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CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA

2.6 PRESSÃO-ESTADO-RESPOSTA – PER

A metodologia Pressure-State-Response - PSR ou Pressão-Estado-Resposta (PER) é considerada um dos sistemas de indicadores ambientais mais populares entre os especialistas.

De acordo com Abreu (2001), o Pressão-Estado-Resposta (PER) foi desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), sendo utilizado com algumas alterações por outras agências internacionais como Unstat (Divisão de Estatísticas das Nações Unidas) e Eurostat (Divisão de Estatísticas da Comunidade Européia), com o objetivo de atingir três propósitos principais, que envolvem: o acompanhamento dos progressos ambientais, a garantia de que preocupações ambientais sejam levadas em consideração quando as políticas de governo forem formuladas e implementadas, além da integração das preocupações ambientais com as econômicas. O método parte do princípio de que, todas as atividades humanas exercem impacto sobre o meio ambiente (pressão) e mudam sua qualidade e a quantidade dos recursos naturais (estado). Em consequência disto, a sociedade responde a estas mudanças através de políticas ambientais, econômicas e setoriais (resposta).

Silveira (2004) argumenta que, o modelo PER tem a característica de poder ser adotado em qualquer contexto espacial (nações, regiões, localidades) possibilitando enfocar aspectos sociais, econômicos e ambientais.

No sistema PER a variável, pressão, busca mensurar o efeito produzido pelo estado do meio ambiente sobre diferentes aspectos, como os ecossistemas, qualidade de vida humana, economia urbana local, entre outros, conforme mostra a Figura 05.

Figura 05: Modelo Pressão-Estado-Resposta (PER) Fonte: Adaptado do OECD (1998)

Assim, o modelo PER apresenta uma estrutura que abrange a informação ambiental em termos de indicadores de pressão exercidos pelas atividades humanas no meio ambiente e o estado deste. As soluções em forma de respostas dos stakeholders envolvidos são apresentadas de forma cíclica, sendo que os atores estão sempre interagindo, buscando melhorias.

Apesar de todas as vantagens oferecidas pelo método PER, Bossel (1999) argumenta que, estes tipos de indicadores possuem algumas deficiências, gerando críticas ao sistema, as quais se podem mencionar: os indicadores são construídos sem uma estrutura teórica conceitual que consiga refletir a operacionalidade e viabilidade da totalidade do sistema; as escolhas sempre refletem as especificidades e a área de interesse de seus autores e em consequência disto, tendem a ser densos em algumas áreas (múltiplos indicadores para uma mesma preocupação) e esparsos ou mesmo vazios em outras áreas também importantes.

Compartilhando dessa visão, Franca (2001) afirma que, apesar deste modelo ter sido muito empregado, por alguns pesquisadores, devido à simplicidade de sua concepção, porém, o modelo não discrimina a infinidade de interações que ocorrem entre as atividades humanas e o sistema ambiental.

Outra crítica referente ao modelo PER, na concepção de Azar, Holmberg e Lindgren (1996), é que as medidas podem ser mensuradas nos três níveis do sistema, porém, alguns argumentos têm sido apresentados para a necessidade de focalização nos indicadores de pressão, dado que eles permitem um alerta, gerando definição de políticas; mas, na prática, a maior parte dos indicadores se restringem ao nível de descrição de estado.

A partir dessas críticas, na tentativa de sanar algumas das limitações questionadas, a Comissão em Desenvolvimento Sustentável da ONU procurou organizar um grupo de trabalho que culminou na ampliação do modelo PER, gerando a metodologia conhecida como Drive

Force-State-Response - DSR. Assim, Franca (2001) informa que o conceito Driving Force

substitui o Pressure para representar a categoria mais ampla de atividades humanas, processos e padrões com impactos possíveis sobre o desenvolvimento sustentável. Desta forma, Estado e Resposta passam a referir-se a sustentabilidade global ao invés de apenas o ambiente.

Segundo informam Carvalho e Barcellos (2009), existem três variantes do modelo PER que são a Força Motriz-Estado-Resposta (FER); Pressão-Estado-Impacto-Resposta (PEIR) e a Força Motriz-Pressão-Impacto-Estado-Resposta (FPIER), cujas descrições e características são as seguintes:

- O modelo FER substitui a pressão pela força motriz (F) e foi adotado pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, em 1995, no livro azul. Os indicadores da força motriz (F) representam as atividades humanas, os processos e as produções que afetam o desenvolvimento sustentável. Ou seja, é o que está por trás das pressões; são as atividades humanas que provocam impactos sobre o meio ambiente, por exemplo, as atividades industriais emitem poluentes. Pode também expressar processos mais amplos, como crescimento demográfico e urbanização; - O modelo PEIR inclui o impacto (I) no PER e é utilizado pelo Programa das Nações

Unidas para o Meio Ambiente. Este modelo tem como base a elaboração de quatro grupos de indicadores. A primeira categoria, Pressão - observa as causas dos problemas ou mesmo as causas diretas ou indiretas que levam a um determinado estudo e/ou pesquisa. A segunda categoria é o Estado - o qual relaciona a qualidade do meio ambiente em função dos efeitos das funções antrópicas. Impacto - a terceira categoria se refere aos efeitos e impactos das interações sociedade-natureza causados pelas pressões do estado do meio ambiente. A quarta categoria deste modelo,

Resposta - representa as ações que a sociedade gera com respostas às Pressões,

Estado e Impacto sobre determinado sistema;

- O modelo FPIER nada mais é do que a inclusão da força motriz (F) e do impacto (I) no PER. A variante impacto refere-se aos indicadores que medem as consequências da

degradação ambiental sobre o homem e em seu entorno, por exemplo, a incidência de doenças respiratórias associadas à poluição do ar.

Assim, o termo força motriz, na visão do Departamento de Coordenação Política e Desenvolvimento Sustentável (Department for Policy Coordination and Sustainable

Development - DPCSD) seria mais apropriado para reunir indicadores econômicos, sociais e

institucionais. Destarte, os indicadores das forças motrizes descrevem as atividades humanas, processos e padrões de impacto sobre o desenvolvimento sustentável (LIRA, 2008).

Deste modo, é importante salientar que embora o método vise avaliar o estado do meio ambiente nos níveis global, regional e nacional, o sistema PER pode ser adaptado para analisar os problemas causados pelas ações humanas em diferentes atividades produtivas, inclusive nas agrícolas, propondo possíveis soluções. Além disso, o método permitir englobar outras dimensões da sustentabilidade, avaliando as atividades de forma sistêmica.

No caso da agricultura é possível reconhecer que as atividades agrícolas tanto podem causar bons como maus impactos no sistema. Um exemplo positivo seria a utilização de tecnologia de irrigação mais adequada, visando à otimização do uso da água; já uma ação negativa que provoca impacto do ambiente é o uso de fertilizantes sintéticos e agrotóxicos. Neste caso, as forças motrizes também comportam os fatores de comportamento dos agricultores, das políticas públicas, dos fatores econômicos, sociais e culturais nas atividades da agricultura (NIEMEIJER e GROOT, 2006).

Iniciativas como estas de tentar ajustar, atualizar e melhorar um sistema de indicadores são louváveis, uma vez que todos os esforços devem ser empregados na construção de índices consistentes que representem uma situação da forma mais verídica possível.

Levando em consideração o conteúdo apresentado referente aos sistemas de indicadores, mostrando experiências bem-sucedidas e metodologias estabelecidas, é possível perceber alguns problemas comuns na construção de índices e indicadores de sustentabilidade, tais como: ausência ou fragilidade da concepção conceitual, fragilidade dos critérios de escolha das variáveis representativas, falta de critérios claros de integração dos dados, baixa relevância dos dados utilizados. Estes fatos podem ser explicados, segundo informa Braga et al. (2003), por causa da falta de precisão nos conceitos de sustentabilidade e qualidade ambiental, bem como, devido ao processo de escolha dos dados e das variáveis a serem utilizadas na mensuração dos

referidos fenômenos ser, às vezes, pouco claro, assim como as relações de causalidade que dão suporte aos sistemas de indicadores construídos.

Sendo assim, para determinar a sustentabilidade de um sistema é imprescindível a utilização de modelos científicos reconhecidos, contemplando indicadores multidimensionais em diversos aspectos (econômicos, sociais, ambientais, dentre outros), a exemplo do Sistema PER considerados como sendo os mais adequados para trabalharem ambientes complexos; devendo buscar, através de critérios e índices consistentes, expressar com veracidade uma realidade local, e assim, encontrar soluções para um determinado problema.

É importante salientar que os modelos de indicadores de sustentabilidade utilizados pelas organizações e instituições, na grande maioria das vezes, revelam a sustentabilidade aplicada basicamente para avaliar áreas geográficas ou territoriais de maneira mais ampla, sem analisar as características específicas e individuais de cada sistema. A partir de agora, a proposta é focalizar a noção de desenvolvimento sustentável ao âmbito das atividades rurais e da agricultura familiar, buscando metodologias a exemplo do método Pressão-Estado-Impacto-Resposta (PEIR) para avaliar a sustentabilidade nas atividades agrícolas, já que o modelo pode ser adaptado às outras dimensões da sustentabilidade e assim atender às especificidades de forma sistêmicas.