• Nenhum resultado encontrado

1. INTRODUÇÃO

1.4 SMART GRIDS NA AMÉRICA DO NORTE, EUROPA E BRASIL

1.4.3 Brasil

No caso dos países emergentes e em desenvolvimento a principal motivação, assim como nos Estados Unidos, também foi econômica, mas segundo direcionadores diferentes. O foco dos programas nestes países, incluindo o Brasil, é a busca de mitigação das chamadas “Perdas Não Técnicas” ou “Perdas Comerciais”, que são expressas na prática por furtos de energia e fraudes em sistemas de medição, que são baseados em grande parte na utilização de medidores eletromecânicos nos pontos de consumo. Certamente que os ganhos operacionais e financeiros decorrentes da implementação de smart grids, assim como incentivos de remuneração em investimentos feitos em ativos que visam à melhoria da qualidade para o consumidor final promovido pelos órgãos reguladores também são motivadores para os programas nestes mercados.

A implementação das redes inteligentes no Brasil tem seguido as tendências de modelos adotados em países onde o conceito de rede inteligente foi concebido inicialmente, tais como os Estados Unidos, Canadá e alguns países europeus, mas sem as devidas contextualizações à realidade regional e nacional. Nestes países os projetos de rede inteligente são desenvolvidos desde o início com base em projetos de medição inteligentes para toda a base de clientes

incluindo os segmentos Comercial e Industrial (C&I) que correspondem aos clientes do Grupo A, e o segmento dos clientes residenciais e pequenos comércios e indústrias, que correspondem ao Grupo B. Os projetos de automação da distribuição (DA) são definidos e contratados na mesma ocasião dos projetos de medição inteligente. Na medida em que a infraestrutura de telecomunicações vai sendo disponibilizada para atender à medição inteligente os pontos de automação são frequentemente implementados ao mesmo tempo como e na mesma fase de execução. No entanto, os contextos regulatórios, tecnológicos e socioeconômicos em que estes modelos foram desenvolvidos são muito diferentes daquelas existentes em países emergentes e em desenvolvimento como é o caso do Brasil. A principal razão do surgimento de projetos nacionais sem a devida contextualização foi a falta de formação de uma base de conhecimento mais ampla sobre o tema, que considerasse todos os aspectos tecnológicos envolvidos e a realidade nacional, tanto do ponto de vista do setor elétrico, quanto socioeconômica. Os fabricantes de soluções tecnológicas de redes de comunicação e os fabricantes de medidores na sua grande maioria Norte Americanos e um número menor de Europeus, trouxeram para o Brasil os seus modelos prontos considerando o que era conveniente para estes fabricantes do ponto de vista de projetos de engenharia e de negócios. Não existe a preocupação por parte destas corporações em estudar e desenvolver um modelo customizado para o Brasil. O interesse é realizar negócios o mais rápido possível seguindo os modelos que são familiares e mais vantajosos para estas corporações a partir de um potencial estimado da ordem de 70 milhões de medidores inteligentes.

Ocorre, entretanto que estas iniciativas não avançaram no Brasil desde o seu início em 2010, até a data de conclusão deste estudo em 2017, apesar de todos os esforços das áreas comerciais destes fabricantes e das empresas integradoras e prestadores de serviços de consultoria. A razão é que os desafios a serem enfrentados pelas empresas nacionais do setor elétrico, ainda não devidamente equacionados e tratados até hoje, criam um clima de incertezas que impedem que as decisões sobre os investimentos necessários para viabilizar estes projetos sejam tomadas. Pelo lado da indústria, este mesmo clima de incertezas e falta definições por parte das Utilities e da ANEEL impede as ações de investimentos para nacionalizar a produção de equipamentos de telecomunicações, medição, e automação, fazendo com que os custos dos projetos se tornem ainda mais elevados, dificultando ainda mais as tomadas de decisão para viabilizar estes projetos. Além dos aspectos financeiros envolvendo os custos de produtos e serviços de suporte importados, percebe-se a insegurança das Utilities sobre a qualidade e perenidade dos serviços de suporte destas empresas estrangeiras que estão aguardando a realização de um determinado volume de negócios no

Brasil que compense, segundo as suas estratégias de negócios, a formação de uma base de suporte no Brasil. Nos próximos tópicos são abordados os principais aspectos específicos no contexto nacional que fazem parte deste cenário de incertezas e que precisam ser mais bem definidos para que seja possível a implementação de redes inteligentes em larga escala no Brasil.

As primeiras iniciativas e projetos brasileiros de redes inteligentes de energia elétrica, principalmente para a modernização das redes de distribuição, tiveram início oficial e efetivo no ano de 2010, através da Chamada nº 011/2010 da ANEEL, de julho de 2010 [14]. Entretanto as primeiras ações governamentais e setoriais não surgiram acompanhadas de uma visão mais ampla e contextualizadas da realidade e particularidades regionais e nacionais. A falta de formação de uma base de conhecimento brasileira sobre o novo modelo de operação do setor elétrico e das tecnologias que alavancam e viabilizam os projetos neste novo contexto não consideraram com a devida importância as questões que precisavam ser endereçadas para que estes esforços iniciais se transformassem em projetos reais de implementação de redes inteligentes em larga escala abrangendo o maior número possível das 62 distribuidoras brasileiras que atendem a cerca de 77 milhões de pontos de consumo. Esta situação fez com que os Agentes do setor, em especial as distribuidoras iniciassem um ciclo de busca de um modelo que viabilizasse os projetos do ponto de vista técnico e financeiro.

Desta forma as principais distribuidoras brasileiras iniciaram seus estudos sem uma visão integrada de redes inteligentes que na prática iriam atuar em uma rede elétrica que de fato opera integrada e com as dimensões e abrangência continental com é o caso do Brasil. As inciativas independentes de cada uma destas distribuidoras começaram lançando mão do programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da ANEEL. Basicamente todos os programas foram iniciados e conduzidos a partir de parcerias das distribuidoras com empresas multinacionais de consultoria e fabricantes de sistemas de telecomunicações para redes inteligentes e equipamentos de medição e gerência da rede elétrica. Estas empresas na sua grande maioria eram de origem Norte Americanas e um número menor, mas também expressivo de empresas europeias. O resultado foi que os projetos de P&D foram conduzidos seguindo os modelos de redes inteligentes em curso nos países de origem destas empresas sem estudar e considerar as particularidades nacionais. Nestes países, projetos de rede inteligente são desenvolvidos desde o seu início com base em projetos de medição inteligentes tanto para os clientes residenciais como para os clientes comerciais e industriais. Os projetos de automação da distribuição (DA) são frequentemente implementados simultaneamente aos projetos de medição inteligente com a capilarização da infraestrutura de comunicação.

No entanto, conforme abordado nos itens anteriores, os contextos regulatórios, tecnológicos e socioeconômicos nos quais estes modelos foram desenvolvidos são muito diferentes daquelas encontrados em emergentes e países em desenvolvimento como o Brasil. Esta inadequação dos modelos importados à realidade brasileira contribuiu significativamente para que no início do ano de 2017, passados mais de seis anos do início oficial do programa brasileiro de redes inteligentes, poucos avanços e resultados práticos e conclusivos tenham sido observados dos programas de P&D. As implementações reais e em produção de redes inteligentes no Brasil e do número de consumidores efetivamente atendidos é insignificante se comparado ao número total de consumidores das 62 distribuidoras.