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ASPECTOS CONCEITUAIS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E

CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA

2.2 ASPECTOS CONCEITUAIS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E

O conceito de desenvolvimento sustentável provém de um longo processo histórico de reavaliação e crítica à relação existente entre a sociedade civil e seu meio natural. Neste contexto, Bellen (2006) afirma que, por se tratar de um processo contínuo e complexo, observa-se atualmente, a existência de uma variedade de abordagens que procuram explicar o conceito de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade. Assim, essas abordagens serão mostradas e discutidas mais adiante, sob as diferentes concepções de vários autores, com o intuito de contribuir para o debate e entendimento a respeito desses temas complexos.

Com o processo de evolução econômica e o fortalecimento dos sistemas produtivos, a partir da segunda metade do século XX, no qual a capacidade de consumo e o poder aquisitivo da população vêm crescendo significativamente, as organizações passaram a otimizar os setores produtivos como forma de aumentar a capacidade de produção e obter lucro a todo custo. Entretanto, Barral Neto, Dias e Silva Neto (2006) afirmam que a busca desenfreada pelo lucro, premissa básica do sistema capitalista, tem do ponto de vista de sua organização espacial, artificializado cada vez mais o meio físico, causando problemas na dinâmica própria da natureza.

Apesar desse tipo de crescimento procurar beneficiar as instituições econômicas, através do uso de tecnologias de gestão e processo, estimulando o consumo e, consecutivamente o lucro para as empresas, sob a ótica ambiental, esse modelo de desenvolvimento torna-se insustentável.

Considerando esses argumentos, é possível compreender que, quando um modelo de desenvolvimento está fundamentado numa única dimensão, esse sistema não pode ser considerado sustentável. Para que um sistema esteja alicerçado nos princípios da sustentabilidade, ele deve abordar uma visão multidisciplinar que englobe diversos fatores, tais como: econômicos, culturais, de estruturas sociais, e o uso equilibrado e consciente dos recursos ambientais, conforme mostra a Figura 01.

Figura 01: A sustentabilidade e as dimensões ambientais, sociais e econômico-financeiras Fonte: adaptado de Alledi Filho (2002)

Na figura apresentada, a sustentabilidade tem como regra fundamental o uso responsável dos fatores ambientais, sociais e econômico-financeiros. Segundo Quelhas, Alledi Filho e Meiriño (2008), essa ilustração representa um “modelo mental”, na qual a interseção da dimensão econômico-financeira e a dimensão social induzem ao conceito do consumo responsável e ao comércio justo. Já a interseção da dimensão econômico-financeira e a dimensão ambiental traduzem a preocupação do projeto ou processo ser viável, em virtude do crescente número de limitações e marcos legais para a operação e ampliação de capacidades industriais.

Desse modo, Silva e Mendes (2005) argumentam que, o desenvolvimento sustentável deve ocorrer a partir da existência e interação dos agentes que formam uma sociedade composta por organizações, indivíduos e o Estado, no qual, todos os componentes devem se preocupar em compreender o papel de cada agente e a sua inter-relação com os demais para que possam adquirir um conhecimento sistêmico da realidade. Ou seja, cada membro organizacional deve avaliar a sua capacidade de influenciar e intervir sobre os demais agentes para tornar o

desenvolvimento sustentável, buscando com isso, analisar as complicações e tendências para elaborar políticas públicas voltadas ao fortalecimento e ao desenvolvimento sistêmico.

Neste sentido, Franco (2000) observa que, a sustentabilidade não diz respeito somente à preservação ou a conservação de recursos naturais limitados e não renováveis, mas diz respeito também, a um padrão de organização de um sistema que se mantém ao longo do tempo em virtude de ter adquirido certas características que lhe conferem capacidades autocriativas.

Sendo assim, ambos os conceitos apontam para uma interação entre todos os componentes que constitui a sustentabilidade, no qual, os fatores devem ser analisados de acordo com suas especificidades.

Compartilhando desses princípios, Melo (2008) acrescenta que, o pensamento atual sobre o desenvolvimento sócio-econômico e ambiental passa pela vertente da sustentabilidade. E é a partir desses princípios, que vários temas/tópicos envolvem as dimensões sustentáveis vêm à tona e merecem destaque, como é o caso da sustentabilidade, dos seus indicadores de desempenho e dos conceitos de fatores que envolvem um tripé de preocupações sociais, econômicas e ambientais, que são assuntos de interesse da academia e da sociedade como um todo.

A respeito desse tripé que compõe o modelo de desenvolvimento alicerçado na sustentabilidade, Quelhas, Alledi Filho e Meiriño (2008) informam que, esse modelo apóia-se no

Triple Botton Line – TBL, expressão cunhada pela consultoria inglesa Sustain Ability, conforme

ilustra a Figura 02.

Figura 02: Triple Botton Line Fonte: Adaptado de Elkington (1997)

A abordagem Triple Botton Line, proposta por John Elkington em 1997, enfatiza duas questões consideradas fundamentais para uma atuação voltada à sustentabilidade: a integração

dos três componentes do desenvolvimento sustentável – crescimento econômico, equidade social e proteção ao meio ambiente, e a integração entre os aspectos de curto e longo prazo.

Desta maneira, Sachs (2004) argumenta que, o conceito de desenvolvimento sustentável surge, a partir da perspectiva, no qual a preservação do meio ambiente deve estar aliada com a melhoria das condições sócio-econômicas da população, cujos, princípios, devem integrar de maneira equilibrada e com equidade os principais fatores que permeiam uma sociedade, envolvendo e analisando-os de maneira interdependentes.

Corroborando esta definição, Parente e Ferreira (2007) acrescentam que, o desenvolvimento sustentável é um processo evolutivo que vislumbra o crescimento da economia, a melhoria da qualidade do ambiente e da sociedade para benefício das gerações presentes e futuras. Nesse ponto de vista, para que as gerações vindouras usufruam os recursos naturais disponíveis, é preciso olhar para o presente e discutir em que proporções, às ações inconsequentes do homem irão interferir no desenvolvimento do planeta.

Para Bellen (2006), o conceito de desenvolvimento sustentável trata especificamente da interação entre o homem e o meio ambiente como forma de garantia da sobrevivência de ambos. Essa nova abordagem, no qual a sociedade se relaciona com o meio ambiente, põe o homem como fator interdependente da cadeia natural, uma vez que ele necessita dos recursos advindos da natureza para sobreviver e interfere diretamente no ciclo vital das espécies, tornando-o agente determinante na manutenção e no desenvolvimento do ecossistema no qual ele habita.

Considerando o exposto, a problemática da sustentabilidade assume neste novo século, um papel central na reflexão sobre as dimensões do desenvolvimento e das alternativas que se configuram. A realidade em que a sociedade vive, nos revela o grau do impacto causado pela ação do homem no meio ambiente, tanto em termos de natureza quantitativa, quanto qualitativa.

Diante do modelo de desenvolvimento vigente e da realidade em que se encontra o ecossistema, a comunidade acadêmica tem discutido e conduzido à sociedade a repensar até quando, a natureza conseguirá fornecer os recursos necessários para sobrevivência humana e suportar a carga imposta pelo consumo. O intuito é despertar na população, o interesse em preservar os recursos ambientais e cobrar das autoridades governamentais ações e políticas públicas mais consistentes que amenizem os impactos ambientais, reforçando assim, a relação de interdependência entre a sociedade e a natureza, gerando desse modo, um equilíbrio entre todas as dimensões do sistema.

Num sentido abrangente, a noção de desenvolvimento sustentável, reporta-se à constante redefinição das relações entre sociedade humana e natureza, e, portanto, a uma mudança substancial do próprio processo civilizatório, desafiando-a a sair da fase conceitual e passar para a fase da ação. Nesse desafio, deve-se incluir o caminho a ser desenhado que passa necessariamente por uma mudança no acesso à informação e por transformações institucionais que garantam acessibilidade e transparência na gestão. Assim, Almeida (2002) destaca que o desenvolvimento sustentável trata-se da gestão do progresso que deve considerar as dimensões ambiental, econômica e social, tendo como objetivo, a garantia da perenidade da base natural, da infraestrutura econômica e da sociedade.

Portanto, o conceito de desenvolvimento assume um sentido mais amplo que a do crescimento, uma vez que envolve aspectos multidimensionais com mudanças nas estruturas, valores e instituições. Diante do exposto, fica claro que não dá para compreender práticas sustentáveis sem que haja o envolvimento dos seguintes fatores:

a) Equidade – no qual todos possam usufruir os resultados de forma igual, diminuindo as relações de desigualdades tanto entre as espécies, quanto entre os próprios membros da sociedade;

b) Equilíbrio – permitir consumir os recursos naturais de maneira consciente e responsável, garantindo a continuidade das espécies e sem comprometer o desenvolvimento das futuras gerações;

c) Dimensões temporais – uma vez que os resultados só podem ser comprovados ao longo do tempo.

De tal modo, estes aspectos devem envolver não apenas fatores puramente econômicos, mas também, dimensões que busquem a equidade na distribuição de renda e o desejo de justiça relacionado ao desenvolvimento social, com a redução das desigualdades e erradicação da pobreza absoluta, aliada a aspiração pela proteção dos recursos naturais, de forma que o convívio social esteja em harmonia com o meio ambiente e o desenvolvimento econômico.

Sendo assim, a seção seguinte procura enriquecer o debate trazendo as diferenças conceituais entre desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, de modo a esclarecer que embora as duas vertentes sejam independentes e interajam entre si, porém no aspecto conceitual, as mesmas não são sinônimas como muitos acreditam e defendem.

2.3 Diferenças entre desenvolvimento sustentável e sustentabilidade

Como visto anteriormente, num modo mais amplo, o desenvolvimento sustentável está relacionado ao progresso, ou ainda, com a forma de fazer melhor, porém a questão de como

produzir torna-se fundamental, em detrimento do que e para quem produzir. Os meios para

alcançar esse desenvolvimento têm sido uma das grandes apreensões da humanidade, devido o aumento da preocupação em manter a existência de recursos naturais e um ambiente propício à continuidade das espécies.

Diante disso, o entendimento em torno dos conceitos de desenvolvimento e sustentabilidade tem gerado controvérsias e críticas, uma vez que, para alcançar o desenvolvimento, respeitando a regeneração do planeta, é necessário limitar a escala da atividade humana e o padrão de consumo da população à capacidade de suporte do ecossistema. Do ponto de vista daqueles que criticam o conceito, algumas vulnerabilidades são apontadas ao definir o termo desenvolvimento sustentável, o qual tem levantado questionamentos em torno da possibilidade de conciliar crescimento econômico e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente, no contexto de uma economia capitalista de mercado. Também é questionada a possibilidade de se atingir eficiência econômica, prudência ecológica e justiça social em uma realidade de mundo extremamente desigual, injusta e degradada.

De acordo com Barbieri (2003), essas críticas ao desenvolvimento sustentável surgem, devido o entendimento da palavra “desenvolvimento” ser confundida, muitas vezes, com crescimento econômico, criando barreiras para a operacionalização do desenvolvimento sustentável. A partir desse posicionamento, é possível verificar que, quando os negócios das classes dominantes são colocados de forma prioritária e o desenvolvimento é focalizado apenas pela dimensão econômica, impulsionada pelo modo excludente do capital e iludida por ideologias racionalizadoras, a definição de desenvolvimento passa a ser manipulável de acordo com seus interesses, uma vez que esta parcela da sociedade nem sempre está disposta a sofrer restrições, nem tão pouco passar por mudanças e sacrifícios econômicos.

Deste modo, quando a noção de desenvolvimento está associada unicamente ao crescimento econômico fica bastante difícil de aceitar e praticar a sustentabilidade, uma vez que, todos os recursos de que os sistemas econômicos necessitam, dependem do meio ambiente. Os defensores desse tipo de desenvolvimento, mais voltado para o crescimento, se amparam na ideia

de que, qualquer sociedade precisa munir-se de meios duradouros para se manter, bem como, para produzir os bens e serviços para prover o sustento humano e promover o progresso, é necessário utilizar recursos da natureza sem empecilhos.

Entretanto, para que as gerações futuras usufruam e alcancem os benefícios do desenvolvimento, é preciso incluir uma preocupação com o uso eficiente dos recursos naturais e deter com urgência a degradação ambiental e social que atinge proporções gigantescas, ameaçando a própria vida no planeta, buscando a equidade econômica, como forma de reduzir as desigualdades sociais e regionais. Portanto, o grande desafio está exatamente em conciliar as duas vertentes: a preservação dos recursos ambientais e o desenvolvimento sócio-econômico.

Nesta perspectiva, Silva (2006) destaca, a necessidade de mudanças contínuas na forma de agir das organizações, ampliando a responsabilidade que a sociedade tem para com as gerações vindouras, para que seja possível a continuidade das espécies ao longo do tempo, através de ações construtivas estabelecida no presente. Para isso torna-se indispensável aos debates, uma análise de dimensões variadas envolvendo a interseção harmônica de fatores espaciais, sociais, ambientais, culturais e econômicos como premissas indispensáveis às ações construtivas não só com o presente, mas também com as futuras gerações.

Para Lima (1997), os debates em torno das responsabilidades e decisões estratégicas sobre os mecanismos de se atingir a sustentabilidade do desenvolvimento, devem ter início a partir de três preposições básicas, as quais são:

1) Uma visão estadista - considera que a qualidade ambiental é um bem público que deve ser normatizada, regulada e promovida pelo Estado, com a complementaridade das demais esferas sociais, em plano secundário (o mercado e a sociedade civil); 2) Uma visão comunitária - considera que as organizações da sociedade civil devem ter

o papel predominante na transição rumo a uma sociedade sustentável. Fundamentam- se na ideia de que, não há desenvolvimento sustentável sem democracia e participação social e que a via comunitária é a única que torna isto possível; e,

3) Uma visão de mercado - afirma que os mecanismos de mercado e as relações entre produtores e consumidores são os meios mais eficientes para conduzir e regular a sustentabilidade do desenvolvimento.

Assim, o desenvolvimento sustentável, na concepção de Jacobi (2003), somente pode ser entendido como um processo no qual, de um lado, as restrições mais relevantes estão

relacionadas com a exploração adequada dos recursos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e o marco institucional. De outro, o crescimento deve enfatizar os aspectos qualitativos, notadamente os relacionados com a equidade, o uso de recursos – em particular da energia – e a geração de resíduos e contaminantes. Em outras palavras, para que haja um desenvolvimento considerado sustentável, primeiramente, é preciso repensar a melhor maneira de crescer e produzir através do uso racional dos recursos, protegendo assim o meio ambiente, aproveitar de forma eficiente os insumos, em detrimento da renovação dos recursos necessários à manutenção das espécies, bem como, uma distribuição sócio-econômica equilibrada e igualitária dos benefícios advindos desse progresso.

A sustentabilidade surge no contexto da globalização como marca de um limite e o sinal que reorienta o processo civilizatório da humanidade, colocando em questão, o modelo de desenvolvimento e crescimento econômico, baseado na acumulação de riquezas e uso indiscriminado dos recursos naturais. Deste modo, a sustentabilidade diz respeito à manutenção, primariamente, do ambiente ou ao futuro equilibrado do lugar em que se pretende chegar.

Ao contribuir com o debate, Silva e Mendes (2005), diferenciam os aspectos conceituais do desenvolvimento sustentável e sustentabilidade ao tratar o desenvolvimento como um processo, e a sustentabilidade como um fim. Sob essa perspectiva, o desenvolvimento sustentável é o caminho ou meio para se alcançar a sustentabilidade, o foco está em como se pretende chegar, enquanto a sustentabilidade está vinculada aos fins, ao lugar a que se pretende chegar.

Desse modo, os processos de desenvolvimento têm mais ênfase no presente, enquanto a sustentabilidade destaca as ações para o futuro. Apesar, da dinâmica entre elas serem complementares e os seus objetivos sejam distintos, os interesses entre as duas vertentes são comuns, uma vez que consideram as mudanças no presente em detrimento dos resultados e efeitos que essas mudanças poderão causar no futuro.

Portanto, considerando a temática em questão, fica evidente que os dois assuntos são complementares e que embora tenham objetivos distintos, o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade possuem interesses incomuns. O desenvolvimento, constituído a partir de princípios sustentáveis é algo que não pode ser obtido instantaneamente, pois a sustentabilidade é um processo que necessita de mudança, de transformação estrutural que necessariamente deve ter a participação da população e a consideração de suas diferentes dimensões.

Destarte, o desafio da sustentabilidade está presente em todos os campos do conhecimento humano. São inúmeras as definições atribuídas ao termo sustentabilidade, todas, no entanto, apresentam as relações sociais, econômicas e ambientais como fatores imprescindíveis para sua concretização. Estas dimensões, somadas a outros fatores que compõem a sustentabilidade serão melhores compreendidas e detalhadas no próximo item, através da análise estruturada das premissas que compõem o sistema.