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CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA

2.4 DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE

Como o processo de construção do desenvolvimento sustentável está vinculado à dinâmica da interação do ser humano com o meio ambiente, fazendo com que o objetivo da sustentabilidade se modifique ao longo do tempo, torna-se fundamental analisar os aspectos da sustentabilidade a partir de uma ótica multidisciplinar, segundo diferentes dimensões, as quais, possam estar vinculadas ao incremento da preocupação com a manutenção e existência de recursos naturais e a um ambiente propício para continuidade das gerações futuras, a fim de se otimizarem os estudos e avaliações do processo de desenvolvimento de um determinado local.

A partir da percepção da sustentabilidade como um conceito dinâmico que incorpora um processo de mudança, Sachs (1997) propõe considerar cinco dimensões principais para planejar o desenvolvimento de uma sociedade rumo a sustentabilidade, as quais são: a sustentabilidade econômica, a social, a ecológica, a espacial e a cultural, conforme apresenta a Figura 03:

Figura 03: As cinco dimensões da Sustentabilidade Fonte: Adaptado de Sachs (1997).

Apesar da gama de sugestões existentes na literatura, e também das controvérsias pertinentes às dimensões que se relacionam com o termo sustentabilidade, nos próximos itens, será estruturada uma análise conceitual das cinco dimensões defendidas por Ignacy Sachs.

2.4.1 Dimensão social da sustentabilidade

Segundo Camargo (2003), a dimensão social diz respeito à consolidação de um processo de desenvolvimento que envolve temas relativos à interação dos indivíduos e à sociedade em termos de sua condição de vida. Para Sachs (1997), a dimensão Social da Sustentabilidade é conhecida como capital humano, e engloba os ambientes internos e externos no que se refere às qualidades e habilidades dos seres humanos, sua dedicação e experiência. Desta forma, essa dimensão parte do princípio da justiça social, ou seja, embasa-se nos conceitos de equidade e uma melhor distribuição de renda e de bens, permitindo a redução das diferenças nos padrões de vida entre classes sociais.

Tomando por base o conteúdo apresentado, a sustentabilidade na perspectiva social está relacionada com um processo de desenvolvimento que conduza a um crescimento estável com distribuição equitativa de renda, gerando assim, uma melhoria das condições de vida das populações e, consequentemente, a diminuição das atuais diferenças nos níveis sociais.

2.4.2 Dimensão econômica da sustentabilidade

No dizer de Sachs (1997), a Sustentabilidade econômica, é conhecida como capital artificial, e trata do retorno financeiro, lucro e fontes de renda para as empresas. Para Rutherford (1997), a sustentabilidade sob a ótica econômica, analisa o mundo em termos de estoques e fluxos de capital. Apesar dos termos, tal perspectiva não se limita ao convencional capital monetário ou econômico, ela abrange também diferentes tipos de capitais, como o ambiental e/ou natural, o humano e o social.

Segundo Tostes (2006), há muitas críticas aos defensores de um tipo de desenvolvimento multi-orientado quanto ao foco político da valoração monetária do crescimento econômico, uma vez que, ao analisar a sustentabilidade pela monetarização pura, ela não atende a todas as

dimensões do sistema. Neste contexto, existe uma abrangente e progressiva percepção de que para alcançar a sustentabilidade é necessário contemplar no planejamento, nas políticas e na ação em longo prazo, aspectos não-monetários, como os demográficos, sociais e ambientais.

Assim, a dimensão econômica, na concepção de Silva e Mendes (2005), deve levar em conta que, existem outros aspectos importantes a serem considerados, não apenas a manutenção de capital e as transações econômicas. A proposta é, possibilitar uma alocação e uma gestão mais eficiente dos recursos e um fluxo regular dos investimentos públicos e privados.

Deste modo, embora a dimensão econômica esteja relacionada ao ótimo locacional e à gestão eficiente dos recursos, assim como a um fluxo constante de inversões públicas e privadas, necessariamente, devem ser analisadas não somente pela ótica do retorno empresarial, mas também em termos de retornos sociais e ambientais.

2.4.3 Dimensão ambiental ou ecológica da sustentabilidade

Conforme explica Sachs (1997), a Sustentabilidade ambiental ou ecológica significa, ampliar a capacidade do planeta pela utilização do potencial encontrado nos diversos ecossistemas, ao mesmo tempo em que se mantém a sua deteriorização em um nível mínimo. Ou seja, relaciona-se com o uso adequado dos recursos dos diversos ecossistemas, com destaque para os produtos fósseis e resíduos de origem industrial.

Concordando com esse pensamento, Rutherford (1997) salienta que, na sustentabilidade ambiental a principal preocupação é relativa aos impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente, uma vez que o homem usufrui dos recursos naturais de forma consumista e desequilibrada. Esse processo consumista pode ser equilibrado por meio de tecnologias apropriadas ao desenvolvimento urbano, rural e industrial, no qual, ambos autores defendem um arcabouço institucional, ajustando o desenho das instituições a um novo modelo de proteção dos recursos naturais.

Assim, a dimensão ambiental consiste em se respeitar à capacidade de suporte, resistência e resiliência do planeta, de modo a retornar ao seu estado natural de excelência, superando uma situação crítica dos ecossistemas. Essa dimensão também é conhecida por capital natural, e estimula as empresas a considerar o impacto das suas ações no ambiente.

Portanto, numa forma mais abrangente, a sustentabilidade ecológica significa ampliar progressivamente a capacidade do planeta usando o potencial encontrado na natureza, mas mantendo-o em um nível mínimo de deterioração. Para alcançar tais objetivos, estudiosos apontam algumas condutas essenciais para a sustentabilidade ecológica, tais como: diminuir a emissão de substâncias poluentes, substituir os recursos não-renováveis pelos renováveis, adotar políticas de conservação de energia e aumentar a eficiência dos recursos utilizados.

2.4.4 Dimensão espacial ou geográfica da sustentabilidade

Para Silva e Mendes (2005), a percepção espacial ou geográfica da sustentabilidade diz respeito, ao estabelecimento da real dinâmica do espaço considerado (município, região e outros) a fim de que, se possam definir os objetivos e recursos existentes na localidade e refletir sobre a interação com os demais meios.

A sustentabilidade espacial ou geográfica na proposição de Sachs (1997) está baseada em uma configuração rural-urbana mais equilibrada, alcançável por meio da melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e atividades econômicas. O autor defende que é imprescindível proteger as diversidades biológicas para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Em concordância, Ribeiro, Mendes e Salanek Filho (2006) argumentam que, a sustentabilidade espacial significa usar o território de acordo com as suas reais potencialidades, desconcentrar a população das metrópoles para os espaços rurais e apoiar de forma diferenciada, as regiões com maior concentração de pobreza e menor ritmo de crescimento econômico, razão pela qual, a reestruturação da dinâmica urbana e sua inter-relação com o meio ambiente não podem ser ignoradas sob nenhum aspecto.

Neste contexto, a dimensão espacial da sustentabilidade é adquirida a partir da equidade distributiva territorial dos aglomerados humanos e econômicos, objetivando minimizar o impacto nas regiões metropolitanas, promover o desenvolvimento rural, proteger os ecossistemas frágeis e instituir unidades de reservas naturais a fim de proteger a biodiversidade.

2.4.5 Dimensão cultural da sustentabilidade

Sachs (1997) revela que, a dimensão cultural da sustentabilidade é a mais difícil de ser concretizada, pois está relacionada ao caminho da modernização sem o rompimento da identidade cultural dentro de contextos espaciais específicos. A dificuldade reside no fato de incluir, a procura por raízes endógenas de processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados, que facilitem a geração de soluções específicas para o local, o ecossistema e a cultura. Na opinião de Melo (2008), a dimensão cultural da sustentabilidade é conhecida como os valores a partir dos quais determinado grupo considera as questões relativas a seus costumes e hábitos. Inclui ações criativas para o conceito de ecodesenvolvimento, por meio de soluções específicas para a continuidade cultural, abrangendo a região, a sua cultura e seu ecossistema.

Sendo assim, para compreender a sustentabilidade é necessário envolver várias dimensões de maneira interdependentes, que englobe todos os fatores que permeiam o ecossistema, sendo considerados, instrumentos normativos fundamentais para o desenvolvimento e para a sobrevivência da humanidade, permitindo alcançar uma visão holística dos mesmos.

Em outras palavras, a sustentabilidade é considerada um compromisso com o futuro e um caminho que as organizações devem trilhar em busca de melhores soluções para os problemas humanos, sejam eles, econômicos, sociais ou ambientais. O fundamental é que, haja sempre um acompanhamento eficaz das mudanças ocorridas no sistema, buscando estabelecer mecanismos de fiscalização eficientes, bem como, utilizar técnicas e desenvolver ferramentas que procurem mensurar a sustentabilidade, a exemplo dos sistemas de indicadores, a fim, de se obter uma sinalização confiável do desenvolvimento experimentado em termos de aproximação e distanciamento da sustentabilidade pretendida, contribuindo desta forma para o surgimento de um novo modelo de desenvolvimento mais equilibrado e sustentável. O próximo tópico aborda a questão dos indicadores de sustentabilidade