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Aspectos sócio culturais, históricos e políticos que contribuíram para secundarização do ensino da arte e a influência deste processo na formação em EaD

1.3 A trajetória histórica da arte educação no Brasil e sua importância na formação acadêmica em EaD

1.3.2 Aspectos sócio culturais, históricos e políticos que contribuíram para secundarização do ensino da arte e a influência deste processo na formação em EaD

Vários fatores contribuíram para a secundarização do ensino da arte. Pode-se dizer que um deles seja o abismo entre as belas artes e a arte industrial. Pois, enquanto o ensino das belas artes busca promover a sensibilização e a valorização da cultura e do patrimônio material e imaterial da humanidade, a arte que visa a produção industrial personifica um sistema voltado para o trabalho e seus lucros, obtendo características que valorizam principalmente o crescimento material e técnico do aprendiz. Com isso, reforça-se a ideia de que as belas artes tratavam-se de uma frivolidade e algo desnecessário para a sobrevivência, ideia incorporada pela sociedade colonial brasileira, que se tornara uma imitadora dos costumes da corte portuguesa.

Esta postura também passava por uma questão política da própria coroa, pois não seria nada interessante deixar que produções artísticas culturais oriundas da colônia e com características regionais vingassem. Assim, poderiam representar uma real ameaça para seus planos colonizadores, por isso eram proibidas: escritas entalhadas, impressas ou em forma de pintura ou iluminuras. Duarte Jr. constata:

Era necessário que se proibisse aqui a produção e a circulação de ideias originais. Proibindo-se a publicação de jornais e livros. E para manter a dependência vetar a manufatura e a produção de bens, nossa cultura originou-se através de um transplante da cultura portuguesa: pensavam-se e viviam-se os valores e sentidos europeus, que pouco tinha a ver com as condições reais da terra (DUARTE JR., 1994, p. 120).

Os distantes mundos impostos entre a cultura genuína popular e a cultura europeia foram alimentados e mantidos principalmente até os anos 1970, e permanece em muitas situações até os dias atuais, visto uma breve comparação entre os milhões pagos a uma obra de arte e aos impedimentos constantes da arte de rua (o grafite), considerada por muitos como uma arte marginal.

Nos sistemas educacionais da época, o povo era considerado atrasado e alheio aos costumes europeus. A arte dos escravos e a indígena era considerada menos nobre e irrelevante em relação as artes que a elite tinha amplo acesso. O que acabou por criar em relação a produção de arte um comportamento copista por parte dos artistas mais influentes, fomentando, além do preconceito de valor financeiro, o de raça e classe social. Segundo Duarte Jr.:

As elites brasileiras automaticamente passaram a rejeitar o barroco que havia se popularizado. Afastando-se a arte do contato popular alimentava-se um preconceito acentuado em nossa sociedade, a ideia da arte como um babado, supérfluo, um acessório da cultura. Esse comportamento refletiu e ainda reflete nos meios educacionais do Brasil (DUARTE JR.,1994, p. 122-123).

Assim, podemos concluir que o desrespeito e a manipulação política dos colonizadores em relação à genuína arte brasileira é um outro fator que influenciou para que o ensino das Belas Artes e o contato com elas fosse visto como desnecessário. Inclusive para a formação de uma classe de pessoas consideradas menos favorecidas e desprovidas de inteligência e sensibilidade.

Graças a comunidades e movimentos organizados por artistas, professores de arte e artesãos, a cultura genuína destes países conquistou espaços mais relevantes nos currículos

para o ensino da arte, embora ainda haja muito que fazer e construir.

Essa dicotomia sobre a importância do ensino da arte e que caminho seguir, sempre estará em evidência, visto que o enfoque sobre os conteúdos de arte ainda são as composições da cultura de outros países e de importações de metodologias ditadas por inúmeros segmentos internacionais, o que torna necessário uma discussão sobre o currículo oferecido por entidades que formam professores. Deve-se ter o compromisso de contribuir para formar professores críticos e conscientemente comprometidos com sua história cultural e social. Outra situação histórica que favoreceu a secundarização do ensino da arte advém da visão instalada pelos moldes da Escola Nova disseminados de maneira inócua nos meios educacionais no Brasil. No final dos anos de 1960, a proposta dominante é a do movimento Arte-Educação com os princípios de Herbeat Read e da Escola Nova.

Embora politicamente este movimento tenha tido o intuito de contribuir para uma reavaliação da didática do professor e do seu papel, a falta de formação adequada e informação fizeram por descaracterizar os princípios da proposta da livre expressão para o ensino da arte.

Muitos profissionais na época passaram a organizar suas atividades deixando que prevalecesse o conceito de que nas aulas de arte tudo pode, ou se quiser não precisa fazer ou produzir nada. Tais posturas do estudante seriam entendidas como um momento emocional e que o professor nada poderia fazer para revertê-las, apenas deixar acontecer.

Na prática, esta proposta de trabalho trouxe entre outras coisas uma desvalorização por parte do próprio aluno, um descompromisso com os conteúdos a serem ensinados e aprendidos por parte do professor que, insuficientemente formado e ou informado, restringiu sua atuação a apenas contemplar os acontecimentos da sala de aula, até porque a disciplina não poderia ser avaliada por nota como as demais, inclusas no sistema educacional.

O conhecimento sobre ao menos as duas propostas mais absorvidas pela comunidade educacional deveriam ser estudadas a fundo. Para que o próprio professor possa saber com maior segurança que caminho seguir em sua prática. Daí advém a importância de uma atitude lúcida em relação ao trabalho docente em sua formação acadêmica. As instituições formadoras dos futuros arte educadores devem ter a responsabilidade com a disseminação e a valorização de um ensino verdadeiramente significativo e democrático. Porém, que não se perca de vista o fio condutor da história.

É preciso tomar consciência política para perceber que para ocorrer um ensino de qualidade é preciso haver incentivos à pesquisa e continuidade de processo de aprendizagem

contextualizando teoria e prática na formação da arte educador, independente da modalidade.E mais, este processo tem que ser constituído de fatores como: conhecimento adquirido nas aulas virtuais e presenciais, e incentivo à pesquisa histórica do processo de ensino da arte. As experiências teóricas práticas significativas envolvendo as vivências e a expressividade devem ser propostas nas oficinas destinadas a este fim, desde que contextualizadas com a teoria.

Importante que se destaque que estas oficinas devem ser incluídas nas grades das disciplinas e nãocomoum curso à parte com oneração a mais na contratação, o que de certa forma não incentiva o acadêmico a buscá-las.

Atingir este objetivo nesta modalidade de ensino é algo desafiador. Mesmo tendo suas especificidades, o modelo difere da formação presencial. No entanto, os sujeitos fazem parte de uma mesma sociedade e atuam em escolas com problemas diversos, causados pelas relações externas e internas dos indivíduos.

Segundo Fussari e Ferraz, o professor irá deparar-se com uma situação atual nas escolas brasileiras e afirma que:“Apesar de todos os esforços para o desenvolvimento de um saber artístico na escola, verifica-se que a arte, historicamente produzida e em produção pela humanidade, ainda não tem sido suficientemente ensinada e aprendida pela maioria das crianças e adolescentes brasileiros” (FUSSARI & FERRAZ, 2010, p. 19).

Provavelmente, ao criar a Abordagem Triangular, Ana Mae Barbosa tenta como arte educadora sanar estas lacunas. Surgindo a necessidade de uma regularização que estabelecesse objetivos, conteúdos, metodologias e forma de avaliação voltada para o ensino da disciplina nos colégios.

Então, a partir da propagação desta ideia, começa a se delinear um ideário voltado para o ensino da arte na escola que é diferenciado de um curso específico para a formação de um ator, de um bailarino, de um músico ou de um artesão. Fussari e Ferraz afirmam que:

A arte apresenta-se como produção, trabalho e construção. Nesse mesmo contexto a arte é representação do mundo cultural com significado, imaginação, que é interpretação, e conhecimento de mundo, é também expressão de sentimentos, de energia interna, da efusão que se expressa, que se manifesta que se simboliza. A arte é movimento na dialética da relação homem-mundo (FUSSARI & FERRAZ, 2010, p. 21).

Segundo a Abordagem Triangular, o professor é mediador e conduzirá sua aula de forma que o aluno possa produzir de maneira consciente, identificando-se com o conhecimento. Deve-se também considerar a questão cultural e histórica da qual faz parte e

que a questão da sensibilização perpassa por diversos aspectos, inclusive de suas vivências. Para concluirmos esse raciocínio, torna-se relevante citar Duarte Jr. Para destacar sua reflexão sobre a importância que se deve dar a nossa cultura. Diz o autor:

Talvez não estejamos nem mesmo construindo nossa cultura, mas dissolvendo-a ao importar e malversar fórmulas, valores, e significados alheios. E necessário à vitalidade de qualquer cultura que seus sentidos sejam expressos e constituídos a partir de suas reais condições. A arte neste processo adquire função essencial, por exprimir, a construir aquilo que está fora dos limites da razão discursiva. A arte está com o homem desde a pré- história e apenas a constatação deste fato elementar – a universalidade e permanência do impulso estético já é razão suficiente para que se reconheça a importância da arte na constituição do humano (DUARTE JR., 1994, p. 136).

Diante das elucidações acima, trataremos a seguir do ensino a distância e de sua trajetória histórica relacionando-o a estes fatores, pois a formação acadêmica em artes visuais na modalidade de ensino a distância é uma realidade cada vez mais comum no Brasil.

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