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ASPECTOS CONCEPTUAIS A CONSIDERAR NA INVESTIGAÇÃO SOBRE O ENVELHECIMENTO

2.2 2 Envelhecimento e Políticas Públicas no Brasil

3. ASPECTOS CONCEPTUAIS A CONSIDERAR NA INVESTIGAÇÃO SOBRE O ENVELHECIMENTO

O envelhecimento demográfico de uma população relacionado com a evolução e expectativa da esperança de vida, da fertilidade e da migração, incorporando as estimativas populacionais de três grupos distintos, ou seja, zero a 15 anos, 15 anos até 60 ou 65 anos, e 60 ou 65 anos e mais, situa-se como desafio para os próximos cinquenta anos. Neste contexto, o envelhecimento biológico do ser humano como parte integrante do ciclo de vida, apresenta como expectativa que ele transcorra de forma autônoma e saudável. Além de representar viver mais tempo, o envelhecimento passa a ser entendido como participativo, ativo, integrativo, com saúde em um processo gradual de adaptação e conhecimento das transformações sociais, políticas e econômicas, culturais, espirituais e civis(4, 59, 60).

3.1 Tendências de Abordagem Relativas ao Processo de Envelhecimento

Na atual categorização de idosos de diferentes países, é possível analisar a população mundial em: 1) países com populações jovens (que classificam idosos como sendo pessoas que possuem mais de 60 anos de idade); 2) países com populações em fase de envelhecimento (que classificam os idosos como sendo pessoas que possuem de 65 a 70 anos de idade) e 3) países com populações envelhecidas (que classificam os idosos como sendo pessoas que possuem 70 anos ou mais).

A população idosa brasileira, de acordo com o IBGE, possui 60 anos ou mais e está categorizada para fins censitários e de divulgação de informação nas seguintes faixas etárias: de 60 a 64 anos de idade; de 65 a 69; de 70 a 74 e de 75 ou mais anos de idade(33).

Por outro lado, e comparando o que se passa em Portugal, de acordo com o Inquérito do Ministério da Saúde (MS) sobre cuidados continuados nos Centros de Saúde de Portugal, disponibilizados para pessoas em situação de dependência, existem como categorias etárias para classificar o idoso: 1) de 65 a 74 anos; 2) de 75 a 84 anos e 3) mais que 85 anos(29).

A OCDE considera duas categorias para a última fase da vida ou pós-reforma: 65-79 e acima dos 80 anos. Destaca-se que a proporção da população com 80 anos ou mais nos países da OCDE deverá aumentar de 4% em 2010 para quase 10% em 2050, com destaque para o fato de

28 que nesta categoria 6,5 mais mulheres e 5,5 vezes mais homens estão em cuidados de longa duração em comparação com a categoria de 65-79 anos(61).

As teorias da estratificação por idade e da perspectiva do curso da vida, originárias do funcionalismo estrutural, são outras concepções teóricas relevantes em seus fundamentos, mas sua utilização deve permitir superar a defasagem estrutural e explicar o valor da convivência intergeracional como estratégia para a criação de uma rede de suporte que pode ser acionada caso a pessoa necessite. Do mesmo modo, os conceitos de idade funcional e idade cronológica, bem como a capacidade funcional e a aptidão física de um dado momento entre os idosos, retratam a necessidade de se considerar a heterogeneidade com que os multifatores intervenientes sobre o processo de envelhecimento influenciam cada grupo e cada etapa da vida(13, 62, 63).

As concepções de tempo existentes que buscam estratificar a população, embora tenham divulgação e validade em âmbito regional, nacional e/ou internacional, constituem propostas classificatórias susceptíveis de críticas, detalhamentos ou generalizações de acordo com a cultura dos resultados pretendidos e do contexto sociodemográfico dos países. Alguns autores não compartilham dessas concepções com base na argumentação da insustentabilidade dos critérios a ponto de permitir a realização de análises consistentes, abrangentes e com a amplitude que a temática requer(64-66).

A necessidade de realizar pesquisas capazes de ampliar o conhecimento sobre esta fração populacional remete o processo do envelhecimento à dimensão investigativa. Isto implica não prescindir do rigor metodológico, uma vez que esta é uma abordagem que maximiza a apreensão deste processo como objeto de pesquisa. As teorias sociológicas do envelhecimento requerem o atendimento de critérios que as legitimem, tais como: a) lógica, clareza, consistência interna, parcimônia e conteúdo explanatório; b) operacionalidade ou condição de ser empiricamente testadas; c) suficiência empírica ou possibilidade de se replicar e confiar em suas evidências; d) suficiência pragmática ou utilidade para predição e intervenção e e) exequibilidade e relevância prática(67, 68).

Na concepção do interacionismo simbólico, é possível identificar a teoria da atividade (primeira geração de teorias sociais aplicáveis à gerontologia) como uma possibilidade metodológica de impacto na abordagem do envelhecimento bem-sucedido. Ela consiste em compensar as perdas decorrentes e inevitáveis do processo de envelhecimento (aspectos biológicos, sociais e psicológicos), por meio de adaptações e substituições de elementos da vida social por novas atividades sociais. Inclui atividades nas áreas do lazer, outras e novas relações familiares (relacionadas com a convivência com familiares em processo de envelhecimento),

29 educação não formal, atividades de trabalho voluntário, obtendo nova participação em atividades por meio da inserção/substituição de outros papéis(69).

Conceber as pessoas idosas como estando aposentadas, doentes e dependentes é desconsiderar a potencialidade humana, uma vez que as pessoas com 60 anos de idade ou mais podem estar em plenas condições para estarem integradas e contribuírem com a sociedade a partir de sua experiência, saber, cultura e capacidade de participação. Tal concepção insere indiscriminadamente as pessoas que possuem 60 ou 65 anos de vida ou mais num grupo pseudo- homogêneo, e ao apresentarem e/ou aparentarem características de imutabilidade, são segregadas e motivam atitudes de preconceito e discriminação pela sociedade.

O desafio para a viabilização do processo de envelhecimento bem-sucedido consiste em: 1) prevenir ou tratar carga dupla de doenças; 2) minimizar o risco de deficiências; 3) prover cuidados para população em processo de envelhecimento; 4) aumentar a expectativa de vida dos idosos do sexo masculino; 5) assegurar posições e abordagens éticas e evitar iniquidades; 6) consolidar uma economia eficaz para países em que a população está em processo de envelhecimento e 7) criar de um novo paradigma para subsidiar o envelhecimento bem-sucedido(4).

3.2. O Envelhecimento Ativo como Referencial Privilegiado na Abordagem do

Envelhecimento

Corroborando com a reconceituação do envelhecimento, enquanto parte integrante do contínuo do ciclo da vida, a terminologia ―envelhecimento ativo‖ estabelece novos paradigmas para abordagem das pessoas em processo de envelhecimento. Segundo a qual, elas devem ser simultaneamente participantes e integrantes ativos de uma sociedade; contribuintes e beneficiários da própria inserção no contexto social, econômico, cultural, familiar e pessoal. Ressalta-se que:

―quando políticas sociais de saúde, mercado de trabalho, emprego e educação apoiarem o envelhecimento ativo, teremos muito provavelmente: menos mortes prematuras em estágios da vida altamente produtivos; menos deficiências associadas às doenças crônicas na terceira idade; mais pessoas com uma melhor qualidade de vida à medida que envelhecem; mais indivíduos participando ativamente nos aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos da sociedade, em atividades remuneradas ou não e na vida doméstica familiar e comunitária; menos gastos com tratamentos médicos e serviços de assistência médica‖(4).

A concepção proposta de envelhecimento ativo concebe envelhecimento como um processo ativo de maximização das capacidades, potencialidades e recursos pessoais, comunitários e políticos. O termo ―envelhecimento ativo‖ pressupõe uma concepção ampliada de viver,

30 contextualizada no contínuo da vida, ou seja, externando a preocupação com a saúde e o bem- estar, com a integração das pessoas em fase de envelhecimento dentro do ciclo de vida. Pressupõe também sua inserção no mercado de trabalho formal ou informal, com sua participação e integração nos programas de formação continuada, com a possibilidade e direito de acesso aos bens e às tecnologias disponíveis para promover a saúde e com sua integração plena e maximizada à sociedade.

As situações/condições intervenientes no processo do envelhecimento são apresentadas em quatro determinantes e dois fatores, a saber: 1) determinantes pessoais; 2) determinantes econômicos; 3) determinantes sociais; 4) determinantes comportamentais; 5) fator - ambiente físico e 6) fator - serviços sociais e de saúde(4).

Os determinantes e os fatores podem ser detalhados de uma forma abrangente em seis fatores considerados intervenientes no processo de envelhecimento, a saber: Os fatores simbólicos incluem modalidade de aprendizagens tradicionais e transmissão dos conhecimentos e dos costumes; cerimônias que promovam a solidariedade e o crescimento pessoal; ritos e ocasiões de compartilhar sentimentos; linguagem e dialetos; meios de comunicação e serviços existentes e/ou conhecidos (o que corresponde à apreensão da concepção de envelhecimento; do conhecimento da participação em atividades expressivas e transferência de tradições).

Os fatores ideológicos incluem programas educativos públicos e privados e acessibilidade adequados às características individuais; participação em eventos ideológicos, religiosos e temáticos (tais como sistemas oficiais de ideias profanas e religiosas); relações inter e intraetnicas; busca de identidade cultural e meios de integração; instituições regulamentadas (o que corresponde à apreensão da concepção definida da realidade; a valorização do saber e da experiência dos idosos; a participação em atividades religiosas e não rotineiras).

Os fatores sociais incluem estruturas de autoridade; categoria profissional e recursos comunitários e instituicionais (o que corresponde à apreensão da participação/integração em políticas para idosos; identificação do papel dos idosos na comunidade; a integração em Associações e o uso de redes de suportes (in)formais).

Os fatores econômicos incluem o percentual da população por ocupação; a reinserção em atividade produtiva, a duração da vida produtiva (tempo de contribuição), os patrimônios; a inserção em plano de seguridade, a inscrição no regime previdenciário e situação de aposentadoria; a relação entre ativos e inativos e a inserção/utilização do sistema de saúde público (SUS) e/ou privado (o que corresponde à apreensão do perfil produtivo e econômico; o percentual de pessoas

31 por sexo em atividade com mais de 60 anos de idade e o percentual de pessoas aposentadas por setor.

Os fatores demográficos incluem a taxa de mortalidade e natalidade; a distribuição da população por faixa etária; a mortalidade e morbidade por idade; a esperança de vida ao nascer; a taxa de masculinidade geral e por categoria etária; as características de saúde, tais como vacinação, relação entre indivíduos por médico, recursos sanitários, alimentação, água tratada, saneamento básico, entre outros (o que corresponde à apreensão da capacidade física e condições de saúde; a taxa de masculinidade por idade; a esperança de vida residual e as causas de mortalidade por idade)

E finalmente, os fatores familiares incluem o vínculo com ancestrais, com filhos; a vinculação com filhos; os tipos de família; a composição do núcleo familiar e o perfil de convivência familiar (o que corresponde à apreensão do estado matrimonial e modificação do núcleo familiar no tempo; o controle patrimonial; o impacto da idade no convívio familiar e a convivência intergeracional)(70).

Estes determinantes e fatores estão representados num modelo esquemático que contempla as peculiaridades culturais, políticas, econômicas, demográficas, sociais, ideológicas e de saúde da população em processo de envelhecimento (Figura 1).

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Figura 1: Esquema ilustrativo dos determinantes do processo do envelhecimento, segundo

Létourneau apud Guillemard, et al. (1995) adaptado por Pinto PF & Fernandes AA, Lisboa out/2006.

CONDI

CONDIÇÇÕESÕES