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Neste ítem, abordamos as deficiências que são verificadas no funcionamento das economias baseadas no livre comportamento dos mercados e formas que têm sido adotadas para a sua correção, muitas vezes com a efetiva participação do Estado.

Observamos, também, as expectativas desse modelo, em função dos acontecimentos políticos, sociais e econômicos, notadamente das últimas décadas do século XX e início do XXI.

Introdução

Cabem, agora, algumas indagações sobre o status e as perspectivas de desenvolvimento e consolidação da sociedade de mercado. De modo geral, poderemos considerar como insatisfatórias as experiências com o sistema baseado no mando, focando o exemplo da ex-União Soviética? Mas o que se pode ser dito, então, em relação à China, que também adotou tal sistema no passado e que vinha, ao menos até a exacerbação da crise mundial no segundo semestre de 2008, alcançando índices avantajados de crescimento econômico? Como ocorrerá a recuperação americana e da Europa, aqui incluído também o Japão, em relação a essa atual crise? Haverá um ímpeto de desregulamentação dos mercados e/ou o governo passará a exercer controle mais efetivo sobre as atividades econômicas, agindo com mais rigor em sua responsabilidade de regulador? Será o caminho da regulação o mais adequado para a eficiência da economia de mercado?

Síntese do módulo

É de conhecimento de todos que o sistema de mercado, isolado, não consegue prover soluções para a demanda por bens

públicos, a diminuição dos processos de má distribuição da renda e de degradação do meio ambiente. Analisaremos os processos que poderão ser adotados para tentar ao menos amenizar a incidência desses problemas. 6.1 Economia centralizada versus economia de mercado

O sistema baseado no livre funcionamento dos mercados parece ter tomado definitivamente a dianteira, quando se compara a eficiência na solução dos problemas econômicos, a partir da dissolução da ex-União Soviética, em 1991, que adotava o esquema de planejamento central.

Os países do antigo bloco soviético e a própria China estão, cada vez mais, aceitando a autonomia da iniciativa privada, visando resolver as questões centrais da economia “o quê e quanto produzir”, “como produzir” e “para quem produzir”.

No sistema baseado nos mercados, é importante que os fatores de produção sejam utilizados da forma mais eficiente possível, seja pelas empresas, no que tange à obtenção de lucros, como pelos indivíduos, ao procurar maximizar o atendimento às suas necessidades de consumo.

Tem sido constatado que o sistema de mercados resolve as questões e os problemas econômicos de maneira mais eficiente, à medida que os agentes econômicos, estimulados pelos sinais, conduzidos pelos mercados, sintetizados no sistema de preços, realizam suas escolhas de produção, consumo, poupança e investimentos.

Mas como demonstra a atual crise mundial, espalhada a partir das ocorrências verificadas nos mercados financeiros norte-americanos, o poder

central precisa estar atento à necessidadedereforçodaregulamentaçãodasatividades,deforma a evitar

desvios que comprometem a eficiência do sistema.

Ademais, mesmo em situações normais, sem crises de porte significativo, existem várias situações em que o mercado, agindo livremente, não consegue equacionar os problemas econômicos, como é o caso, por exemplo, dos suprimentos dos bens públicos.

Bens públicos

Bens, serviços e recursos diferem na extensão na qual as pessoas podem ser excluídas do [seu] consumo e na extensão na qual o consumo de uma pessoa rivaliza com o de outras.

Os bens públicos, por não serem precificados, são não-excludentes e não-rivais.

Entre os bens públicos enquadram-se os serviços de educação, saúde e outros, para os quais não se consegue estabelecer um preço com base nas ofertas de oferta e demanda do mercado. São, então, providos pelo próprio governo, a partir de suas arrecadações de tributos.

É importante ressaltar, também, que os bens públicos estão relacionados com o chamado “efeito carona”, isto é, a falta de incentivos para que seja pago pelos beneficiários.

Parkin (2009, p. 365) comenta: “O governo cresce em parte porque a demanda por alguns bens públicos aumenta em uma velocidade maior do que a demanda por bens priva dos”.

Má distribuição de renda

As teorias neoclássicas admitem que um sistema de mercado é eficiente no sentido de que não se consegue melhorar a situação de um agente econômico sem que isso cause o prejuízo de outro.

Esse conceito de eficiência, porém, não se relaciona com o de justiça e equidade social e, assim, em muitos países, notadamente nos menos desenvolvidos, há sensíveis diferenças na repartição dos benefícios do desenvolvimento econômico, favorecendo poucos em detrimento de muitos. O sistema de preços, nesse caso, pode direcionar a produção para os bens e artigos de luxo em vez dos que atendem às necessidades mais prioritárias da maioria da população.

Outros custos sociais

Neste caso, referimo-nos a deficiências do sistema que transfere para o setor público o atendimento a certos custos sociais, como é o caso de poluição, congestionamento de trânsito e vazamentos de petróleo.

Esse fenômeno é denominado externalidades negativas, quando determinadas empresas ou setores são afetados negativamente pela atuação de outros. O inverso acontece no caso das externalidades positivas, quando agentes econômicos são beneficiados pelas atividades de outrem.

Podem ser mencionadas, aqui, as atitudes exacerbadas ou fraudulentas dos agentes econômicos à procura de lucro rápido e fácil, que podem resultar em sérios desequilíbrios entre a oferta agregada e a demanda agregada, manifestando-se nas crises financeiras ou econômicas.

Tais desequilíbrios acabam por afetar tanto os países do centro – economias avançadas, de elevado poder aquisitivo – como os da periferia – economias em estágios menos avançados de desenvolvimento.

Recentemente, a crise que afetou o mercado de imóveis residenciais nos Estados Unidos repercutiu sobre todas as economias de mercado, conclamando os governos dos países do centro, em uma primeira instância, a intervirem de maneira decisiva sobre a oferta de moeda e crédito, de vital importância para o suporte à demanda e oferta de bens e serviços indispensáveis à sociedade como um todo.

Entendemos que os amplos processos de re-estatização, fortemente recomendados após essa grave crise, devem ser entendidos como provisórios, até que haja uma reorganização dos mercados, com o restabelecimento das linhas de crédito, nacionais e internacionais, e de níveis adequados de confiança entre os agentes econômicos, a partir de regulamentações mais precisas pelos órgãos responsáveis pelo controle dos sistemas financeiros, principalmente.

A história se repete e há quem já chame essas intervenções estatais de pré-privatização, à medida que prevê, assim que for possível, o retorno das empresas (principalmente as financeiras) para o controle da iniciativa privada.

Nas décadas de 1980 e 1990, nações emergentes como o Brasil, México, Argentina, Rússia e países do sudeste asiático enfrentaram desequilíbrios estruturais que também exigiram a participação decisiva do Estado como elemento promotor da indispensável regulação da atividade econômica para a superação da crise.

Síntese do tema

A sociedade de mercado é ineficiente no tratamento dos bens públicos e das questões sociais, como as relacionadas com a repartição da renda e deterioração do meio ambiente.

O sistema, ademais, tem enfrentado crises financeiras e de outra ordem com muita frequência, prejudicando a sua eficiência.

Questões para revisão

1. O que diferencia uma economia de mercado de outra, planificada centralmente?

2. Como pode ser medida a eficiência operacional do sistema de mercado?

3. O que caracteriza uma economia que adota a planificação central de suas atividades econômicas?

4. O que você pensa sobre a liberdade de ação do consumidor? Como ela contribui para a eficiência do sistema de mercado?

5. Ao longo da análise efetuada nos ítens anteriores, você também concorda que “restam poucas dúvidas de que o mecanismo de mercado cumpre mais eficazmente que qualquer outro a finalidade social predominante”? Que finalidade social predominante é essa? 6. A respeito da planificação da economia da ex-União Soviética, não é

possível afirmar que:

a) A Nova Política Econômica, que pregava um retorno parcial para a economia de mercado, foi a forma encontrada pelos governantes da ex-União Soviética para desenvolver e industrializar o país nos primeiros anos após a Revolução Russa.

b) Conseguir obter alimentos do setor agrário da economia para a população urbana foi um grave problema nos primeiros anos da Revolução. Com a coletivização das terras, esse problema foi resolvido, já que estas passaram a ser do governo.

c) Como a Rússia era uma sociedade semifeudal, e com o capitalismo restrito a um pequeno setor comercial e industrial, os problemas enfrentados pelos líderes da Revolução Russa para desenvolver o país eram significativos.

d) Ao contrário da economia de mercado, naquele país as ordens diretas de uma agência governamental determinavam qual seria a a locação de recursos e de trabalho.

e) Uma das grandes causas da passagem da Rússia de uma sociedade camponesa para uma sociedade industrial deveu-se à capacidade de planificação central para promover níveis muito elevados de investimento. Porém, o sistema de planificação não é tão eficiente para alocar os recursos da economia.

Resposta correta: alternativa b. A planificação central da ex-União Soviética não levava em consideração a lucratividade e pressões da demanda. Também a economia de mercado não considera “ordens diretas de uma agência governamental para a alocação de recursos e de trabalho”. As demais alternativas são todas aplicáveis à planificação central da economia que se processou na ex-União Soviética.

6 . 2 O c a p i t a l i s m o e a e c o n o m i a d e m e r c a d o

As críticas ao sistema capitalista, notadamente em relação aos seus custos sociais, são antigas.

Acreditavam os defensores dos sistemas baseados na planificação central da economia, contrário ao da livre iniciativa, que aquele representava uma melhor e, principalmente, mais justa opção de desenvolvimento, notadamente dos países mais pobres.

De fato, há significativas diferenças entre essas duas alternativas no que tange ao atendimento às questões “o quê e quanto produzir”, “como produzir” e “para quem produzir”.

Independentemente de aspectos ideológicos, porém, não se pode olvidar o destaque a algumas das características essenciais do sistema baseado nos livres mercados, tais como o direito legal à propriedade privada dos meios de produção e a forma de determinação da distribuição do mercado. O primeiro assegura que, no capitalismo, todos os meios de produção pertencem a indivíduos, incluindo a sua própria força de trabalho. O segundo refere-se à alocação dos recursos e à geração da renda, em suas diversas modalidades, tais como salários, juros, lucros e aluguéis, apoiada totalmente pelos mercados, sem distinção de classe social.

No socialismo, a propriedade dos fatores de produção é pública, dependendo do planejamento e não do mercado, tanto para a alocação geral de recursos como para a repartição da renda entre os agentes econômicos.

Os futuros desafios

De fato, existem falhas quanto ao nosso entendimento acerca das possibilidades de superação das dificuldades, visando a uma mais eficiente e justa produção e repartição dos bens e serviços produzidos pela economia de mercado. Em suas análises, Heilbroner (1979) evidenciou a necessidade de, numa economia de mercado, os agentes aumentarem seu conhecimento do funcionamento do sistema econômico.

Em momentos de crises econômicas e financeiras, costuma-se atribuir à sociedade de mercado a culpa pelos problemas de recessão e desemprego. Mas é importante considerar que o bom funcionamento dos mercados demanda o exercício da moralidade e o direcionamento dos estímulos corretos à atuação dos agentes econômicos, não podendo ser dispensadas as medidas de regulação pelo Estado.

A desregulamentação, na dosagem certa, com a ação consciente do Estado, pode continuar permitindo que alcancemos os benefícios em termos de liberdade e inovação para a criação de produtos modernos e eficientes, nos mais diferentes mercados (inclusive nos financeiros). Mas essas facilidades, se aplicadas de forma extrema, podem conduzir a exageros que se refletem em desarranjos da economia.

setores da economia, cujos malefícios também já foram constatados no passado. As más condutas devem ser debitadas aos próprios agentes, e não ao sistema de mercado, que tem se revelado, ao menos até o momento, como a melhor alternativa para a solução dos problemas fundamentais da economia.

Síntese do tema

A propriedade privada dos fatores de produção, a livre alocação de recursos e a possibilidade de geração de rendas constituem o cerne de uma economia de mercado. Seu desempenho, porém, não é imune a comportamentos exacerbados e, como tal, requer vigilância e controle pelos órgãos responsáveis.

Questões para revisão

1. Por que a propriedade privada dos meios de produção constitui um dos pilares do capitalismo?

2. Você concorda com a afirmação de que todos os meios de produção pertencem aos indivíduos, num regime capitalista? Por quê?

3. Qual era o sistema econômico que possuía uma vocação natural para a distribuição dos bens e serviços por toda a sociedade? Em sua opinião, este sistema sobreviverá nos dias de hoje? Justifique sua resposta.

4. O capitalismo atua de forma eficiente no caso da alocação dos recursos e possibilidades de geração de renda no caso brasileiro? Justifique sua resposta.

5. E a sua força de trabalho? Pertence a você, pelo preço que lhe convém? Você tem um excedente do produtor quando negocia sua própria força de trabalho?

6. O que você pensa sobre a necessidade de conhecimento dos fundamentos básicos do funcionamento do sistema econômico como premissa para a obtenção de eficiência produtiva e adequada distribuição por todos os agentes envolvidos dessa produção?

7. No particular aspecto relacionado à propriedade privada dos meios de produção, como se comporta o socialismo?

8. Por que o planejamento é vital no caso do socialismo? E o capitalismo, sobrevive sem planejamento? Por quê?

9. Como você vê a intensa desregulamentação dos mercados, notadamente os financeiros, que muitos afirmam ser uma das maiores causas das severas crises verificadas nos países desenvolvidos e em desenvolvimento?

10. Na sua opinião, deveríamos desincentivar as inovações nos mercados financeiros, de maneira a impedir a ocorrência de crises

que afetam os agentes econômicos dos diferentes países?

11. Em relação às diferenças entre capitalismo e socialismo, é possível afirmar corretamente, à luz dos conhecimentos adquiridos ao longo deste curso, que:

a) No capitalismo, as forças produtivas da sociedade são de propriedade privada, e esse sistema econômico apoia-se no mercado, tanto para alocar os recursos produtivos entre os vários usos possíveis, quanto para estabelecer os níveis de renda de diferentes classes sociais (como salários e lucros). Por sua vez, o socialismo reserva o direito de propriedade ao governo, além de depender do planejamento para a alocação geral de recursos e para a distribuição de renda.

b) O socialismo apoia-se no mercado, seja para alocar os recursos produtivos entre os vários usos possíveis, seja para estabelecer os níveis de renda de diferentes classes sociais (como salários e lucros). O capitalismo depende do planejamento, e não do mercado, para atingir esses objetivos.

c) No socialismo, as forças produtivas da sociedade são de propriedade pública, enquanto que o capitalismo nega o direito à propriedade privada, reservando o direito de propriedade ao governo.

d) O capitalismo baseia-se em procedimentos criados num passado distante, sendo consolidados por um longo processo de sanções e erros históricos. Por outro lado, o socialismo depende do mercado e de suas soluções para decidir a alocação e mobilização de esforços, bem como para distribuir a renda.

e) O capitalismo e o socialismo convivem integrados num mercado complexo e dividido entre bens e serviços finais que provocam o obsoletismo.

Resposta correta: alternativa a. No capitalismo, as forças produtivas (empresas) pertencem, normalmente, à iniciativa privada, e a produção e a repartição de bens e serviços são orientadas pelo sistema de preços. No socialismo, a propriedade é pública, e a produção e a distribuição dos produtos são feitas com base em planejamentos, central e setoriais, atualizados periodicamente, invalidando as alternativas b, c e d. Também está errada a alternativa e, por serem sistemas com caracteristicas diferentes.

Referências bibliográficas

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PASSOS, Carlos Roberto M; NOGAMI, Otto. Princípios de economia. São Paulo: Pioneira, 2005.

VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Economia: micro e macro. São Paulo: Atlas, 2007.