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CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA

2.5 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE

No dizer de Parente (2007), o termo indicador é originário do latim, indicare, e significa descobrir, apontar, anunciar, estimar. Para Hammond et al. (1995), os indicadores podem

detectar informações sobre o progresso em direção a uma determinada meta, e podem ser entendidos como um dispositivo que deixa mais perceptível uma tendência que não é de imediato detectada.

Melo (2008), mostra o indicador como agente tradutor da informação, expressando da forma mais simples possível, a situação que se deseja avaliar. Segundo o autor, o indicador demonstra, sobre a base de medidas, o que está sendo feito ou que foi projetado para ser feito; “é uma fotografia de dado momento”. Numa situação complexa, o indicador estabelecido ajuda na quantificação de determinado processo, estabelecendo padrões de análise de desempenho.

Em concordância, Rua (2004) define os indicadores como sendo medidas, atribuições de números a objetos, acontecimentos ou situações, de acordo com certas regras. Enquanto medidas, os indicadores referem-se às informações que, em termos conceituais, são mensuráveis, independentemente de sua coleta obedecer a técnicas ou abordagens qualitativas ou quantitativas. A autora informa, também, que os indicadores devem ser analisados em termos operacionais, isto é, de acordo com as categorias pelas quais eles estão inseridos e que possam ser medidos.

Apesar dos aspectos físicos da sustentabilidade serem mais facilmente mensuráveis, devido à quantidade de dados existentes estarem mais disponibilizados, porém, se faz necessário, desenvolver outras modalidades de indicadores, que possam com mais fidelidade captar aspectos intangíveis da sustentabilidade, que fatalmente as medidas comuns não alcançam.

Para analisar aspectos intangíveis da sustentabilidade, Sellito e Ribeiro (2004) recomendam a seguinte metodologia para contrução de indicadores num sistema produtivo:

- Especificação do construto (termo teórico) que melhor define o intangível;

- Desdobramento do termo em quantos construtos forem necessários para descrevê-lo, com base em teoria ou em pesquisa com especialistas;

- Desdobramento da primeira camada em quantas camadas forem necessárias para a sua completa descrição, com base na teoria;

- Resumo das relações obtidas em um diagrama de caminho, questionadas e simplificadas, em busca dos seus efeitos sistêmicos;

- Definição do instrumento de pesquisa das variáveis manifestas, aplicadas em escala ao objeto de interesse;

- Cálculo dos coeficientes por meio de teoria já existente, pelos conhecimentos do pesquisador, pela determinação de coeficientes por ponderação de especialistas,

repetição de experimentos e uso de regressão múltipla, e adoção de coeficientes unitários, desde que não haja restrições para tanto.

Portanto, um indicador deve ser entendido como um parâmetro, ou um conjunto de parâmetros que fornecem informações sobre um determinado fenômeno, com a máxima representação e uma extensão significativa da realidade, permitindo evidenciar as mudanças ocorridas no sistema, causadas pela ação humana. Sua principal característica é dispor o significado essencial dos aspectos analisados de forma sintética (MARZALL e ALMEIDA, 2000, p.44). Ou seja, deve ter a capacidade de resumir um conjunto complexo de informações, retendo apenas o significado essencial dos aspectos analisados.

Compartilhando desses princípios, Hammond et al. (1995) apresentam uma pirâmide de informações (Figura 04) que relaciona dados primários e indicadores.

Figura 04: Pirâmide de informações Fonte: Adaptado de Hammond et al. (1995).

De acordo com a ilustração, para alcançar índices consistentes e representativos, deve-se fazer uma triagem na gama de dados primários disponíveis, que estão representados na base do triângulo, analisando todas as variáveis em função das demais dimensões, até que se possa chegar aos principais indicadores, e consequentemente, aos índices que melhor simulem uma intenção de valores específicos a serem alcançados, ou seja, que melhor representem a sustentabilidade. Desta maneira, o processo de construção dos sistemas de indicadores deve estar fundamentado na importância dos processos e nas relações de causa e efeito observadas, de modo a oferecer uma ferramenta plausível.

Para definir um sistema de indicadores consistentes, Fernandes (2004), sugere adotar a seguinte sequência:

1. Identificar os processos;

2. Observar os parâmetros principais;

3. Identificar as causas e os efeitos nos parâmetros principais; 4. Estabelecer os indicadores que representam os processos; 5. Observar a evolução dos indicadores.

Diante disso, Martins (2008), considera o ato de mensuração como um forte instrumento de apoio à decisão, e também, um importante instrumento para planejar o futuro. Complementando, Bollmann (2001) informa que, o ato de medir por meio de sistemas de indicadores, utilizados como instrumentos indispensáveis para operacionalizar a implementação de políticas propulsoras do desenvolvimento humano, auxiliam os getores e cidadãos, a conceitualizarem objetivos, estudarem alternativas, fazerem escolhas e ajustarem dinamicamente as políticas baseadas na avaliação do seu estado atual.

Na opnião de Bellen (2006) um pré-requisito fundamental para a utilização e aceitação de um sistema de indicadores, é a necessidade de que sejam compreensíveis, uma vez que os indicadores devem ser entendidos como meios de comunicação e toda forma de comunicação requer entendimento entre os participantes do processo. Sendo assim, é impresendível que os sistemas de indicadores sejam os mais transparentes possíveis para que os usuários possam ser estimulados a compreender seu significado e sua significância dentro de seus próprios valores.

Dentre esses princípios, o autor ainda sugere que os sistemas de indicadores de desenvolvimento sustentável devem seguir requisitos universais, tais como:

• Os valores dos indicadores devem ser mensuravéis (ou observáveis);

• Deve existir disponibilidade dos dados;

• A metodologia para a coleta e o processamento dos dados, bem como para a contrução dos indicadores, deve ser limpa, transparente e padronizada;

• Os meios para construir e monitorar os indicadores devem estar disponíveis, incluindo capacidade financeira, humana e técnica;

• Deve existir aceitação política dos indicadores no nível adequado, pois os indicadores não-legitimados pelos tomadores de decisão são incapazes de influenciar as decisões (BELLEN, 2006, p.50).

Outro fator que merece destaque na construção dos indicadores é a dimensão temporal, uma vez que as informações obtidas podem mostrar se as ações para reduzirem impactos estão sendo efetivas ou não.

Desta forma, os indicadores de sustentabilidade são utilizados como ferramentas padrão em diversos estudos nacionais e internacionais, facilitando a compreensão das informações sobre os fenômenos complexos e atuam como base para análise do desenvolvimento que abrange diversas dimensões (nelas incluídos fatores econômicos, sociais, culturais, geográficos e ambientais), uma vez que permitem verificar os impactos das ações humanas no ecossistema.

Albé (2002) propõe que, ao se estabelecer um conjunto de indicadores, é essencial que estes privilegiem as interações entre os componentes e suas dimensões, refletindo o sistema na sua forma mais global, privilegiando uma abordagem sistêmica. Complementando Silva (2006) ressalta que, mais que indicadores isolados, é necessário compreender a sua inter-relação e interdependência com o intuito de captar a dinâmica local para se inferirem alternativas corretas no delineamento do desenvolvimento sustentável.

Sob o enfoque sistêmico, Tayra e Ribeiro (2006) afirmam que, o objetivo dos sistemas de indicadores é a construção de um conjunto de índices que mostrem tendências vinculantes e/ou sinérgicas, variáveis que analisadas em seu conjunto possam dar conta das principais tendências, tensões e causas subjacentes aos problemas de sustentabilidade. Na tentativa de alcançar o desenvolvimento sustentável, os autores complementam que, os indicadores revelam-se de maior importância, pois eles devem conjugar os parâmetros ambientais aos sociais e econômicos, retratar e auxiliar a busca de soluções e políticas para a sua possível consecução.

Em virtude disto, o uso de indicadores para mensurar a sustentabilidade, vem ganhando espaço a nível internacional devido a preocupação com a problemática social e ambiental, e por ter a vantagem de poder representar a realidade através de gráficos, que podem refletir tendências e estabelecer previsões futuras. Nesta concepção, Bellen (2006) concorda que, esses indicadores podem permitir aos países, definir o modelo ideal de uma sociedade, bem como, relatar onde tem sido feito progresso em direção à sustentabilidade e em qual taxa.

No Brasil, um importante órgão governamental que busca a mensuração da sustentabilidade é o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) através da edição do Indicador de Desenvolvimento Sustentável (IDS - Brasil), que disponibiliza à sociedade informações sobre a realidade brasileira por meio da integração das dimensões sociais, institucionais, econômicas e ambientais, tomando por base as recomendações da Agenda 21 e que compõe uma Rede Básica de Estatísticas Ambientais.

Dos 50 indicadores disponíveis na Agenda 21, 19 são classificados como sendo sociais, 18 ambientais, 9 econômicos e 4 institucionais, em que os mesmos enfocam temas como População; Equidade; Saúde; Educação; Saneamento; Habitação; Segurança; Atmosfera; Terra; Oceano; Mares e Áreas costeiras; Biodiversidade; Estrutura econômica; Padrões de produção e consumo; Estrutura e Capacidade Institucional. As informações disponibilizadas são dirigidas, portanto, a todos os que têm envolvimento teórico e prático com os desafios do desenvolvimento, sejam eles, pesquisadores e formuladores de políticas, integrantes dos setores públicos e privados das organizações sociais, assim como ao público em geral (IBGE, 2008).

Destarte, Parente (2007) acrescenta que, o desenvolvimento de indicadores com o objetivo de avaliar a sustentabilidade de um sistema, monitorando-o, poderá permitir que se avance de forma efetiva em direção a mudanças consistentes na tentativa de solucionar os inúmeros problemas ambientais e sociais levantados. Considere-se, porém, que isso apenas será possível se a preocupação com o planeta, em toda sua complexidade, for efetiva na prática e não se limite apenas, a mudanças verbais.

Por tudo isso, ao pensar em desenvolvimento de forma sustentável, é preciso ter em mente a necessidade de um acompanhamento simultâneo, também a ser constituído, possibilitando uma percepção a curto, médio e longo prazo, pois como afirmam Santos et al. (2007), ao se tentar quantificar as adversidades de um sistema e avaliá-lo, faz-se necessária a utilização de ferramentas que indiquem a sua sustentabilidade e sejam capazes de auxiliar para uma possível reversão no processo adverso.

Logo, encontrar medidas adequadas, testá-las e combiná-las com outros indicadores de desempenho pode se tornar uma empreitada que toma tempo e exige esforços de revisão e adaptações constantes, mas, que pode revelar-se como um verdadeiro instrumento na identificação dos problemas que estão afetando uma localidade, mostrando a realidade do lugar e os benefícios e malefícios que uma atividade possa agregar.

Neste contexto, a próxima seção aborda o modelo Pressão-Estado-Resposta (PER), como um dos sistemas de indicadores mais relevantes para avaliar a sustentabilidade. Além disso, o método apresenta uma metodologia simples e de fácil aplicação, e apesar de ser direcionado a questões ambientais, o PER permiti fazer adaptações às especificidades das atividades agrícolas e englobar outras dimensões da sustentabilidade.