos decrescentes são unidades lexicalmente estáveis e não derivados.

Os ditongos crescentes (“poor” [p] pobre, “tear” [t] lágrima “bear" [b] urso) e os tritongos ([a] “tired” [tad] cansado, [a] “hour” hora , [e] “layer” [le]

camada, [o] “lower” [lo] mais baixo, [] “coyer” [k] mais modesto) do inglês

britânico, ocorrem como decorrência do cancelamento do “r” em final de sílaba. No

30 Em poucos casos não há evidências para um sufixo – como em “city” [sti] cidade – e nos poucos casos

em que uma [u] breve ocorre em final de palavra obviamente não temos o sufixo: “value” [vælju] valor, “argue” [ju] discutir.

Modelo Autossegmental, o contexto consonantal de final de sílaba é denominado coda. As

codas são constituintes instáveis e o cancelamento do “r” neste contexto, pode ser

explicado como conseqüência da instabilidade dos segmentos na posição de coda.

Existem casos de (oclusiva+w) como em “queen” [kwin] rainha, “twelve” [twlv] doze, “dwell” [dwl] morar. Neste caso, o glide /w/ é parte da consoante e são interpretados como consoantes complexas pois há restrições segmentais. Nos casos em que [j, w] ocorrem no início de palavra o glide é interpretado como ocupando uma posição (consonantal) de onset. Pode-se explicar porque a forma do artigo indefinido será “a” para palavras que se iniciam com consoantes e com os glides [j, w] e a forma do artigo indefinido será “an” para palavras que se iniciam com vogal.

(70) a. “a pear” [ p] uma pera

b. “a year” [ j] um ano

c. “a one-hour limit” [ wn a lmt] um limite de uma hora

d. “an apple” [n æpl] uma maçã

A forma do artigo indefinido em inglês demonstra que nos casos de (7 a-c), o onset é preenchido ou com uma consoante ou um glide. Em (7 d), o onset é preenchido por “n”que separa a vogal do artigo e a vogal do substantivo. Explicamos a ocorrência das duas formas do artigo indefinido em inglês.

3.4.2.1 - Conclusão

Na análise do inglês britânico, pelo modelo de fonologia autossegmental, podemos observar que assumindo a sílaba como constituinte e a relacionando com o padrão acentual explicaremos que as sílabas pesadas atraem o acento, podemos expressar porque as sílabas com vogais breves não ocorrem em final de palavra, os ditongos crescentes e os tritongos se originam do cancelamento do “r” na posição de coda, explicamos o comportamento análogo das consoantes e dos glides [j, w] em início de palavra. Um caso que não foi tratado nesta discussão do inglês, é o da inserção do glide [j] entre algumas consoantes e a vogal longa [u] como em “music” [mjuzk] música. Embora seja possível formalizar este processo no modelo da fonologia autossegmental, não há motivação que o justifique.

3.4.2.2 Conclusão do modelo autossegmental

Nas páginas precedentes, foram apresentadas análises das vogais altas e glides no português brasileiro e no inglês britânico pelo modelo da fonologia autossegmental. Neste modelo, a sílaba é considerada uma unidade importante na análise fonológica. A atribuição do acento está relacionada à estrutura acentual. Por incorporar a sílaba à análise, tivemos ganhos em expressar as generalizações (sobretudo quanto a relação entre estrutura silábica e padrão acentual no inglês) e oferecemos motivações para processos fonológicos (como da alternância entre vogal+glide no português brasileiro). Apresentamos a seguir a análise das vogais altas e glides no português brasileiro e no inglês britânico, no modelo da Otimalidade.

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