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Ascensão do “motivo de lucro”, a “filosofia” do comércio e o mecanismo de mercado

3 A EVOLUÇÃO PARA A SOCIEDADE DE MERCADO Objetivo

3.3 Ascensão do “motivo de lucro”, a “filosofia” do comércio e o mecanismo de mercado

A partir das novas ideias, decorrentes das transformações sociais antes comentadas, foi surgindo um novo ambiente global e uma nova forma de controle social. O indivíduo, neste momento, procurava realizar trocas que maximizassem a sua renda, o que, resumidamente, traduzia-se no chamado motivo de lucro, o qual, apesar de já existir, foi exacerbado pela economia de mercado. E isso ocorria com as transações envolvendo todos os fatores de produção, inclusive a força de trabalho, cujo preço (salário) era aquele que, como no caso do proprietário de terras e do próprio capitalista, garantia a manutenção, a subsistência e o crescimento do agente econômico. A procura pela maximização da renda (e consequente redução dos custos) tornou-se uma poderosa força condutora da sociedade.

Os pensadores econômicos e políticos alardeavam as vantagens de um mundo livre e ávido por lucros. Enquanto na Inglaterra era considerada riqueza a posse de mais ouro e prata, os fisiocratas, adeptos da lei natural, entendiam que toda riqueza, afinal, era derivada do uso produtivo da terra, considerando os mercadores e as outras classes sociais, como os próprios fabricantes, participantes de classes estéreis, que não geravam excedentes para a formação da riqueza nacional.

O controle capitalista foi, então, estendido ao processo de produção. Foi criada uma força de trabalho que possuía pouco ou nenhum capital e nada tinha a vender, a não ser a sua força de trabalho.

Essas características marcam o surgimento do sistema econômico do capitalismo. O mercado e a busca pelo lucro monetário substituíram os costumes e a tradição, na determinação de quem executaria certa tarefa e como ela seria realizada.

Esse período de efervescência levantou novas indagações. Heilbroner (1980, p. 91) indicou algumas:

A concorrência devia ser regulamentada ou entregue a si mesma? A exportação de ouro devia ser proibida, ou deveria permitir-se que o “tesouro” entrasse ou saísse livremente do reino, segundo as correntes de comércio o ditassem? O produtor agrícola deveria ser tributado por constituir a fonte original de toda a riqueza, ou deveriam os impostos recair sobre a próspera classe mercantil?

Essa nova realidade foi melhor analisada a partir dos estudos de Adam Smith, admitido por muitos como o patrono da ciência econômica, com a sua obra A riqueza das nações, publicada em 1776, ano em que também ocorria a revolução norte-americana.

Smith considerava que o homem era, naturalmente, propenso à realização de trocas, e entre suas ideias, destacam-se:

O individualismo resultava em ordem, não em caos; a competição entre as pessoas acionava as forças de mercado, conduzindo a um crescimento ordenado da riqueza da nação; não havia conflito entre benefícios individuais e coletivos.

O caminho da fraternidade – ao menos em termos econômicos – passava pelo egoísmo competitivo. Essa aspiração por prosperidade, casada comum a tendência natural a trocar e comercializar, conduzia à especialização, ao investimento de capital e a um crescimento econômico estável; o bem-estar da comunidade era maximizado.

À indagação dos motivos que exercem poderoso crescimento sustentável, considerando que o impulso para aumento dos investimentos de capital poderia ser compensado pelo crescimento da demanda de trabalhadores, elevando os seus salários, ocorrendo uma redução dos lucros do fabricante e queda de novos investimentos, Smith entendia que a demanda de trabalhadores aumentaria os salários e a oferta de mão-de-obra no mercado de trabalho, em função de melhores condições de vida para toda a

população.

As ideias de Adam Smith foram retomadas e aprimoradas por outros economistas clássicos e, até hoje, exercem poderosa influência sobre as modernas sociedades de mercado.

Smith (1983) comenta:

Não é da benevolência do açougueiro, do fabricante de cerveja ou do padeiro que podemos esperar nosso jantar, mas da consideração deles aos seus interesses pessoais. Não nos dirigimos à sua humanidade, mas ao seu egoísmo, e nunca lhes falem de vossas necessidades, mas da vantagem deles.

Para Smith, o controle dessa nova sociedade reside no mecanismo da concorrência. Um produtor não poderia vender o seu produto a preço maior do que o estabelecido por seus concorrentes, o mesmo acontecendo com os salários do trabalhador ou do aluguel cobrado por um proprietário de terras, sob pena de serem excluídos do mercado. Existirá, portanto, o que Smith denominou uma “mão invisível” direcionando os interesses individuais ao bem-estar social.

A concorrência de preços faz com que os produtores e consumidores satisfaçam suas ambições, com base na oferta e na procura dos bens e serviços, caracterizando o mercado como um processo fiscalizador e autorregulador, tanto dos preços quanto dos lucros e salários.

Síntese do tema

Neste tema, foi abordada a afirmação da economia de mercado, a partir da mudança filosófica trazida pela aceitação do “motivo de lucro” pela sociedade e o estabelecimento de uma “filosofia” do comércio.

Questões para revisão

1. No que consiste o “motivo de lucro”?

2. Como se materializa este “motivo de lucro” nas sociedades contemporâneas?

3. O “motivo de lucro” é uma invenção da sociedade de mercado? Justifique sua resposta.

4. O que se entende por capitalista começando a surgir no mercado? 5. Como passa a ser visto o mercador, com a dissolução do feudalismo? 6. “A riqueza provém, basicamente, do uso da terra”. Justifique esta

afirmativa.

7. O que representava a classe dos fabricantes para os fisiocratas? E o lavrador?

classe mercantil? Os produtores agrícolas ou os mercadores? Por quê?

9. Qual é o significado de uma divisão de trabalho?

10. Como se materializa a divisão do trabalho, com base nos descritivos de Adam Smith?

11. O desejo de melhoria de vida corresponde ao motivo de lucro? Justifique sua resposta.

12. Como é que o empreendedor obtém cada vez mais produtividade, na concepção de Adam Smith?

13. O que poderá garantir um crescimento contínuo e duradouro à sociedade, segundo Adam Smith?

14. Em um contexto econômico, o conceito de divisão do trabalho nos termos relatados por Adam Smith:

a) Diminui significativamente a capacidade de produção. b) Multiplica enormemente a capacidade de produção.

c) Não contribui para uma maior ou menor capacidade de produção.

d) Tem influência sobre a capacidade de produção, em especial na produção agrícola.

e) Contribui para a concentração da renda.

Resposta correta: alternativa b. A divisão do trabalho proporcionou a obtenção de um crescimento acentuado nos níveis de produção, dada a especialização e a produtividade do fator trabalho na execução de uma mesma atividade repetidamente, invalidando, pois, as opções a e c. A alternativa d está errada, uma vez que Smith entendia que a divisão do trabalho favorecia todos os setores da economia, notadamente, os industriais. A alternativa e está incorreta, dado que Smith, neste caso, não se referia à repartição da renda entre os membros da sociedade, mas sim à eficiência produtiva da economia.

4 A ESTRUTURA DO MERCADO