• Nenhum resultado encontrado

O Envelhecimento Bem-sucedido como Processo de Avaliação do Envelhecimento Ativo

2.2 2 Envelhecimento e Políticas Públicas no Brasil

3.3 O Envelhecimento Bem-sucedido como Processo de Avaliação do Envelhecimento Ativo

As estratégias definidoras e explicitadoras das políticas para o envelhecimento ativo, aliadas às discussões sobre um envelhecimento bem-sucedido, têm pautado a preocupação da sociedade científica acerca do que é viver bem e quais são os principais indicadores. A finalidade desse empenho consiste numa tentativa de operacionalizar e valorizar critérios que sistematizem a avaliação de um envelhecimento bem-sucedido(4, 83, 84).

A abrangência e a complexidade das ações que estimulam o bem-estar, o viver bem, a promoção da saúde, a integração social e a abrangência dos fatores relacionados ao envelhecimento bem-sucedido remetem à necessidade de intervenções e pesquisas que analisem os resultados qualitativos referentes aos fatores psicossociais e aos preditores do envelhecimento bem-sucedido(85, 86).

37 As primeiras sistematizações e conceptualizações científicas sobre o envelhecimento bem- sucedido ocorreram nos últimos 30 do século passado. A distinção entre o envelhecimento normal e o envelhecimento bem-sucedido foi marcada pela capacidade de inserir a análise dos efeitos dos fatores extrínsecos sobre o processo do envelhecimento. Em sua concepção original, as pesquisas adotavam como objeto do processo do envelhecimento os efeitos da idade. Enfoques de doenças vinculadas às restrições da audição, da visão, da função renal, da intolerância à glicose, dos níveis pressóricos, da densidade óssea, da função pulmonar, entre outros, predominavam enquanto objetos de investigação(85, 87).

A operacionalização de pesquisas centralizadas nas funções cognitivas e comportamentais, enquanto fatores precursores para as situações patológicas, abriu espaço para a ampliação dos enfoques das investigações. Abordagens sobre: suporte social, fatores psicossociais, grau de dependência e necessidade de apoio, cuidados e assistência social, comportamento de fumar, ingestão de álcool, ingestão inadequada de cálcio, morte de familiares/vizinhos/colegas, função cognitiva, autonomia e controle(87)possibilitaram que os conteúdos enfocados ultrapassassem os

limites dos aspectos fisiológicos e incluíssem outras dimensões nas discussões sobre o processo do envelhecimento. Pesquisas biomédicas quantitativas foram acumuladas, no início deste século, na expectativa de retratar o êxito e os avanços conseguidos no processo de envelhecimento(5, 88, 89).

A explicitação da conceituação do envelhecimento bem-sucedido, compreendida como uma situação que inclui, entre seus pontos básicos, uma baixa incidência de doenças, níveis significativos de funções físicas e cognitivas e uma vida social ativa(5), reforçou a ampliação das

abordagens adotadas anteriormente.

Na concepção de envelhecimento bem-sucedido, foram valorizadas e acrescidas as diferenças de idade e a multidimensionalidade das percepções dos idosos sobre a diversidade de fatores e de preditores que surgem ou coabitam com o processo de envelhecimento(90, 91).

Na expectativa de contribuir com a ampliação de abordagem do que vem a ser o envelhecimento, os pesquisadores adotaram outras terminologias, nomeadamente: envelhecimento saudável, envelhecimento produtivo, envelhecer bem, destacando-se, no entanto, prevaleceu o termo envelhecimento bem-sucedido(92).

Na evolução conceitual e de abordagem científica do processo de envelhecimento, há componentes que se complementam, quando se enfoca a concepção de envelhecimento bem- sucedido. São estratégias de abordagem; elementos de avaliação; enfoques contemplando a integralidade; processos de delimitação das competências e habilidades; estratégias de

38 preservação, de compensação das limitações ou de adaptações que compõem o mosaico de enfoques do envelhecimento bem-sucedido(83, 87).

Entre esses componentes, há: 1) o dimensionamento da capacidade funcional por meio da avaliação do desempenho das atividades da vida diária (AVD) e das atividades instrumentais da vida diária (AIVD); 2) a preparação e a aceitação para conviver com algum tipo de doença crônica; 3) a inserção quotidiana do consumo diário de medicação; a convivência com algum grau de restrição na locomoção, na alimentação, ou a necessidade de suporte para realizar atividades; 4) a mudança de comportamento quanto aos hábitos de consumo de tabaco e de bebida alcoólica; 5) a manutenção da adesão para realizar atividade física e 6) a preocupação em adotar uma rotina de prevenção, de tratamento e de controle de doenças(93).

A multidimensionalidade e a peculiaridade com que o processo de envelhecimento é vivido requerem que a avaliação do envelhecimento bem-sucedido seja processual e inclua: 1) elementos que abordem os aspectos sociais, psicológicos, físicos, emocionais e funcionais; 2) acompanhamento do estilo de vida, hábitos e comportamentos adotados pelas pessoas ao longo do ciclo da vida; 3) comportamentos adotados pelo idoso em cada momento existencial e 4) expectativas que apresentam. Estes são alguns dos elementos que: 1) formam o patrimônio individual a ponto de favorecer o engajamento ou a não adesão dos idosos para o contexto em que se encontram; 2) interferem sobre a autoavaliação que eles elaboram sobre suas vidas e como as enfrentam e 3) subsidiam a compreensão do processo de envelhecimento bem-sucedido(94, 95).

Nas investigações científicas dos tipos longitudinais e transversais, assim como em outros delineamentos quantitativos, e nas pesquisas qualitativas, a preocupação com a conceituação e com a utilização de uma linguagem única capaz de traduzir conceitos e descritores é corroborada pela teoria da atividade como um dos componentes da avaliação do envelhecimento bem-sucedido. Estes estudos têm se destacado pela exaustividade em classificar as atividades executadas pelos idosos no que concerne à motivação intrínseca ou extrínseca para a atividade, aos objetivos da atividade, à variabilidade da atividade, ao tempo, à duração, ao desafio e superações identificadas em tarefas(89, 96, 97).

Os fatores limitadores e facilitadores para a execução da atividade consideram a multidimensionalidade do envelhecimento de sucesso num enfoque sociológico, psicológico e fisiológico(89, 96, 97).

A avaliação do envelhecimento bem-sucedido, no intuito de conhecer o quanto o idoso promove e amplia o seu bem-estar a partir da correlação entre as variáveis de estudo e a saúde física, enfoca as inter-relações entre as dimensões do envelhecimento (física, funcional, social e

39 psicológica), analisa o processo de adaptação compensatório diante da morbidade física e reforça o caráter multidimensional do envelhecimento bem-sucedido e as características individuais(86, 89, 91,

98).

Conviver com doença crônica e/ou incapacidade física (declínio fisiológico) não constitui em indicador suficiente de avaliação capaz de predizer se um idoso não está envelhecendo bem. Outros fatores preditivos do envelhecimento de sucesso são enfocados pelas pesquisas. Entre eles, há: a preservação das habilidades cognitivas, as formas de enfrentamento e seus resultados, a valorização dos laços sociais, a resiliência e a espiritualidade(86, 87).

Viver com doença crônica e/ou incapacidade física, mas apresentar capacidade de compensar estas limitações físicas com participação constitui um dos três pilares que alicerçam a política do envelhecimento ativo. Ela é entendida como a capacidade de ―participar integralmente em atividades socioeconômicas, culturais e espirituais, conforme seus direitos fundamentais, capacidades, necessidades e preferências‖(4). Tal elemento também caracteriza o envelhecimento

bem-sucedido, na medida em que assegura a capacidade de manter a autonomia e a independência(87, 99-101).

A partir do conceito de envelhecimento bem-sucedido que, em síntese, se baseia nos domínios físico, emocional, cognitivo e social, e se traduz na prevenção de doenças e de deficiências, na manutenção da função física e cognitiva e no engajamento em atividades sociais e produtivas(5, 102, 103), a preocupação da comunidade científica é estabelecer parâmetros multiculturais

que possam ampliar esse conceito.

Status socioeconômico; engajamento cívico; satisfação com a vida; valorização das diferenças entre os grupos por idades; inclusão da autoavaliação; relacionamentos no lar, na vizinhança, no trabalho e no voluntariado; discriminação entre doenças crônicas que levam à mortalidade e aquelas que causam morbidade(104-107) são exemplos de indicadores a serem

considerados na avaliação do processo de envelhecimento bem-sucedido.