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1. INTRODUÇÃO

1.5 DESAFIOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE SMART GRIDS NO BRASIL

1.5.4 Aspectos Financeiros

1.5.4.1 Custos dos Processos de Medição

Os processos de leitura de consumo de energia elétrica dos clientes de uma distribuidora brasileira ainda são feitos na sua quase totalidade através de rotinas semi-automatizadas, nas quais uma equipe de leituristas cumpre um roteiro e realizam os processos de leitura visual dos mostradores dos medidores, registram em um equipamento coletor ou smartphone e enviam via rede celular 3G para a central de processamento de dados da companhia.

Esta metodologia de leitura de consumo é aplicada tanto para clientes do Grupo B quanto para clientes do grupo A. Tendo em vista as características particulares dos clientes do Grupo A são requeridas equipes de leituristas dedicadas para este segmento de clientes e com mais conhecimento técnico devido ao maior grau de complexidade das leituras, além de ser necessário treinamento específico quanto a normas de segurança e técnicas de relacionamento com os clientes. Por este motivo a mão-de-obra alocada para as tarefas de medição de clientes

do grupo A e os equipamentos necessários para a execução das atividades representam um custo operacional mais alto se comparado às equipes de leitura dos clientes do Grupo B. Considerando ainda a importância do faturamento do Grupo A na receita das Distribuidoras, cerca de 40%, concentrada em 0,3% a 0,5% do total da base de clientes. Neste cenário, qualquer falha no processo de leitura representa um grande impacto na receita da Distribuidora. Além disso, uma restrição inerente à própria metodologia semi-automatizada é o número de leituras em um ciclo de faturamento, que geralmente compreende um período de 30 dias. Para este segmento de consumidores o desejável é que sejam realizadas, pelo menos, leituras diárias, mas o ideal é que ocorram em tempo real.

Com o objetivo de aproximar os processos de leitura do Grupo A do ideal, muitas Distribuidoras desenvolvem sistemas de teleleitura automáticos, mas baseados em tecnologias de comunicação pouco confiáveis, como a utilização das redes públicas móveis celulares GPRS, que não oferecem a confiabilidade suficiente ao ponto de substituir as equipes de leituristas. As alternativas mais confiáveis de meios de comunicação são tais como serviços de acesso à Internet baseados em ADSL, Sistemas Satélite, e redes IP/MPLS de Operadoras representam um custo de leitura por consumidor da ordem de 500 a 1.000 Reais mensais, mas mesmo assim não se mostram suficientemente confiáveis, além dos processos de recuperação de serviços em caso de falha, depender de terceiros. Todas estas tentativas de realizar de forma mais eficiente a leitura dos clientes do Grupo A resultam na prática em processos operacionais mais complexos de gerenciar, com um nível de confiabilidade insuficiente, ainda dependente de processos semiautomáticos, o que representa em última análise um empilhando de custos.

1.5.4.2 Perdas Não Técnicas

As perdas globais, ou perdas totais, de um sistema de distribuição são compostas por uma parcela de perdas técnicas e outra parcela de perdas não técnicas, ou perdas comerciais. As perdas técnicas são aquelas relacionadas com as características técnicas das redes de distribuição, tais como, qualidade e do estado dos cabos e conexões. As perdas comerciais são resultado de ligações clandestinas, fraude em medidores, falhas de equipamentos e falha em procedimentos.

As perdas globais das distribuidoras que são objeto deste estudo atingem cerca de 8%, sendo 6% de perdas técnicas e 2% de perdas comerciais, das quais a grande maioria está

localizada no mercado de Baixa Tensão (Clientes de Grupo B), embora também seja observada no segmento de clientes do Grupo A, principalmente devido falha em equipamentos e procedimentos. A parcela de perdas comerciais estimadas para o Grupo B é da ordem de 1,9%, sendo o 0,1% restante atribuídas ao segmento de clientes do grupo A. As Perdas globais da ordem de 8% estão entre as mais baixas observadas no mercado brasileiro [22].

1.5.4.3 Expectativa de Retorno Financeiro

Considerando exposto no item anterior, principalmente tendo em vista o cenário brasileiro, as grandes motivações para a construção de redes inteligentes de energia elétrica são em um primeiro momento a redução dos custos operacionais dos processos de leitura do consumo de clientes, a redução das perdas comerciais, e o estabelecimento de um canal confiável de comunicação entre o consumidor e a Distribuidora em tempo “quase real”. A expressão “quase real” se deve ao fato de, embora as tecnologias de comunicação para smart grids permitam a comunicação em tempo real, na prática as teleleituras são feitas de 15 em 15 minutos para clientes do Grupo A e de 60 em 60 minutos para clientes do grupo B devido à necessidade de limitação da carga de tráfego na rede de comunicação e do volume de dados a ser processado e armazenado nos Data Centers das distribuidoras.

Outra expectativa de retorno financeiro é a possibilidade de remuneração do investimento feito por parte de uma Distribuidora na melhoria da prestação do serviço ao consumidor. Mas as definições de quais ativos de sistemas de redes inteligentes de energia elétrica são passíveis de serem incluídos na BRR ainda não estão suficiente claras no cenário regulatório brasileiro, aumentando o grau de incerteza por parte dos Agentes do setor para investirem em um sistema smart grid em larga escala. Somente após a entrada em operação do projeto AMI das Distribuidoras da CPFL Energia destinado a atender os clientes do Grupo A, que é o objeto deste estudo, é que a ANEEL reconheceu os ativos de rede baseados em RF Mesh como sendo passíveis de serem incluídos na BRR.