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Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel – PNPB

CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA

2.10 BIOCOMBUSTÍVEL

2.10.2 Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel – PNPB

A busca pela produção e inserção do biodiesel na matriz energética brasileira é um evento relativamente recente. Sobre este fato, Ferraz Filho (2009) acrescenta que, o desenvolvimento de novos produtos para substituir o óleo diesel entrou na pauta do governo brasileiro ainda no tempo da implantação do Proálcool. Porém, à época, tal iniciativa não prosperou por diversas razões, entre as quais a ênfase conferida ao etanol e o fato de, no período, a competitividade em preços do óleo diesel desestimular a implantação de um programa articulado e de longo prazo dirigido à produção de biodiesel. Desta forma, o autor acrescenta que, somente no início da década de 2000, o governo voltou a interessar-se pelo biodiesel, quando programas de incentivo à sua produção e consumo tomavam corpo em outros países e regiões (EUA e UE, por exemplo).

Desse modo, é possível observar que o desenvolvimento do setor no Brasil só foi incrementado com relevância a partir do PNPB, lançado pelo governo brasileiro ao final de 2004. Essa assertiva é confirmada por Mello, Paulillo e Vian (2007) ao salientarem que após anos de pesquisas relativas à produção e ao uso do biodiesel, só recentemente este combustível deixou de ser puramente experimental com a criação, em dezembro de 2004 (através da Medida Provisória 214/04) do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), como resultado de uma parceira entre um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) e duas associações empresariais, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) e a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (ABIOVE).

Portanto, o PNPB, na concepção de Macarenco e Kuwahara (2007), foi elaborado com o objetivo principal de implementar a produção sustentável do biodiesel no território brasileiro, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, através da geração de renda. Em outras palavras, baseado na estratégia nacional de criação de fontes alternativas de energia, o governo federal lançou o PNPB com intuito de organizar a cadeia produtiva, definindo as linhas de financiamento, estruturando a base tecnológica, além de estabelecer o marco regulatório para o setor.

Assim, as três diretrizes centrais do Programa PNPB que englobam as dimensões que compõem a sustentabilidade, a saber, são: a) sustentabilidade e promoção de inclusão social; b) garantia de preços competitivos, qualidade e suprimento do produto; e c) utilização de diferentes fontes oleaginosas cultivadas em diversas regiões do país, conforme mostra a Figura 09.

Figura 09: Principais diretrizes do PNPB Fonte: Portal Biodiesel (2009)

Essas diretrizes, segundo Macarenco e Kuwahara (2007), podem ter resultados positivos se forem caracterizadas como parte de um conjunto mais amplo, visando o desenvolvimento de longo prazo do país. São medidas importantes, mas que podem não surtir o efeito esperado, caso não estejam em sintonia com outras propostas de desenvolvimento sustentável, como por exemplo, o Plano Nacional de Agroenergia.

Através do apoio e do investimento em desenvolvimento tecnológico, o PNPB se propõe a extrapolar o âmbito econômico, abrangendo ações de inclusão social e redução da degradação ambiental, e que, segundo informações do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA (2009), tem como objetivos, a diversificação da matriz energética (fóssil e renovável); a redução das importações de diesel e petróleo; a criação de emprego e renda no Brasil; o fortalecimento das famílias no campo; o uso de solos inadequados para produção de culturas alimentícias e a disponibilização de um combustível ambientalmente correto.

Desta forma, para alcançar esses objetivos é que foram aprovados diversos atos legais que regulamentam e introduzem esse novo combustível na matriz energética brasileira, tais como o decreto nº. 5.297/2004, que dispõe sobre:

1 – Criar condições de financiamento especiais para as regiões mais pobres; 2 – Dispõe sobre:

a) Os coeficientes de redução das alíquotas das contribuições para o PIS/PASEP e da COFINS incidente na produção e na comercialização de biodiesel;

b) Os termos e as condições para a utilização das alíquotas diferenciadas; c) Dá outras providências.

3 – Cria o selo “Combustível Social”, que será concedido para:

a) Promover a inclusão social dos agricultores familiares enquadrados no PRONAF, que lhe forneçam matéria-prima;

b) Comprovar regularidade perante o Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores – SICAF.

Dentre todos os fatores positivos que o PNPB pode trazer, Rambo, Filippi e Lima (2008), destacam como ponto principal do programa, a inserção da agricultura familiar na produção do biodiesel, tendo como ação em prol deste objetivo, a criação do selo "Combustível Social", em 2004. O selo é concedido ao produtor de biodiesel que promover a inclusão social dos agricultores familiares inseridos no PRONAF, devendo para isso:

a) Adquirir a matéria-prima de agricultores familiares, em parcela não inferior a percentual a ser definido pelo MDA;

b) Realizar contratos com os agricultores familiares, especificando as condições comerciais que garantam renda e prazos compatíveis com a atividade, conforme requisitos a serem estabelecidos pelo MDA;

c) Assegurar assistência e capacitação técnica aos agricultores familiares.

Essas medidas têm como foco principal fomentar a política de desenvolvimento da agricultura familiar no país. Cabe informar que, o percentual mínimo de aquisição de matéria- prima da agricultura para cada região no país é de 10% para o Norte e Centro-Oeste, 30% para o Sudeste e Sul e 50% para o Nordeste e semi-árido.

O Ministério das Minas e Energia (2009) destaca ainda, que o uso comercial do biodiesel tem apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o qual, através do Programa de Apoio Financeiro a Investimentos em Biodiesel prevê financiamento de até 90% dos itens passíveis de apoio para projetos com o Selo Combustível Social e de até 80% para os demais projetos.

Segundo informações do Ministério das Minas e Energia - MME (2009), o PNPB conta ainda com o incentivo de outro programa o BB BIODIESEL - Programa do Banco do Brasil de Apoio a Produção e Uso de Biodiesel, o qual visa apoiar a produção, a comercialização e o uso do biodiesel como fonte de energia renovável e atividade geradora de emprego e renda. A assistência ao setor produtivo é feita por meio da disponibilização de linhas de financiamento de custeio, investimento e comercialização, colaborando para a expansão do processamento de biodiesel no país, a partir do incentivo à produção de matéria-prima, à instalação de plantas agroindustriais e à comercialização.

Entretanto, a pesar dos pontos positivo que o PNPB apresenta, Chiaranda et al. (2005) destacam que, pesquisas começaram a revelar algumas falhas e precipitações contidas no PNPB, uma delas é que, as pesquisas não poderiam ter sido consideradas suficientes como se imaginava, até o momento, o biodiesel brasileiro, independente da matéria-prima agrícola utilizada, possui custos mais elevados que os preços do mercado internacional, o que rouba sua competitividade e o torna inviável economicamente. Mesmo assim, o programa e os discursos em sua defesa apostam que o potencial agrícola do país o transformará num exportador.

Outro ponto controvertido no PNPB é o fato de os mecanismos de incentivo à agricultura familiar não estarem funcionando como esperado, como aponta um estudo realizado por Leite e Leal (2007) ao afirmarem que:

O projeto (PNPB) aparentemente bem estruturado, com um conceito de inclusão social e tecnologia industrial de boa qualidade, não está operando como planejado e, ao que tudo indica, faltou tecnologia na parte agrícola do projeto. Por exemplo, no caso da mamona, há apenas duas variedades comerciais para as condições nordestinas e as técnicas de cultivo e manejo não parecem estar suficientemente desenvolvidas, sem contar a falta de preparo e treinamento dos agricultores (LEITE e LEAL, 2007, p.19).

De uma forma geral, Assad e Almeida (2004) argumentam que, essas críticas se estendem às atividades agrícolas como um todo, no qual, embora a sustentabilidade da agricultura seja defendida e almejada por diferentes setores produtivos e por diferentes segmentos sociais, ela ainda se apresenta em um processo em construção. As alternativas de manejo agrícola sustentável, que permitem a minimização de danos ambientais, esbarram muitas vezes em interesses econômicos distintos. Além disso, mesmo quando se observa uma melhora na relação da agricultura e o ambiente, por meio de tecnologias consideradas menos agressivas, esta nem sempre está associada a uma sustentabilidade social. Ou seja, a sustentabilidade está se impondo muito mais pelo aporte econômico do que pelo lado da questão ambiental e da justiça social.

A pesar de existirem essas críticas, Abramovay e Magalhães (2007) salientam que, não se pode negar que o PNPB volta-se, de forma declarada, a integrar os agricultores familiares à oferta de biocombustíveis e, por aí, contribuir ao fortalecimento de sua capacidade de geração de renda. O mais interessante nesse programa é que, o mesmo, pretende fazê-lo em modalidades produtivas de forma que evitem a monocultura e permitam o uso de áreas até então pouco atrativas.

Ao explicar os objetivos do Programa, Mello, Paulillo e Vian (2007) acrescentam que, o PNPB pretende instalar, ao todo, 24 refinarias de biodiesel nas regiões Norte, Nordeste e Centro-

Oeste do país, e que já existem estudos que aponta que para cada R$ 1,00 aplicado na agricultura familiar é gerado R$ 2,13 adicionais na renda bruta anual, o que significa que a renda familiar dobraria com a participação no mercado do biodiesel. Essas estimativas justificam a conotação social dada ao programa do biodiesel, mas deve-se ressaltar que dependem dos produtos que servirão de matéria-prima para este biocombustível.

Ademais, o desempenho na produção de biodiesel no país em anos vindouros, servirá de referência para uma avaliação do PNPB, dando oportunidade ao governo de corrigir as possíveis lacunas, uma vez que o programa entra agora na fase de consolidação no mercado, através da participação da agricultura familiar na produção de diferentes oleaginosas cultivadas no Brasil, inclusive a mamona, que se configura como uma planta com teor de óleo bastante elevando e produtivo para a produção de biodiesel, tendo uma probabilidade econômica considerada alta para a região do Nordeste brasileiro.

Sendo assim, o produtor familiar poderá encontrar no plantio da mamona uma nova perspectiva produtiva, e uma possibilidade de melhoria de vida através do crescimento econômico, sem falar que os produtos gerados pelo segmento são favoráveis ao meio ambiente, proporcionado benefícios de forma sistêmica, já que engloba aspectos sociais, econômicos e ambientais. Sabendo da importância e das expectativas que o cultivo da mamona traz para a agricultura familiar, principalmente em regiões menos favorecidas do Brasil, a exemplo do semi- árido, essa planta oleaginosa é discutida e explanada com maior destaque na seção seguinte.