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3 O QUE É AYAHUASCA?

3.4 ASPECTOS COSMOLÓGICOS DA BEBIDA AYAHUASCA

As culturas ameríndias já conhecem e fazer uso do chá Ayahuasca há milênios. As tradicionais religiões ayahuasqueiras originárias do Acre são o resultado da miscigenação entre as culturas indígenas da floresta amazônica e as religiões católica, espírita e umbandista. Cerca de 70 tribos indígenas que já foram catalogadas fazem uso do chá Ayahuasca na floresta amazônica (LABATE, 2006). Falarei sobre a cosmologia da tribo Kaxinawá que apresenta um mito originário com a bebida para exemplificar a infinidade de cosmologias das diversas tribos que fazem uso da bebida sagrada. Devido à imensa quantidade e complexidade de representações e cosmologias em torno da Ayahuasca tratarei apenas da tribo Kaxinawá embora haja uma infinita rede de significados, mitos e analogias diferentes em cada tribo indígena que compõe um universo peculiar, uma cosmogonia própria em sua visão de mundo.

Os Kaxinawá e a Lenda da Jibóia Branca do nixi pae (Ayahuasca)

Também conhecidos como caxinauás, são uma etnia sul-americana, que habitam as fronteiras do Peru, aos pés dos Andes até a fronteira do Brasil, no estado do Acre na região do Alto Juruá e Purus. É a mais numerosa população indígena do Acre com cerca de 7.535 indivíduos (Censo 2010). O mito fundador dos Kaxinawá explica a origem do cipó Jagube usado no preparo da bebida Ayahuasca.

De acordo com Leopardo Sales Yawa Bane Huni Kuin, índio da tribo Kaxinawá, em sua apresentação na mesa redonda ―Os usos da ayahuasca: aspectos religiosos, antropológicos e científicos, no Evento Sexto Movimento pela Vida, em Palmas, 2005, ele descrevera o mito de sua aldeia Kaxinawá:

Conta-se que o guerreiro foi procurar caça. Ele estava caçando e acabou encontrando um encantado, a Mãe da Jibóia Branca, que morava no lago

grande. (Explico: a jibóia morava nesse lago e se transformava em mulher, ia para a terra e depois voltava para o lago). E a partir desse encontro, nesse momento, o guerreiro se apaixonou. Pediu ela em casamento e ela aceitou. O guerreiro e a Jibóia tiveram uma vida muito boa, conhecimento e aprendizado no mundo espiritual da Jibóia Branca. Nesse lago grande, na comunidade da Jibóia Branca, viviam muitos encantados. Todos eles conheciam o segredo da planta do poder que é a ayahuasca, o cipó. O cipó para nós é nixi pae; a folha se chama kawa. O guerreiro aprendeu com a Jibóia Branca todos os ensinamentos do canto, do mantra – nós chamamos ―miração da Jibóia Encantada‖ –; aprendeu como se preparar para chamar os encantados, todas as criações de Deus, que nós chamamos Kushipa. São uns cantos na nossa língua, a nossa língua se chama Ratxa Kuin. Cantamos o Huni Meka, que é o nosso canto, nosso mantra, da Jibóia. Nosso pajé, nosso professor, nosso mestre, e o nosso Kushipa, que é o nosso Deus, nos ensinou. Foi assim que o povo Huni Kuin recebeu estes conhecimentos.

Recebemos o presente de curar nossas comunidades, parentes, de orientar os ensinamentos, recebemos através da ayahuasca a sabedoria, todos os conhecimentos que vêm da ayahuasca, a cultura ayahuasqueira do cipó. Passou um tempo, e o guerreiro voltou no mesmo lugar que ele havia encontrado com a Jibóia Branca na primeira vez no encantamento. Ele voltou lá porque ele já tinha visto, naquela miração que ele gritou, que ela tinha uma missão a cumprir. Então aí guerreiro encontrou o filho da Jibóia Branca, o filho dele, que estava lá procurando o pai. O último filho dele, o filho pequeno, a Jibóia pequena, veio e mordeu a ponta do dedo do guerreiro, mas não tinha força suficiente para comer o pai, engolir. Então o a Jibóia pequena chamou um irmão para ajudar. Veio um irmão e tentou morder a ponta do dedo do pé e também não conseguiu engolir. Chamaram então o outro irmão, e o outro irmão veio e também não conseguiu engolir. Chamaram a mãe, que era a Jibóia grande, guerreira. A Jibóia veio, conseguiu engolir os dois pés do guerreiro, foi engolindo o pé para cima na cintura, na barriga, aí ele começou a agir, começou a gritar, pediu socorro para a comunidade. Começou a gritar bem alto na floresta, ―rei rei rei!‖. O pessoal da comunidade Huni Kuin onde o guerreiro morava, escutou e veio ver o que estava acontecendo. O guerreiro estava na metade, a mulher dele estava engolindo ele, mas ainda estava vivo, gritando. Aí, os guerreiros da comunidade mataram a Jibóia, conseguiram bater na cabeça e conseguiram matar a Jibóia. Tiraram o guerreiro vivo da boca da Jibóia. Só que o guerreiro estava todo quebrado, mordido de cobra, com as juntas

todas quebradas. O guerreiro pediu para os parentes dele levarem a Jibóia também. Aí os discípulos do guerreiro levaram ele para a comunidade, e enterraram ele e a Jibóia um do lado do outro, como o guerreiro pediu. Não enterraram tudo junto porque ele explicou que ele ia se transformar em cipó – ia nascer um cipó da sepultura aonde ele foi sepultado – e a Jibóia ia se transformar em folha, kawa, a Rainha da Floresta.

Esperados três meses nasceram o cipó e a folha do jeito que ele falou. O guerreiro também tinha falado que era para eles tirarem o cipó com muito respeito. Antes de tirar o cipó e folha, pedir licença à natureza, pedir licença ao cipó e à folha. O guerreiro também ensinou mais uma coisa sagrada, os ensinamentos do mantra através da miração, o canto que foi dado. Aí como era encantado, o cipó cresceu rapidinho, deu dessa grossura [mostra com as mãos]. A comunidade mais antiga, dos índios mais velhos, foram lá, pediram licença, fizeram uma oração, fizeram uma cerimônia em volta desse cipó e da folha, tiraram e fizeram o cozimento do jeito que o guerreiro falou, na panela de barro, colocaram folha, cipó e água. O fogo tinha que ser feito com uma árvore especial que tem na floresta, que é yapa karu, a madeira que a gente queima para fazer o preparamento do cipó.Toda a comunidade foi convidada para participar dessa cerimônia de ayahuasca. A partir desse momento, tomaram o cipó, e começaram a ter mirações na primeira dose, na segunda dose, na terceira dose… e começaram a receber todos os mantras que o guerreiro tinha falado. Através dessa miração eles conseguiram captar todos os cantos Huni Meká, os mantras do cipó, e todas as sabedorias da natureza, a ciência, o mistério, os conhecimentos da guardiã da Jibóia, receberam essa missão. (LABATE, 2006)

Para as doutrinas ayahuasqueiras o chá é um ser divino que se encantou na forma de bebida e ao ser ingerido poderia dar muito ensinamentos, para quem tiver o merecimento, através da miração. É um professor que, para quem seguir seus ensinos, encontrará seu próprio mestre interior. O ―ser divino da floresta‖ presente no chá teria o poder de promover uma ―limpeza‖ no corpo, mente e espírito de forma gradual, purificando a alma, trazendo a tona emoções mal resolvidas e doenças para serem expurgadas (LABATE, 2002).

Os ayahuasqueiros também compreendem que a bebida é o resultado da união do princípio masculino encontrado no cipó Jagube e do princípio feminino

encontrado na folha Chacrona. A união dos dois princípios traz equilíbrio e harmonia, dando suporte ao progresso espiritual pela nova consciência adquirida através do contato que a bebida proporciona ao próprio self do individuo (LABATE, 2002).

O fenômeno do ciclo da borracha proporcionou intensa migração de nordestinos à região Norte do país, que sonhavam com uma vida melhor através da extração do látex, chamado na época de ―o ouro branco da floresta amazônica‖. O contato entre nordestinos, negros e os índios e caboclos amazonenses permitiu que um forte sincretismo religioso florescesse na floresta amazônica. O sincretismo entre o cristianismo popular, o folclore caboclo amazonense, as religiões de matriz africana e as práticas xamânicas surgiram, repaginando o cristianismo popular trazendo elementos xamânicos e esotéricos, produzindo as chamadas doutrinas tradicionais ayahuasqueiras conhecidas como Barquinha, Santo Daime e União do Vegetal. Agora vamos conhecer um pouco mais sobre as três doutrinas tradicionais ayahuasqueiras e suas visões cosmogônicas.

A Doutrina do Santo Daime

O Santo Daime é uma doutrina religiosa originária do seio da floresta amazônica, fundada por Raimundo Irineu Serra. Ao sair de sua terra natal, Maranhão, em 1912 para se tornar seringueiro na região do Acre, ele entra em contato com povos indígenas nas fronteiras da selva amazônica entre Brasil e Peru, recebendo sua iniciação sacramental com a bebida Ayahuasca. A partir desse momento, Irineu passa a ser instruído por seres espirituais que aparecem em suas mirações que lhe pedem para fazer uma criteriosa dieta à base de macaxeira insossa durante oito dias, mantendo-se isolado na floresta. No último dia de sua austeridade ele tem uma visão mariana, de um ser superior que se apresenta como Clara que lhe entrega a missão espiritual de fundar a doutrina do Santo Daime. Esta mítica personagem, Mestre Irineu a chama de ―Deusa Universal‖ ou a Rainha da Floresta, intitulada também por Nossa Senhora da Conceição.

Mestre Irineu batiza a bebida e passa a chamá-la de Santo Daime, que vem da rogativa dai-me amor, dai-me a luz, dai-me a cura. Já ficando conhecido na

região pelas histórias de cura e de graças alcançadas por aqueles que se aproximavam dele e da misteriosa bebida, Mestre Irineu ganha de um político local um lote de terra em um bairro rural no Rio Branco, dando início aos trabalhos públicos em 26 de maio de 1930. É aberto oficialmente o Centro de Iluminação Cristã Luz Universal (CICLU) de Alto Santo.

Figura 8 - Mestre Irineu, fundador do Santo Daime

Fonte: Google Imagens, 2016

Após essa experiência, Mestre Irineu une a bebida milenar ao contexto cultural e simbólico cristão, utilizando sabedorias transcendentais da cultura africana, indígena e branca. Ele sofre grande perseguição por parte da polícia local devido a grande presença da população negra em seus cultos Daimistas. A elite da época ficou temerária devido ao aglomerado de afrodescendentes em um culto religioso desconhecido pela elite branca. De 1935 a 1940, Mestre Irineu desenvolveu a Doutrina, conforme instruções recebidas do astral, canalizando hinos que seriam cantados no ritual, durante suas experiências com o Daime.

A comunidade Alto Santo abrigava cerca de quarenta famílias que viviam em sistema de mutirão, vivendo do que plantavam, sendo autossustentáveis. Mestre Irineu recebia a todos e prestava assistência a quem estivesse doente, necessitado de conselhos ou de amparo espiritual. Mestre Irineu faleceu em 1971, deixando como legado a comunidade Alto Santo e a Doutrina do Santo Daime, além de dezenas de hinos canalizados por ele como forma de transmissão de mensagens espirituais que atuavam concomitante a força da bebida Ayahuasca nos trabalhos da doutrina do Santo Daime.

Após a morte do fundador do Santo Daime, a doutrina se divide em duas vertentes denominadas ―Alto Santo‖. Um é comandado até hoje pela viúva do Mestre Irineu, Senhora Peregrina Gomes Serra, que possui uma única igreja no Acre e não admite a expansão da Doutrina pelo mundo. O outro grupo ficou sob o comando de Francisco Fernandez Filho, que foi sucedido alguns anos depois por Luiz Mendes, atualmente possuindo algumas filiais na região Norte do país (LABATE, 2002).

A criação do CEFLURIS (Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra) está ligada ao Padrinho Sebastião Mota de Melo. Seringueiro amazonense, ele mudou-se para o Rio Branco no Acre em 1965 onde obteve contato com Ayahuasca através do próprio Mestre Irineu quando estava a procura de curar uma grave enfermidade Em 1974, após o falecimento de Raimundo Irineu Serra, Mota funda o CEFLURIS em uma região conhecida como Colônia Cinco Mil, na cidade do Rio Branco, Acre (LABATE, 2004; GOULART, 2004).

Figura 9 - Padrinho Sebastião, fundador do CEFLURIS

Fonte: Google Imagens, 2016

A partir da década de 80, Padrinho Sebastião organiza o CEFLURIS em forma de comunidade, resolvendo se mudar em 1983 para o seringal do Rio do Ouro no Amazonas, à beira do Igarapé do Mapiá também no Amazonas, localizado na Floresta Nacional do Purus. Conhecida como Céu do Mapiá, sede da Doutrina, possui como atual dirigente Padrinho Alfredo Gregório de Melo, filho de Padrinho Sebastião e seu sucessor, desde o falecimento do pai em 1990 (LABATE, 2004; GOULART, 2004).

Tanto no Alto Santo como no CEFLURIS é adorada a figura do Mestre Irineu, sendo que na segunda vertente também louva-se o Padrinho Sebastião. Os rituais desses grupos caracterizam-se pelo canto coletivo de hinos, considerados canalizados do astral, possuem traços da influência indígena e da Filosofia do

Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento7, do cristianismo popular com a sagrada família (Jesus, Maria José), os santos católicos, além das figuras míticas da cultura afrobrasileira e cabocla amazonense, bem como seres da natureza como o Sol, a Lua, as estrelas.

A Doutrina do Santo Daime possui duas fardas (a branca que se veste em festejos e trabalhos de hinário com mais de cem hinos e a farda azul usada nos demais trabalhos de concentração e cura), seus participantes preservam a ordem e a disciplina nos rituais (LABATE, 2004). Atualmente a Doutrina do Santo Daime está espalhada pelo Brasil e pelo mundo tendo filiais não só em várias capitais e demais cidades brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Alto Paraíso, etc e em outros países como Itália, Espanha, Alemanha, França, Inglaterra, República Tcheca, Holanda, Suécia, Dinamarca, Irlanda, Portugal, Suíça, País de Gales, Bélgica, Estados Unidos, Japão, Chile, Argentina, Uruguai e Bolívia.

A Barquinha

Esta doutrina ayahuasqueira foi fundada por Daniel Pereira de Matos, maranhense, que em 1940 migrou para a cidade de Rio Branco no Acre a serviço da Marinha como 2° sargento. Ao pedir baixa do exército, vai trabalhar como barbeiro, levando uma vida boêmia no bairro do Papôco. Daniel cantava músicas sobre paixões e a mulher amada, deleitando-se em noites festeiras.

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O Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento foi a primeira Ordem Esotérica do país fundada em 1909. possui os seguintes Propósitos: Promover o despertar das energias criativas latentes no pensamento de cada associado, de acordo com as leis das vibrações invisíveis; Fazer com que essas energias convirjam no sentido de assegurar o bem estar físico, moral e social dos seus membros, mantendo-lhes a saúde do corpo e do espírito; Vibrar na medida de suas forças para que a harmonia, o amor, a verdade e a justiça se efetivem cada vez mais entre os homens. Disponível em: <http://cecpensamento.com.br/quem-somos/>.

Figura 10 - Daniel Pereira de Matos, fundador da Barquinha

Fonte: Google Imagens, 2016

Em 1928 casa-se com Maria do Nascimento Viegas e com ela tem quatro filhos. Em 1936 já não suportando o alcoolismo e a vida boêmia de Daniel, sua mulher parte com os filhos para o Maranhão.

Com graves problemas no fígado devido ao excesso de álcool, recebe uma visita de seu conterrâneo e amigo em sua barbearia. Era Raimundo Irineu Serra que o convidara para fazer um tratamento espiritual através da bebida sagrada, o Daime. Após iniciado o tratamento e já com alguma melhoria, em pouco tempo Daniel retorna para sua vida boêmia. Outra vez doente, volta a fazer o tratamento com Mestre Irineu na doutrina do Alto Santo, onde frequentou por um ano (SENA ARAÚJO, 1999; COSTA, 2008).

Outra vez doente, foi chamado por Irineu para um novo tratamento no Alto Santo. Depois de tratado e iniciado nos trabalhos do Mestre, Daniel passou a seguir a Doutrina fundada pelo amigo. Lá ajudou a musicar os primeiros hinos. Após acompanhar o amigo que havia lhe socorrido anteriormente ajudando-o a repor sua estabilidade física e espiritual. (SENA ARAUJO,p.35 1999)

Em um dado momento, Daniel resolve beber o daime sozinho e tem uma visão onde dois anjos desciam do céu, com um livro azul contendo a missão espiritual, na qual ele deveria fundar uma doutrina cristã com base na caridade. Esta revelação já havia sido feita anteriormente quando, embriagado, adormecera as margens de um igarapé onde teve um sonho com os anjos e o livro azul. Daniel resolve seguir seu destino para fundar uma linha de trabalho própria. Com o apoio do Mestre Irineu que lhe dera bastante Daime para iniciar seus próprios trabalhos, segue para a zona rural do Rio Branco, dando início aos trabalhos da Barquinha (ARAÚJO NETO apud SENA ARAÚJO, 1995).

No seringal de Santa Cecília, no bairro de Vila Ivonete, Daniel instala-se numa casinha de madeira, coberta por palha, iniciando os seus trabalhos de atendimento que ele designou como ―Obras de Caridade‖. Seu trabalho durou doze anos, falecendo em 1958. Atualmente existem filiais da Barquinha no Acre, no estado do Rio de Janeiro, Brasília e uma filial em Fortaleza (CE). Esta é a vertente considerada mais eclética, dos três grupos, por ter maior influência da umbanda, da cultura nordestina e amazônica. Nos rituais há incorporação de seres espirituais do astral, da terra e do mar, cantando-se salmos e pontos, rezando orações cristãs. A Barquinha é a missão deixada por Daniel Pereira de Matos e seus adeptos são considerados ―marinheiros do mar sagrado‖ (SENA ARAÚJO, 1999; LABATE, 2004).

A União do Vegetal (UDV)

A União do Vegetal (UDV), foi fundada por José Gabriel da Costa, baiano, que migrou para o Norte do país para trabalhar na extração da seringa. Durante a Segunda Guerra Mundial (1943), o governo brasileiro, visando aumentar a extração do látex das seringueiras nativas na Floresta Amazônica, recrutou um exército de

―soldados da borracha‖ e deu opção aos jovens nordestinos de irem para a Amazônia, trabalhar nos seringais amazonenses. Em 1944, sem ter oportunidade de despedir-se, José Gabriel escreve uma carta para sua família e embarca em um navio para Belém (PA), com destino a Porto Velho, então Capital do Território Federal do Guaporé, hoje Estado de Rondônia.

Em 1959 teve seu primeiro contato com a Ayahuasca através de alguns de seus amigos seringueiros aonde ela bebe pela primeira a bebida das mãos de Chico Lourenço. Em 1961, Mestre Gabriel cria o Centro Espírita Beneficiente União do Vegetal, falecendo em 1971A instituição conta hoje, com cerca de 200 unidades, em todos os estados do Brasil, Peru, em alguns países da Europa, América do Norte e Oceania. A sede da UDV localiza-se em Brasília (LABATE, 2004; GOULART, 2004).

Figura 11 - Mestre Gabriel, fundador da UDV

A UDV nasce nos seringais da Amazônia, na fronteira entre Brasil e Bolívia, segundo a doutrina Mestre Gabriel reconheceu sua missão desde a primeira vez em que bebeu o chá. Ainda em 1959 ele passa a distribuir Ayahuasca batizando-a de Vegetal. Em 64, ele viaja com a família para Porto Velho para consolidar as atividades da sociedade criada. Posteriormente foi feito um registro no Jornal Alto Madeira da Associação Beneficiente União do Vegetal, intitulando um artigo ―Convicções do Mestre‖, uma defesa pública dos principios da UDV, Atualmente a UDV conta com filiais em todas as capitais brasileiras, além de possuir um departamento médico-científico (DEMEC) que realiza pesquisas sobre a bebida em parceria com instituições brasileiras e do exterior (LABATE, 2004; GOULART, 2004).

A partir da década de 1980, a União do Vegetal vem buscando o diálogo com autoridades, de forma a normatizar o uso do chá Ayahuasca pelos seus associados no contexto religioso. Através de pesquisas médico-científicas, realizadas por universidades do Brasil e do exterior e o estudo de uma comissão multidisciplinar de trabalho do Governo Federal (GT da Ayahuasca de 2010)

resultaram na Resolução do CONAD, que assegurou o uso do chá pelas religiões

ayahuasqueiras, estabelecendo as normas para sua utilização.

Nos rituais cantam-se as ―Chamadas‖, cânticos deixados por Mestre Gabriel, para chamar as forças da natureza. O conhecimento é passado oralmente e a palavra tem um significado especial para o grupo (LABATE, 2004). Durante os efeitos do chá, chamado pelos discipulos da UDV de ―borracheira‖, é feito o e estudo dos ensinamentos espirituais e da doutrina de Mestre Gabriel.

A doutrina da União do Vegetal é fundamentada na existência do espírito, que evolui ao longo de sucessivas reencarnações. Mestre Gabriel, com seus ensinos, fez seu reconhecimento a Jesus como o Salvador da humanidade, ―o verdadeiro Homem, o filho de Deus‖. A UDV transmite de forma oral e traz, em essência, os mesmos ensinos de Jesus. Orientando para a evolução espiritual, a União do Vegetal ensina a respeito da reencarnação. O espírito tem como missão evoluir para chegar até Deus e